Rios
dos Ermos e dos Sem Fim
Hiram
Reis e Silva, 12 de abril de 2013
Realmente, um rio deserto no Amazonas
equivale a um pleonasmo. Mas existem, não há dúvida, rios de solidão tão
impressionante, tão profunda, tão despropositada, que deixam no espírito de
quem os percorre a sensação que deve sentir um homem que alcançou o último grau
de latitude do Polo Norte.
(Aurélio Pinheiro - À Margem do Amazonas –
1937)
Percorrer
as curvas infindas do Rio Juruá, o mais sinuoso dos rios do planeta, navegar
horas a fio sem avistar um só ser humano ou vislumbrar um resquício que seja de
sua presença nos dão uma ideia viva de um fim de mundo, de um mundo onde a
presença humana ainda não se fez totalmente presente. Parece que nestes longínquos
confins a natureza ainda não se preparou para acolher o Filho do Homem, uma estranha
bruma nos envolve, uma névoa que encobre paisagens onde se tem a sensação que o
tempo estancou, retrocedeu e, encabulado, permanece encolhido, estático, nestes
ermos dos sem fim, arredio às novidades, às mudanças, avesso à modernidade.
Oculto
pelas sombras o passado rompe as barreiras cronológicas e ocupa o lugar do
presente envolvendo lentamente o canoeiro no seu mágico manto pretérito. Surgem
das várzeas, dos igapós, dos sacados, dos furos, seres mitológicos, a ficção e
a realidade fundem-se, mesclam-se. Iaras, curupiras, mapinguaris saúdam o enlevado
navegante que mergulha o seu remo nas nuvens diáfanas dessas águas de puro
encantamento. De repente, ao avistar algumas rudimentares palhoças, pequenos e primitivos
casebres perdidos em um lúgubre recanto a fantasia se esvai e retorno bruscamente
ao mundo real.
Alguns
navegantes certamente entenderão meus devaneios. Ao submergirmos na natureza
nossos sentidos são ampliados, por vezes anestesiados, fazendo-nos experimentar
ainda que momentaneamente a sensação de estarmos aportando na Terceira Margem.
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