MAPA

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sábado, 18 de fevereiro de 2012

Oriximiná/Óbidos/Santarém

Oriximiná/Óbidos/Santarém


Quando me encontrava em serviço ativo do Exército e dirigia os trabalhos da Inspeção de Fronteiras, executei pessoalmente a exploração e o levantamento do Rio Cuminá (1928/29), (...). Nestes trabalhos, serviram-me de guia os “Diários de Viagens”, manuscritos, do Reverendo Padre Nicolino José Rodrigues de Sousa, judiciosamente organizados, sob escrupulosa exatidão, e onde se encontram, como o leitor verá, considerações de ordem filosófica e interessantes pensamentos, que definem a arraigada fé católica do autor e denunciam os seus sentimentos elevados e filantrópicos. (Cândido Mariano da Silva Rondon)

Eu havia confessado, durante minhas conversas ao jantar, à tripulação do Piquiatuba que a única a carne que considero mais saborosa que a dos peixes amazônicos, como bom gaúcho da fronteira, é a de ovelha. Nunca imaginei que o Comandante Soldado Mário Elder Guimarães Marinho, sabendo disso, buscasse, por todos os meios, achar nas cercanias de Oriximiná um carneiro para me oferecer uma churrascada na sua terra natal. O animal foi carneado e assado às margens do belo Cuminá adornadas pelas vistosas taquaris em plena floração e degustado por toda a equipe além da companhia muito agradável de seus pais.

Oriximiná - Rio Cuminá - Taquari em floração
Oriximiná - Rio Cuminá - "Tripulante Canina Chocolate"
Na véspera da partida para Santarém o Mário nos levou até a bela Cachoeira do Jatuarana, com uma queda de 15 metros, que fica aproximadamente a 60 km da cidade.
http://www.youtube.com/watch?v=Mhz2o2iUnFM&feature=youtube_gdata_player

-  Partida de Oriximiná, PA (12.02.2011)

Deixávamos Oriximiná felizes por termos, mais uma vez, contado com o apoio irrestrito dos nossos Irmãos Maçons da Loja Vitória Régia n° 33, encabeçados pelo Irmão maçom Hamilton Souza (o Ariuca), o Capitão PM Marcelo Ribeiro Costa, Comandante de Oriximiná e seu Sub-comandante Capitão PM Flávio Antônio Pires Maciel da gloriosa Polícia Militar do Estado do Pará. Acordamos cedo, antes de o sol nascer, e às 06h15 (Horário de Brasília) chegamos ao trapiche onde estava a tripulação e o João Paulo. Parti às 06h30, ainda às escuras, num ritmo forte para vencer rapidamente os 50 km que me separavam de Óbidos. As águas fortes do Paraná do Cachoeiri emprestaram uma energia adicional ao Rio Trombetas e a pouco mais de 12 km do meu destino, ao alcançar a foz do Trombetas, foi a vez das águas do Rio Amazonas reivindicarem sua autoridade e mostrarem toda sua pujança. A partir da foz o Soldado Edielson Rebelo Figueiredo resolveu me acompanhar e picamos a voga até as proximidades do Porto Hidroviário de Óbidos, na frente do Frigorífico Pasquarelli, onde aportamos às 11 horas depois de eu ter remado 04h30.

-  Óbidos, PA (13.02.2012)

O belo complexo arquitetônico, do século XVII, onde se destaca o Forte dos Pauxís e centenas de edificações de arquitetura colonial portuguesa justificam o fato da cidade ser considerada “a mais portuguesa das cidades do Estado do Pará”. Chegamos à cidade justamente durante a realização do seu maior evento turístico, o carnaval (Carnapauxis), que dura mais de uma semana.


-  Carnapauxis
    Fonte: Secretaria de Cultura de Óbidos

Visitamos a secretaria de Cultura, sediada nas antigas instalações do 4° Grupo Artilharia de Costa, construído em 1909, onde havia uma exposição do material utilizado pelos sete blocos carnavalescos.

Óbidos - 4° Grupo Artilharia de Costa
Óbidos - Exposição

Bloco Pai da Pinga

O Bloco caracteriza-se pela sua irreverência e pela sua contagiante alegria que leva ao Carnaval obidense toda segunda feira. A concentração acontece sempre no Bar do Cachorão, Bairro de Santa Terezinha, em frente à Praça do Bairro, onde seus personagens, como: “A Princesinha do Boi”, “José Ivan”, o matemático, “Márcio Fruta”, que só canta em “Inglês”, “Nilda Furacção”, a rainha do brega, “O Boi”, “Fon fon” e seus novos personagens, “Dica Distribuidora de Corações”, “O Esculhambado do Curumu”, “Dilma Russeff” entre outros, fazem as suas apresentações.

Bloco Unidos do Morro

O Bloco participou pela primeira vez do Carnaval de 1994, fazendo o arrastão de seus foliões, na segunda-feira, fantasiados de dominós, máscaras, bexigas e capacetes, onde o objetivo é não ser reconhecido pelos outros foliões, pois caso isso aconteça, o brincante será “manjado” (desmascarado), e obrigado a retirar a máscara. O “manjado” continuará brincando o carnaval, tomando banho de maizena, trigo, talco, entre outros. O nome “Unidos do Morro” tem origem do antigo nome do Bairro, hoje atual Bairro de Fátima.

Bloco das Virgens

O Bloco originou-se de uma brincadeira de rapazes reunidos no Bar do Mochila no bairro de Santa Terezinha, numa terça-feira Gorda, dia 23 de fevereiro de 1993, onde as mulheres não podiam participar do Bloco, para que as “Virgens” (Homens vestidos de Mulheres), não tivessem concorrência. Nos anos que se seguiram, o “Bloco das Virgens”, foi ganhando mais adeptos incorporando membros de toda cidade, transformando-se no maior de todos os blocos. A melhor virgem caracterizada é premiada.

Bloco Mirim Unidos do Umarizal

Fundado em 20 de fevereiro de 1998, o Bloco Mirim como é conhecido, é composto exclusivamente por crianças de todos os bairros, principalmente os bairros de Lourdes e Cidade Nova por ficarem próximos a Concentração. Nesse dia as crianças saem pelas ruas fantasiadas e mascaradas, esbanjando muita alegria e beleza. O Bloco geralmente se apresenta nas quintas-feiras de Carnaval, com muita animação e arrasta em seu cortejo, um número grande de foliões, chegando a aproximadamente de 5.000 pessoas, tendo um destaque maior o número de crianças vestidas de “Mascarado”.

