Chegada em Manaus
Hiram
Reis e Silva, Santarém, Pará, 16 de março de 2013.
“Há mais pessoas que desistem do que pessoas
que fracassam”. (Henry Ford)
Partimos de Iranduba, depois das
seis horas, e chegamos ao Furo Paracuúba por volta da nove horas. O Paracuúba
serve de atalho às pequenas embarcações que descem o Rio Solimões, com destino
a Manaus, permitindo adentrar ao Rio Negro.
Paracuúba (Dimorphandra macrostachya): árvore
amazônica de ramos grossos e muitas flores. Também é conhecida pelo nome de ataná.
No Negro paramos em uma pequena
praia para fazer a manutenção das embarcações preparando-as para o lance final
e depois aproamos para um dos lances intermediários da bela ponte do Rio Negro.
Como chegamos muito antes da hora prevista estacionamos em baixo de um dos
imensos pilares aguardando o momento adequando para rumar para o porto do Centro
de Embarcações do Comando Militar da Amazônia (CECMA). Como as ondas castigavam
as embarcações e empurravam-nas perigosamente de encontro aos enormes tubulões de
ferro decidi deixá-las à deriva e aguardar o comando do Coronel Lister para
realizar a aproximação. A correnteza do Negro praticamente não existia e fomos
sendo empurrados lentamente pelos ventos em direção ao nosso destino.
O Coronel Lister comunicou-se
conosco pelo telefone celular e acertamos com ele o momento mais apropriado
para a aproximação. Depois de os repórteres embarcarem em uma embarcação do
Comando Militar da Amazônia (CMA) e uma escolta fluvial vir ao nosso encontro
fomos autorizados a realizar a aproximação. Remamos vigorosamente, pela última
vez nesta missão. As ondas vinham pela alheta de bombordo e desorientavam a
embarcação do Marçal, que não possui leme, prejudicando sua progressão enquanto
o Cabo Horn, da Opium Fiberglass, surfava levemente sem tomar conhecimento do
banzeiro.
Os repórteres depois de nos
acompanharem embarcados até aportarmos nos seguiram até uma confortável
instalação do Centro de Embarcações que o Coronel Barros, E/5 do CMA, preparara
para as entrevistas. Foi com muita satisfação que ali encontrei meus
ex-Cadetes, o General Antônio dos Santos Filho, atual Comandante do 2º
Grupamento de Engenharia (2º Gpt) e o Coronel Tavares, que foi Chefe do Estado
Maior do 2º Gpt. Lá estavam, também, o Cmt Túlio da PM, representando seus
pares que nos deram apoio fundamental em todo percurso no Estado do Amazonas, o
meu caro parceiro do CMPA, Tenente-coronel Pestana, hoje Sub-comandante do
CECMA e o Paulino um velho amigo da FUNAI que tive o privilégio de conhecer
quando comandei a 1ª Cia Eng Cnst, do 6º BEC, sediada no Abonari, BR 174. O
grande destaque da recepção em Manaus foi proporcionado pelos meus fiéis amigos
pessoais e pelos repórteres. Senti muito a ausência do autor intelectual de
minha missão o Coronel Pastor que por problemas de saúde não pode estar
presente.
Como a missão se tratava de um
reconhecimento de engenharia, executado por um oficial e duas praças da nobre arma
de Vilagran, numa expedição que levava o nome do engenheiro militar General
Belarmino Mendonça, nada mais justo que a maior autoridade presente na ocasião
de nossa chegada fosse um digno camarada oriundo da arma do castelo lendário.
Agradeço, sensibilizado, a todos aqueles, militares e repórteres, que abrindo
mão de suas merecidas horas de lazer, neste domingo ensolarado às margens do
majestoso Rio Negro, participaram de nossa vibração pelo cumprimento de uma
missão em que as qualidades que mais cultuamos na vida castrense foram postas à
prova e materializadas dia-a-dia, sobejamente, pelos expedicionários. Foram
oitenta e três dias de árdua navegação pelos Rios Juruá e Solimões, enfrentando
as mais duras provas de resistência, intempéries, desconforto, insalubridade,
falta de apoio sem que jamais descurássemos de nosso objetivo, mantivemos
sempre, a todo preço, o “foco na missão”.
