MAPA

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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Nas Águas da Família Schiefelbein

Nas Águas da Família Schiefelbein


Durante o vôo, o maguari e alguns outros pernaltas esticam o pescoço em linha reta. As grandes garças, ao contrário, inclinam o longo pescoço para trás numa belíssima curva, de maneira que a cabeça fica bem próxima das espáduas.
(Theodore Roosevelt)

Desde pequeno, as Maguaris (Ardea cocoi) me fascinam e parece que, volta e meia, as circunstâncias nos envolvem numa bela e emocionante trama. Às vésperas de minha jornada pela Margem Ocidental da Laguna dos Patos eu precisava encontrar, em Bagé, um lugar adequado para treinar e que não ficasse muito longe da cidade. A Rosângela sugeriu que solicitássemos à família Schiefelbein o uso de sua bela barragem, na Granja do Valente.

A recepção não poderia ser mais cordial e os amigos prontamente aquiesceram. Ao contrário do Rio Negro, em Bagé, aqui eu podia desenvolver meu treinamento mais adequadamente e com mais rigor. A volta pelo perímetro da represa, incluindo a entrada por um canal de tomada d’água para a lavoura, era vencida entre 40 e 50 minutos o que facilitava meu controle e me permitia desenvolver uma velocidade similar à que vou imprimir na Laguna dos Patos. A montante da barragem as árvores submersas exibiam, além de seus galhos secos, aproximadamente 30 ninhos das formidáveis Maguaris. Era a primeira vez que eu tinha a oportunidade de admirar de perto um ninhal de tal envergadura. Já observara inúmeros ninhais no Pantanal Mato-grossense e na Amazônia de diversas outras espécies, mas nenhum de Maguaris.

A navegação a cada volta ganhava um momento mágico que era poder admirar minhas caras amigas de perto e de lambuja um ninho, à altura de meus olhos, de um João Grande (Ciconia euxenura) com três grandes ovos. Graças aos Schiefelbein revivi, nestes poucos dias em que permaneci em Bagé, a ave de meus encantos juvenis.

-  Ardea cocoi

A garça-moura ou maguari é uma ave ciconiforme da família Ardeidae. É a maior das garças do Brasil, atingindo 1,20m de altura, uma envergadura de 1,80m e um peso de 3k. Durante o vôo as batidas de asas são ritmadas e lentas. Em deslocamentos médios ou longos encolhem graciosamente o pescoço ao mesmo tempo em que estendem as pernas completamente, apenas em pequenos vôos mantém o pescoço esticado em linha reta, como menciona Roosevelt. Fora do período reprodutivo vive solitária e, mesmo nessa época, a maioria mantém-se isolada durante a alimentação. Permanece pousada nas margens dos mananciais, em meio à vegetação, pescando peixes, rãs, pererecas, crustáceos, moluscos e pequenos répteis. Graças às suas longas pernas e pescoço consegue capturar presas de lugares mais profundos do que as demais garças.

Possui um longo período de acasalamento e nidificação que se estende de janeiro a outubro quando então reúnem-se em ninhais coletivos. Os grandes ninhos construídos com gravetos e forrados com gramíneas são construídos na parte superior e externa das árvores de maneira a permitir a aproximação das grandes aves. O casal se reveza desde período do choco até a alimentação dos 3 ou 4 filhotes de sua ninhada. O ninhal favorece a segurança contra os principais predadores, nesta fase, que são os carcarás e urubus, que tentam se apoderar dos ovos e filhotes.

Neste período a plumagem dos pais é acrescida de um pequeno tufo de penas brancas na base do pescoço além das penas acinzentadas e negras ficarem mais nítidas. O mesmo acontece com as penugens ao redor dos olhos que fica mais azulada e o bico que ganha um amarelo mais vivo. Os filhotes ostentam as mesmas cores dos pais, mas bem mais esmaecida, e não possuem a listra negra do pescoço ou do ventre.




Forte de Santa Tecla, Bagé, RS

Forte de Santa Tecla, Bagé, RS


Não estou preocupado apenas com o passado. Estou preocupado com a forma como o passado é trazido para o presente para disciplinar e normalizar. (Thomas Popkewitz)

Aproveitando, mais uma vez, minha estada em Bagé fui fazer uma visita, desta feita, ao sítio do Forte de Santa Tecla. Como pesquisador estava interessado em conhecer o local, a biografia do autor do projeto, detalhes de sua construção, data de conclusão da obra, sua história, mas antes de tudo queria descobrir quem fora Santa Tecla que emprestara seu nome à Fortificação. A falta de sinalização não impediu que chegássemos ao vigia da área, senhor Delmar Soares Delgado, funcionário da Universidade da Região da Campanha (URCAMP) que manifestou sua indignação em relação ao tratamento dispensado àquele Patrimônio Histórico Nacional pelas autoridades responsáveis.

Pulamos a cerca e nos deparamos com uma lápide à frente do fosso que protegia a entrada do Forte de onde os marginais haviam arrancado as placas de cobre que identificavam o Patrimônio Histórico. Algumas pedras dispersas e o formato curioso do relevo nos permitiam imaginar as antigas estruturas da Fortaleza. Apenas dois grandes poços circulares, hoje cobertos por grades, sobreviveram à ação das tropas, do tempo e dos vândalos. As duas imagens, que acompanham o presente artigo, da planta baixa do Forte e de uma vista aérea da região permitem que se tenha uma idéia da antiga construção.

