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domingo, 3 de março de 2013

Tefé, AM – Coari, AM


Tefé, AM – Coari, AM

Hiram Reis e Silva, Coari, Amazonas, 01 de março de 2013.

-  Adeus Caros Amigos de Tefé

Em Tefé tivemos a oportunidade de eliminar algumas contraturas musculares que nos afligiam graças às mãos hábeis do Sargento Miro da sessão de saúde da 16ª Brigada. Por estas amazônicas coincidências o Miro é filho do professor e historiador Humberto Ferreira Lisboa, autor do livro “Fonte Boa - chão de heróis e fanáticos”, a quem tivemos a oportunidade de entrevistar, às dez horas, do dia 21 de dezembro de 2008, em Fonte Boa, AM, na nossa descida pelo Rio Solimões. O Mestre, nascido e criado em Fonte Boa, era professor de História do Ensino Médio e um estudioso de sua cidade.

Acordamos às 04h40, nossa próxima jornada de mais de 100 km determinava que partíssemos antes dos primeiros raios do astro rei. Quando a viatura, dirigida pelo Cabo Viana, passou, às cinco horas, na frente da residência do Ten Cel Marcelo Rojo, Comandante da 16ª Base Logística de Selva este já estava a postos para nos acompanhar até o porto da 16ª Ba Log. Levamos as embarcações até a água e iniciamos os preparativos para a nova jornada. Estávamos envolvidos nessa rotina quando chegou o Chefe do EM da 16ª Bda Inf Sl, Coronel Dougmar Nascimento das Mercês. Despedimo-nos dos caros amigos e da guarnição que estava de serviço guardando nas nossas lembranças o carinho e a fidalguia dos caros irmãos de farda de Tefé.

-  Foco na Missão

Partimos alegres não apenas por termos cumprido com total dedicação e estoicismo o reconhecimento dos quase 3.000 km do Rio Juruá, mas, sobretudo, por este fato ser devidamente reconhecido e aplaudido por todos os membros da 16ª Bda Inf Sl, a guardiã oficial da Bacia do Juruá. Eu me sentia muito mais leve com a temporária sensação de dever cumprido. Temporária, na verdade, pois as informações e dados coletados iam merecer ainda meses de trabalho antes de serem apresentados ao Gen Ex Villas Bôas, Cmt CMA, e ao Gen Div Fraxe Diretor do DNIT. Desde o início da Expedição Belarmino Mendonça eu tinha assumido o compromisso de cumprir, a qualquer preço, minha missão. Nunca em minha vida deixei de levar a bom termo qualquer missão engendrada por meus superiores hierárquicos e não ia ser agora do alto de meus 62 anos de vida, dos quais mais de quatro décadas, na ativa ou na reserva, dedicadas ao meu exército e à minha pátria, que eu iria fracassar ou, pior ainda, desistir.

Tínhamos chegado a remar até 13 horas em um único dia, suportado tempestades e banzeiros, sol causticante, assédio dos insetos, dores musculares lancinantes, mas fomos recompensados pela hospitalidade ribeirinha, pelo apoio das autoridades e empresários, pela oportunidade de fazer parte de uma pequena equipe de guerreiros formidáveis que encararam cada desafio com um sorriso nos lábios, gratos pelo ensejo de poder testar seus limites e, sobretudo, de chegar a cada meta diária com a agradável sensação de dever cumprido.

-  Partida para Comunidade Iracema (26.02.72)

“Olha esta água, que é negra como tinta.
Posta nas mãos, é alva que faz gosto;
Dá por visto o nanquim com que se pinta,
Nos olhos, a paisagem de um desgosto”.
(Quintino Cunha)

Aproveitando as luzes da cidade e da lua rumamos lentamente, no início, para aquecer os músculos. Despedimo-nos das “águas negras como tinta” do Lago de Tefé e adentramos no leitoso e barrento Solimões. Foi somente neste momento que os primeiros raios do dorminhoco Sol estendiam preguiçosamente seus raios matizando com maestria o horizonte à nossa proa. A área já eram minha conhecida apesar das mudanças, aqui e ali, provocadas pela feroz torrente do tumultuário Rio. Passamos, por volta das 09h30, ao largo de Caiambé onde eu aportara, no dia 03.01.2009, e contatara a senhora Valdecia dos Santos Silva, mais conhecida como Beti, secretária da Escola Estadual Amélia Lima, que alojou-nos na sala de aula número 01, com ar condicionado, e franqueou-nos o acesso às instalações sanitárias e cozinha da escola.

