MAPA

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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O Resgate do Bravo Anaico

O Resgate do Bravo Anaico

Pelas sombras temerosas
Onde vai esta canoa?
Vai tripulada ou perdida?
Vai ao certo ou vai à toa?

Semelha um tronco gigante
De palmeira, que s'escoa...
No dorso da correnteza,
Como bóia esta canoa! ...
(Castro Alves - A Canoa Fantástica)

Na última Travessia da Laguna dos Patos, Pelotas-Porto Alegre, fomos forçados a abandonar o destemido caiaque “Anaico”, pilotado pelo Professor Hélio Riche Bandeira, nos cômoros (dunas) da Costa de Santo Antônio (30°29’44,2”S/51°16’23,5”O), entre o Pontal de Tapes e o Morro da Formiga. A popa, avariada seriamente, apesar da colocação de fitas adesivas continuava fazendo água. Estávamos aguardando a manutenção do veleiro do Coronel Pastl para resgatá-lo, mas os adiamentos sucessivos aumentavam a probabilidade de não mais encontrarmos nosso velho parceiro. Comprei o “Anaico”, da KTM, na década de 80 e com ele desafiei as águas brancas e quedas d’água dos mananciais do Mato Grosso do Sul onde se mostrou insuperável nessa modalidade, o seu valor sentimental, portanto, não era, absolutamente, mensurável.

- Destacamento Precursor

Ele e sua esposa Vera já haviam encontrado o melhor e mais perto acesso por terra para cumprir esta missão. Era através da Fazenda Boa Vista, que se situava ao norte do município de Tapes e ia até a Laguna dos Patos junto do local em que estava o caiaque a ser resgatado. (Professor Hélio)

O amigo Pedro Auso e sua esposa Vera Regina, de Camaquã, decidiram fazer uma incursão terrestre exploratória com sua camionete, no dia 8 de outubro, sábado, e conseguiram autorização para adentrar na Fazenda Boa Vista. O Pedro tinha uma ideia aproximada da localização e conseguiu chegar com sua camionete o mais próximo possível das praias da Laguna, aproximadamente 1,7 km em linha reta. Comunicou-me a proeza e combinamos que, no dia seguinte, nos encontraríamos, acompanhados do Professor Hélio e sua filha Dafne para efetuarmos o resgate do “Anaico”.

- Fazenda Boa Vista

Localizada a 15 km da sede do Município de Barra do Ribeiro, a Fazenda Boa Vista (ou Fazenda do Zé Taylor) de propriedade do Dr. José Taylor Castro Fagundes, às margens da Laguna dos Patos, é pródiga em belas paisagens e diversidade de biomas. Borges de Medeiros, segundo o Dr. Taylor, cultivou arroz nestas paragens e as catorze figueiras, de sua antiga sede, teriam sido plantadas pelos Jesuítas. A Fazenda serve de referência para os adeptos das cavalgadas e jipeiros que a incluem, sistematicamente, no seu trajeto, além de proporcionar belos locais de pescaria em seus inúmeros açudes.

- Operação Resgate

Somente dia 9 de outubro, num domingo em que até o sol apareceu contrariando a previsão do tempo que era de chuvas esparsas em quase todo estado, conseguimos ir fazer o resgate do caiaque que havia ficado avariado e escondido atrás de uma duna de areia no último ponto de nossa travessia. Eram seis horas e trinta minutos quando eu e minha filha Dafne passamos na casa do Cel Hiram para então nos deslocarmos até o quilômetro 332 da BR116, em Tapes, onde nos encontraríamos com o nosso amigo Sr Pedro, mais identificado como “São Pedro” por toda sua proteção e ajuda a nós prestada. (Professor Hélio)




No domingo, 9 de setembro, partimos de Porto Alegre, às 6h40 em direção à BR 116, a meio caminho entre Barra do Ribeiro e Tapes, para encontrar o Pedro Auso no acesso à Fazenda Boa Vista.

Chegamos ao ponto de encontro com seu Pedro cronometradamente juntos e nos dirigimos para a sede da Fazenda Boa Vista, onde deixamos o carro do Cel Hiram e seguimos na camionete rural de seu Pedro, sendo que somente esta conseguiria vencer os precários caminhos a serem percorridos. Durante este trajeto de carro seu Pedro nos contou que no dia anterior ele e dona Vera já haviam ido a este local e caminhado diversos quilômetros tentando achar o caiaque, mas sem sucesso. Por este motivo que a dona Vera, embora tendo admirado muito o local, teve que ficar descansando em casa. (Professor Hélio)

Chegamos juntos ao local do encontro a exatos vinte minutos antes da hora marcada, oito horas. Como ele já tinha feito um reconhecimento prévio fomos até a sede da Fazenda, deixamos o meu carro e partimos, os quatro, na sua camionete. O trajeto até os limites da Fazenda com a região das Areias da margem da Laguna é de uma beleza impressionante. Chegando ao destino, verifiquei o GPS e constatei que o caiaque se encontrava a 4,5km ao Sul. Seguiríamos diretamente para a praia para diminuir a caminhada pelas dunas e, depois, pela praia até o caiaque. Hidratamo-nos, carregamos o mínimo de material necessário e partimos rumo à praia percorrendo dunas e terrenos alagadiços.

Perto da penúltima porteira transposta encontramos um bando de emas correndo pelos campos e avistamos a casa sede da antiga fazenda cercada por lindas e centenárias figueiras. Chegamos de camionete até um ponto que ficava aproximadamente um quilômetro e meio da laguna, formado por grandes dunas de areia e uma rica e bela vegetação nativa, e seguimos a pé até as margens desta. Chegando à praia constatamos que o caiaque estava a mais ou menos a três quilômetros e meio de distância em direção ao sul. A água da laguna estava bastante calma, totalmente diferente da do dia em que tivemos de abandonar o caiaque. (Professor Hélio)

Na praia identificamos os eucaliptos mencionados pelos pescadores e pelo Sr. Pedro, novamente verifiquei a distância até nosso objetivo – 3,3km. Caminhamos junto à água para evitar as areias fofas da margem e, no caminho, fomos admirando a vegetação, as imensas e sofridas figueiras e as inúmeras bromélias e orquídeas.


Ao caminhar pela praia também observamos belas orquídeas e bromélias junto das dunas contrastando com o lixo junto das margens levado pelas águas e inúmeros mexilhões dourados mortos, às vezes, causando mau cheiro. Por volta das dez e meia chegamos ao local do resgate onde encontramos o caiaque exatamente como o deixamos. Após avaliá-lo vimos que ele estava em condições de navegar em águas calmas o que nos pouparia esforços. Assim eu vim remando o caiaque próximo da praia e os outros três caminhando até o ponto mais próximo da laguna com o local que estava o carro. (Professor Hélio)

Depois de caminhar por uns quarenta minutos chegamos ao local onde deixáramos nosso caiaque e, felizmente, lá estava ele, o remo, leme, e a saia. Como as águas da Laguna ainda estavam bastante calmas sugeri ao Hélio que fosse remando até os eucaliptos e lá nos aguardasse.