-  Santa Tecla
    Fonte: Frei Jacir de F. Faria - A vida secreta dos apóstolos e apóstolas à luz dos Atos Apócrifos.


A origem do termo Apócrifo é grega – “Apokryphos” que significa oculto ou não autêntico. Os religiosos o usam para designar os documentos do início da era Cristã, que tratam da vida e dos ensinamentos de Jesus, que não foram incluídos na Bíblia Sagrada por serem considerados ilegítimos.

E após a exibição, Trifena novamente a recebeu. Sua filha Falconila havia morrido e disse para ela em sonhos: Mãe: deverias ter esta estrangeira, Tecla, como a mim, para que ela ore por mim e eu possa ser levada para o lugar dos justos.
 (Atos de Paulo e Tecla)

Atos Apócrifos de Paulo e Tecla” conta que quando Paulo passou por Icônio, cidade de Tecla, ela ficou sentada no pé da janela vizinha de sua casa, escutando noite e dia a sua pregação. Aí ela permaneceu três dias e três noites, sem beber e comer. Sua mãe, Teocléia, mandou chamar o seu noivo Tamiro. Este, ansioso por ver Tecla apressou-se a vir. “Onde está, a minha Tecla, para que eu possa vê-la?”, exclamou.

Teocléia acusou Paulo de seduzir as virgens da cidade com a sua pregação. De Tecla, ela disse que estava apaixonada pelo estrangeiro Paulo. “Como aranha na janela, fascinada pelas suas palavras, está dominada por um desejo e uma terrível paixão”, disse.

Tamiro articulou com Demas e Hermógenes denunciar Paulo ao Governador Castélio. Reunido o povo, oficiais e chefes, ele logrou levar Paulo ao Governador. Este mandou prender Paulo, até que se pudesse averiguar melhor os fatos.

Sabendo do ocorrido, Tecla foge, à noite, de sua casa, suborna o porteiro e o carcereiro da prisão com pulseiras e espelho de prata, para encontrar-se com Paulo. E ali, ela permaneceu sentada, ouvindo a pregação de Paulo.

A visita de Tecla a Paulo na prisão teve como consequência a flagelação e expulsão de Paulo de Icônio. “Atos de Paulo e Tecla” relata que:

O Governador ordenou que Paulo comparecesse perante o tribunal. Mas Tecla estava parafusada no lugar onde Paulo havia sentado na prisão. E o Governador ordenou que ela também fosse levada ao tribunal e ela foi com uma alegria imensa. E quando Paulo compareceu no tribunal, as multidões gritavam violentamente: É um bruxo! Fora daqui! Mas o Governador escutou alegremente Paulo falando das obras santas de Cristo. Depois de conferir com o seu conselho, ele intimou Tecla e disse: Por que não casas com Tamiro segundo as leis de Icônio? Mas ela continuou olhando seriamente para Paulo e como nada respondesse, Teocléia, a mãe dela gritou: Queima o perverso; queima-a também no meio do teatro, ela que não quer casar; para que todas as mulheres que foram ensinadas por este homem tenham medo.

O Governador, então, condenou Tecla a ser queimada viva. Logo após a sentença do Governador, diz Atos de Tecla e Paulo, que:

Imediatamente o governador se levantou e foi para o teatro. Toda a multidão saiu para ver esse espetáculo. Mas como uma ovelha no deserto olha ao redor, procurando o pastor, assim Tecla ficou procurando por Paulo. Olhando para a multidão, ela viu o Senhor sentado com o semblante de Paulo e ela disse: Como se eu não estivesse capaz de sofrer, Paulo, tu vieste atrás de mim? E ela olhou intensamente para ele, mas ele subiu para o céu. Os rapazes e as moças trouxeram lenha e para que ela pudesse ser queimada. Mas quando ela apareceu nua, o Governador chorou e admirou o poder que estava nela. Os algozes prepararam a lenha e mandam-na subir na pilha. Ela fez o sinal da cruz e subiu na pilha. Acenderam o fogo e, se bem que um grande fogo se alastrasse, não a atingiu. Deus, tendo compaixão dela, provocou um ruído no subsolo e uma nuvem carregada de água e granizo cobriu o teatro por cima e derramou de vez, de maneira que muitos ficaram em perigo de morte. O fogo foi apagado e Tecla salva.

Tecla saiu dali e encontrou-se com um dos filhos de Onesífero, que tinha ido à cidade para comprar pão para Paulo e sua família que havia fugido com Paulo de Icônio para Dafné. O menino levou Tecla para encontrar-se com Paulo. Ela o encontrou rezando, em um túmulo, pela libertação de Tecla. Ambos se alegraram pelo ocorrido. Ali mesmo, eles celebraram a Eucaristia. Tecla quis cortar os cabelos para seguir Paulo, mas ele não permitiu, dizendo que ela era muito bonita e que ainda podia se apaixonar por outro homem. E ele lhe disse também, aludindo ao batismo:

Tecla tem paciência, receberás primeiramente a água.