Mais tarde, por volta do meio-dia, acostei em Jutica onde, em 04.01.2009, eu conhecera o escritor e latifundiário, patrão daquelas terras, Jones Cunha, que havia nos oferecido um café com sucos, tapioca e pupunha, além de me presentear com seu livro “Jutica, o brilho da terra”. Um morador informou-nos que o Jones estava em Manaus e que tomássemos muito cuidado no percurso até Coari, não especificando a razão de sua recomendação.

Pelas três horas da tarde passamos pela Comunidade Santa Sofia, onde eu havia parado no flutuante do Sr. Plínio, mais conhecido como Bom Fim. Um filho de paraibanos que migrou com sua família do Juruá por pressão de seringalistas. Aposentado, com os filhos criados e morando em Manaus, resolveu procurar sossego no pequeno vilarejo às margens do Lago Catuá, junto com sua amável esposa Conceição que era, na época (janeiro de 2009) a Presidente da Comunidade de Santa Sofia. A Srª Rita, irmã da Dona Conceição, informou que ambos estavam em Coari fazendo compras e que só retornariam depois das dezessete horas. Aproamos para a Comunidade Iracema.

Depois de remarmos 107 km, durante onze horas entre paradas e remadas (9,7 km/h), chegamos a Iracema onde fomos acolhidos gentilmente na residência da Srª Nilzete Ferreira Lopes. Enquanto o Mário montava nosso acantonamento na grande sala da residência o Marçal preparava a enorme dourada comprada pelo Mário. O nosso cozinheiro conseguiu na Comunidade os condimentos necessários e proporcionou um belo jantar que foi compartilhado pela nossa anfitriã e seus dois filhos Élson e Bruno. O capricho e a limpeza da residência e do seu entorno são de causar inveja aos mais exigentes. As panelas e demais utensílios de cozinha estavam imaculadamente limpos, a casa pintada, com cores vivas, possuía instalações amplas e extremamente asseadas.

Pedi ao Mário que tirasse algumas fotografias da escolinha localizada no alto do barranco e cujo acesso, segundo informações que eu colhera em 2009 e confirmara agora, se dava por intermédio de 162 degraus de madeira. O Mário aproveitou a subida até o topo do morro, de onde fez algumas belas tomadas, e contou os degraus. O número correto é de 102 embora há anos se refiram à bela povoação como a Comunidade dos 162 degraus.

-  Partida para Coari (27.02.72)

“Samaumeira! Liana e flores, em festa,
Descem da copa imensa que a amplidão fareja...
E o sol, em sangue e ouro, portentoso beija
A soberana - graça e força - da floresta.

Mas quando, em transe, o vento sopra as tempestades,
E lhe fere, zimbrando, a colossal umbela,
Luta, esbraveja, cai... grandiosamente bela,
Porém jamais se curva como os vis covardes! ...”
(Almino Álvares Affonso)

Partimos, por volta das 05h20, para uma jornada de 122 km, fazendo votos para que o tempo colaborasse, pois do contrário, seria difícil atingir nosso objetivo antes do pôr-do-sol. Estava muito escuro e somente depois de mais de 90 minutos de remo é que começaram a despontar na nossa proa os primeiros e dolentes raios solares. O amanhecer era magnífico e as nuvens que adornavam o firmamento prenunciavam um tórrido dia. Procuramos navegar bem afastados das margens, o Mário deixara o motor de popa de 40 HP em condições de ser utilizado imediatamente tendo em vista a notícia de piratas que estariam agindo indiscriminadamente abordando e assaltando navegantes por estas bandas. Só nos faltava mais essa, por ironia do destino, no Baixo Juruá, os ribeirinhos achavam que nós éramos traficantes ou bandoleiros e agora, no Solimões, nós é que poderíamos ser vítimas destes.

Felizmente nada aconteceu e vencemos noventa quilômetros sem grandes surpresas ou cansaço. Parece, porém, que São Pedro, mais uma vez queria nos colocar em cheque. Há 32 km de Coari, um vendaval seguido de chuva torrencial obrigou-nos a procurar abrigo em uma ilha a Boreste. Como sempre, depois da ventania que precede as amazônicas tempestades, desta feita com ventos de 50 km/h seguidos de rajadas que beiravam os 70 km/h, e da chuva torrencial, que durou uns vinte minutos, sobrevieram banzeiros com ondas de mais de metro que vinham de todos os lados chacoalhando as embarcações ao seu bel prazer.

