MAPA

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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Desafiando o Rio-Mar (3ª Fase) - Rio Amazonas I

Desafiando o Rio-Mar (3ª Fase) - Rio Amazonas I


 “É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito, que nem gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota”. (Theodore Roosevelt)


Estou planejando a Descida do Amazonas, de caiaque, para o período de 23 de dezembro do corrente ano até 28 de janeiro de 2011. A 3ª Fase do ‘Projeto Desafiando o Rio-mar - Descendo o Amazonas I’ vai homenagear os 40 anos do 2° Grupamento de Engenharia (2° Gpt E), Grupamento General Rodrigo Octávio, sediado em Manaus (AM). O 2° Gpt E é, atualmente, comandado por um grande amigo e companheiro de jornada no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva de Porto Alegre (RS), em 1984, General-de-Brigada Lauro Luís Pires da Silva. A chegada em Santarém, término da 3ª Fase terá um significado igualmente especial, pois o 8° Batalhão de Engenharia de Construção é comandado pelo meu ex-cadete e parceiro de trabalho no 9° Batalhão de Engenharia de Combate, Aquidauana (MS), Coronel de Engenharia Aguinaldo da Silva Ribeiro.

- A Missão

Para que possamos entender o contexto histórico e sermos capazes de reconhecer a importância fundamental da atuação do General Rodrigo Octávio na integração da Amazônia Brasileira vamos reproduzir o pronunciamento que o eminente Presidente Emílio Garrastazu Médici proferiu no Teatro Amazonas, em Manaus, na “Reunião Extraordinária da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM)”, em 8 de outubro de 1970.

“Brasileiros da Amazônia, homens de todo o Brasil.
Venho à Amazônia sob o signo da fé. Venho para estar com o povo na romaria do Círio e confluir com ele na mesma corrente das ruas de Belém. Venho para trazer à gente desta terra a crença de meu governo e o entusiasmo do Brasil inteiro nos destinos da Amazônia. E, por isso mesmo, quero ser, aqui, mais do que nunca, realista e verdadeiro, para não ser, um instante sequer, messiânico, fantasista ou prometedor, na terra em que tudo sempre se permitiu à imaginação. (...)

Seria insensato realizar, aqui e nesta hora, um grande projeto de desenvolvimento puramente regional, que desviasse poupanças e créditos capazes de gerar riquezas maiores e mais rápidas noutras regiões. Muito mais insensato seria, no entanto, ignorar a Amazônia, usando rígidos critérios de prioridade econômica e deixá-la ficar no passado e ainda envolta no mistério, sempre vulnerável à infiltração, à cobiça e à corrosão de um processo desnacionalizante, que se alimenta e se fermenta em nossa incúria.

O coração da Amazônia é o cenário para que se diga ao povo que a Revolução e este governo são essencialmente nacionalistas, entendido o nacionalismo como a afirmação do interesse nacional sobre quaisquer interesses e a prevalência das soluções brasileiras para os problemas do Brasil. Manaus é lugar para que o meu governo apresente as linhas gerais da primeira fase de sua política para a Amazônia e diga a sua decisão de assegurar, com energia e vontade, a soberania brasileira nesta outra metade do Brasil e de fazer andar o relógio amazônico, que muito se atrasou ou ficou parado no passado. (...)

Em síntese: ou cresceremos juntos todos os brasileiros, ou nos retardaremos indefinidamente para crescer. E, como a segunda alternativa não é admissível, o Programa de Integração Nacional terá de ser, como decidimos que será, um instrumento a serviço do progresso de todo o Brasil. (...)

Nosso esforço inicial será concentrado na Transamazônica, começando em Picos, no Piauí, onde se interliga com a Rede Rodoviária Nordestina, vai atingir Itaituba, depois de passar por Porto Franco, Marabá e Altamira, obra essa entregue ao dinamismo do Ministro dos Transportes, Mário Andreazza, para servir àquelas regiões cuja ocupação deverá processar-se de pronto e com absoluta prioridade.

Prolongando a estrada até as fronteiras com o Peru e a Bolívia, cortando as Rodovias Cuiabá-Santarem e Porto Velho-Manaus, e complementando todo o sistema fluvial amazônico, ao interceptar os terminais navegáveis dos principais afluentes, estaremos facilitando a exploração de reservas de ferro, manganês, estanho, chumbo, ouro, cobre e fecundando terras virgens e solos férteis, que vão deixar de ser bens geográficos para se transformarem em verdadeiros bens econômicos. Estaremos, assim, facilitando o esforço de ocupação e desenvolvimento da Amazônia - imperativo do progresso e compromisso do Brasil com a sua própria História. (...)

Papel de extraordinário relevo está reservado ao Ministério da Saúde nesta hora de conquista e povoamento nas terras altas da Amazônia. Aos participantes da epopéia da construção e colonização desta Transamazônica e de outras vias de desbravamento, que Deus haverá de me conceder a coragem de iniciar ao Sul e ao Norte do Rio-mar, confio em que não haverá de faltar todo um sistema de proteção da vida humana.