Neste ponto, perto de uma grande duna coberta com vegetação nativa, paramos para descansar e fazer um lanche, enquanto minha filha aproveitou para andar um pouco de caiaque. (Professor Hélio)

Nos eucaliptos fizemos uma pausa para alimentação e hidratação antes de partirmos para o percurso mais estafante, carregar o caiaque pelas dunas e terrenos alagadiços.

O trecho seguinte do resgate, embora com cerca de apenas um quilômetro e meio, foi o mais desgastante, pois tivemos de carregar o caiaque através de dunas e banhados até o carro. Eu, o Cel Hiram e seu Pedro nos revezávamos nesta missão enquanto minha filha levava o remo e batia fotos.

Iniciei, com o Hélio, o transporte pelas dunas e logo de início verificamos o quanto seria estafante tal procedimento. A Dafne carregou o remo e fomos lentamente vencendo os obstáculos. Mais adiante o Pedro me substituiu e nos revezamos até chegar exaustos ao local onde estava estacionada a camionete.


Quando chegamos ao carro, descansamos um pouco, comemos algumas frutas, prendemos o caiaque e partimos satisfeitos pelo sucesso da missão cumprida. (Professor Hélio)


Fizemos uma parada para descanso e um pequeno lanche antes de carregarmos o caiaque na camionete e retornarmos à sede onde transferimos o caiaque para o meu carro. Encerramos nossa missão com um almoço no Restaurante das Cucas na BR 116, km 338. Nossas expedições pelos brasileiros caudais tem nos propiciado encontrar pessoas fantásticas e muito prestativas como o caso do amigo Pedro Auso e tantos outros cujas amizades fazemos questão de solidificar.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Travessia da Laguna dos Patos - Margem Ocidental

Travessia da Laguna dos Patos - Margem Ocidental


Eu vi corpos de tropas mais numerosas, batalhas mais disputadas, mas nunca vi, em nenhuma parte, homens mais valentes, nem cavaleiros mais brilhantes que os da bela cavalaria rio-grandense, em cujas fileiras aprendi a desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das nações. Quantas vezes fui tentado a patentear ao mundo os feitos assombrosos que vi realizar por essa viril e destemida gente, que sustentou, por mais de nove anos contra um poderoso império, a mais encarniçada e gloriosa luta! (Giuseppe Garibaldi)

O treinamento na represa da Granja do Valente, de propriedade da família Schiefelbein, em Bagé, produziu-me um efeito salutar tanto físico como moralmente.



Eu estava, definitivamente, pronto para enfrentar, mais uma vez, a “inconstância tumultuária” da Laguna dos Patos. Minha apreensão anterior em relação à preparação física, prejudicada pelos rigores do inverno “pampeano”, foi substituída pela fé e pela confiança. A rigorosa travessia, realizada em plena “Semana Farroupilha” seria uma justa homenagem ao “herói de dois mundos” Giuseppe Garibaldi.

– Herói de dois mundos

Era belo e forte como um atleta, e as melenas alouradas caindo-lhe até os ombros, davam-lhe a mais romântica das aparências - uma estranha e buliçosa aparência de espadachim inquieto... (Brasil Gerson)

O Herói Farroupilha Giuseppe Garibaldi é conhecido, na historiografia, como “herói de dois mundos” por ter participado de conflitos na Europa e na América. Prestando serviço à marinha republicana, Garibaldi, recebeu a missão de construir embarcações e combater a frota imperial que patrulhava a Laguna dos Patos com o objetivo de evitar que o Porto de Rio Grande fosse tomado pelos Heróis Farroupilhas. Depois de concluir a construção dos lanchões Farroupilha e Seival no Rio São Lourenço, atravessou a Laguna dos Patos, Lagoa do Casamento e chegou à Laguna do Capivari. Determinou, então, a construção de duas grandes carretas, de 8 rodas de quase quatro metros de diâmetro cada uma.

As carretas foram empurradas Laguna do Capivari adentro e as naus, conduzidas com precisão, foram atreladas às carretas e, em seguida, puxadas para fora d’água por cem juntas de bois. No dia 5 de julho de 1839, o transporte das embarcações teve início e seguiu rumo Nordeste por mais de oitenta quilômetros, cruzando campos, terrenos alagadiços e regiões arenosas. As embarcações foram lançadas na Lagoa de Tramandaí no dia 11 de julho. A operação contou com a cumplicidade e o sigilo da população local o que garantiu o êxito do projeto. Na Lagoa de Tramandaí as embarcações foram artilhadas e cruzaram a Barra de Tramandai às 20 horas, rumo a Laguna, SC.

– Professor Hélio um Samurai das Águas

Emprestei a ele um antigo caiaque fabricado pela “KTM”, modelo Anaico, que usei nas provas de águas brancas (descidas de corredeiras e quedas d’água) no Mato Grosso do Sul, final da década de 80. É um caiaque super reforçado, mas que se torna um tanto bandoleiro quando recebe vento de popa e ondas de través. No último fim de semana testamos nossas forças saindo da Raia 1 até a Ilha do Chico Manoel, perfazendo quarenta quilômetros, num intervalo de cinco horas, de ida e volta sem demonstrarmos cansaço ou perda de ritmo.


Convidei, para parceiro deste Desafio, o Professor Mestre de Educação Física do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) Hélio Riche Bandeira. O primeiro obstáculo a ser vencido pelo Professor Hélio era o domínio de um caiaque em águas turbulentas como as da Laguna dos Patos. Há duas décadas que venho apregoando que o conjunto Canoísta-caiaque tem de ser aperfeiçoado até que se tenha forjado um sistema singular e monolítico. As grandes ondas, os ventos fortes e as rajadas imprevistas, tão comuns na Laguna dos Patos, não concedem ao canoísta tempo suficiente para pensar na melhor maneira de reagir e podem, em frações de segundo, provocar um indesejado naufrágio. As reações precisam ser instintivas, rápidas, havendo necessidade de uma grande interação do conjunto Canoísta-caiaque com a natureza que o cerca, é fundamental saber interpretar o pulsar das águas e o compasso dos ventos com apurada precisão cartesiana, mas com a alma de um artista.

O Professor Hélio levou a sério os conselhos e treinou durante quase três semanas para a desafiadora jornada. A disciplina invulgar do Mestre de artes marciais aliada à sua determinação permitiu-lhe dominar a técnica da canoagem em poucos dias.

– Equipe de Apoio

A previsão de ventos fortes durante todo o trajeto impediu que o Coronel PM Sérgio Pastl nos apoiasse com seu veleiro Ana Cleci. Nosso fiel amigo escudeiro, porém não nos deixou na mão e o apoio naval foi então substituído pelo terrestre. O Cel Pastl contava, ainda, com o concurso dos destacamentos da Brigada Militar existentes ao longo do percurso, da parceira Rosângela Schardosim, dos novos amigos Pedro Auso Cardoso da Rosa e sua querida esposa Vera Regina Sant’Anna Py e dos dois netos do Cel Pastl Pedro Sérgio Londero Pastl e Brian Pastl Wechenfelder.