Depois deste ocorrido, Onosífero voltou com a família para Icônio e Paulo seguiu viagem com Tecla para Tessalônica. E aconteceu que quando estava em Antioquia, Alexandre, um notável da cidade e organizador dos jogos no circo, apaixonou-se por Tecla e quis comprá-la de Paulo. Paulo negou que a conhecesse. Alexandre abraçou na rua. Tecla, então, gritou amargamente:

Não violentes a estrangeira, não violentes a serva de Deus. Eu sou uma das pessoas mais influente em Icônio, mas porque não quis me casar com Tamiro, eu fui expulsa da cidade. E, agarrando Alexandro, ela rasgou a sua capa, arrancou sua coroa e fez dele uma chacota.

Esta sua atitude lhe causou, por influência de Alexandre, o enfrentamento das feras em um circo, conforme costume romano. Tecla assumiu diante do governador que havia desafiado Alexandre. A tradição apócrifa conta que Tecla enfrentou feras no circo diante do povo reunido, Alexandre, o Governador e, sobretudo mulheres e crianças. Antes, porém, uma rainha de nome Trifena, a tomou sob sua proteção, em substituição à sua filha Falconila, que havia morrido. Assim, Tecla se manteve pura, sem ser violentada, para o sacrifício.

A primeira fera enfrentada por Tecla foi uma Leoa. Tecla foi amarrada sobre ela e esta lambia os seus pés tranquilamente. No dia seguinte, Tecla foi levada a mando do Governador para enfrentar leões e ursos. Trifena a acompanhava. Tecla foi tirada de sua proteção, despida e jogada no meio das feras com um cinto nas mãos. Um urso e um leão que avançaram sobre Tecla foram mortos por uma leoa que defendia Tecla. A multidão das mulheres gritava pela sua morte. A leoa que defendia Tecla também morreu.

Enviaram muitas feras, enquanto ela, de pé, estendia suas mãos e rezava. Quando terminou de rezar, ela se virou e avistou um grande poço cheio de água e disse: Agora está na hora de me lavar. Ela se jogou (no poço), dizendo: Em nome de Jesus Cristo, eu me batizo a mim mesma no meu último dia. Quando as mulheres e a multidão a viram, choraram e disseram: Não te jogues na água! Até o governador chorou porque as focas iriam devorar tal beleza. Ela se jogou, pois, na água em nome de Jesus Cristo, mas a focas, tendo visto um raio de relâmpago, morreram todas e ficaram boiando na superfície; e houve ao redor dela uma nuvem de fogo, de maneira que as feras não conseguiram tocá-la e que ninguém a viu nua.

Outras feras foram soltas para atacar Tecla. Com o perfume e flores que as mulheres jogaram, estas ficaram hipnotizadas e não atacaram Tecla. Por fim, Tecla foi amarrada a touros terríveis, os quais tinham ferros aquecidos amarrados em suas genitálias. Isto foi preparado para que Tecla fosse destruída pelos mesmos. Ocorreu que, diante daquele espetáculo, a rainha Trifena desmaiou, a chama que rodeava Tecla consumiu as cordas e Tecla ficou livre. O governador mandou parar o espetáculo. Alexandro se arrependeu do que havia feito e implorou a libertação de Tecla.

Ainda no meio das feras, o Governador perguntou-lhe:

Quem és tu? E qual é o escudo que te rodeia, para que nenhuma fera te toque? Ela respondeu: Eu sou a serva do Deus vivo. Quanto ao que me rodeia, eu acredito no Filho de Deus no qual ele se compraz. É por isso que nenhuma dessas feras me tocou; pois somente ele é a plenitude da salvação e o alicerce de vida eterna. Pois ele é o refúgio dos naufragados, a consolação dos oprimidos, o amparo para o desesperado; por isso mesmo, quem não acreditar nele não viverá, mas morrerá para sempre. Quando o Governador ouviu aquilo, ele mandou que roupas fossem trazidas e lhe disse: Vestes estas roupas. Mas ela respondeu: Aquele que me vestiu quando estava nua no meio das feras, vestir-me-á com a salvação no dia do julgamento.

Após este diálogo, Tecla se vestiu. O governador publicou um decreto soltando Tecla. As mulheres da cidade gritaram louvando Deus por este ocorrido. Sabendo que Tecla fora libertada, Trifena, com uma multidão, foi encontrar-se com Tecla. Ela proclamou a fé na ressurreição, acolheu Tecla em sua casa e lhe prometeu passar os seus bens. Tecla ficou ali oito dias. Pregou a Palavra de Deus. Muitas empregadas se converteram.

Sabendo que Paulo estava em Mira, Tecla vestiu uma capa que a fez parecer homem. Reuniu rapazes e moças e foi ter com Paulo. Quando este a viu com homens pensou que uma nova tentação teria caído sobre ela. Tecla lhe disse que havia recebido o batismo. Paulo a conduziu para a casa de Hermias e ouviu a sua história. Tecla havia levado roupas e ouro, oferecidos por Trifena. Ela os deixou com Paulo. Após o encontro com Paulo, Tecla foi para Icônio pregar a Palavra de Deus. Em Icônio, ela ficou na casa de Onesífero. Ela prostrou-se sobre o lugar onde Paulo havia sentado e ensinado a palavra de Deus. Ela gritou:

Meu Deus e Deus desta casa onde a luz brilhou sobre mim, Jesus Cristo, Filho de Deus, meu Salvador na prisão, meu salvador perante o governador, meu salvador no fogo, meu salvador no meio das feras, só tu és Deus, a ti a glória para todo o sempre. Amém.