A soberania brasileira na Amazônia, meta essencial de todo o esforço que aqui começamos a realizar, compreende também a presença e a participação das Forças Armadas, no propósito de assegurar ainda maior capacitação e eficiência a bases e aeroportos, aos órgãos logísticos e operacionais, ao sistema de proteção ao vôo, às flotilhas, às Unidades e colônias de fronteira, assim como aos beneméritos Batalhões de Engenharia. (...)

E se aqui estou testemunhando aos amazônidas o entusiasmo e a solidariedade da Nação inteira, quisera que os Círios, da sempre renovada romaria em louvor da milagrosa imagem de Nossa Senhora de Nazaré, não se acendessem, neste ano, tão-somente na promessa de cada um, mas que se acendam todos os círios em ato de fé pelo Brasil de todos nós”. (Presidente Emílio Garrastazu Médici)

- “The Right Man in The Right Place”

O General Rodrigo Octávio era o “Homem Certo, no lugar Certo”, os desafios propostos pelo “Programa de Integração Nacional” eram ciclópicos, e só um grande Chefe Militar dotado de inigualável visão estratégica e dedicação profissional seria capaz de cumprir as metas propostas pelo Presidente Médici.

- General Rodrigo Octávio Jordão Ramos

O General de Exército Rodrigo Octávio Jordão Ramos nasceu em 8 de julho de 1.910, na cidade do Rio de Janeiro, RJ, e faleceu em 6 de julho de 1.980, na cidade de São Paulo, SP. Rodrigo Octávio assentou praça na Escola Militar do Realengo em 1.927, tendo sido declarado Aspirante-a-Oficial da Arma de Engenharia, em 21 de janeiro de 1.930, em primeiro lugar na sua turma.

Teve carreira militar brilhante, sempre muito ligado à área da Engenharia Militar, comandou o 1° Batalhão Ferroviário (1° B Fv), a Escola Superior de Guerra (ESG), foi Ministro interino do Supremo Tribunal Militar (como Coronel), comandou o 1° Grupamento de Engenharia de Construção (1° GPT E Cnst), a 7ª Região Militar/7ª Divisão de Exército (7ª RM/7ª DE) e o Comando Militar da Amazônia/12ª Região Militar (CMA/12ª RM), foi diretor da Diretoria de Vias de Transporte (DVT), da Diretoria Geral de Engenharia e Comunicações (DGEC), e chefe do Departamento de Produção e Obras (DPO), foi, ainda, Ministro de Viação e Obras Públicas, Ministro do Supremo Tribunal Militar.

O General Rodrigo Octávio participou ativamente da Revolução de 1930, e atingiu o generalato, em Julho de 1964, mercê de suas inegáveis qualificações morais e profissionais. Classificou-se em primeiro lugar em cada um os cursos que frequentou e se destacou de forma ímpar em todas as funções que exerceu nos seus mais de cinquenta anos de dedicação integral ao Exército e à Pátria.

Mas foi na Região Amazônica que o General “R.O.”, como era, respeitosa e carinhosamente, conhecido no círculo de seus pares e subordinados, deixou, gravada sua passagem para a posteridade. Assumiu o Comando Militar da Amazônia/12ª Região Militar, em 26 de julho de 1968, quando este comando ainda estava sediado em Belém, Pará e vislumbrando a necessidade estratégica premente de uma maior integração, desenvolvimento e defesa da Amazônia Brasileira transferiu a sede do CMA/12ª RM para Manaus, Amazonas.

O Gen Bda Tibério Kimmel de Macedo no seu livro “Eles não viveram em vão”, às páginas 47/48, faz a seguinte referência ao General Rodrigo Octávio, quando este era Comandante do CMA/12ª RM, e decidiu transferir o Comando Militar da Amazônia para Manaus:

“Sabia e sentia que um Comando de tal importância e envergadura, naquelas Latitudes onde as distâncias se mediam pelo grau meridiano, devia estar mais para o interior, mais próximo dos seus elementos subordinados”.

E o Gen Bda Tibério prossegue:

“Quando da criação do 2° Grupamento de Engenharia (2° Gpt E), este incansável ‘Paladino da Integração da Amazônia’, não estava mais no Comando da Amazônia, que comandou de 26 de julho de 1968 até 31 de março de 1970, nas suas sedes de Belém e Manaus”.

Estaria já na Chefia do Departamento de Produção e Obras (DPO), em julho de 1970, Departamento que representava o órgão máximo da Engenharia militar. No fecho do boletim Especial n° 12 do DPO, do ano de 1970, o Gen Rodrigo Octávio fez publicar as seguintes palavras, suas:

“O Exército e a Engenharia em particular, estão prontos a cumprir a sua parte nesta grande obra, malgrado os obstáculos a vencer, os sacrifícios enfrentar, os embates a superar honrando a bravura e o estoicismo de nossos antepassados, representados pelos missionários, soldados e sertanistas, que conquistaram e mantiveram para o Brasil esta grande Amazônia que não é nem um Inferno Verde, nem um Paraíso Perdido, mas que é a Amazônia Brasileira, onde uma geração ansiosa e confiante espera o esplendente alvorecer de um amanhã fecundo, diferente e promissor”.