Bloco Unidos da Serra da Escama

No ano de 1998, um grupo de amigos teve a idéia de criar o seu bloco carnavalesco que foi denominado “Bloco Serra da Escama”, tendo em vista que a maioria de seus integrantes residia nas proximidades da “Serra da Escama”, que outrora serviu de base para a instalação da Defesa Gurjão. O bloco carnavalesco “Unidos da Serra da Escama” tem também como seu objetivo, fazer um apelo à sociedade obidense na tentativa de preservação de seu passado. O Bloco geralmente se apresenta nas sextas-feiras de Carnaval.
Óbidos - Serra da Escama e Lago Pauxi
Bloco Águia Negra

Bloco organizado em homenagem ao Clube Vila Nova, Clube dos Corações dos moradores do Bairro da Cidade Nova. O bloco tem na sua comissão de frente, moças vestidas a caráter, trazendo em sua escolta uma imensa Águia Negra, símbolo do clube, que deu origem ao nome do bloco. Fundado em 31 de janeiro de 1998, e desfila no sábado de carnaval arrastando em seu cortejo um número muito grande de foliões e simpatizantes que ostentam as cores vermelho e preto símbolo do bairro Cidade Nova.

Bloco Xupa Osso

 É uma continuação do antigo “Bloco Barreirão” que saía todos aos domingos do mês de janeiro e fevereiro Praça Barão do Rio Branco conhecida com Praça de Sant’Ana especificamente da residência do Sr. Emanuel Kelly Santos de Aquino (Pauca). O nome chupa Osso tem origem no apelido dado aos filhos de Óbidos. O apelido surgiu no final da década de 60 quando o empresário Sr. Isaac Hamoy exportava osso para os Estado Unidos e a maioria dos obidenses vendiam osso ao referido empresário. Esse apelido foi dado pelo município vizinho à cidade de Oriximiná que eram nossos rivais e conhecidos como “Espoca-Bode”.

-  Arraias

A bordo do Piquiatuba eu observava o movimento dos pescadores que chegavam com suas embarcações para descarregar o pescado no Frigorífico Pasquarelli. Fiquei impressionado com o número e o tamanho das arraias tigradas de um barco de pescadores que aportou a bombordo do nosso barco, alguns destes animais tinham mais de um metro de diâmetro.

As arraias marinhas do Caribe, há milhões de anos, adentraram aos poucos nos rios da Amazônia se adaptando perfeitamente às águas doces. Pouco a pouco estes animais foram estendendo seus limites aos Estados do Centro Oeste atingindo, por fim, a Bacia Paraná-Paraguai.

Acesso pelas Eclusas

As barragens das grandes hidrelétricas poderiam servir de obstáculo para a invasão destes colossais animais, mas, em algumas delas, como a de Porto Primavera (Rosana, SP) e Jupiá (Três Lagoas, MS), as arraias conseguem o livre trânsito graças às eclusas. Quando os navios transpõem os desníveis dos rios, as arraias e outros peixes aproveitam para pegar uma carona junto com as embarcações. As eclusas neutralizam, portanto, os sistemas de “transposição seletiva de peixes” à montante das barragens.

À tarde o Soldado Walter Vieira Lopes, tutor do “Coxinha”, nosso tripulante canino de 1ª Classe, veio pedir autorização para que o cãozinho permanecesse em Óbidos. Mesmo considerando os óbices da ausência de tão valoroso tripulante, autorizei.

Óbidos - Despedida do Coxinha (Sd Vieira Lopes)
Confortavelmente instalado no Piquiatuba eu acompanhava o movimento incessante de embarcações que entravam e saiam do Lago dos Pauxis.

Lago dos Pauxis: conhecido também como “Laguinho”, na época das cheias suas águas margeiam a Este a Serra da Escama e à Oeste a cidade de Óbidos.

O senhor Valdir, um pescador solitário, ostentando orgulhosamente uma camiseta do Flamengo, na sua pequena montaria pescava de linha a pouco mais de uma centena de metros da nossa embarcação. De repente o imobilismo do fleumático pescador foi substituído pela agitação e, em movimentos rápidos, trouxe para bordo uma bela “Dourada”. Mais tarde, na companhia da Rosângela, passeando na voadeira, pilotada pelo Comandante Mário, nas cercanias da Serra da Escama, cruzamos com o seu Valdir que regressava para casa com diversos peixes lisos (de couro) pescados ali mesmo junto à cidade. Infelizmente nesse passeio minha câmera fotográfica, uma Canon PowerShot S5IS, deu pane, as fotos, a partir de então, tiradas de dia saiam claras demais independentemente de se utilizar o modo AUTO (automático), M (manual) ou C (personalizado), curiosamente a filmagem e fotos noturnas saiam perfeitas. Mais uma onerosa baixa no meu material de expedicionário.

-  Partida de Óbidos, PA (14.02.2011)

Na noite anterior dormi muito pouco. Por volta da meia-noite uma balsa do Posto Marreiro aportou junto à nossa embarcação com os motores ligados e iniciou o lento abastecimento de uma frota de caminhões de combustível, da mesma empresa, em terra. Além do incomodo causado pelos gritos, assovios, buzinaços provocados pela tripulação da balsa e dos motoristas e o ronco do motor da balsa acho que a segurança de todos aqueles que estavam estacionados nas proximidades ficou perigosamente comprometida. O Porto Hidroviário, a poucos metros tem um movimento de passageiros considerável e um incidente com a transferência do combustível poderia ter causado uma tragédia de graves proporções. Parece-me que operações deste tipo devam ser levadas a efeito em locais apropriados onde não coloquem em risco as vidas alheias e onde hajam equipamentos de segurança adequados em caso de sinistro. Telefonei dezenas de vezes para o “190 para saber se o procedimento era regular, mas não obtive nenhuma resposta.

Enganei-me com o fuso horário e saímos quase uma hora atrasados. Desde Parintins que a operadora da “Claro” não dava sinais de vida e portanto o relógio continuava com o horário do Amazonas, uma hora a menos, embora estivéssemos praticamente na mesma longitude. Foi o dia mais cansativo de todos, remamos das 06h17 da manhã até as três horas da tarde para percorrer aproximadamente 80 km, enfrentando ventos de proa superiores aos 35 km/h durante todo o tempo. Senti fortes dores nas costas, o colchão do hotel de Oriximiná era muito macio, e, só agora, minha velha coluna, que já sofrera três cirurgias, sentia suas consequências. A pequena distância de Oriximiná a Óbidos não dera tempo nem mesmo da dor se instalar. Tentamos fazer uma parada na margem direita, mas a quantidade de troncos alinhados à margem ultrapassava uma dezena de metros tornando isso impossível. Conseguimos parar precariamente, depois de remar quase 70 km, em uma ilha sobre a vegetação aquática. Chegamos cansados e satisfeitos, depois de remar mais de 85 km, pois a jornada do dia seguinte seria bem menos extensa.