– Partida de Bagé (16 de setembro)

Saímos de Bagé depois do almoço, do dia 16 de setembro, rumo à Praia do Laranjal, em Pelotas. Contatamos o Professor Hélio, por volta das 15 horas, na Praia do Laranjal onde procuramos uma pousada para nos alojar. A Praia oferece ao visitante diversas opções de hospedagem embora careça de sinalização adequada. Os ventos fortes acima de 25 nós (45km/h) e ondas superiores a 1,5 metros prenunciavam dificuldades para o dia da largada.

– Partida da Praia do Laranjal (17 de setembro)


Fogem do vento que ruge
As nuvens aurinevadas,
Como ovelhas assustadas
Dum fero lobo cerval;
Estilham-se como as velas
Que no alto mar apanha,
Ardendo na usada sanha,
Subitâneo vendaval.

Bem como serpentes que o frio
Em nós emaranha, — salgadas
As ondas s’estanham, pesadas
Batendo no frouxo areal.

Disseras que viras vagando
Nas furnas do céu entreabertas
Que mudas fuzilam, — incertas
Fantasmas do gênio do mal!


(Gonçalves Dias - A Tempestade)

Partimos às 06h15 enfrentando o mesmo Nordestão e as mesmas ondas que avistáramos no dia anterior. Felizmente as ondas de proa podiam ser vencidas pelo caiaque de meu parceiro sem grandes dificuldades técnicas, mas, em contrapartida, exigiam de nós um grande esforço físico. Em condições normais nossa velocidade cruzeiro é de 4 nós (7,2km/h), o vento de proa, porém, não permitiu sequer que chegássemos aos 2 nós. Depois de 01h15, tendo navegado apenas três quilômetros e meio, fizemos a primeira parada numa praia (31°43’15,60”S/52°11’27,48” O) onde um amistoso e carente “guaipeca” se aproximou e foi brindado com um pedaçinho de barra de cereal. As perspectivas não eram alvissareiras, nesta velocidade chegaríamos a São Lourenço somente na madrugada do dia seguinte. Descansamos e prosseguimos nossa saga confiando que a meteorologia confirmasse seus prognósticos que anunciavam ventos do quadrante Sul a partir do início da tarde. Passamos pela grande Colônia de Pescadores Z3 (31°42’04,06”S/52°09’17,97”O).

Colônia de Pescadores Z3: também conhecida como Colônia de São Pedro ou Arroio Sujo, foi fundada em 29 de junho de 1921. Alguns moradores mais antigos afirmam que a família “Costa” foi uma das primeiras a se estabelecer na região personificada pelo casal Olegário e Adelaide Costa. No início eram poucas pessoas e famílias, vivendo em casas de madeira e palha, oriundas de diversas regiões. Na primeira fase, no início do século XX, os moradores eram do Estado do Rio Grande do Sul, agricultores de cidades como Piratini, Tapes, Viamão e Rio Grande. Já numa segunda fase, a partir da década de 1950, vieram grupos oriundos do Estado de Santa Catarina, de cidades como Laguna, Itajaí, Florianópolis, entre outras. Eram pescadores. A partir da década de 1960 começaram a vir famílias oriundas de uma ilha conhecida como “Ilha da Feitoria”, localizada à uma hora de barco da Colônia Z3. Numa fase final, a partir do início da década de 1990, começaram a surgir grupos oriundos das periferias urbanas e da zona rural de Pelotas. (Ecomuseu da Colônia Z3)

Fizemos nova parada na Margem Ocidental da boca da Lagoa Pequena sem notar qualquer mudança nas condições do tempo. Depois de comunicarmos ao pessoal de apoio nossa posição e nossas preocupações partimos rumo à Ponta da Feitoria, na Ilha da Feitoria. A meio caminho uma repentina mudança nos entusiasmou, os ventos abrandaram. A alegria durou pouco e uma chuva extremamente fria nos envolveu, São Pedro de Cafarnaum, o “manda-chuva” batizava o novo canoísta.

Aportamos, às 12h30, na Ponta da Feitoria (31°41’36,50”S/52°02’22,18”O) e novamente uma doce calmaria nos empolgou. Uma pequena capelinha e umas poucas casas de pescadores compunham o bucólico cenário. Estávamos há apenas 21km de distância, em linha reta, do ponto de partida, um terço do trajeto previsto. Fotografamos os arredores e animados partimos.



Contornamos a Ponta da Feitoria e nos defrontamos, novamente, com o “Nordestão” que não perdera sua impetuosidade. Navegamos por mais de uma hora e paramos frente a uma pequena moradia onde residia o seu Fernando. Conversamos com o solitário caseiro que contou-nos seu infortúnio, naufragara o pequeno barco e o seu motor de popa estava sem condições de uso. Fernando nos informou que mais adiante encontraríamos o senhor Flávio Oliveira Botelho e que ele certamente nos providenciaria abrigo. Comuniquei ao pessoal de apoio a mudança de planos, faríamos uma parada intermediária, em decorrência do vento que não sofreara seu ímpeto. Partimos para nosso último lance e aportamos junto às belas ruínas da centenária sede da Estância Soteia (31°37’52,31”S/52°00’57,38”O) mais conhecido como Casarão da Soteia (casa com terraço).


Construído pelos índios guaranis, nos idos de 1780, e que remonta à época da Real Feitoria de Linho Cânhamo embora não tenha sido a sede da mesma. Apesar do triste estado em que se encontram as ruínas ainda é possível visualizar-lhe o belo terraço, de frente para a Laguna dos Patos, que lhe empresta o nome. Nenhuma árvore foi plantada na frente, voltada para a Laguna, para não comprometer a visualização a partir do grande terraço. Em volta do casarão, porém, cinco estóicas paineiras dão um toque especial ao conjunto. Essas paineiras centenárias não possuem espinhos no caule e galhos mais baixos. Algumas paineiras costumam a partir dos vinte anos de idade, com o engrossamento da casca, a perder os espinhos inicialmente na parte mais baixa do caule e com o passar dos anos a queda se estende às partes mais altas da árvore.

Real Feitoria de Linho Cânhamo (1783-1789): instalada, em 1783, na região de Canguçu velho, município de Canguçu, sob a inspeção do Padre Francisco Xavier Prates, acompanhado de Antonio Gonçalves Pereira de Faria, um Furriel para Almoxarife, quatro soldados europeus, e quarenta escravos de Sua Majestade trazidos, do Rio de Janeiro, para trabalhar no cultivo e industrialização das duas plantas têxteis. Estes produtos, na época, eram empregados na fabricação de cabos e velas para embarcações.

O nome do município de Arroio do Padre tem origem em um acidente ocorrido com o Padre Francisco. Conta a tradição que o Padre e seu cavalo foram arrastados pelas águas do arroio e que ele só se salvou do afogamento porque conseguiu agarrar-se a alguns galhos. Desde então, o local ficou conhecido como Arroio do Padre. O Padre Francisco faleceu em 1784, a Feitoria, a partir de sua morte entrou em franco declínio, tendo em vista a pouca produtividade das colheitas, até ser transferida para São Leopoldo. Seu irmão Paulo Xavier Rodrigues Prates tornou-se mais tarde proprietário da região da cidade de Canguçu, da ilha da Feitoria e de todo o primitivo Rincão do Canguçu.

Leváramos o dobro do tempo previsto para percorrer pouco mais de 30km e seguramente a energia suficiente para percorrer 90km.