E acrescentava:

“Só assim, a Amazona se preservará e o Brasil se engrandecerá. Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la”.

Na Cruzada Santa, antes aludida, o Velho Chefe haveria de criar não só o 5° Batalão de Engenharia de Construção (5° B E Cnst), mas, também, os 6°, 7°, 8° e 9°B E Cnst e, por último o 2° Gpt E Cnst.

Havia combatido o bom combate e, por isso, considerava a Engenharia pronta para a grande obra que ele havia imaginado: Integrar a Amazônia ao ecúmeno nacional. O grande Chefe R.O. foi um homem que, visionário, alcançava adiante de seu tempo. Embora homem de seu tempo, desassombrado e realista, via o futuro, sopesava-o e adotava medidas para tornar a Engenharia Militar e o Exército, mais aparelhados, melhor postados e posicionados para enfrentar os embates que, ele sabia, haveriam de vir, no futuro. A propósito da Amazônia e as cobiças do Mundo, costumava citar George Washington: ‘Não pode haver erro maior, para uma nação, do que esperar ou contar com favores desinteressados de outra’. Sobre o Gen R.O., o General de Exército Aurélio de Lyra Tavares, Ministro da Guerra, afirmou:

“O Exército do meu tempo e o Brasil de todos os tempos, muito ficaram devendo ao General Rodrigo Octávio Jordão Ramos no vigoroso e seguro equacionamento da problemática da dinamização da Amazônia e pelo grande impulso da programação projetada, graças ao qual a região ganhou aspecto de uma civilização em marcha, encontrando-se em franca evolução para uma nova realização, agora já irreversível”.

Ao despedir-se do cargo de Ministro do Superior Tribunal Militar, ele assim se definiria:

“Na história de minha existência, o tempo passado a serviço do Brasil, se inscreve em um capítulo de mais de meio século. Na disciplina intransigente, no respeito hierárquico, na firmeza de convicções democráticas, na lealdade inconteste aos camaradas, no companheirismo permanente, no estímulo à juventude, na obsessão da justiça, ele foi vivido com ética, coerência, obstinação e, sobretudo, fé missionária no desejo de, como integrante de um grupo de soldados que guiados pelo mesmo ardor patriótico e comungando das mesmas aspirações e idéias, têm procurado construir um novo Brasil, pleno de humanização, democracia, eternidade e grandeza”.

Graças ao General Rodrigo, e às políticas governamentais, a Amazônia Brasileira, na década de “70, teve um período de desenvolvimentismo sem precedentes na região. O Brasil como um todo experimentou na ciência, educação, saúde, segurança uma fase jamais experimentada em toda a sua história e que servia de inspiração às demais nações soberanas do planeta. Certamente o General Rodrigo Octávio foi um dos elementos propulsores deste ciclo formidável que ficou conhecido, na história das nações, como “Milagre Brasileiro”. Como reconhecimento pelos seus dotes intelectuais, morais e pelos relevantes serviços prestados à Nação Brasileira recebeu 17 condecorações em vida, e “post mortem” a Medalha do Serviço Amazônico e o Diploma de Pioneiro da Engenharia Militar da Amazônia.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Igreja de Nossa Senhora da Conceição

Igreja de Nossa Senhora da Conceição


Trezentos anos há que, entre os indígenas
De Bettendorf – os velhos Tapuias –
Teu Nome foi erguido como Lábaro
A guiar esse povo pra Jesus. (SANTOS)

- Igreja Matriz

No dia 22 de junho de 1661, o Padre João Felipe Bettendorff fundou a Aldeia de Nossa Senhora da Conceição dos Tapajós (Santarém) com a construção, de taipa, da Capela de Nossa Senhora da Conceição. A primeira Igreja foi edificada no Largo do Pelourinho, na época, centro da Aldeia. Em 1698, outra Igreja foi erguida, em local próximo ao da primitiva que ruíra, pelo missionário João Maria Gorsoni com a ajuda do Capitão Manoel da Motta de Siqueira que, na época, estava empenhado na construção da Fortaleza do Tapajós. Em 1756, o Governador da Província do Grão Pará e Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, comandando uma missão em viagem para Iquitos, no Peru, fez uma parada em Santarém. Acompanhava a missão o arquiteto italiano Antônio Landi que, visitando a capela, apresentou algumas sugestões em relação à estrutura do templo. O antigo sítio do templo, localizado na Praça Rodrigues dos Santos, é ocupado atualmente pela “Padaria Vitória”, em frente à Câmara Municipal.