-  Chegada em Santarém, PA (15.02.2011)

Dormimos bem, nenhum ruído a não ser o da chuva e dos ventos fortes do Quadrante Este durante toda a noite. Saímos, eu e meu filho João Paulo, antes do amanhecer, por volta das seis horas, com a determinação de atingir uma Ponta, à margem direita, que longe se vislumbrava, ao clarear do dia. Os ventos de proa forçaram-nos, novamente, a buscar a segurança da proximidade da margem diminuindo, com isso, a velocidade de deslocamento. Durante mais de duas horas sofremos com as fortes ondas até que por volta das 08h30 o tempo melhorou e buscamos ganhar velocidade nos afastando da margem. Por volta das 10h40, chegamos à foz do Tapajós, embarcamos no Piquiatuba para colocar roupas adequadas para a chegada e determinei que o Soldado Marçal Washington Barbosa Santos fosse até o Porto convidar os operadores de câmera de vídeo para subir a bordo da voadeira para realizar tomadas da chegada.


Graças ao apoio do Tenente-Coronel Sérgio Henrique Codelo, Comandante do 8° BEC, a Seção de Comunicação Social do Batalhão conseguiu que estivessem presentes ao Porto de Santarém as principais redes de TV locais e jornais. O ponto alto da entrevista foi sem dúvida a “Chocolate”, nossa tripulante canina de 1ª Classe adotada pelo grande amigo Soldado Marçal Washington Barbosa Santos.


A recepção no 8° BEC também foi marcada, mais uma vez, pela inigualável fidalguia “azul turquesa”. Ano que vem se o Grande Arquiteto do Universo permitir e se os nossos amigos investidores colaborarem iremos subir o Rio Tapajós pela margem esquerda até Itaituba (no mínimo) e descer pela margem direita. Este ano, embora o percurso fosse de 2.000 km, as colaborações ficaram abaixo dos 40% comprometendo substancialmente o planejamento inicial.




domingo, 12 de fevereiro de 2012

Energia Amazônica

Energia Amazônica


Durante nossa estada em Oriximiná fizemos uma incursão ao Rio Trombetas e Cuminá aproveitando, nesta oportunidade, para verificar o andamento de parte das obras do “Linhão” que levará energia da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, para Manaus. Esta obra permitirá que o consumo do combustível fóssil, para geração de energia, caro e poluente, seja totalmente eliminado nas capitais de Manaus e Macapá e as sedes dos municípios contemplados pelo “Linhão”, evitando a emissão de 3 milhões de toneladas de gás carbônico por ano, e reduzindo o consumo anual de 1,2 bilhões de litros de óleos combustível e diesel. Além disso, após a conclusão do “Linhão”, o País economizará cerca de R$ 2 bilhões por ano o que significa que a Linha de Transmissão, cujos investimentos previstos são da ordem de R$ 3 bilhões, estará paga em 18 meses fornecendo energia limpa e renovável. A construção da linha de Transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus, de aproximadamente 1.800 quilômetros de extensão, vai integrar os estados do Amazonas, Amapá e Oeste do Pará ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Numa primeira fase o “Linhão” reduzirá a dependência local das plantas de energia térmicas em 27 municípios ao longo da margem esquerda do Rio Amazonas.

-  Responsabilidade Ambiental

A complexidade da obra, cruzando rios e terrenos de várzeas em plena floresta amazônica, exigiu que sua execução estivesse de acordo com as orientações do IBAMA e FUNAI. Foram analisadas diversas alternativas para o traçado da linha até se encontrar as que ofereceriam menor impacto ambiental e interferência em áreas legalmente protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação, chegando-se, finalmente, a seis propostas. Cada uma delas foi, então, analisada detalhadamente quanto ao tipo de vegetação, tipo de solo e viabilidade técnica, principalmente no que se refere à travessia de cursos d’água, que, no caso do Rio Amazonas, tinha, em algumas das alternativas propostas, até dez quilômetros de largura a serem transpostos. O sistema levou em conta também que, futuramente, haja a necessidade de se acrescentar um terceiro circuito à linha, usando o mesmo corredor além de contemplar um plano de resgate de fauna e flora em perigo de extinção.

-  1° Lote – Tucuruí/Jurupari (500KV)

Este lote inclui as linhas de transmissão Tucuruí II-Xingu, de Tucuruí a Altamira, no Pará, com 264 quilômetros de extensão e tensão de 500 kV, e inclui também a linha Xingu-Jurupari, na margem esquerda do Rio Amazonas, 257 quilômetros, mais as subestações Xingu e Jurupari.

O primeiro trecho, de 264 km, do Linhão parte de Tucuruí diretamente para a Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, o que permitirá a interligação deste Complexo Energético, quando entrar em operação, ao SIN. Este trecho, logicamente, foi o único ponto em comum de todas as seis propostas iniciais tendo em vista a necessidade da interligação de Belo Monte ao SIN. Aqueles que eram contrários à construção da hidrelétrica do Xingu apontavam o alto custo do sistema de transmissão de energia que, segundo eles, ultrapassaria o orçamento da construção do próprio Complexo Energético.

O segundo trecho, de 257 km, sai de Belo Monte em direção a Almeirim cruzando o Rio Amazonas pela Ilha de Jurupari, localizada nas proximidades de Almeirim, PA. O “Linhão” vai atravessar o Rio Amazonas em duas etapas na ilha de Jurupari, próxima à foz do Rio Xingu, a primeira em um vão de 1,6 km da margem direita do Amazonas até a torre 238 na Ilha e o outro dela até a torre 241, construída no leito do Rio Amazonas, com 2,2 km de largura. As duas torres de transmissão terão trezentos e vinte metros, cada uma pesando aproximadamente 2.400 toneladas. As torres 238 e 241 terão a altura da Torre Eiffel, em Paris, atualmente com 325 metros (considerando a altura das antenas de rádio), onde, na época de sua construção, foram usadas 7.300 toneladas de ferro e hoje em dia tem aproximadamente 10.000 toneladas.

Sobre o platô que sustenta a torre 238 está sendo construído um muro de contenção de concreto com dezessete metros de altura. A plataforma de sustentação da torre 241 está sendo construída no leito do Rio Amazonas a trinta metros de profundidade e suas fundações possuem trezentos e noventa estacas e pilares construídos com tubulação em metal, concreto e ferro.

-  2° Lote – Jurupari/Oriximiná

O segundo lote é formado pela linha Jurupari-Oriximiná, no Estado do Amazonas, com 370 quilômetros de extensão em 500 kV. Este lote também contempla os trechos Jurupari-Laranjal, no Amapá, com 95 quilômetros em 230 kV e Laranjal-Macapá, com 244 quilômetros além das subestações Oriximiná, Laranjal e Macapá. Esses trechos têm conclusão prevista para junho de 2013 e dezembro de 2012, respectivamente.