Quando Tecla estava em Icônio, ela se deu conta que Tamiro, seu antigo noivo havia morrido. Encontrando viva a sua mãe, Tecla disse:

Teocléia, minha mãe, podes acreditar que o Senhor vive no céu? Pois se desejas riquezas, o Senhor as dará por mim, mas se desejas tua filha, eis que estou aqui ao teu lado”.

E vida de Tecla, narrada em Atos de Paulo e Tecla, termina afirmando que:

Tendo assim dado o seu testemunho, ela se dirigiu para Selêucia e iluminou a muitos pela palavra de Deus. Depois repousou num glorioso sono.

Tecla morre aos 90 anos, em Selêucia, depois de converter muitos pagãos. Seu corpo foi sepultado nessa cidade, onde foi erguida uma grande igreja em sua homenagem. Atualmente parte de suas relíquias está em uma catedral em Milão.

-  Bernardo Lecocq Onesy

Bernardo Lecocq Onesy, filho do engenheiro militar de origem flamenca Pedro Lecocq e da irlandesa María Onesy nasceu em Corunã, Espanha, a 10 de fevereiro de 1734. Faleceu em Montevidéu, no dia 7 de dezembro de 1820. Como engenheiro militar desempenhou atividades importantes no Vice-Reino do Rio da Prata, onde comandou o Real Corpo de Engenheiros.

Estudou na Academia de Nobres Artes de Madrid e, em 1753, iniciou sua carreira militar como engenheiro, sendo seu primeiro destino Cataluña como Subtenente Delineador. Em 1770, dois anos após a reordenação do Real Corpo de Engenheiros como uma arma independente, Lecocq foi designado para a Banda Oriental, na fronteira com Brasil. Em 1772, foi nomeado Engenheiro Extraordinário na cidade de Buenos Aires, e em 1773 acompanhou a expedição do governador de Buenos Aires Juan José de Vértiz y Salcedo.

No contexto da invasão espanhola de 1763-1776, o governador saiu do Prata com destino à Coxilha Grande com uma guarnição de 5.000 homens, em 1773, com o objetivo de expulsar os portugueses do território gaúcho. Atingiram Santa Tecla, no início de 1774, posto avançado da estância de São Miguel das Missões. Nesse local, considerado estratégico para o controle do trânsito das tropas que cruzavam a região, determinou ao engenheiro Bernardo Lecocq a construção de uma fortificação.

-  Forte Santa Tecla



O Forte foi projetado na forma de um pentágono irregular, compreendendo baluartes de 5,5 metros de altura denominados de Santo Agostinho, São Miguel, São João Batista, São Jorge e um meio-baluarte de São Francisco. As muralhas de 3 metros de altura foram levantadas com leivas de barro socado (taipa) rodeado por um fosso de 9 metros de largura e 2,5 metros de profundidade e as construções, de pau-a-pique, distribuídas em torno da praça de armas. Suas dimensões aproximadas eram de 114 metros na face Norte, 77 metros na face Leste, 88 metros na face Sul, 62 metros na face Sudoeste e 83 metros na face Oeste.

Depois de vinte e seis dias de cerco as forças portuguesas, um contingente de 1.500 homens, sob o comando do sargento-mor Rafael Pinto Bandeira, forçaram os 250 espanhóis entrincheirados no Forte a renderam-se no dia 23 de março de 1776. Santa Tecla foi incendiado e arrasado.

O vice-rei do Brasil D. Luiz de Vasconcellos e Souza, acerca do progresso das demarcações devidas pelo Tratato de Santo Ildefonso, de 1777, informa:

Com a contradição manifesta aos sobreditos artigos, 4°, 5° e 6° do Tratado de Santo Ildefonso, 1777, pretendeu o comissário espanhol no progresso das demarcações das principais vertentes do rio Negro e Piraí, que o Forte de Santa Tecla, situado dentro do espaço intermédio, ficasse pertencendo à Espanha, torcendo-se e estreitando-se a linha divisória para a parte de Portugal, a fim de ficar salva a pequena distância de três quartos de légua, em que se acha o dito forte, depois de assinalados os limites de ambas as nações. Conserva-se presentemente este forte em tão mau estado, que nada perde a Espanha em se arrasar e demolir: os seus parapeitos estão por terra em quase todo o recinto, o seu fosso no nível da campanha, e os seus quartéis mal servem de abrigo a uma guarnição de quarenta homens.

A sua construção sempre foi a de um forte de campanha ou de registro, com figura irregular pentagônica, composto de três baluartes e de dois meio baluartes construídos de torrão, sem maior resguardo. A única utilidade que alucina aos espanhóis para se conservar o dito forte se reduz a impedir os contrabandos das inumeráveis cabeças de gado vacum de que abundam aquelas grandes campanhas: mas é certo que existindo semelhante fortificação no meio de uma região deserta, e cruzada, além disso, de tantas estradas e veredas, para Maldonado, Montevidéu, Missões, Rio Grande e Rio Pardo, nem se podem conseguir aquelas aparentes vantagens, nem também deixarão de ocorrer motivos de discórdia entre os vassalos dos dois domínios, por ficar aquela vigia tão próxima da linha divisória por parte de Portugal, e tão remota e separada das outras povoações pertencentes à Espanha, infringindo-se consequentemente as regras mais certas da recíproca segurança, que o mesmo Tratado prescreve. (...) de comum acordo se entrou a demarcar o terreno compreendido entre as vertentes do Ibucuí-guassu até as imediações da falda meridional do Monte-Grande. Então é que conheceu o nosso comissário que, aceitando a nova proposição que lhe fez o seu concorrente, de admitir o curto espaço de légua e meia entre os limites do terreno neutral, se podiam melhor adiantar e estender os domínios de S. M., sem se embaraçar, entretanto, com a única objeção de ficar inteiramente salvo e fora dos limites daquelas reservas o sobredito insignificante Forte de S. Tecla, que em qualquer caso de dever ou não existir, não embaraçava o recurso do expediente proposto, e só podia servir de obstáculo para não se verificarem as conhecidas utilidades, que se representavam para Portugal naquela demarcação. (...)