No ano de 1761, centenário da construção da Igreja e da fundação de Santarém, iniciou-se em um novo local, a construção de uma nova Igreja Matriz com duas torres laterais, mais baixas do que as atuais, situada na Praça Monsenhor José Gregório, centro da cidade de Santarém. Na tarde do dia 25 de março de 1851, logo após o toque da “Ave Maria”, a torre esquerda desmoronou. A outra torre foi posta abaixo e construídos dois “gigantes” laterais para reforçar as abaladas paredes. Em 1876, a matriz ameaçava, novamente, ruir. As obras se arrastaram vagarosamente, no mesmo ritmo em que eram arrecadadas as contribuições dos fiéis. No dia 8 de maio de 1880, foi instalada no alto da Igreja a nova cruz de ferro, o altar-mor foi concluído, no dia 17 de maio de 1880 e, somente, no dia 24 de setembro de 1881, foi considerada concluída. Em 1895, foi executada a reforma do forro e vitrais nas janelas laterais e frontispício e em 21 de junho 1965, foram iniciados os trabalhos de recuperação de maior vulto que incluíam a demolição das colunas, altares, etc.

Dentro em minh’alma, bendizia eu o século futuro, que verá o mais majestoso caudal da terra, habitado por homens livres e felizes, e dei as mais ardentes graças ao Ente todo de amor, que me havia guiado através de tantos perigos, protegendo-me acima e dentro desse Rio, a cujas águas amarelas de novo me entreguei. (MARTIUS)

- O Naufrágio de Martius

É curioso Martius não ter reportado o seu naufrágio na sua obra “Viagem pelo Brasil 1817 – 1820”. A menção só é feita na chapa de ferro que acompanha o crucifixo doado à Igreja Matriz de Santarém. Nele, Von Martius relata que escapou de morrer num naufrágio, no dia 18 de setembro de 1819, e foi “salvo por misericórdia divina do furor das ondas do Amazonas, junto à Vila de Santarém”.

- O Crucifixo de Von Martius

O Cavaleiro Carlos Fred. Phil. de Martius, membro da Academia R. das Ciências de Munich, fazendo de 1817 a 1820, de ordem de Maximiliano José, Rei da Baviera, uma viagem científica pelo Brasil, e tendo sido, aos 18 de setembro de 1819, salvo por misericórdia divina do furor das ondas do Amazonas, junto à Vila de Santarém, mandou, como monumento de sua pia gratidão ao todo poderoso erigir este crucifixo nesta igreja de Nossa Senhora da Conceição, no ano de 1846.
 (gravação, em relevo, na chapa de ferro que identifica o crucifixo)

Como sinal de agradecimento ao Grande Arquiteto do Universo por ter sobrevivido a um naufrágio no Rio Amazonas, Von Martius ofertou à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, um crucifixo de ferro fundido, dourado, com um metro e sessenta e dois centímetros de altura. O crucifixo, fundido em 1846, é uma réplica perfeita de uma das obras do escultor, gravador e pintor Albert Durer (1471/1528) de Nuremberg. Os olhos do Cristo de Martius fitam os céus procurando o Pai, os músculos do pescoço retesados pelo esforço e os lábios doridos, queimados pelo vinagre, deixam escapar sua súplica “Eli, Eli, Lamma Sabachtani?”. A imagem do Cristo crucificado impregnada de profunda angústia e expiação física e moral, emociona, desperta os mais nobres sentimentos e convida à reflexão. Certamente essa era a intenção de Von Martius conforme ele mesmo comenta:

“a obra saiu excelente e a contemplei com profunda emoção, pensando no modo pelo qual só por um verdadeiro milagre, fui salvo do Rio Amazonas. Se a contemplação desse crucifixo em alguns devotos despertar uma piedosa comoção, terei eu feito alguma coisa pela raça meridiana à qual sinto nada mais poder dedicar senão votos piedosos. Há muitas pessoas, católicas e protestantes, que não sabem como se pode desenvolver no cérebro e no coração de um naturalista a idéia do Salvador do Mundo, a ponto de ser base de sua existência espiritual; a isso se chama filosofia de século XIX...” (MARTIUS)