-  3° Lote – Oriximiná/Manaus

O terceiro lote contempla as linhas Oriximiná-Itacoatiara, com 370 quilômetros em tensão de 500 kV, e Itacoatiara - Cariri, em Manaus, com 211 quilômetros mais as subestações associadas Itacoatiara e Cariri.

Em abril de 2011, foi concluída a montagem da primeira torre do “Linhão” em Manaus, com 62 metros de altura, pesando 24 toneladas. Verificamos, durante nossa visita, que no primeiro trecho, no Rio Trombetas, a travessia está sendo feita por meio de uma ilha com dois vãos de 950 metros e 1,2 mil metros, as torres em terra, que partem de Oriximiná estão concluídas, assim como a da margem direita do Rio Trombetas.



Este lote não pode deixar de se considerar, no futuro, o fornecimento de energia para o município de Parintins, localizado na margem direita do Amazonas e uma Linha de Transmissão de 500 kV para Porto Trombetas o que permitiria que ali se instalasse uma refinaria de alumínio para atender a produção local e das minas de Juruti.

-  UTE Mauá 3

A Megausina Termoelétrica de gás natural de ciclo combinado (que utiliza gás e vapor para acionar as turbinas) será construída ao lado da usina Mauá, no bairro Mauazinho, zona Leste de Manaus. O empreendimento, que vai utilizar 2 mil metros cúbicos por dia de gás natural proveniente da Bacia de Urucu, vai produzir entre 400 e 650 megawatts (MW), quase a metade do atual Parque Energético de Manaus. A usina deverá estar concluída até 2014, antes da realização da Copa do Mundo.

A pergunta é porque usinas similares ou maiores que essa não foram construídas em Urucu ou Coari e sua energia levada até Manaus por linhas de transmissão, principalmente porque além do gás de Urucu já se tinha conhecimento de jazidas importantes de gás natural no Juruá? Além disso o gasoduto de 660 km de extensão, praticamente um terço do “Linhão”, custou quase o dobro do mesmo e provocou um impacto ambiental muitíssimo maior.

-  Roraima no SIN

No dia 25 de janeiro deste ano, foi assinado o contrato de concessão para a construção da Linha de Transmissão Manaus/Boa Vista, que terá 715 km de extensão, nos Estados do Amazonas e Roraima, mais as Subestações Equador 500 kV e Boa Vista 500/230 kV. A linha conectará Boa Vista ao SIN, contribuindo ainda mais para a redução do consumo de Combustíveis Fósseis, além de possibilitar, no futuro, a exportação de energia do SIN para a Venezuela.





Parintins/Oriximiná

Parintins/Oriximiná


O Rio Trombetas, que Acuña denomina Cunuris, e na língua geral é Oriximiná, não foi ainda navegado até as suas cabeceiras, porque numerosas e altas cataratas se contrapõem aos viajantes, que lhes vão procurar nos arredores a salsaparrilha e o cravo-do-maranhão. Acima das cachoeiras, dizem que o Rio corre através de campos.
(Johann Baptist Von Spix e Carl Friedrich Philipp Von Martius – 1819)

Nossa estada em Parintins, novamente, foi bastante agradável graças aos nossos bons amigos Major PM Túlio Sávio Pinto Freitas, Comandante em Parintins e o Sr. Manuel Joaquim Coelho Lima. Passamos a manhã de sábado e domingo na companhia do Joaquim, visitando a cidade e arredores, jantamos, no domingo, com o Comandante Túlio e sua querida família na excelente pizzaria “Mr. Pizza”. Tivemos, porém, uma desagradável experiência, eu e meu filho na manhã de sábado (04.02.2012), estávamos passeando pela região do Porto Hidroviário de Parintins quando observamos uma movimentação no Centro de Convenções, como as portas estavam abertas entramos e ficamos admirando as evoluções do boi. Já estávamos nos preparando para sair quando apareceu um casal de brasileiros mal-educados, que deveriam ser guias do navio de turistas que atracara na cidade, dizendo que não podíamos permanecer no recinto porque aquele show era exclusivo para os passageiros do referido navio. Disse aos dois que deveriam ter providenciado um cartaz ou alguém na porta impedindo a entrada para evitar tais constrangimentos e deixei os arrogantes babás de turistas falando sozinhos.

A cidade de Parintins que se propõe a ser um pólo turístico incorre nas mesmas omissões e mazelas das demais comunidades que temos tido a oportunidade de visitar durante nossas jornadas. As calçadas são usadas, indevidamente por proprietários de veículos automotores como estacionamento e comerciantes para expor seus produtos forçando os pedestres a arriscarem suas vidas ao transitar pelas ruas. O tratamento de esgoto simplesmente não existe e das valetas exala um mau cheiro extremamente desagradável.

Os flutuadores do Porto Hidroviário de Parintins não possuem cunhas a montante para desviar os troncos que descem o rio e, além disso, as treliças de um dos vãos, suportados por eles, ficam submersas retendo os imensos troncos que se não forem retirados arrastarão o vão inteiro como já aconteceu em Manacapuru. É impressionante verificar a total incompetência técnica e desleixo na construção dos Portos Hidroviários da Amazônia brasileira. Fomos informados que outros portos estão prontos em Manaus e só não seguiram para seus destinos porque aguardam o “momento político” ideal para serem liberados. É importante que o Chefe do DNIT, General Fraxe, meu dileto amigo, nomeie uma comissão de engenheiros para verificar estas obras antes que ocorram acidentes graves provocando vítimas fatais.

-  Partida de Parintins, AM (06.02.2012)

Dormimos no hotel e acordamos por volta das quatro horas. Arrumamos nossos poucos apetrechos, a maioria já tinha sido levada para o barco de apoio pela tripulação na noite anterior, e nos dirigimos ao Piquiatuba ancorado no Porto Hidroviário. Trocamos as roupas, equipamos os caiaques e partimos antes das cinco horas. Coloquei a lanterna de cabeça por segurança e remamos, sem forçar o ritmo, pela margem direita até as proximidades da Foz do Ramos quando aproamos para a margem esquerda onde fizemos uma pequena parada para colocar as saias nos caiaques e partimos com a intenção de passar ao largo da Serra de Parintins.

Serra de Parintins ao fundo

Serra de Parintins: elevação de altitude máxima de 152 m na divisa do Estado do Amazonas com o Estado do Pará. Conhecida também como Serra Valeria em homenagem à moradora mais antiga do local.

Abordamos a Ilha que fica em frente da comunidade Santa Júlia pela margem Setentrional, evitando a grande curva da margem esquerda do Rio Amazonas, e atravessamos o canal que a divide. Nossa intenção era encontrar o Sargento Aroldo Sérgio Barroso, prático do Piquiatuba antes de ir para a reserva. De excelente piloto acostumado a conduzir com segurança embarcações pelos temíveis banzeiros e correntezas amazônicas, nosso caro amigo, hoje Pastor, se dedica a conduzir as almas de seus seguidores pela rota segura da fé.