Nobre cardápio crioulo das primitivas jornadas,
Nascido nas carreteadas do Rio Grande abarbarado,
Por certo nisso inspirado, o xiru velho campeiro
Te batizou de “Carreteiro”, meu velho arroz com guisado.
(Jayme Caetano Braun)

O senhor Flávio Oliveira Botelho havia sugerido, inicialmente, que ocupássemos uma instalação ao lado do grande casarão e mencionou que precisava tirar um gato morto de lá antes de nos instalar-nos. Ao verificar que nossas embarcações eram simples caiaques o bom homem se comoveu, levou-nos para sua casa e brindou-nos com suas encantadoras histórias e um saboroso carreteiro permitindo ainda que usássemos as camas de sua moradia. Na propriedade existe a mais bela figueira que já tive a oportunidade de admirar, segundo o Sr. Flávio ela já foi fotografada para constar de calendários de Pelotas e São Lourenço. Foi uma noite agradável onde tivemos, graças à acolhida do senhor Flávio, a possibilidade de recuperar nossas energias para a empreitada do dia seguinte.

– Partida do Casarão da Soteia (18 de setembro)

Depois de uma boa noite de sono na casa do seu Flávio partimos, às 07h15, para São Lourenço. As condições meteorológicas haviam melhorado significativamente e fizemos três paradas estratégicas para poder observar as belezas naturais, em especial as frondosas figueiras e as belas orquídeas que emprestavam suas belas formas e cores aos troncos retorcidos arrebatados das margens pela fúria das águas da Laguna.


Avistamos, ao longe, São Lourenço por volta das 11 horas e a partir daí até nossa chegada, por volta das 13 horas, as tainhas saltavam graciosamente à frente das embarcações projetando seus belos, esguios e hidrodinâmicos corpos prateados sobre a linha do horizonte. Avistamos a Rosângela, o Cel Pastl e seus dois netos Pedro Sérgio Londero Pastl e Brian Pastl Wechenfelder que nos esperavam na foz do Rio São Lourenço (31°22’41,35”S/51°57’58,27”O).



– Pérola da Laguna

Em São Lourenço degustamos o precioso churrasco preparado pelo Cel Pastl no acampamento montado no Iate Clube, depois da refeição arrumamos nossos pertences. O Professor Hélio permaneceu no acampamento e eu fui para a Pousada da Laguna Apart Hotel reservada pela Rosângela. A confortável Pousada é a única que concede desconto de 50% para idosos e graças a isso pude aproveitar essa rara regalia. Depois de um reconfortante banho fomos conhecer a aprazível cidade com suas belas casas e a bela orla à margem esquerda do São Lourenço.



A origem do Município remonta ao final do século XVIII, quando a coroa portuguesa distribuiu terras nas margens da Lagoa dos Patos a militares que se destacaram nas guerras contra os espanhóis. Os proprietários erigiram capelas em devoção aos seus santos prediletos. Em 1807, os moradores da Fazenda do Boqueirão construíram a capela de Nossa Senhora da Conceição, ao redor da qual desenvolveu-se o povoado que é o berço do município. Em 1830, o povoado da Fazenda do Boqueirão, foi elevado à Freguesia, por Dom Pedro I, sendo desmembrado da Vila de Rio Grande e incorporado à Vila de São Francisco de Paula, atual Pelotas.

Na Fazenda de São Lourenço, sita na margem esquerda do arroio do mesmo nome, foi edificada em 1815 uma capela devotada a São Lourenço. No Arroio São Lourenço, o italiano Giuseppe Garibaldi, a serviço da República Riograndense, improvisou o estaleiro onde foram construídos os dois lanchões armados usados para combater a frota imperial baseada na Lagoa dos Patos e empregados mais tarde na expedição farroupilha à Laguna. As águas rasas do arroio serviam de refúgio para a flotilha farroupilha, sempre que ameaçada pelo maior poder de fogo dos barcos imperiais. São Lourenço foi palco de vários combates entre o exército farroupilha e o imperial.

Em 1850, o Coronel José Antonio de Oliveira Guimarães, doou parte das terras da fazenda para uma nova povoação e, em 1858, firmou contrato com o prussiano Jacob Rheingantz, para o estabelecimento de colonos alemães na região. O pequeno porto localizado na embocadura do Arroio São Lourenço, tornou-se então um dos mais importantes portos de veleiros mercantes do sul do Brasil, contribuindo para o progresso da colônia que foi grande produtora de batata durante o século XIX e parte do século XX.
A casa onde Rheingantz instalou a administração da colônia e a sua residência, está preservada e integrada ao patrimônio arquitetônico do Município. Muito embora a Freguesia de Boqueirão tenha sido elevada à condição de vila e emancipada de Pelotas em 26/4/84, a sede do novo município foi transferida em 15/2/1890 para São Lourenço, promovida então a vila. Em 31/3/1938 passa a ser cidade. (http://www.saolourencodosul.rs.gov.br/)

 
Em cada volta de praia
Em cada barranca do rio
Ficaram as pegadas somente
Da capivara assustada
E do canoísta
Que dali partiu.

Belo Rio Camaquã!
Do serpentear do teu leito
Levamos a grata lembrança
Do vigilante Martim-pescador,
Do vôo da Garça moura,
Do saltar da tainha,
Da espuma da correnteza,
Da rede do pescador...
(Vera Regina)

Na pousada consegui secar as roupas molhadas e me reorganizar para a próxima empreitada. O atendimento cordial da gerência, o preço diferenciado para idosos e a qualidade das instalações da Pousada da Laguna Apart Hotel, certamente nos servirá de referência para a próxima travessia em abril de 2012.

– Partida de São Lourenço (19 de setembro)

O merecido descanso em São Lourenço nos recompôs e partimos confiantes para a terceira etapa de nossa travessia na Laguna dos Patos rumo ao Rio Camaquã. Os ventos, porém, e as ondas de través não haviam diminuído sua intensidade exigindo de nós um esforço muito grande para progredir. Fizemos uma parada intermediária (31°19’58,83”S/51°55’40,26”O) antes da Ponta do Quilombo de onde rumamos diretamente para Este pegando, a partir daí, o vento de proa, novamente o Professor Hélio conseguiu assumir o comando de seu voluntarioso caiaque “Anaico” e avançamos celeremente a uma velocidade de 4nós (7,2km/h).



Paramos na Ponta do Quilombo (31°20’00,83”S/51°51’20,96”O) e mostrei ao Hélio nosso objetivo a Nordeste, a Foz do Camaquã, ele sugeriu uma parada a uns cinco quilômetros adiante no que parecia, pelo mapa do Google Earth, uma extensa praia de areias brancas. O vento ia golpear o caiaque do Hélio com ondas de través, novamente prejudicando-lhe a progressão. Avancei diretamente para o ponto sugerido (31°17’58,45”S/51°49’32,76”O) e aguardei o amigo em terra. O Hélio mal parou para descansar e resolveu continuar a progressão acompanhando a costa enquanto eu, depois de aguardar um tempo, procurei orientar minha rota diretamente para a foz do Camaquã.