“Foi a imagem enviada ao Pará aos cuidados do Cônsul alemão na Província, que se incumbira do transporte e entrega ao vigário de Santarém. Compreende-se que seria difícil vir o crucifixo já armado, pelo tamanho que teria a cruz e o volume que faria para as embarcações da época. Assim, Martius remeteu apenas a estátua e a lâmina com a inscrição comprobatória do seu voto, dentro de um único caixão. Nem se pode admitir que para o Brasil, pátria de belas e excelentes madeiras, o naturalista enviasse uma cruz confeccionada com madeira europeia. Depois de longo estágio na alfândega de Belém, aguardando transporte, foi finalmente a grande e pesada caixa embarcada num dos barcos a vela que faziam tráfego entre Santarém e a capital, e descarregada no porto mocorongo em fins de 1848 ou princípios de 49, consignada ao vigário local. (...) O volume foi conduzido à igreja, e na sacristia aberta a caixa, foram encontradas a bela imagem de Jesus e a chapa com a inscrição em relevo. (...) Enquanto isso, a linda imagem de Cristo continuava no seu caixote de pinho, por falta de uma cruz que todos lhe negavam! (...) Finalmente, em princípios de 1851, Cônego Fernandes foi a Belém e consegui interessar o Presidente da Província, Fausto A. de Aguiar, que lhe prometeu fazer incluir no orçamento quantia para a obra prevista. (...) Tratou-se logo de outro problema onde colocar a imagem? Uns queriam vê-la na atual capela de Bom Jesus, à entrada do templo; outros preferiam que fosse erigida num dos altares laterais da nave, onde, aliás, já se encontrava outro crucificado, quase em tamanho natural, porém de madeira ou massa, colocado por trás da imagem de Nossa Senhora das Dores, no altar hoje considerado do Rosário. Estavam as coisas neste pé, aguardando-se somente a verba que iria ser votada – como, realmente, o foi – quando, a 26 de março desse ano de 1851, surgiu, de súbito, grave imprevisto que causou desolação geral: uma das torres da Matriz ruiu fragorosamente, quase destruindo a parede da frente e danificando as outras. (...) Os reparos que se faziam, então, na Igreja de Santarém, só ficaram terminados, mais ou menos, em 1868, segundo relatório do Presidente da Província, José Bento Figueiredo, de 1869, e é provável que somente então fosse o Crucificado de Martius colocado no seu altar”. (SANTOS)

- O Círio da Padroeira

“Nem sempre as festas da Padroeira, Senhora da Conceição, começaram pelo Círio, ou antes, pela transladação da véspera. Durante anos a festividade principal da terra constava somente das novenas, iniciadas impreterivelmente a 28 de novembro, mesmo que fosse um dia útil, e iam até 6 de dezembro; depois, as vésperas, a 7, e finalmente, o dia da festa, 8 de dezembro que fechava com a grande procissão. Ninguém pensava em Círio. Nos primeiros tempos da República, surgiu uma romaria a que chamavam “Círio da Bandeira”, que se compunha de uma bandeira com a efígie da Santa, alguns estandartes, confrarias, povo e banda musical que percorriam as principais ruas, recolhendo-se à Matriz. Era o sinal de que na noite seguinte teria começo o novenário. Esses “Círios da Bandeira” saiam da Capela de São Sebastião, e em 1896, como a Igreja estivesse em concertos, saiu da Casa da Câmara. Foi somente, a partir de 1919, inclusive, que, sendo intendente municipal o Dr. Manuel Waldomiro Rodrigues dos Santos, foi instituído o uso da transladação e círio, como início da festa da Padroeira, tal qual se fazia em Belém na festa de Nazaré. O costume pegou e já constitui tradição”. (SANTOS)

A festa de Nossa Senhora da Conceição inicia no sábado, véspera do Círio, quando a imagem da Virgem, em procissão é levada da Igreja Matriz para a Igreja de São Sebastião de onde a romaria parte na manhã de domingo. Desde o primeiro Círio, realizado em 29 de novembro de 1919, a romaria foi atraindo um número cada vez maior de fiéis. Há mais de nove décadas, o círio percorre cerca de dez quilômetros, durante mais de 3 horas, as principais ruas e avenidas da cidade, congregando católicos de diversas comunidades do Baixo Amazonas. O encerramento das comemorações, no dia 08 de dezembro, dia da festa de Nossa Senhora da Conceição, culmina com uma tradicional queima de fogos.

“Realizou-se ontem, pela manhã com a concorrência e a pompa que era de esperar o Círio da Imaculada – imponente manifestação de devotado amor que o povo de Santarém dedica ao culto de Maria, iniciando, este ano, a tradicional festividade, o Círio revestiu-se de uma singeleza espiritualizada, mui solene e muito significativa, emoldurado, para melhor realce, pelo brilho difuso de uma linda manhã santarense de luz gloriosa e belo sol. Tendo saído da Capela de São Sebastião, para onde fora a imagem em procissão no dia anterior à noite – percorreu as principais ruas da cidade, sempre na melhor ordem, aumentando gradativamente de vulto aquele imponente estuário humano, em meio ao qual se destacava a linda imagem da Padroeira em sua berlinda artisticamente ornamentada, sendo de notar a coroa de ‘sempre vivas do campo’, naturais, admirável trabalho de uma piedosa filha de Maria. Ao entrar o Círio na Catedral a aglomeração de gente era enorme, reinando, entretanto, a melhor ordem e a mais completa satisfação”. (SUSSUARANA)


Fontes:

SANTOS, Paulo Rodrigues dos. Tupaiulândia. ICBS/ACN. Santarém, PA: Gráfica e Editora Tiagão, 1999.