Não deixa, contudo, de fazer algum obstáculo à demarcação, o dito Forte de S. Tecla, por não exceder ali o terreno neutral a curta distância de légua e meia, ficando posto e aquela vigia em um lugar tão arriscado, e tão próximo à linha divisória, contra a forma estipulada no art. 6º. Mas, nem por isso deixou o primeiro marco do lado da Espanha de ficar muito contíguo ao dito forte, que não deixara por esse motivo de vir a ser demolido, como se deve esperar da prevenção com que D. José Varella tem premeditado mudá-lo para um dos três cerros de Bagé, que existem pouco mais de três léguas ao sudeste da linha divisória.

Reconstruída pelos espanhóis, em 1778, a fortificação foi definitivamente destruída em 1801, pelas tropas portuguesas, sob o comando do Coronel Patrício Correia da Câmara, primeiro Visconde de Pelotas, comandante do Regimento de Cavalaria de Dragões do Rio Grande do Sul.

Em 1811, Dom Diogo de Souza concentrou suas tropas para invasão da Banda Oriental do Uruguai no sítio histórico do Forte.

-  Um Desastre chamado La Salvia

Em 1970, o arqueólogo Fernando La Salvia, da Universidade de Caxias do Sul, acompanhado do historiador, paisagista, poeta, urbanista, artista plástico, arquiteto e engenheiro Francisco Riopardense de Macedo realizaram escavações no sítio histórico e encontraram as fundações do Forte, comprovando sua existência. Nestas escavações foram ainda encontrados pregos, pedaços de ferro, cerâmica e louça. Os pesquisadores acharam, nos dois poços que mencionei no início do artigo, rodas de carretas maciças, uma culatra de canhão, pedaços de móveis e outros materiais que podem ter pertencido ao Forte. La Salvia levou todo o acervo encontrado no sítio arqueológico para sua residência. A Família de La Salvia, após sua morte, se desfez de todo o material que, possivelmente, foi parar no lixo.




Santo Antônio do Cachoeiri

Santo Antônio do Cachoeiri


É na tradição, nas antigas narrativas, nesses arquivos universais chamados erroneamente de lendas, é nos velhos contos que o homem poderá encontrar a sua verdadeira identidade mágica. (Mario Mercier)

O Irmão maçom Hamilton Souza (o Ariuca), de Oriximiná, Pará, além de cantor e compositor é um excelente contador de histórias e, a nosso pedido, fez um belo relato do que ele mesmo denominou de “Auto do Santo Antônio do Cachoeiri”.

Conta a lenda que um determinado cidadão que trabalhava como coveiro, em Óbidos, ao preparar uma cova encontrou uma imagem entalhada em madeira com características barrocas. Uma coisa totalmente inusitada porque nós não temos artesãos especializados em esculturas sacras de madeira neste estilo.

Durante a escavação o coveiro quebrou um dos dedos do pé da imagem, não sei se do pé esquerdo ou direito, que era negra e que mais tarde se atribuiu a Santo Antônio. Essa imagem foi trazida para cá e começou a ser cultuada, o grande lance mítico da história é que a imagem falava com o dono do Santo e relatava seus interesses. O dono do Santo em sonhos ou visões tratava diretamente com o Santo e traduzia para a Comunidade o que era do interesse do Santo.

E essa coisa foi ficando tão forte que os navegantes ao cruzarem o Paraná do Cachoeiri, que liga o Trombetas ao Amazonas, iam até lá para fazer promessas, pagar suas indulgências e cultuar o Santo Antônio. Com o aumento da popularidade do Santo e a morte de seu dono, o dom de falar com o Santo passou para a mulher do falecido. A igreja católica não aceitava o culto do Santo e as atividades religiosas que ali promoviam eram totalmente desvinculadas do Santo milagreiro, considerada pelos religiosos como uma atividade espúria, pois o Bispo, reticente, preferia não incluí-la no calendário religioso.

Certa feita ocorreram diversos fatos que tem registro factual, por exemplo:

1.  O Santo solicitou à mulher do falecido que desejava que sua imagem fosse recuperada e pintada, e a sua nova dona, atendendo ao pedido do Santo, resolveu entregá-la a um Padre que encaminhou à Prelazia, em Óbidos, onde existia um especialista que se encantou com a imagem e mandou fazer uma réplica da imagem em gesso, e enviou a cópia para a dona da imagem.

Certo dia ela recebe o queixume do Santo, em sonho, que pedia que ela fosse buscar a sua imagem já que aquela que ali estava não era o Santo verdadeiro. Ela, imediatamente procurou o Padre que desconversou dizendo que aquela era a imagem verdadeira. Não se dando por satisfeita ela resolveu ir até Óbidos onde procurou o Bispo. O Bispo ratificou a afirmação do Padre e afirmou que já tinham feito a restauração da imagem sem cobrar nada e que ela se conformasse com isso.