Aportei próximo à foz (31°17’10,18”S/51°46’17,01”O) e arrastei o caiaque para um banco de areia mais ao Sul deixando-o de lado para que o professor pudesse avistá-lo de longe. Calibrei o GPS e fiquei, algum tempo, admirando as aves que emprestavam um colorido especial à mesopotâmia camaquense. Um enorme bando de colhereiros cor-de-rosa chamou-me, em especial, a atenção com suas graciosas evoluções e cores que se mesclavam com o azul celeste.

Colhereiros cor-de-rosa (Platalea ajaja): para obter alimento, a ave arrasta o seu bico sensível em forma de colher de um lado para o outro revirando o lodo. No período reprodutivo, exibe uma bela plumagem cor-de-rosa. A ingestão de peixes, insetos, camarões, moluscos e crustáceos que contenham carotenóides dão uma coloração rosada ao colhereiro, que se torna mais intensa na época da reprodução.


O Hélio demorou um pouco, pois confundira-se com a trama aquática da região e depois de descansar um pouco partimos pelo delta assoreado do Camaquã para nosso destino na Ilha de Santo Antônio.

Avistamos uma pequena ilha na entrada da Barra Grande e penetramos confiantes nas águas do Camaquã. Logo na entrada observei intrigado uma estranha embarcação que se aproximava. Era o amigo Pedro Auso Cardoso da Rosa e sua esposa Vera Regina Sant’Anna Py em seu caiaque oceânico duplo totalmente modificado com dois estabilizadores na popa e suportes para carga na proa.

Os amigos nos conduziram até uma cabana (31°14’42,63”S/51°44’54,37”O) de seu amigo Henrique, na Ilha de Santo Antônio, onde pernoitaríamos. Na cabana nos aguardavam o Coronel Sérgio Pastl e seu dois netos Pedro Sérgio Londero Pastl e Brian Pastl Wechenfelder. O Mestre Pedro fez questão de transportar os caiaques no seu reboque da praia até a cabana. Depois de arrumarmos nossas tralhas e tomarmos um bom banho saboreamos a refeição preparada pelo nosso dileto amigo Pastl. Dormimos cedo para enfrentar a jornada seguinte.

– Vera Regina Sant’Anna Py

Matas, rios, estradas,
Capoeiras e banhados,
Servem de rumos
Para eu deixar de ser gente
E transcender...
Junto d’alma da terra mãe. (...)

O segredo da felicidade
Humm... deve ser decodificado
Escute, mergulhe, entre e perfure... (...)
(Vera Regina)

A professora Vera Regina, gaúcha de Guaíba, reside em Camaquã, RS, é graduada em Ciências, especialista em meio ambiente e toxicologia aplicada. A canoagem lhe proporcionou uma mágica aventura pelo cânion Fortaleza, em Cambará do Sul, RS, que ela procurou materializar, pela primeira vez, através de um poema. Companheira fiel de seu esposo Pedro Auso Cardoso da Rosa ela o acompanha nas remadas, caminhadas, pedaladas e outras tantas aventuras radicais pelos nossos rincões. A poetisa-escritora faz uma crítica contundente ao desrespeito à natureza promovido pelo ser humano afirmando: “acho que o homem necessita acordar urgentemente para um verdadeiro respeito pela natureza”.

Vera Regina presenteou-nos com seu belo e inspirado livro “O rio Camaquã e a Canoa” que como ela mesma afirma: “é um entrelaçar de esporte e poesia, com conhecimento ecológico, pois percorri os 230km do rio e quero que vocês também o façam comigo”.

– Partida para a Casa Vermelha (20 de setembro)

Os amigos aguardavam a balsa para transpor o Camaquã quando descemos o Camaquã rumo à Casa Vermelha como a professora Vera identificara nosso destino final. O vento forte nos fez procurar abrigo na margem esquerda do Rio e chegamos à foz sem grandes problemas. Iríamos enfrentar fortes ventos de proa, novamente, e sugeri uma parada intermediária e nela aguardei o Hélio admirando e fotografando a vegetação do entorno.

Quando decidi seguir rumo à Ponta do Vitoriano meu suporte do leme partiu e comecei a sofrer com os problemas de navegação similares aos que afligiam o professor Hélio. Depois de tentar, durante algum tempo, impingir uma rota fixa ao “Cabo Horn” forçando por demais o braço direito já que as ondas de través atingiam primeiramente a popa à Boreste arrastando o caiaque para a direita, decidi remar naturalmente. Deixava o caiaque fazer uma longa curva na direção das ondas me afastando da margem e depois surfava até a costa aproveitando as ondas de popa, era um ziguezaguear constante que embora aumentasse a distância me poupava o desgaste do braço direito. A meio caminho entre a foz do Camaquã e a Ponta do Vitoriano avistamos uma bóia de sinalização encalhada e depois, na Ponta do Vitoriano, mais outras duas. O Cel Pastl me assegurou que por mais de uma vez fez reclamações junto às autoridades competentes, mas que até hoje nada foi providenciado deixando os grandes e perigosos Bancos de Areia sem qualquer tipo de sinalização visual.


Da Ponta do Vitoriano avistamos a chaminé de uma antiga instalação do IRGA (31°12’03,49”S/51°38’34,34”O) na Praia do Areal e mais adiante a tal casa vermelha mencionada pela amiga Vera Regina. O Hélio seguiu costeando e eu apontei a proa para a chaminé surfando nas ondas de través. Sem o leme, porém, a tendência do “Cabo Horn” era desviar para Boreste, dificultando um pouco a navegação. Aportei nas proximidades da chaminé junto a um grupo de pescadores que retirava o fruto de seu labor das redes. Estavam, já há algum tempo, instalados no complexo do IRGA e, como a instalação tinha sido vendida a particulares, teriam de abandonar o local. Combinei com o Hélio a próxima rota, diretamente para a casa vermelha mencionada pela amiga Vera e parti.

Aportei na praia da tal Casa Vermelha - Fazenda Flor da Praia (31°08’25,59”S/51°37’06,85”O), e procurei alguém para me informar onde estariam meus parceiros. As instalações da fazenda eram impressionantes e achei que desta vez usufruiríamos de acomodações confortáveis para o pernoite. Ledo engano, o capataz, devidamente armado, apareceu muito tempo depois e nos informou que não recebera nenhuma ordem no sentido de nos hospedar e que nossos amigos deveriam estar mais adiante nas antigas instalações da fazenda onde estavam acampados outros pescadores. Nesta altura o Hélio e eu muito cansados e encarangados tivemos, desolados, de nos resignar e continuar até a instalação indicada.

Acabei de falar com o Sr Gabriel da Fazendo Flor da Praia que nos autorizou a entrar na propriedade e acampar na beira da Praia. Peguei, também uma carta na 1ª DL, que nos dá a posição do local como: 31°54’10”S/51°40’11”W. Há três prédios pela vista da carta (galpões bem junto à praia). Como referência é mais ou menos o dobro da distância entre a raiz do Banco do Vitoriano e a chaminé do engenho da Praia do Areal. (E-mail do Cel Pastl - 16/09/11)

O último lance foi especialmente complicado para o Hélio que virou por mais de uma vez o caiaque golpeado pelas fortes ondas de través. Resolvi picar a voga para não virar também e para tentar conseguir um barco de resgate. Cheguei à praia (31°07’42,23”S/51°34’41,57”O) onde avistei o Pedro Sérgio e o Brian, netos do Cel Pastl, que me informaram que só eles estavam ocupando as instalações, portanto não havia nada a ser feito a não ser esperar pelo Hélio que chegou, depois de algum tempo, a pé depois de deixar o caiaque escondido numa vala.