Fizemos uma segunda e derradeira parada antes de rumar para a margem esquerda do Amazonas, depois da grande curva. Aproei para uma pequena Comunidade que se avistava ao longe (11 km) e parti célere, acompanhado de meu filho João Paulo para nosso objetivo final, que alcançamos às 12h30, depois de navegar 80 km em 07h30.

A Comunidade de São Sebastião do Corocoró, Distrito de Nhamundá, possui uma bela Escola Estadual, mas com o mesmo defeito de todas que tenho visitado nas minhas jornadas. Não possui alojamento para os professores que vem de Parintins e ficam, precariamente, abrigados nas residências de pessoas da Comunidade. A Escola foi erroneamente construída em terreno baixo e na última grande cheia, de 2009, como relatou sua diretora, sofreu com a ação dos fortes banzeiros quando as águas atingiram a meia altura das portas e a danificaram seriamente.

Reforço, mais uma vez que é necessária a criação e a instalação de Centros Integrados de Educação e Saúde, ou o nome que queiram dar (CITIs, CIEPs), nas Comunidades maiores geograficamente e estrategicamente bem distribuídos para os quais seriam transportadas diariamente as crianças do entorno em um barco escolar a motor. Reputamos que, ao se planejar estes Centros Integrados de Educação e Saúde, se projete, também, refeitórios para distribuição da merenda escolar, áreas desportivas e alojamento para professores e profissionais de saúde que inevitavelmente terão de ser recrutados nas sedes dos municípios mais próximos. Os alunos retornariam, ao final do dia, às suas Comunidades devidamente alimentados e monitorados pelos elementos de saúde além de terem à sua disposição uma educação que lhes permitiria alcançar o ensino superior.


Ficamos observando enormes iguanas (chamados aqui na Amazônia de camaleões) dependurados nos galhos comendo sementes e flores das árvores próximas ao barco, vez por outra um deles despencava dos galhos para a água com a maior naturalidade e sumia no meio da vegetação aquática.

Camaleão da Amazônia (Iguana iguana): a iguana-verde ou iguana-comum é uma espécie de lagarto arborícola e herbívoro nativo da América Central e do Sul. Este réptil adulto pode atingir até 1,8 m de comprimento e pesar 9 kg. Os seus ovos eclodem depois de 10 a 15 semanas. O iguana adulto é herbívoro, mas seu filhote se alimenta de pequenos invertebrados.

Iguana iguana
A tripulação canina fora autorizada a desembarcar e proporcionaram uma cena inusitada. Três enormes cachorros, da Comunidade, correram atrás do Coxinha que disparou procurando a proteção do barco, mas antes que o alcançasse foi ultrapassado pelo Comandante Mário, que achou que os cães estavam atrás dele também, o Mário deixou o Coxinha muito para trás e pulou agilmente para a embarcação antes do parceiro canino.

-  Partida de São Sebastião do Corocoró, AM (07.02.2012)

Acordamos às 04h50, hora do Amazonas, e partimos eu e o João Paulo antes do amanhecer. A viagem transcorreu sem alteração e entramos no Paraná do Cachoeiri, às 09h30min, apesar da cheia a velocidade da correnteza era inferior à do ano passado e atingimos, somente às 12h15min o Rio Trombetas. Chegamos às 12h45, hora do Amazonas, 13h45, hora do Pará, no porto de Oriximiná. Liguei para os Irmãos da PM, Capitão PM Marcelo Ribeiro Costa, Comandante de Oriximiná e seu Sub-comandante Capitão PM Flávio Antônio Pires Maciel, que nos colocaram em contato com os Irmãos da Maçonaria da Loja Vitória Régia n° 33. Os Irmãos maçons imediatamente foram até o Barco e nos levaram para conhecer as instalações da sua Loja, a Igrejinha do Padre Nicolino e agendaram uma entrevista, para o dia seguinte com um líder Wai-wai além de nos instalarem, gratuitamente, no excelente Hotel Oriximiná, administrado pela encantadora senhora Kátia Maria Feijão Ribeiro.





Itacoatiara/Parintins

Itacoatiara/Parintins


Vermelho
(Chico da Silva - 1996)

A cor do meu batuque
Tem o toque e tem
O som da minha voz
Vermelho, vermelhaço
Vermelhusco, vermelhante
Vermelhão

-  Partida de Itacoatiara (30.01.2012)

Partimos, João Paulo e eu, por volta das cinco horas, antes do amanhecer. Esta jornada seria a mais curta e mais fácil de todas as quatro até Parintins, um trajeto de apenas 55 km relativamente abrigado dos fortes banzeiros, mas o destino final era o mais adequado para aportar o Piquiatuba, nosso Barco de Apoio. As luzes da cidade e das embarcações ao logo da margem esquerda do Amazonas balizavam nosso trajeto, progredíamos, sem pressa, aproveitando a escuridão para aquecer, lentamente, a musculatura preparando-a para um esforço maior quando o dia clareasse. O alvorecer trouxe consigo o prenúncio de tempestade vindo de Uricurituba que se confirmou tão logo penetramos no Paraná do Serpa, ao Norte da Ilha do Risco. Mais que o banzeiro, que formava ondas de até 60 cm, foram os ventos de través que prejudicavam a progressão. Aproamos em direção à Ilha do Risco buscando refúgio das fortes rajadas, protegidos pelo barranco e pelas árvores, que deveriam beirar os 45 km/h. Como não tínhamos colocado a saias nos caiaques precisei pedir à tripulação Piquiatuba que improvisassem uma vasilha feita de garrafa de refrigerante para que o João Paulo retirasse a água que entrara no seu caiaque. Mais uma vez a superioridade do meu caiaque “Cabo Horn”, da Opium, ficou patente, as águas que atingiam a proa eram desviadas do “cockpit” graças ao “alto volume” do convés. Ultrapassando a Ilha do Risco aproamos para a margem direita, ano passado em virtude da vazante eu rumara para jusante da Ilha Panumã e dali rumara, rio acima, para a foz do Ramos, agora, em virtude da cheia, podíamos, juntamente com a embarcação de apoio, acessar o Paraná do Ramos diretamente de montante.

Chegamos cedo, apenas cinco horas de navegação. O Marçal foi passear, em terra, com a equipe canina formada pelo “cochinha” reforçada agora pela cadelinha “chocolate” adotada em Manaus. Fui ao encontro do Marçal e trouxemos uma enorme cabaça que o Mário preparou, retirando toda a polpa, para que a Rosângela a transformasse em peça de artesanato.