Ela sem saber o que fazer e sendo pressionada, durante o sonho pelos queixumes do Santo, que afirmava que ela tinha a missão de recuperar a imagem roubada, ela acabou procurando o Ministério Público do Município e apresentou a queixa. O Ministério Público encaminhou uma Carta Precatória ao Bispo convocando-o para uma audiência. O representante da Igreja, na dita audiência, lá chegando foram tratadas das características da imagem e a dona do Santo relatou que a sua imagem era de madeira, etc... Aí o Bispo perguntou-lhe porque ela achava que aquela não era a sua imagem ao que ela respondeu que além do dedinho do pé quebrado, de ser de madeira, a sua imagem estava em um determinado local e numa determinada gaveta. O Bispo impressionado com a fidelidade do relato resolveu restituir a imagem à sua verdadeira dona.

2.  Outro episódio absolutamente inusitado que teria ocorrido foi o fato de que depois disso resolveu-se organizar um evento religioso, uma quermesse, que ano a ano foi crescendo, juntamente com a Comunidade, acarretando lucro considerável para os organizadores da festa. O Paraná do Cachoeiri sofre com os fenômenos das terras caídas e o Santo Antônio veio, em sonho, para sua dona e disse queria que construíssem uma Capela para ele porque afinal de contas os festejos haviam gerado lucros significativos e não era justo que o Santo permanecesse morando numa choupana. Os organizadores não deram importância a essa história, embora a dona do Santo continuasse insistindo, e protelavam a construção da Capela de alvenaria dizendo que os recursos não eram suficientes e prometiam sua execução sempre para o ano seguinte.

Um dia desmoronou o barranco e o casebre que abrigava o Santo foi engolido pelas águas permanecendo no local apenas o altar do Santo. Fato documentado pela Dona Rosa, uma das devotas, mas fiéis do Santo Antônio do Cachoeiri se preocuparam em fotografar o local depois do ocorrido.

A dona do Santo faleceu passando o dom para a filha, cujo irmão em uma das quermesses resolveu vender cachorro quente durante o evento. O irmão foi impedido tendo em vista não ter pago o alvará na Prefeitura, nem as taxas devidas aos organizadores da festa que resolveu levar o Santo Antônio que pertencia à sua família. O impasse estava formado, como fazer a festa em homenagem ao Santo sem a sua imagem.

O fato dividiu a cidade num momento em que não havia nem promotor de justiça, nem juiz, nem prefeito na cidade e se encontrava apenas um defensor de justiça que é nosso irmão na maçonaria. E naquela história toda, claro que a pressão era da população que reivindicava afirmando que o Santo não era de propriedade de ninguém e como se tratava de um Santo milagreiro era de propriedade coletiva. Como é que o cara pega e leva o Santo, alguns afirmavam, é mas quem trouxe o Santo foi a família do cara e ele não tem o direito de vender cachorro quente, diziam outros.

O defensor público mandou que as forças policiais organizassem uma verdadeira cruzada na busca desse Santo. O homem foi preso e o Santo recuperado e embrulhado em um saco de lixo preto e colocado em cima de um armário e lá permaneceu esquecido como prova cabal do roubo. Até que a questão fosse decidida o Santo permanecia retido, e se iniciou uma outra campanha – a de libertação do Santo que estava preso. Neste mesmo dia a mulher que falava com o Santo, irmã do ladrão do Santo, procurou Nosso irmão Mário Luis (corujinha) que era Defensor Público e disse que tinha falado com o Santo. O Defensor Público retrucou dizendo que ela não falava com o Santo coisa nenhuma e ela afirmou que o Santo havia pedido que o soltasse e que se isso não fosse feito o Defensor iria sofrer uma grande desgraça na sua vida. O Defensor não se impressionou com a ameaça e dispensou a mulher.

No dia seguinte ele tinha de realizar o transporte de parte do seu gado da várzea para a terra firme através de balsas. Aqui na região os rios são calmos, as balsas dificilmente viram, naquele dia o Defensor levou sua única filha, o Prefeito e seus oito filhos na mesma embarcação. Inopinadamente surgiu um vendaval virando a embarcação no qual veio a falecer somente a filha do Defensor. Hoje ele tem muita dificuldade para tratar do assunto por conta da experiência absolutamente negativa que ele teve.

De alguma forma a crença e a lenda se fortalecem. O fato é que o Santo Antônio do Cachoeiri é tido como um Santo de muita força e hoje se encontra na sua Capela tão reclamada às margens do Cachoeiri.





sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Tratamento da Malária, uma Espera de 50.000 anos

Tratamento da Malária, uma Espera de 50.000 anos


A quinquina ou Kina-kina era conhecida na Europa como “casca do Peru”. Foi no Peru que os nativos descobriram suas propriedades antimaláricas. A tradição reporta que sua nova denominação levou o nome da condessa de Chinchon, mulher do Vice-rei do Peru, que foi curada pela casca. A Condessa introduziu a droga na Espanha onde ficou conhecida como “pó da condessa”.
-  Pequeno Histórico

Giovanni Maria Lancisi, em 1717, verificou que os habitantes dos pântanos eram mais suscetíveis à doença e resolveu renomear a doença conhecida até então como paludismo para malária que significa “maus ares”.