– São Pedro de Cafarnaum x Sr Pedro de Camaquã

Por isso Eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder da morte nunca poderá vencê-la. (São Mateus, 16, 18)

Até então São Pedro de Cafarnaum (Aldeia de Naum), o “príncipe dos apóstolos”, conhecido também como “porteiro do céu”, “padroeiro dos pescadores” e, sobretudo, “manda-chuva” tinha imposto à nossa travessia todo o tipo de obstáculos e dificuldades. Dificuldades essas que foram amenizadas, em grande parte, com a chegada de seu xará o Senhor Pedro de Camaquã (Rio Correntoso). Os amigos brigadianos de Camaquã comandados pelo Sargento PM Juliano, atendendo ao pedido do Cel Pastl que solicitara a indicação de um vaqueano da região, conhecedor não somente dos locais de paragem ao longo da Laguna dos Patos, mas que fosse prestativo e tivesse livre transito entre os moradores da região, chegaram, finalmente, ao amigo Pedro graças à indicação de seu sobrinho Josemar Rosa de Sousa.

Raramente em minhas seis décadas de vida tive a oportunidade de conhecer uma pessoa mais afável, criativa e prestativa. O Pedro só sossegou depois de resgatar o caiaque do Hélio que tinha ficado na margem. A operação, que se estendeu noite adentro, enfrentou porteiras fechadas a cadeado e com isso a equipe formada pelo Sr. Pedro, Professor Hélio, Cel Pastl e seus dois netos, teve de carregar na mão, por quase três quilômetros, o caiaque até o reboque antes de transportá-lo ao acantonamento. Em Porto Alegre haviam adaptado um leme no caiaque do Hélio que não estava sendo utilizado porque o tinham colocado totalmente fora do alinhamento além de furarem o casco. O Pedro resolveu então substituir o meu suporte do leme quebrado pelo do caiaque do Hélio e só retornou à sua cidade depois de concretizar sua missão. A colocação resolveria meu problema de navegação, mas o professor Hélio continuaria enfrentando mais surpresas pela frente.

Belo Rio Camaquã!
Do serpentear do teu leito
Levamos a grata lembrança
Do vigilante Martim-pescador,
Do vôo da Garça moura,
Do saltar da tainha,
Da espuma da correnteza,
Da rede do pescador...
(Vera Regina)

Finalmente, um dia de sol e ventos amenos. A noite foi longa, a residência não tinha portas nem janelas e o vento frio castigou-nos durante toda a noite. O saco de dormir estendido diretamente sobre o piso duro também não era nada confortável. Saímos depois das sete horas para permitir que o sol aquecesse um pouco o ambiente e secasse nossas roupas de viagem. O Cel Pastl partiu com os netos prometendo deixar acertado nosso pernoite nas instalações do destacamento da Brigada Militar de Arambaré.

– Partida da Fazenda Flor da Praia (21 de setembro)

Indescritível o cenário e a hospitalidade na Costa Oeste. Somente conhecendo o povo, especialmente na Fazenda Flor da Praia e na Ilha do Camaquã, e os brigadianos da região para aquilatar. O tempo atrasou nossos nautas entre o Laranjal e a Feitoria, que chegaram apenas domingo à tarde em São Lourenço. Segunda-feira rumaram ao Camaquã, na Ilha St° Antônio, onde tivemos apoio do Sr Pedro Auso e sua Senhora, Profª Vera, pessoas de fino trato e robustas nas aventuras de caiaque pelas águas do Rio Grande. Na terça chegaram os nautas, com luta, quebra de leme, capotagens no ventão até a Fazenda Flor da Praia, e hoje em Arambaré. Amanhã irão a Tapes, onde haverá pausa até sábado, quando partirão para a Ilha Barba Negra. Vamos contar com o Maj Vitor Hugo e o Major Nunes nesta perna da jornada. Breve mandaremos relatos mais completos. Por enquanto muito obrigado, vocês são mesmo pessoas muito importantes e boas apoiando este projeto. (E-mail do Cel Pastl - 21/09/11)

Iniciamos nossa remada até o Banco da Dona Maria imprimindo um ritmo forte e constante de 4 nós (7,2km/h). Fizemos uma parada intermediária em um ponto de captação d’água para as plantações de arroz (31°06’10,73”S/51°30’05,34”O), a vegetação nativa esbanjava beleza com inúmeras bromélias e orquídeas e as várias pegadas de pequenos animais na areia e nas trilhas mostravam que ali a natureza se encontrava em perfeito equilíbrio.



Descansados, continuamos nossa navegação e mais adiante passamos pelas ruínas mencionadas pelo amigo Pedro Auso. O Pedro já acampara ali uma vez aproveitando a proteção da construção de alvenaria. Paramos na Ponta da Dona Maria e mostrei para o Hélio o canal de acesso à Lagoa do Graxaim em cujas margens se encontra a cidade de Santa Rita do Sul. O sol forte e os ventos fracos contrastavam com as condições climáticas que enfrentáramos até então.

Aportamos na boca da Lagoa do Graxaim (31°03’50,74”S/51°28’01,12”O) onde consegui me comunicar com o pessoal de apoio pela Operadora VIVO. As grandes Garças Mouras e um descuidado João Grande pescavam despreocupadamente na margem da Lagoa parecendo não notar nossa presença. Continuamos costeando e admirando a mata nativa e as belas figueiras encasteladas nas enormes dunas de areia. Um conjunto, em especial chamou-me a atenção e paramos para escalar as dunas e admirar as figueiras, totalmente tomadas pelas bromélias e orquídeas (31°01’35,98”S/51°29’09,89”O). Os monumentos arbóreos cravaram suas raízes nas voláteis e alvas areias tentando, em vão, equilibrar-se enquanto as areias lenta, inexorável e criminosamente escoavam duna abaixo expondo mais e mais as magníficas fundações das centenárias figueiras. A beleza do entorno era fantástica, infelizmente minha máquina fotográfica emperrara e eu não pude materializar a bela paisagem que nos cercava.

Topamos no caminho com algumas lontras ariscas que nadavam graciosamente em busca de suas presas e logo adiante vislumbramos ao longe a chaminé do antigo complexo do Hotel e Engenho da Família Cibilis que na década de 40 e 50 era o esteio da economia do Município de Arambaré. Admiramos a bela praia da Costa Doce de aproximadamente 6 km de extensão de muita beleza e entramos no Arroio Velhaco que nasce na cidade de São Jerônimo. Logo em seguida aportamos no Clube Náutico (30°54’38,01”S/51°29’47,50”O) onde estacionamos nossos caiaques e fomos procurar abrigo junto ao Destacamento da Brigada Militar.