Verificando a malhadeira

Colocamos nossa pequena malhadeira para pescar o “peixe nosso de cada dia” e, mais tarde, incrementamos nossa refeição com pescado fresco. À tarde iniciei a leitura da obra de Theodor Koch-Grünberg, “Dois anos entre os Indígenas”, que adquirira em Itacoatiara. Milhares de minúsculas moscas importunavam a todos e resolvi passar o óleo de andiroba no corpo e nas proximidades dos pontos de luz para onde eram atraídas. Depois de algum tempo centenas delas estavam coladas no óleo e não importunavam mais ninguém.

-  Partida da Foz do Paraná do Ramos (31.01.2012)

Partimos cedo e, novamente, o trajeto abrigado do Paraná do Ramos e a tênue brisa da madrugada permitiram que gradualmente fôssemos aumentando nosso ritmo. Ao longe enormes armazéns flutuantes carregados de peças automotivas eram impulsionados preguiçosamente pelos poderosos empurradores em direção a Manaus. Fizemos uma pequena parada na margem esquerda onde, por coincidência, parara, em janeiro do ano passado, nosso amigo Ângelo Corso na sua trajetória de Santarém a Manaus.

Parada do Ângelo Corso

Desta parada decidi buscar a margem esquerda enfrentando os banzeiros, de ondas de até 70 cm, característicos dessa região.

Banzeiros

Fizemos uma segunda e última parada em um enorme banco de areia nas proximidades de Uricurituba. Tivemos de margear o areal, durante um bom tempo, até achar um lugar seguro para aportar. O grande número de troncos, em diversas linhas paralelas, formava um verdadeiro bastião que impedia o acesso à praia. Devidamente hidratados e alimentados (bananas e cápsulas de guaraná), atravessamos para a margem direita na altura de Uricurituba enfrentando os fortes banzeiros incentivados por um verdadeiro séquito de botos tucuxis e vermelhos que evoluíam graciosamente num nado extremamente sincronizado.

Uricurituba
Eu já observara, por diversas vezes, sincronismos deste tipo com dois botos, mas raramente, como agora, de três. Chegamos, por volta do meio-dia, depois de remar 75 km, na Ponta Grossa (Ponta dos Mundurucus), e estacionamos em frente à residência do Sr. Sebastião, onde dei prosseguimento à leitura da obra de Koch-Grünberg.

Ponta Grossa


O Sr. Sebastião divide seu dia a dia entre o entreposto de combustível e as plantações, onde cultiva milho, macaxeira, coco, banana, graviola e vende o cacau e cupuaçu “in natura”. Ao anoitecer fomos assaltados por enormes hordas de Carapanãs que só deram certa trégua depois do anoitecer e do Mário ter improvisado um defumador com ervas verdes.

-  Partida da Comunidade da Ponta Grossa (01.02.2012)

Partimos antes da alvorada, e na altura da Costa do Giba, em frente à Ilha das Garças, juntamente com os primeiros raios de sol teve início uma apresentação de um formidável e soturno coral de guaribas acompanhado, ao fundo, por um desafinado bando de aves preguiçosas que pareciam ter sido acordadas pelos rugidos dos grandes monos. Fizemos uma primeira parada para o João Paulo colocar a saia no caiaque e, logo em seguida, antes de adentrar no Furo do Albano, avistamos as enormes e belas Barreiras do Carauaçu (erosões), moldadas pacientemente pelas águas do Grande Rio que contra elas inflete diretamente ao fazer uma pronunciada curva à direita. As Barreiras multicoloridas situadas na margem esquerda do Rio Amazonas variam dos 70 a 120 metros de altura e emprestam um novo e extraordinário visual ao itinerário.

Barreiras do Carauaçu
No furo do Albano fizemos mais uma parada num grande areal e mostrei ao João Paulo qual seria nossa futura rota. Fizemos a terceira e derradeira parada no mesmo local do ano passado. Nele existe uma frondosa árvore coberta de bromélias, a diferença é que a pequena praia onde havia aportado já não existe mais levada que foi pela força das águas. Chegamos ao nosso destino na Ilha do Bispo pouco antes das treze horas depois de percorrer 77 km.

À tarde eu e a Rosângela acompanhados do Mário, Marçal e a tripulação canina fomos fazer um passeio de voadeira e conhecemos o Sr. Álvaro, um pequeno agricultor que sobrevive do beneficiamento da Malva e da Juta assim como outras trinta famílias que tiram seu sustento da Ilha do Bispo de propriedade da Diocese de Parintins. Alegre, educado e muito conformado com seu destino, o Sr. Álvaro vive sozinho no seu casebre na Ilha, sustentando, a duras penas, os familiares que residem em Parintins. A produção, curiosamente, é vendida para uma empresa de Belém gerando divisas para o Estado vizinho.

Sr. Álvaro e a sua Juta - Ilha do Bispo

Juta (Corchorus capsularis) - planta herbácea cultivada para a obtenção de fibras têxteis com as quais se fabrica o tecido do mesmo nome. Ela deve ser cortada logo que a flor murcha. As partes cortadas são amolecidas em água estagnada e, ao fim de um período de 12 a 25 dias, facilitando a retirada da casca das hastes sem que se rompam as fibras. São, então, novamente submetidas à imersão para lavagem e, em seguida, postas a secar. Em 1929, os colonos japoneses tentaram introduzir a juta na Amazônia, mas, apenas cinco anos mais tarde, o senhor Ryoto Oyama conseguiu produzir uma variedade de juta adaptada às condições amazônicas.

Malva (Urena lobata) - pertence à família das Malváceas, nativa da Amazônia, adaptando-se muito bem às terras firmes e várzeas altas dos estados do Pará e Amazonas. Seu cultivo desenvolveu-se naturalmente em solo paraense a partir dos anos 30, sendo introduzida nas várzeas altas do baixo Amazonas a partir de 1971. Hoje representa quase 90% da produção de fibras vegetais da região.

Algumas medidas governamentais esporádicas apontam para uma tentativa de tornar este comércio novamente lucrativo, mas seu sucesso esbarra em um competidor desleal, as fibras sintéticas e a juta mais barata ofertada pela Índia. O Polo Industrial de Manaus inaugurou, no dia 9 de novembro de 2011, a Bras Juta, fábrica de beneficiamento de juta e malva. A iniciativa tem como objetivo retomar a indústria de fibras no Estado do Amazonas, reduzindo as importações da juta indiana. A nova fábrica vai gerar cerca de 600 empregos diretos e fomentar a cadeia produtiva do segmento incentivando o setor primário e beneficiando, principalmente, os agricultores dos municípios de Manacapuru, Codajás , Anori, Anamã. O Governo Federal deveria fazer a sua parte propondo e sancionando uma lei determinando o emprego obrigatório de sacos de fibra vegetal na embalagem de determinadas produtos e sementes, como era feito no passado com o café exportado. Esta atitude estaria plenamente de acordo com o desenvolvimento sustentável, diferentemente dos produtos que se encontram no mercado atual.