SPIX e MARTIUS, Johann Baptist Von Spix e Carl Friedrich Philipp Von Martius. Viagem pelo Brasil 1817 - 1820 - Brasil - São Paulo, 1968. Edições Melhoramentos.

SUSSUARANA, Felisbelo. Jornal “A Cidade”. Santarém, PA, 29 de novembro de 1919.


domingo, 5 de setembro de 2010

Theatro Victória – Santarém – PA

Theatro Victória – Santarém – PA


Chovia dinheiro em Manaus, na alucinação do “ouro negro”, e numerosas empresas teatrais, às vezes de renome mundial, passavam por Santarém. (...) O Victória contava, então com dezessete camarotes, sendo um oficial, cento e quarenta e duas cadeiras numeradas na plateia, e cerca de cento e oitenta gerais. (SANTOS)

- As Primeiras Sementes

Nos idos de 1855, os comerciantes e artistas dramáticos Antonio Maximiano da Costa e sua esposa Carolina Helpídia da Costa conseguiram que o Presidente da Província Henrique de Beaurepaire Rohan editasse a Lei nº 289, de 3.10.1856, concedendo-lhes duas loterias cujo produto deveria ser aplicado na edificação de um Teatro na Cidade de Santarém. A loteria redundou num completo fracasso e o casal, desiludido, abandonou o projeto e partiu para outras plagas.

Alunos do Colégio Conceição, no período de 1875 a 1878, fundaram o “Teatro Conceição”. O educandário cerrou suas portas, em 1878, e com ele o teatro dos alunos.

O objetivo inicial de um jovem grupo de artistas amadores, em 1894, era arrecadar fundos, através de suas apresentações teatrais, para a construção de um Hospital de Caridade em Santarém. Realizaram alguns espetáculos mas as dificuldades encontradas e o retorno financeiro muito abaixo do esperado desanimaram o grupo que preferiu entregar o numerário já apurado para as obras da Matriz e da Igreja de São Sebastião. A semente, porém, fora lançada em terra fértil e a magia do palco havia contagiado a mocidade santarena.

No dia 15 de janeiro de 1895, o “Clube Dramático Santareno” foi fundado por artistas amadores apoiados por alguns cidadãos de destaque da comunidade. Foi eleito para Presidente da Comissão de Obras o entusiasta e próspero comerciante português Manoel Gomes Veludo. Veludo, vez por outra, participava, como comediante, das exibições teatrais e encaminhou, imediatamente, uma petição à Câmara Municipal solicitando um terreno para a construção de um Teatro.

A Câmara municipal, no dia 20 de janeiro de 1895, em sessão extraordinária, aprovou por unanimidade, a concessão, por aforamento, de um “terreno entre as Ruas da Alegria e 22 de junho, junto à casa do Comendador Joaquim Honório da Silva Rebêlo, medindo 64 palmos de frente por 120 de fundo, para ali ser construído o Teatro que o Clube Dramático pretende edificar nesta cidade”. O terreno estava localizado na principal Praça de Santarém, a Praça da República (atualmente Praça Rodrigues dos Santos).

Seus idealizadores, sem contar com qualquer tipo de apoio das autoridades municipais, contavam apenas com as doações de contribuintes, sócios amadores e o dinheiro arrecadado nos espetáculos que passaram a ser apresentados no “Teatro Caridade” e, depois, no “Teatro Provisório”.

- Lançamento da “Pedra Fundamental”

A planta do “Theatro Victória” foi projetada pelo engenheiro francês Maurice Blaise, professor de Desenho da Escola Normal do Pará, e previa uma lotação de quinhentos espectadores. No domingo, de 5 de maio de 1895, foi realizada a solenidade do lançamento da “Pedra Fundamental”, no dia 14 de agosto era levantada a cumeeira.

“Apesar da escassez de recursos, o ‘Clube Dramático Santareno’ recusou a subvenção de seis contos, votada pela Assembleia Estadual, em 1896 – Governo Lauro Sodré – sob a alegação de que estando a obra quase terminada, era vergonha ou insulto para os sócios do Clube a exigência do governo para tornar efetivo o auxílio votado. Queria a lei que fossem apresentados o documento de posse do terreno, a planta da obra, seu orçamento etc., etc., as costumeiras papeladas da burocracia. Os ‘Dramáticos’ tomaram a exigência como desaforo; era uma desconsideração essa confiança lançada contra a sua honorabilidade. Parecia que a Assembleia duvidava que a obra estivesse realmente em construção, quando lhe faltavam, apenas, retoques internos, separação das frisas e camarotes, pintura e mobiliário. Esse o pretexto da recusa, mas, no fundo, era o dedo sectário de alguns políticos da terra, aborrecidos porque o projeto havia sido apresentado e defendido pelos adversários...” ( SANTOS)

Foi inaugurado, a 28 de junho de 1896, contando com as presenças ilustres do Governador e do Deputado Adriano Miranda. A casa de espetáculos foi batizada, inicialmente, de “Teatro 15 de janeiro” em referencia à data de fundação do “Clube Dramático Santareno”, em 15 de janeiro de 1895, mas teve seu nome modificado, logo depois, para “Theatro Victória”. Poucos anos depois o “Clube Dramático” encerrou suas atividades e entregou o Teatro à Intendência Municipal. Foi a fase áurea do Victória que durante algum tempo proporcionou momentos de arte, cultura e alegria aos santarenos.