Fomos gentilmente recebidos pelo Soldado PM Paulo que depois de nos instalar nas dependências do Destacamento levou-nos até o Posto de Saúde para que o Professor Hélio fosse atendido. O Hélio estava com uma infecção no tornozelo e foi prontamente atendido e medicado nas instalações impecáveis do Posto. Fizemos ainda um pequeno “tour” pela cidade para conhecer parte das quase duzentas figueiras cadastradas no perímetro urbano e a maior figueira do estado. Às belas figueiras urbanas e domesticadas falta, no entanto, o encanto das selvagens e fundamentalmente a magia da beleza agreste do seu entorno. A luta constante contra as intempéries empresta a essas um charme impregnado de poesia e coragem que as suas irmãs citadinas desconhecem.

O contraste entre a beleza do ambiente que cerca as figueiras selvagens e as “domésticas” fizeram-me lembrar as considerações de Madame Elizabeth Cary Agassiz e do naturalista suíço Luis Agassiz no seu “Relato de viagem ao Brasil em 1865-1866” em relação às vitórias amazônicas (vitórias régias):

Por mais maravilhosa que ela pareça quando admirada na bacia de um parque artificial, onde faz maior efeito pelo seu isolamento, tem, contemplada no meio que lhe é próprio, um encanto ainda maior; o da harmonia com tudo o que a rodeia, com a massa compacta da floresta, com as palmeiras e as parasitas, as aves de brilhante plumagem, os insetos de cores vivas e maravilhosas, com os próprios peixes que, escondidos nas águas, por baixo dela, têm suas cores não menos ricas e variadas do que as dos seres vivos do ar. (AGASSIZ)

À noite o Sr. Pedro Auso apareceu com o leme de seu caiaque para adaptá-lo no caiaque do professor Hélio. Teríamos apenas que regulá-lo na margem de acordo com o ângulo de incidência das ondas de través.


– Capital das Figueiras



Inicialmente chamava-se “Barra do Velhaco”, por estar situada na Foz do Arroio Velhaco. Em 1938 passou a denominar-se “Paraguassu” e, em 1945, adotou o nome de “Arambaré”, que quer dizer “o sacerdote que espalha luz”. Nesta localidade, conhecida desde os tempos coloniais de 1714, moravam índios com costumes especiais - pescadores e comerciantes de peles que tinham mãos e pés bem desenvolvidos. Eram os índios Arachas, também conhecidos como Arachanes ou Arachãs, que na língua tupi significa “patos”. Por volta de 1763 casais açorianos vindos para o sul estabeleceram-se na margem esquerda do estuário do Guaíba e na margem direita da Lagoa dos Patos, fundando fazendas e charqueadas até o rio Camaquã. Desde essa época, os habitantes do então distrito de Arambaré uniram-se na busca do desenvolvimento através da agricultura, da pecuária e, sobretudo pelo grande potencial turístico e pela beleza natural da localidade, emancipada em 20 de março de 1992 do município de Camaquã e de parte do município de Tapes. (http://www.portalarambare.rs.gov.br/)

– Partida de Arambaré (22 de setembro)

Partimos cedo contando mais uma vez com o apoio dos amigos brigadianos. O tempo favorecia e chegamos em tempo recorde até o Banco dos Desertores onde o amigo Pedro Auso eventualmente acampa (30°52’43,87”S/51°23’22,13”O). Infelizmente, alguns campistas ignorantes fazem fogo junto às raízes das seculares figueiras que hoje dão visíveis sinais de fragilidade e dentro em breve tombarão vítimas silentes da inconsequência do ser humano.



Ultrapassamos o Banco dos Desertores e seguimos rumo Norte penetrando na enorme enseada conhecida como “Saco de Tapes”. Os bosques de pinus, ao longe, não respeitam as fronteiras humanas e invadem lenta e progressivamente as áreas de mata nativa, derramando-se pelas areias brancas das dunas. Como os hunos de outrora, as hordas bárbaras sufocam e padronizam com sua intensa monotonia os belos campos. Indefesas figueiras prestes a serem sufocadas pelos pinheiros aguardam estáticas as impiedosas mortalhas que avassaladoras se aproximam.

Outros sinais fatídicos da presença humana se fazem presentes na poluição das águas, o mau cheiro e a espuma flutuando na superfície marcam sua presença. A enseada que protege Tapes de poluições de outros centros não permite esconder o descaso dos seus governantes em relação ao sagrado manancial que poluem sem qualquer critério, um crime ambiental para uma cidade que se propõe a abrigar um balneário turístico às margens da Lagoa. Encontramos, numa das paradas, uma pequena tartaruguinha que tentava nadar nas águas agitadas, resolvi deixá-la em um pequeno afluente mais calmo.

Chegaram hoje às 15h em Tapes os nautas, que tiveram ontem novamente o inestimável apoio do Sr Pedro Auso de Camaquã, bem como da guarnição da BM de Arambaré, destacando-se o Sd PM Paulo, Sd PM Lima e o Sd PM Guastuci. Pernoitaram e fizeram as refeições no Destacamento, e o Sd PM Guastuci gentilmente despachou o material de dormitório e cozinha hoje pelo ônibus para Tapes, onde o apanhei às 16h. No Clube Náutico Tapense fizeram uma refeição forte no Restaurante do Sr Roger, e hospedaram-se na casa de veraneio do Valmir e da Nara (ele é irmão da Aninha), no Balneário Pinvest. (E-mail do Cel Pastl - 22/09/11)


– Namorada da Lagoa

A região foi habitada por índios da tradição Tupi-Guarani. Por volta de 1808, atraídos pela fertilidade do solo e pela abundância das pastagens da região, imigrantes açorianos estabeleceram-se na área, instalando estâncias e charqueadas que foram a base da economia local por algum tempo. Posteriormente, decorrentes da própria configuração geográfica, desenvolveram-se a prática da agricultura e da pecuária que constituem atualmente a principais riquezas do Município. Mesclado com a cultura indígena, os açorianos e negros, seguidos dos imigrantes, desenvolveram aqui suas tradições, seus usos e costumes que hoje ainda fazem parte do nosso cotidiano. Em 1824, Patrício Vieira Rodrigues, adquiriu antiga a Sesmaria de Nossa Senhora do Carmo. No ano seguinte, estabeleceu uma charqueada na foz de um arroio na Lagos dos Patos, e passou a chamar-se Arroio da Charqueada. Em função desta atividade é criado no local, um porto, que deu origem à Cidade de Tapes. A primeira sede do Município, denominada Freguesia de Nossa Senhora das Dores de Camaquã, foi criada dia 29 de Agosto de 1833. Sua emancipação política e administrativa ocorreu em 12 de Maio de 1857, mas por questões políticas ou econômicas, a Freguesia passava a integrar ora no território de Porto Alegre, ora de Camaquã, chegando inclusive a pertencer a Triunfo e Rio Pardo. Em 16 de Dezembro de 1857, foi elevada à categoria de Vila, sendo esta a data considerada como a de emancipação política do Município. Em 25 de Junho de 1913, o Município desincorporou-se definitivamente de Porto Alegre e, em 22 de Maio de 1929, através de um plebiscito, foi realizada a transferência da Sede da Vila de Nossa Senhora das Dores para o Porto de Tapes, então 2º distrito. Posteriormente, o Decreto nº 10 de 21 de Setembro de 1929, muda o nome de “Município de Dores de Camaquã” para “Município de Tapes”, sendo Primeiro Intendente o Sr. Manoel Dias Ferreira Pinto.  (www.riogrande.com.br)