Chegaram alguns amigos de Álvaro trazendo carne comprada em Parintins. Deixamos em paz mais este herói anônimo esquecido pela sorte e pelos governos na imensidão da nossa Amazônia. Da Ilha do Bispo partimos para uma visita ao Paraná do Mocambo (Arari), Distrito de Parintins. O Paraná está inserido em uma enorme área de várzea e é cortado por pequenos canais. Fizemos uma parada para contemplar algumas Vitórias Amazônicas em flor enquanto uma pequena Jaçanã (macho) esbravejava nas proximidades. Descobrimos a razão de sua fúria, quatro pequenos ovos chocavam no meio de um mal feito ninho de capim-memeca. O “Cochinha” olhava extasiado a estranha vegetação aquática enquanto a impulsiva “Chocolate” tentava pular sobre as superfícies arredondadas das Vitórias Amazônicas.

A Jaçanã macho, cuidando dos quatro pequenos ovinhos deitados sobre a superfície da Vitória Amazônica, fizeram-me recordar a lenda da Jaçanã e da Ipuna-Caá reportada pelo meu querido Mestre e amigo Coronel Berthier no seu livro “Amazônia legendária”.

-  Lenda da Ipuna-Caá e da Jaçanã
    Fonte: Altino Berthier Brasil.

Vitória Amazônica, Vitória Régia ou Ipuna-Caá: é uma planta aquática da família das Nymphaeaceae, típica da região amazônica. Ela possui uma grande folha em forma de círculo, que fica sobre a superfície da água, e pode chegar a ter até 2,5 metros de diâmetro e suportar até 40 quilos se forem bem distribuídos em sua superfície. Sua flor (a floração ocorre desde o início de março até julho) é branca e abre-se apenas à noite, a partir das seis horas da tarde, e expelem uma divina fragrância noturna adocicado do abricó, chamada pelos europeus de "rosa lacustre", mantêm-se aberta até aproximadamente as nove horas da manhã do dia seguinte. No segundo dia, o da polinização, a flor é cor de rosa. Assim que as flores se abrem, seu forte odor atrai os besouros polinizadores (cyclocefalo casteneaea), que a adentram e nelas ficam prisioneiros. Outros nomes: irupé (guarani), uapé, aguapé (tupi), aguapé-assú, jaçanã, nampé, forno-de-jaçanã, rainha-dos-lagos, milho-d'água e cará-d'água. Os ingleses que deram o nome Vitória em homenagem à rainha, quando o explorador alemão a serviço da Coroa Britânica Robert Hermann Schomburgk levou suas sementes para os jardins do palácio inglês. O suco extraído de suas raízes é utilizado pelos índios como tintura negra para os cabelos. Também utilizada como folha sagrada nos rituais da cultura afro brasileira e denominado como Oxibata. (Fonte: José Flávio Pessoa de Barros)

Jacana jacana

Jaçanã: pássaro da família: jacanidae e da espécie: jacana jacana. Comprimento: 25 cm; peso: macho 70 g; fêmea 160 g. Presente em todo o Brasil, e também do Panamá à Argentina e Uruguai. Comum em pântanos, lagos com vegetação aquática e em poças d'água com bordas vegetadas. Raramente nada. Alimenta-se de insetos, caramujos, peixinhos e sementes. Faz ninho em capinzais ou em vegetação aquática flutuante ou emergente. Põe em média 4 ovos marrom-oliváceos estriados de preto. Uma mesma fêmea costuma pôr ovos para dois ou mais machos, os quais a expulsam e se encarregam de chocá-los durante 21 a 28 dias. Quando ameaçado, o pai foge correndo, às vezes agarrando os filhotes e levando-os sob as asas. Fora do período reprodutivo é migratório, associando-se em bandos. Conhecido também como cafezinho, menininho-do-banhado (Rio Grande do Sul), enxofre, casaca-de-couro (Minas Gerais), marrequinha (Bahia) e jaçanã-preta. O nome piaçoca é utilizado na Amazônia.

Os aimarás constituíam uma tribo de índios que se espalhava pela região do lago Titicaca, compreendendo territórios hoje pertencentes à Bolívia e ao Peru.

Aimarás: indivíduo dos aimaras, povo indígena dos Andes peruanos e bolivianos, de língua do filo andino-equatorial, atualmente restrita à Bolívia e ao Peru, mas que outrora foi falada em toda a área dos Andes centrais.

Havia terminado a festa das águas. Sisa (flor), uma formosa virgem daquela raça, tomou-se de paixão por Kittzi (veloz), um dos vencedores das provas esportivas, e com ele combinou casamento para o próximo plenilúnio. As famílias dos futuros cônjuges de há muito acompanhavam satisfeitas o evoluir daquele afeto que vinha se pronunciando na ayllu (aldeia), pela ternura demonstrada e pelos frequentes mimos de flores e frutos trocados pelos jovens. Entre os ameríndios as flores representavam a maior demonstração de amor, e era corrente a versão de que “depois das flores vinham os frutos”.

Plenilúnio: lua cheia.

Sisa, na exuberância juvenil de seus quinze anos, jurou amor eterno ao seu pretendente, em ato que o curaca oficializou para todo o modesto “pueblito”.

Curaca: chefe temporal das tribos indígenas.

A esse tempo, Francisco Pizarro já havia se apoderado de Cuzco. Seus embaixadores, amparados na respeitosa imunidade que a superstição indígena lhes oferecia, espalharam-se em pequenos contingentes pelas províncias que constituíam o legendário império do Tahuantinsuyo, na cata de toda riqueza que encontrassem. Don Garcia de Peralta, um desses emissários, surgiu inopinadamente no “pueblo” aonde vivia o jovem casal de noivos. Com ares de conquistador, o guerreiro espanhol desfilou garboso, montado em seu corcel branco, pelas ruas da ayllu, num exibicionismo de quem se julga dono de tudo e de todos. Ao cruzar por Sisa, manhoso como um leopardo, lançou seu olhar de fera sobre a bela jovem, marcando bem aquela que designou para sua presa. Cabeça baixa, a índia notou o olhar penetrante e o sorriso petulante daquele cínico cavaleiro barbudo. À noite, contou tudo ao pai e ao noivo, os quais, tristemente alarmados, ficaram pensando como se defender do atrevido impostor. Na mesma noite D. Peralta envia a Sisa um ramo de flores de ishpingo (cinamomo) e uma bandeja com mishki (favos de mel). Ao tempo em que entrega os presentes, o mensageiro intima Kittzi e Sisa a irem ter, incontinente, com o Chefe, sob pena de serem condenados por crime de desobediência. Sisa, pelo mesmo portador devolve os presentes, e Kittzi segue sozinho, escoltado por dois irmãos, até a casa onde estava hospedado D. Peralta. Por mais que fosse esperado de volta, o jovem não retornou. Ao amanhecer do dia seguinte, soube-se que ele estava preso incomunicável porque se negara a renunciar ao amor de Sisa. A seguir correu a notícia de que à tarde, o temível cão Bezerril, tratado exclusivamente com carne humana, iria devorar na “plaza de armas” o “herege subversivo”. Kittzi, indignado com a injustiça e com a cruel discriminação feita em nome da Igreja cristã, permaneceu firme, como guerreiro que era. Foi untado com banha de vicunha para melhor despertar o apetite do Cérbero esfaimado, em jejum há 24 horas.