Embora a malária venha infectando os seres humanos há pelo menos 50.000 anos a doença se alastrou com o desenvolvimento da agricultura. A agricultura propiciou um crescimento populacional desenfreado e a destruição dos ambientes naturais causando um aumento sem precedentes do número de mosquitos Anopheles dando início a uma verdadeira epidemia que ainda hoje persiste.

Na América do Sul, os nativos peruanos, usavam a casca da árvore da Cinchona para o tratamento da malária. O médico e naturalista britânico Richard Spruce foi contratado pelo governo Indiano para localizar e estudar o gênero Cinchona, quinino - único antimalárico conhecido na época - e coletar sementes e mudas para cultivar essa espécie nas colônias britânicas asiáticas. Mesmo com o rígido controle das autoridades e proprietários rurais peruanos conseguiu identificar as melhores árvores, coletar as suas sementes na época adequada, compreender como cultivá-las e, exportar o material coletado. O trabalho consumiu dois anos de sua profícua existência e neste período realizou estudos e recolheu amostras na área que possuía a maior quantidade e qualidade de seu objeto de estudo - a cinchona. Enviou mais de cem mil sementes, do porto de Guaiaquil para a Índia e, em 1861, despachou 637 mudas que ele próprio havia cultivado. Graças ao seu esforço a indústria de quinino do Sudeste asiático se desenvolveu, gerando divisas importantes aos países produtores e, em contrapartida, rendendo, para Spruce, uma modesta pensão anual. Em decorrência desse trabalho milhões de vidas, no mundo inteiro, foram salvas. O uso indiscriminado da quinina aumentou significativamente a resistência do parasita.

-  Malária
Fonte: Jornalista Pablo Ferreira, da Agência Fiocruz de Notícias.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, hoje em dia, a malária é de longe a doença tropical e parasitária que mais causa problemas sociais e econômicos no mundo e só é superada em número de mortes pela AIDS. Também conhecida como paludismo, a malária é considerada problema de saúde pública em mais de 90 países, onde cerca de 2,4 bilhões de pessoas (40% da população mundial) convivem com os risco de contágio. Anualmente, sobretudo no continente africano, entre 500 e 300 milhões são infectados, dos quais cerca de um milhão morrem em consequência da doença. No Brasil, principalmente na região amazônica a malária registra por volta de 500 mil casos por ano - no entanto, aqui a letalidade da moléstia é baixa e não chega a 0,1% do número total de enfermos.

A malária é causada por protozoários do gênero Plasmodium e cada uma de suas espécies determina aspectos clínicos diferentes para a enfermidade. No caso brasileiro, destacam-se três espécies do parasita: o P. falciparum, o P. vivax e o P. malarie. O protozoário é transmitido ao homem pelo sangue, geralmente por mosquitos do gênero Anopheles ou, mais raramente, por outro tipo de meio que coloque o sangue de uma pessoa infectada em contato com o de outra sadia, como o compartilhamento de seringas (consumidores de drogas), transfusão de sangue ou até mesmo de mãe para feto, na gravidez. Apesar da malária poder infectar animais como aves e répteis, o tipo humano não ocorre em outras espécies (mesmo ainda sem comprovação, há a suspeita de que certos tipos de malária possam ser transmitidos, sempre via mosquito, de macacos para humanos).


Em comum, todas as espécies de Plasmodium atacam células do fígado e glóbulos vermelhos (hemácias), que são destruídos ao serem utilizados para reprodução do protozoário. Quando o mosquito pica o homem, introduz em sua corrente sanguínea, por meio de sua saliva, uma forma ativa do Plasmodium, denominada esporozoíta e que faz parte de uma de suas fases evolutivas. Uma vez no sangue, os esporozoítas rumam para o fígado, onde penetram as células hepáticas para se multiplicarem, dando origem a outra fase evolutiva chamada merozoíta. Uma parte dos merozoítas permanece no fígado e continua a se reproduzir em suas células, a outra cai novamente na corrente sangüínea e adentra as hemácias para seguir com o processo reprodutivo. As hemácias parasitadas também são destruídas e originam ora outros merozoítas, ora gametócitos, células precursoras dos gametas do parasita e que são tanto femininas quanto masculinas.

O mosquito Anopheles torna-se vetor da malária a partir do momento que ingere gametócitos (femininos e masculinos) de um indivíduo infectado. Dentro do mosquito, os gametócitos tornam-se gametas e fecundam-se, originando o zigoto, que atravessa a parede do estômago do inseto e transforma-se em oocisto, tipo de célula-ovo. Após algum tempo, o oocisto se rompe e libera novos esporozoítos, que migram para as glândulas salivares do mosquito estando assim prontos para infectar um novo indivíduo. (...)

-  Descaso com as pesquisas

Há mais dinheiro sendo investido em remédios contra a calvície do que no combate à malária.
Calvície é algo terrível, que aflige homens ricos.
Por isso, esse assunto se tornou uma prioridade (Bill Gates)

Gates, em fevereiro de 2009, criticou o descaso das autoridades científicas na busca de um tratamento efetivo contra a malária, e afirmou que a falta de incentivos às pesquisas se devia ao fato da doença atingir principalmente pessoas pobres em países subdesenvolvidos causando mais de um milhão de mortes todos os anos.

Aos organismos de pesquisa do primeiro mundo não interessa investir seus recursos neste tipo de pesquisa já que 80% das mortes por malária ocorrem em países pobres da África. A estes institutos não interessa o fato de que o P. falciparum é responsável por 18% das mortes de crianças com menos de cinco anos de idade nesta região.