Mais uma vez o fleumático “Cabo Horn” fabricado pela Opium Fiberglass, de meu caro amigo Fábio Paiva, cortava a água como se estivesse navegando em águas tranquilas fazendo pouco do tumultuário e nervoso movimento aquático que o cercava e golpeava freneticamente seu casco. Mais uma vez rendo homenagens a esta magnífica embarcação que já enfrentou mais de 8.000 km na Amazônia e que jamais deixou de corresponder às minhas expectativas enfrentando ventos e banzeiros consideráveis com uma estabilidade invejável.

Os recreios, embarcações de passageiros, tinham buscado refúgio nas margens tal a ferocidade da tormenta. Continuamos nossa navegação e ao contornarmos uma grande “angustura” a montante de Coari avistamos a cidade a uns vinte km de distância. O Mário contatou, por telefone, nossa equipe de terra gaúcha e o Major PM Norte que nos garantira apoio em Coari. Logo que chegamos às escadarias próximas ao Porto naufragado de Coari, que foi ao fundo após uma reforma mal feita, avistamos a tropa do Maj PM Norte que nos aguardava.

Seguindo orientação dos Policiais Militares deixamos a nossa lancha aportada junto a um flutuante denominado Mercadinho Paulão, de propriedade do Sr. Paulo Lopes de Oliveira, e guardamos nossas bagagens e combustível em local seguro no mesmo flutuante. Os caiaques foram acomodados na embarcação também de propriedade do Paulão chamada Kaillon de Paula. Graças a gestões do Cmt Norte junto à Prefeitura de Coari ficamos muito bem acomodados no Hotel LH.




Estada Memorável em Tefé/AM


Estada Memorável em Tefé/AM

Hiram Reis e Silva, Tefé, Amazonas, 25 de fevereiro de 2013.

-  Amigos de Tefé

O profissionalismo e o carinho que a Expedição Gen Belarmino Mendonça recebeu na bela cidade de Tefé ficará gravado indelevelmente em nossas memórias. Desde minha chegada até a partida os militares da 16ª. Brigada de Infantaria de Selva, comandada pelo dinâmico Gen Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, foram de uma atenção e fidalguia inigualáveis.

O sorriso franco do Cel Mercês, do Ten Cel Rojo, do Maj Bergamaschi e do Cap Pinheiro ao nos receberem às margens do lago Tefé já prenunciavam isso. Meu velho honorável pai já dizia “que o diabo não é sábio porque é diabo, mas porque é muito, muito velho”. Os mesmos anos que encanecem nossos cabelos, enfraquecem nossos músculos e memória, aprimoram nossa capacidade de conhecer a alma das pessoas através dos mais simples sinais. E naquele memorável dia 20 de fevereiro de 2013, que jamais me sairá da lembrança, eu senti em cada sorriso, em cada gesto espontâneo uma honesta demonstração de reconhecimento pelo que fizéramos. Como seria bom que outros irmãos da força terrestre reconhecessem que não é o indivíduo que conta, mas sim o que ele representa. Não é o Cel Hiram, o Cb Mário ou o Sd Marçal que cumpriram espartanamente a missão de reconhecer o Juruá, mas sim, três militares da força que realizaram um feito inédito que deve ser reconhecido e comemorado por todos que envergam a mesma farda e cultuam os mesmos ideais.

Fiquei extremamente feliz quando os três expedicionários, sem exceção, foram convidados pelo Gen Paulo Sérgio para jantar no melhor restaurante da cidade. Tenho certeza que o Cb Mário e o Sd Marçal jamais esquecerão desse evento em que tiveram a honra de sentarem-se à mesa com um Oficial General e a grata oportunidade de contar suas experiências aos oficiais superiores ali presentes.


-  Mídia

Além da presença ostensiva da mídia na nossa chegada o E/5 da Brigada, Cap Diógenes Pinheiro Pimentel, havia agendado uma entrevista com o locutor Marcílio Beltrão, da Rádio Alternativa FM, com o entrevistador José Meireles da Rádio Educação Rural e com o diretor e repórter de “O Solimões”, Rainfran Brandão Araújo. Nossos fiéis amigos da Amazon Sat que nos entrevistaram em todas as cidades pelas quais passamos, desde o Acre, novamente nos brindaram com sua atenção. Esperamos que na nossa chegada às 15h do dia 10 de março, no Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia, as equipes de reportagens da cidade de Manaus estejam presentes.