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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Rios dos Ermos e dos Sem Fim

Rios dos Ermos e dos Sem Fim

Hiram Reis e Silva, 12 de abril de 2013

Realmente, um rio deserto no Amazonas equivale a um pleonasmo. Mas existem, não há dúvida, rios de solidão tão impressionante, tão profunda, tão despropositada, que deixam no espírito de quem os percorre a sensação que deve sentir um homem que alcançou o último grau de latitude do Polo Norte.
(Aurélio Pinheiro - À Margem do Amazonas – 1937)

Percorrer as curvas infindas do Rio Juruá, o mais sinuoso dos rios do planeta, navegar horas a fio sem avistar um só ser humano ou vislumbrar um resquício que seja de sua presença nos dão uma ideia viva de um fim de mundo, de um mundo onde a presença humana ainda não se fez totalmente presente. Parece que nestes longínquos confins a natureza ainda não se preparou para acolher o Filho do Homem, uma estranha bruma nos envolve, uma névoa que encobre paisagens onde se tem a sensação que o tempo estancou, retrocedeu e, encabulado, permanece encolhido, estático, nestes ermos dos sem fim, arredio às novidades, às mudanças, avesso à modernidade.

Oculto pelas sombras o passado rompe as barreiras cronológicas e ocupa o lugar do presente envolvendo lentamente o canoeiro no seu mágico manto pretérito. Surgem das várzeas, dos igapós, dos sacados, dos furos, seres mitológicos, a ficção e a realidade fundem-se, mesclam-se. Iaras, curupiras, mapinguaris saúdam o enlevado navegante que mergulha o seu remo nas nuvens diáfanas dessas águas de puro encantamento. De repente, ao avistar algumas rudimentares palhoças, pequenos e primitivos casebres perdidos em um lúgubre recanto a fantasia se esvai e retorno bruscamente ao mundo real.

Alguns navegantes certamente entenderão meus devaneios. Ao submergirmos na natureza nossos sentidos são ampliados, por vezes anestesiados, fazendo-nos experimentar ainda que momentaneamente a sensação de estarmos aportando na Terceira Margem.


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