- Manaus, AM (10 a 13.03.2013)
Além do apoio prestado, em Manaus, mais
uma vez, pelos nossos caros amigos Paulino e Beto Moreno tivemos, desta feita a
oportunidade de conhecer um grande parceiro, até então virtual, chamado Walter
Rezende. Um contabilista, advogado, compositor e poeta que foi, em 2012, Vice-campeão
da Terceira edição do Festival Amazonas de Música. Walter Rezende escreveu, em 2010,
um livro de poemas chamado “Poesias
Livres, de Versos Brancos e de Pés Quebrados”, que foi adaptado para ser
inscrito no festival sob o título “Amor e
Silêncio”.
Fui convidado pelo General Santos
Filho para fazer um breve relato da Expedição pelo Rio Juruá no auditório do 2º
Grupamento. Fiquei emocionado com as gentis palavras que proferiu meu ex-Cadete
a meu respeito e senti a arritmia tomar conta do coração e as lágrimas teimarem
em brotar dos olhos deste velho canoeiro ao lembrar de como foram bons aqueles
momentos passados na Academia Militar das Agulhas Negras em que tive a honra e
o privilégio ímpar de participar da formação de nossos jovens oficiais de
engenharia.
Obrigado General, é sempre bom ter nosso
trabalho reconhecido e saber que as sementes lançadas por aquele instrutor
caíram em seara fértil, fecundaram e hoje estendem generosamente seus frutos a
este idealista incorrigível que sempre colocou a Pátria e o Exército acima dos
interesses pessoais sacrificando com isso, não raras vezes, a saúde e o
conforto seu e de seus familiares.
Abracei esta carreira, seguindo os
passos de meu venerável e inesquecível pai, como um verdadeiro sacerdócio e,
por isso, posso olhar para trás e sentir orgulho de cada ato, de cada atitude
tomada sempre em nome da honra e do dever. Nunca almejei os louros da vitória
ou o reconhecimento, mas sempre procurei cumprir minhas tarefas da melhor e
mais digna maneira possível, por isso, é que ao observar a mesquinhez e a falta
de visão de alguns, a omissão ou descomprometimento de outros eu contra-ataco
com uma férrea determinação e “prossigo
na missão” sem desviar-me, jamais, do objetivo final e isto, certamente,
incomoda aos mercenários e fracos de espírito.
- Partida para Itacoatiara, AM (14.03.2013)
Partimos às 05h40, embarcados na
lancha “Mirandinha” rumo à
Itacoatiara, AM. Logo que entramos no Rio Amazonas o tempo começou a mudar e
enfrentamos chuva, vento e banzeiros a maior parte do tempo. Chegamos por volta
das onze horas no porto do amigo José Holanda e ligamos para o empresário Roni,
amigo do irmão Beto Moreno, que nos disponibilizou mais 100 litros de
combustível, o suficiente para chegarmos até Santarém, PA.
- Partida para Santarém, PA (15.03.2013)
Partimos antes do alvorecer
enfrentando as mesmas condições climáticas adversas do dia anterior. Para
neutralizar os efeitos da chuva fria que resfriava nossos corpos, volta e meia,
eu enchia um balde com água do Rio Amazonas e molhava o corpo para aquecê-lo. Ao
passarmos por Parintins, AM pelas onze horas telefonei para o Coronel Codelo,
Comandante do 8º BECnst, avisando que decidíramos tocar direto para Santarém
sem pernoitar em Parintins. Ao penetrar as águas verdes e cálidas do Tapajós
avistamos ao longe a “Pérola do Tapajós”.
Ao aportarmos em Santarém, novamente,
a fidalguia dos meus caros irmãos de armas se fez presente em cada momento de
nossa breve passagem pela bela cidade de Santarém.
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