O primeiro grande revés ocorreu, em 1912, quando a Companhia Portuguesa de Operetas e Comédias depois de encenar alguns espetáculos no Teatro foi dizimada pela epidemia de febre amarela que se alastrou na cidade. A partir de então o Victória passou a funcionar também como cinema (mudo), concertos, conferencias, etc.

Em 1917, na administração do intendente Dr. Oscar Barreto, o “Theatro Victória” foi restaurado e ganhou nova pintura e novos cenários e mobiliário. Nesse mesmo ano foi fundado o Grupo Cênico do “Tapajós Futebol Clube” cuja estréia, na noite de 15 de novembro de 1917, contou com a presença do Senador Antonio de Souza Castro.

Em 1925, o intendente Joaquim Braga e, em 1933, o prefeito Ildefonso Almeida realizaram obras de restauração do Teatro sem promover alterações na sua arquitetura original. O Teatro, neste período, tinha sido transformado em salão de bailes, escola, salão de banquetes, hospedaria e depósito de juta que acabou provocando o desabamento do tablado da platéia além de ameaçar a estrutura do prédio.

Em 1956, serviu de acantonamento para um contingente de pára-quedistas militares, comandando pelo Coronel Santa Rosa, com a missão de debelar a revolta liderada pelo Major Haroldo Veloso na Base de Jacaré-Acanga.

O Prefeito Armando Lages Nadler (1955/59), considerando o prédio muito pequeno para uma casa de espetáculos, resolveu aproveitá-lo como Biblioteca Pública até que as goteira resultantes da falta de conservação acabaram por transformá-lo em albergue.

Em 1965, foi novamente reformado, desta vez perdeu totalmente suas formas originais passando a ser utilizado como Câmara Municipal e, atualmente, Secretaria Municipal de Educação e Desporto.

Mais que uma casa de espetáculos, mais que uma obra arquitetônica, o “Theatro Victória” representa a força, a energia e a determinação do povo santareno na busca de um ideal.

Fonte: SANTOS, Paulo Rodrigues dos. Tupaiulândia. ICBS/ACN. Santarém, PA: Gráfica e Editora Tiagão, 1999.

sábado, 4 de setembro de 2010

A Revolta de Jacaré-Acanga

A Revolta de Jacaré-Acanga


As estações de rádio das companhias comerciais de aviação, cujos cristais estavam em poder de Veloso, voltaram ao ar. Centenas de pessoas que haviam fugido ante o noticiário alarmista das emissoras, começaram a regressar. Os gêneros de primeira necessidade, que já escasseavam – porque nenhum barco ousava atracar em Santarém – reapareceram no mercado. (Arlindo Silva – Revista O Cruzeiro)


- Do Campo dos Afonsos para Cachimbo

A eleição do Presidente da República Juscelino Kubitschek e de seu Vice João Goulart preocupava alguns setores da sociedade brasileira. Inconformados com a situação política que se delineava, o Major Haroldo Veloso e o Capitão José Chaves Lameirão da Força Aérea Brasileira, arquitetaram um movimento militar que esperavam ganhasse amplitude nacional. Na madrugada de 11 de fevereiro de 1956, dias antes da posse dos eleitos, os dois oficiais sequestraram do Campo dos Afonsos, localizado na Guanabara (atualmente Rio de Janeiro), uma aeronave “Beechcraft”. Carregaram-na com armamento e munição e rumaram para a Base Aérea de Cachimbo que eles mesmos haviam ajudado a construir.

Mais tarde o próprio Capitão José Chaves Lameirão confessou:

“Nosso plano era iniciar efetivamente a Revolução. Era preciso que alguém o fizesse. Nosso plano era apoderar-nos, logo de início, da base de Cachimbo – e foi o que fizemos. É preciso que se saiba que o Cachimbo fica mais ou menos equidistante de Fortaleza, Recife, Natal e Salvador. Com a Base em nossas mãos, seria fácil aos camaradas que quisessem aderir, com seus aviões B-25, as ‘Fortalezas Voadoras’ do Nordeste, e os ‘Ventura’ de Salvador, principalmente, voar diretamente ao Cachimbo e ali lutar pela causa. Chamaríamos, também, as atenções da Nação para aquele ponto e para o Amazonas, e isto poderia facilitar o levante no Sul. Achávamos que alguém começando a Revolução, ela se alastraria naturalmente”.