Vicunha: mamífero ruminante (Lama vicugna) distribuído nos Andes, do Equador à Bolívia, de pelame marrom-claro, esbranquiçada no ventre. São sociais, vivendo em pequenos bandos, e produzem lã finíssima; taruca, taruga.

Cérbero: cão monstruoso de três cabeças e cauda em forma de serpente que guardava a entrada do inferno e permitia a entrada de todos, mas não permitia que ninguém saísse.

Sisa concerta então com seu pai um plano desesperado. Veste-se com suas melhores roupas, cobre-se de ouro, perfuma-se, e depois unta os lábios com uma tintura gelatinosa, que também passa na ponta das unhas. Pressurosa e exuberante, parte ao encontro de D. Peralta. Vitorioso e radiante o espanhol corre receber sua musa indígena. Sisa pede-lhe por Inti (o Sol) e pela “mamaHuira-Cocha (a mãe Natureza) a liberdade de Kittzi, que metido a ferros, espera resignado e altivo, a um canto da sala, a hora do suplício. D. Peralta tem pendurada ao cinto a chave dos grilhões. Abre os braços vigorosos e recebe palpitante a jovem aimará, a qual, alucinada de ódio coloca os lábios virginais na boca impudica do fidalgo, simulando estar vencida pelo amor. Com fúria selvagem enlaça o aventureiro pelo pescoço, beijando freneticamente e mordendo-o nos lábios e no rosto. D. Peralta emocionado com aquela súbita e inesperada demonstração de carinho sente ter dominado o orgulho da jovem. De repente, porém, desfalece e cai agonizando para o lado. Sem perda de tempo, Sisa pega as chaves e põe Kittzi em liberdade, dizendo-lhe:
-  Foge, meu querido; és livre... D. Peralta está morto, mas também eu não vou escapar. Ele me retribuiu as pequenas dentadas que lhe dei para injetar em seu sangue o curare que portei nos lábio e nas unhas...

Kittzi, que conhecia bem o efeito daquele terrível jambi (veneno), toma sua amada nos braços e diz:

-  Sisa, morreremos juntos, já que não poderei viver sem ti... E colocando a boca sobre os lábios da moça, beija-a apaixonadamente. Sisa, apesar de já quase expirando, enlaça-se ao noivo, beija-o ardentemente e morde os lábios daquele que será seu companheiro no Reino de Pachacámac, o Criador do mundo.

Essa desgraça produziu um grande alarme na ayllu e entre os soldados ibéricos. D. Bobadilia, subcomandante do grupamento, chorando, recolhe o corpo inerte de seu chefe para as cerimônias fúnebres. O padre não teve tempo sequer de ministrar-lhe o sacramento da extrema-unção. Indignados, os soldados arrastam bruscamente os corpos de Kittzi e Sisa até a borda de um abismo daquela gélida Cordilheira dos Andes. Balançam os corpos daqueles pagãos, e, com asco, os atiram, um a um, ao leito de um rio que corre no fundo do vale. É o Apurímac (o sussurrante), que se lança no Ene e no Tambo para tomar o nome de Ucayali, o mais legítimo formador do Amazonas. Os castelhanos observam, ao longe, os corpos sumirem nas águas barrentas, para boiarem logo depois, vivos, fortes e belos. Por toda a imensidão do vale ecoou, então, uma frase que foi logo traduzida pelos índios:

“Nosso amor é maior que a morte!”

Ninho de Jaçanã na Vitória Amazônica


Em seguida os noivos mergulharam e desapareceram. Desde então se tem notícia do aparecimento de uma bela planta de folha arredondada, com a forma de tabuleiro. À noite, ao lado da folha aparece uma flor bela e perfumada, inexistente em qualquer outro lugar do mundo. Essa planta espalhou-se pelo rio Solimões abaixo, adotando o nome de “IPUNA-CAÁ”, dado pelos índios do Pindorama (Brasil). Séculos mais tarde os ingleses a denominaram Vitória-Régia. Dizem os velhos que é a alma de Sisa transformada em planta. A mais bela de todas. Aquela que se tornou a rainha dos lagos encantados. O curioso é que sempre, junto à planta, é vista uma ave chamada jaçanã. Os curacas mais antigos afirmam ser Kittzi, transformado em pássaro, que jamais deixou de acompanhar sua amada. Sem dúvida, era grande a paixão dos jovens aimarás. Era “um amor maior que a morte”.

-  Partida da Ilha do Bispo (02.02.2012)

O sono foi interrompido, à noite, pelo calor e pelo movimento incessante de embarcações que passavam ao largo e miravam seus possantes holofotes para nossa embarcação. Partimos cedo, como de costume, o tempo estava razoavelmente calmo até a uns trinta quilômetros de Parintins. Os ventos fortes provocavam banzeiros com ondas superiores a 60 cm nas proximidades da margem. Eu tinha duas opções: continuar margeando a uma velocidade de 9 km/h enfrentando pequenas ondas em um percurso maior ou procurar o talvegue e enfrentar ondas maiores e encurtar o percurso. Como o João Paulo já me reclamara que as ondas amazônicas eram muito fracas decidi adotar a segunda linha de ação, com muito mais emoção, e partimos em linha reta para o Porto de Parintins. As ondas ultrapassavam 1,5 metro, volta e meia eu observava como estava se saindo meu parceiro e achei que ele daria conta do recado. O Mário, Comandante do Piquiatuba, por medida de segurança, diminuiu sua distância para uns 50 metros. A Rosângela conseguiu tirar diversas fotos deste percurso em que os caiaques mais pareciam potros xucros corcoveando sobre as ondas. Quando chegamos ao Porto, depois de percorrer 68 km, por volta das 12h30, lá estava nosso caro amigo Major PM Túlio nos aguardando. Como no ano passado ele conseguiu um maravilhoso Hotel para pernoitarmos o Hotel do Boi Ariaú Tower, cujas instalações primorosas, as melhores que encontramos nestas quatro descidas, muito nos aguardaram. Durante o almoço, contando com o testemunho da Rosângela, Comandante Túlio e a tripulação do Piquiatuba, apresentei a moção de nomear, a partir de agora, o João Paulo como canoísta tendo em vista o seu desempenho frente às turbulentas águas das cercanias de Parintins.