– Partida para Costa de Santo Antônio (24 de setembro)

Amanhã deverão repousar e partirão sábado às 05h30, em direção o Acampamento do Sr. Willi (Capão da lancha), farão a travessia dos caiaques pela areia da restinga do pontal, e prosseguirão costeando ao norte em direção à Ilha da Barba Negra. De outra banda, o Cmt Vitor Hugo com este colaborador e o Major Nunes partiremos às 08h de sábado no impecável Marbe 24 do Comandante Vitor em direção contrária, estimando o Vitor Hugo cinco horas até Itapuã e mais duas horas e meia até o Morro da Formiga, a partir de onde iremos descendo costeando ao Sul. Combinei com o Comandante Hiram que ao crepúsculo, se ainda não tivermos nos encontrado que ele aportará a terra, e nós prosseguiremos com as luzes acesas no veleiro, e então ele lançará sinalizadores ao nos avistar. Estimamos chegar ao meio dia de domingo no Farol de Itapuã, e às 15h no Clube Náutico Itapuã. (E-mail do Cel Pastl - 22/09/11)

Tentamos passar a noite, na véspera da partida, no veleiro do Cel Pastl, mas os fortes ventos tornaram isso impossível. Partimos antes das seis horas depois de pernoitar na sauna do Clube Náutico Tapense. Os ventos de Este de 15 nós (27 km) não permitiam que atacássemos diretamente o estreito da restinga do Pontal de Tapes e apontamos a proa para o acampamento do Sr. Willi. No meio da travessia o vento mudou para Sudeste permitindo que eu alterasse a rota diretamente para o local da passagem. O Hélio resolveu seguir mais próximo à costa para se proteger um pouco da ação dos ventos. A marcação pelo GPS não podia ser mais precisa. No ponto de travessia terrestre havia um pequeno rebaixamento que certamente, na cheia, deve servir de passagem das águas da Laguna dos Patos até o Saco de Tapes.



Carregamos os caiaques e as tralhas pelo estreito para a margem da Laguna, parodiando numa escala infinitamente menor a travessia de Giuseppe Garibaldi, da Lagoa do Capivari até Tramandaí. Comunicamos nossa passagem ao Cel Pastl que se preparava com o Comandante Vitor Hugo para zarpar do Clube Náutico Itapuã. A navegação transcorreu favoravelmente até as 13h quando atracamos a uns quatro quilômetros do ponto previsto para nosso acampamento. Mantendo este ritmo conseguiríamos ultrapassar em uns 10 km o ponto previsto para estacionamento. Descansamos um pouco e nesse intervalo o vento alterou novamente para Este e aumentou sua intensidade para 25nós (45 km/h) dificultando bastante a progressão. Há exatos 999 metros do ponto, o caiaque do Hélio virou e ele resolveu rebocá-lo pela margem até o ponto de encontro com a equipe de apoio. Brinquei com o professor que a culpa era da numerologia escrevendo a distância que faltava na areia e pedindo que ele a lesse mantendo-se de frente para mim (666). Naveguei vigorosamente até o local previsto, estacionei o caiaque e peguei uma corda para ajudar a rebocar o caiaque do Hélio. Amarrei a corda nas alças de proa e popa e inclinei o caiaque 45° com a direção das ondas e deixei que elas o empurrassem até o acampamento.

Carregamos, exaustivamente, toras de lenha seca durante três horas para usar como sinalização para a equipe de apoio que infelizmente não apareceu. Improvisamos um acampamento no alto de uma duna protegido dos ventos. Passei a noite inteira alimentando uma pequena fogueira para nos aquecer e vez por outra subia até o topo da elevação para ver se avistava as luzes da embarcação da equipe de apoio. Levantei antes do sol raiar e chamei o Hélio para iniciarmos os preparativos para vencer o último lance de nossa travessia.

Os ventos de Este continuavam vigorosos e o Hélio teve de parar logo à frente. A proa do caiaque enfraquecida pelos quatro furos feitos para a colocação do leme improvisado tinham enfraquecido a estrutura e a popa apresentava uma fissura pela qual a água entrava com facilidade. Não havia mais condições do parceiro continuar naquelas condições. Subi até a duna mais alta e, como na tarde e noite anterior, não consegui contatar a equipe de apoio, relatei então ao amigo Pedro Auso nossa situação que me assegurou que tomaria alguma providência.

No final de todo imbróglio tivemos de deixar o caiaque pilotado pelo professor Hélio escondido nas dunas para ser resgatado oportunamente e o “Cabo Horn” foi tracionado pelo veleiro que teve de lançar mão do motor de popa para vencer os ventos de proa. Mais uma vez o “Cabo Horn”, da Opium Fiberglass, que durante todo o percurso dera mostras de sua capacidade de enfrentar ondas de todos os tipos e tamanhos percorreu durante quase três horas o percurso até o Morro da Formiga sem apresentar qualquer tipo de dificuldade no seu controle mesmo enfrentando ondas superiores a 2 metros.

No Morro da Formiga encontramos o amigo Pedro Auso e sua esposa Vera Regina que se deslocaram especialmente de Camaquã para nos apoiar até o Destacamento da Brigada Militar de Barra do Ribeiro onde a querida Rosângela Schardosim nos resgatou.

– Analogias à Parte

Mete-te no teu caiaque
e sem medo faz-te ao rio
e sente no coração um baque
e a adrenalina de fio a pavio...

E grita e tuas emoções liberta,
vence um e mais outro rápido
até chegares a zona aberta
onde o rio para perdido...

Faz-te ao rio ardiloso,
e sente-te vivo, bem vivo,
sente-te o ser mui poderoso
que tens o mundo em ti cativo

São esses desafios muito duros
que te põem as resistências
à prova e derrubas muros
e que felicidade provas!

(Maria Augusta Sá - Enfrenta tudo sem medo!)

Nossa jornada e a de Garibaldi tiveram trechos comuns como a foz do São Lourenço. A travessia contou, também, com uma parte terrestre, guardada as devidas proporções. Uma das embarcações, o Farroupilha, de Garibaldi naufragou antes de completar a missão de atingir Laguna, SC, o mesmo acontecendo com o caiaque pilotado pelo professor Hélio que avariado não pode chegar até o Guaíba. O apelo histórico talvez tenha sido forte demais e tenha interposto obstáculos adicionais à consecução de nossa proeza. Esse foi apenas um treinamento para que em abril do ano que vem possamos realizar a travessia, sem surpresas, em homenagem ao Centenário do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA).

Estamos envidando esforços de todo o tipo para que o Professor Hélio consiga, para aquela travessia, um caiaque oceânico modelo “Cabo Horn”. Isto evitaria surpresas e um desgaste físico desnecessário, já que este modelo é, sem sombras de dúvida, o caiaque ideal para enfrentar a Laguna dos Patos e suas condições meteorológicas adversas.