Os amotinados procurando ampliar sua área de influência ocuparam e dominaram, depois da Base Aérea de Cachimbo, a Base Aérea de Jacaré-Acanga (Cabeça de Jacaré). Desde a decolagem do campo dos Afonsos todos os aeroportos do país tinham recebido o sinal de alerta e tão logo foi conhecida sua posição dos insurgentes partiu um “Douglas” comandado pelo Major Paulo Vitor com a missão de aprisionar os rebeldes. A tripulação, tão logo pousou em Jacaré-Acanga foi aprisionada enquanto o Comandante Paulo Vitor aderiu ao movimento.

Veloso dando continuidade à estratégia de ampliação da área convulsionada parte o “Beechcraft” reforçado pelo “Douglas” para a Base de Santarém que foi ocupada sem resistência. Enquanto Lameirão providenciava a interdição da pista, Veloso assumiu o comando da força policial santarena, interditou o telégrafo, e neutralizou as comunicações das estações de rádio e das companhias aéreas retirando-lhes os cristais dos equipamentos. Fechou o “Tiro de Guerra 190” e convocou alguns atiradores para o serviço de patrulhamento e vigia. Concluídas as medidas preliminares e mais urgentes, Veloso se dirigiu à população fazendo uso do serviço de auto-falantes do Partido Social Democrático (PSD), e comunicou que a cidade estava sob controle pacífico da Força Aérea e que a população podia continuar com seus afazeres diários sem qualquer temor. No trapiche do Instituto Agronômico do Norte, Bairro da Prainha, foi montado um Posto de Vigilância com a missão de revistar as embarcações. Os revolucionários achavam que a repercussão com a tomada de Santarém provocaria a adesão de outros oficiais, ampliando o movimento, mas não foi o que aconteceu.

“Combate em Santarém!”
“Luta-se encarniçadamente na Pérola do Tapajós!
Já sobem a milhares os mortos e feridos na Revolta de Jacaré-Acanga!”

No sul do país as rádios alardeavam notícias fantásticas e exageradas, enquanto em Santarém as “Fortalezas Voadoras” sobrevoavam a cidade despejando folhetos conclamando a população a se afastar dos insurretos. Na tarde de 22 de fevereiro de 1956, Lameirão sobrevoando o Amazonas no “Beechcraft”, avistou uma embarcação que confundiu com o “Presidente Vargas” de transporte de tropas, na verdade era o “Lobo D’Almada”, que conduzia centenas de civis. Lameirão muito nervoso, tão logo pousou, foi relatar a Veloso a necessidade de bombardeá-lo que preferiu outra alternativa realizando uma retirada estratégica que, certamente, poupou a vida de centenas de inocentes. Às dezenove horas, deste mesmo dia, partiram para a Base de Jacaré-Acanga levando armas, munições e 25 homens que julgavam serem fiéis ao Movimento.

Dias depois, chegava a Santarém o “Presidente Vargas” com um contingente de 300 homens do Exército, comandados pelo Coronel Hugo Delayte, e um contingente de pára-quedistas militares, comandados pelo Coronel Santa Rosa, o aeroporto foi liberado permitindo o pouso de diversas aeronaves militares.

“Enquanto decorriam as operações aéreas de reconhecimento do campo inimigo, as tropas vindas pelo ‘Presidente Vargas’ iniciavam sua subida pelo Tapajós, sob o comando do Coronel Hugo Delayte. Viajavam em barcaças. (...) Sucedeu, porém um imprevisto: Veloso queria apanhar gasolina em Itaituba. Chegou a São Luís (fronteira àquela cidade) numa embarcação com 12 homens. Dessa localidade enviou dois espiões a Itaituba para averiguarem se a praça estava desguarnecida. Acontece que lá estava a tropa do Coronel Delayte. Os dois espiões denunciaram o Plano de Veloso. Fizeram mais: conduziram Delayte e seus soldados a São Luís e indicaram a casa onde Veloso estava escondido. Ocorreu, então, o único choque armado entre rebeldes e legalistas. Veloso escapuliu pelo mato, mas no chão ficou estendido um homem: Cazuza, que Veloso, dias antes, em Santarém, em tom de pilhéria, promovera a cabo. (...) Cazuza se transformaria na única vítima da ‘Guerra’ do Tapajós”. (Arlindo Silva – Revista O Cruzeiro)

No dia 28, às 17 horas, Veloso, desarmado, foi aprisionado sem oferecer resistência em uma casa de São Luís. Levado para Itaituba foi transportado em um “Beech 1512” na companhia do comandante da “Operação Tapajós” – Brigadeiro Alves Cabral e escoltado pelo Major-aviador Celso Neves. Enquanto isso o Major Paulo Vitor, o Capitão Lameirão, e o Sargento João Gunther fugiam no “Douglas” para a Bolívia onde aterrizaram na noite de 29 de fevereiro no aeroporto de Santa Cruz de La Sierra.

Fonte: SANTOS, Paulo Rodrigues dos. Tupaiulândia. ICBS/ACN. Santarém, PA: Gráfica e Editora Tiagão, 1999.