Por isso é que achamos importante divulgar a notícia abaixo que traz um pouco de experança aos bilhões de seres humanos que vivem nas áreas tropicais e subtropicais de todo o mundo.

-  Cientistas americanos descobrem elemento vital ao parasita da malária
Fonte: O Estadão, 01 de setembro de 2011

Descoberta abre uma porta para novos tratamentos contra a doença

WASHINGTON - Cientistas descobriram um dos elementos químicos cruciais que permitem ao parasita da malária proliferar no sangue humana, o que abre uma porta para novos tratamentos contra a doença, indica um estudo publicado nesta quarta-feira a revista PLoS Biology.

O resultado da pesquisa realizada por Joseph DeRisi e Ellen Yeh, bioquímicos das universidades da Califórnia e Stanford, representa o primeiro passo para experimentar com uma nova vacina ao identificar o “Isopentenil pirofosfato”, um componente indispensável do parasita Plasmodium falciparum para construir diversas moléculas cruciais para sua subsistência.

Os cientistas desenvolverão agora uma versão debilitada deste parasita no laboratório ao qual fornecerão o componente necessário para sua sobrevivência, por sua vez eliminarão sua capacidade para produzi-lo por si mesmo.

Posteriormente, os pesquisadores inocularão essas vacinas a pessoas que vivem em regiões que sofrem com a malária. Se funcionar, o parasita modificado não adoeceria as pessoas, mas lhes permitiria desenvolver resistência para quando enfrentassem a versão real do “Plasmodium falciparum”.

É como se tivéssemos desenhado uma bomba-relógio dentro do parasita que está pronta para explodir e, quando isso ocorre, o parasita morre”, explicou DeRisi, diretor do estudo.




Travessia da Laguna dos Patos – Margem Ocidental - Preparativos

Travessia da Laguna dos Patos – Margem Ocidental
Preparativos
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Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: “Navegar é preciso; viver não é preciso”. Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.
(Fernando Pessoa - Navegar é Preciso)

-  Navigare necesse; vivere non est necesse

A frase “Navigare necesse; vivere non est necesse” atribuída a Pompeu, o Grande (106 a 48 a.C.), consta de sua biografia escrita pela pena magistral de Plutarchus na sua “Vitae illustrium virorum – Pompey”. Pompeu incitava seus amedrontados marinheiros a embarcar, partir para a guerra e enfrentar os inúmeros desafios dos mares em suas frágeis naves. Os amantes das águas e os antigos argonautas tem consciência da profunda significação destas palavras. Seu verdadeiro sentido transcende o cotidiano dos mortais comuns, navegar, mais do que viver, é participar da construção da história da humanidade seja pelos feitos, descobertas ou simplesmente pela capacidade de sobrepujar desafios. A alusão atribuída a Pompeu reporta que é necessário que cada um de nós, na esfera de suas atribuições, seja um protagonista e não coadjuvante na história da humanidade.

-  Treinamento

“Ama as águas! Não te afastes delas! Aprende o que te ensinam! Ah, sim! Ele queria aprender delas, queria escutar a sua mensagem. Quem entendesse a água e seus arcanos - assim lhe parecia - compreenderia muita coisa ainda, muitos mistérios, todos os mistérios”. (Hermann Hesse - Sidarta)
Embora o inverno pampeano tenha incrementado, com o seu rigor, uma série de dificuldades adicionais às minhas aquáticas jornadas, não me deixei abater mantendo o foco no ciclópico objetivo de navegar de Porto Velho, RO, até Santarém, PA, a partir de 22 de dezembro deste ano.

Encontrei um parceiro fantástico no Professor de Educação Física Hélio Riche Bandeira do Colégio Militar de Porto Alegre. Emprestei a ele um antigo caiaque fabricado pela “KTM”, modelo Anaico, que usei nas provas de águas brancas (descidas de corredeiras e quedas d’água) no Mato Grosso do Sul, final da década de 80. É um caiaque super reforçado, mas que se torna um tanto bandoleiro quando recebe ondas de través. No último fim de semana testamos nossas forças saindo da Raia 1 até a Ilha do Chico Manoel, perfazendo quarenta quilometros de ida e volta sem demonstrarmos cansaço ou perda de rítmo. Foi o último teste que realizamos juntos já que tive que me deslocar para a fronteira para realizar algumas palestras.

-  Óbices

O nosso caro amigo Coronel PM Sérgio Pastl, por problemas de saúde com familiar, não poderá nos acompanhar com seu veleiro. A falta deste apoio implicará em um maior esforço no deslocamento já que teremos de carregar todos os apetrechos (barraca, sacos de dormir, roupas, alimentos...) necessários. O peso adicional fará a “linha de flutuação ideal” do caiaque “Cabo Horn da Opium” submergir, exigindo um esforço adicional nas remadas. Mesmo assim mantivemos o planejamento inicial de largar da Praia do Laranjal, em Pelotas, às 5h30, de 17 de setembro, e navegar neste primeiro dia até São Lourenço, um percurso de aproximadamente sessenta quilometros.

Vamos solicitar o apoio de nossos caros amigos da gloriosa Brigada Militar nas vilas e cidades em que essa se fizer presente para que possamos, ao menos, pernoitar em locais abrigados das chuvas e ventos e em segurança.