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domingo, 24 de agosto de 2008

Projeto-Aventura Desafiando o Rio-Mar - “Novos Rumos” - REAPRESENTAÇÃO

Projeto-Aventura Desafiando o Rio-Mar - “Novos Rumos” - REAPRESENTAÇÃO


“A partida para o Alto Purus é ainda o meu maior, o meu mais belo e arrojado ideal. Partirei sem temores; e nada absolutamente me demoverá de tal propósito”.
(Euclides da Cunha)

- Reapresentação do Projeto
No dia 19 de agosto de 2008, no salão Brasil do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), o velho Casarão da Várzea, reapresentamos, em nome da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS), da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) e da Associação dos Amigos do Casarão da Várzea (AACV) o Projeto Desafiando o Rio-Mar ‘Novos Rumos’. O evento foi abrilhantado com a apresentação do coral dos alunos do CMPA e contou com a presença de amigos, professores, autoridades, empresários e imprensa de Porto Alegre.

- Objetivos do Projeto
O Rio-Mar não se trata apenas de uma aventura, mas, sobretudo, de um grande projeto multidisciplinar e interdisciplinar com uma face pedagógica bastante definida. A Descida do Rio Solimões de caiaque visa a reconhecer seus principais afluentes, observar a fauna, flora, hidrografia, relevo, entrevistar autoridades locais e representantes dos povos da floresta. A proposta visa a despertar a juventude brasileira, para que, com conhecimento de causa, seja capaz de exercer uma pressão-cidadã, no sentido de reverter o maior esbulho do patrimônio brasileiro, atualmente em curso.

- Respeito à Natureza
A escolha do caiaque, como meio de transporte, baseou-se em dois requisitos fundamentais: experiência como canoísta profissional e respeito à natureza. A experiência já havia sido consagrada nas águas do Mato Grosso do Sul onde conquistamos o campeonato estadual em 1989, singrando águas brancas, quedas d’água e provas de longa distância. Numa época em que tanto se propugna pelo respeito à natureza, o caiaque sintetiza o meio de transporte ideal para ser usado na ‘Terra das Águas’. Seu deslocamento silente não afugenta, não atemoriza a fauna, as remadas firmes e cadenciadas seguem o ritmo da natureza sem agredir a flora e a ausência de motores à combustão não polui, não macula os rios.

- Treinamento
Na oportunidade, mostramos o rígido plano de treinamento em que estabelecemos obstáculos bem superiores aos que iremos enfrentar na ‘terra das amazonas’. Em um ano e 5 meses, percorremos 10.700 km. Enfrentamos no Lago Guaíba e Lagoa dos Patos, ondas de até 1,5 metros, ventos de 30 nós e temperaturas extremas. Procurando testar nossos limites, estabelecemos percursos superiores a 70 quilômetros de extensão e, em todas as oportunidades, tivemos a satisfação de atingir com sucesso as metas propostas. A mais arrojada destas provas foi, sem dúvida, o ‘Desafio Professora Silvana Pineda’, quando cruzamos o farol de Itapoã e superamos os umbrais da Lagoa dos Patos em uma navegação de 80 quilômetros em 11 horas. Uma prova que se iniciou às quatro horas da madrugada na mágica noite do dia 07 de fevereiro de 2008 em que as estrelas cadentes e o céu claro nos brindaram com sua esfuziante beleza. A chegada, exatamente às 18h, após ter conseguido manter o mesmo e compassado ritmo dos 4 nós por hora, convenceu-nos de que estamos preparados.

- Clube de História
As professoras Silvana Schuler Pineda e Patrícia Rodrigues Augusto Carra, ambas do Clube de História, engajaram- se desde o início de corpo e alma no projeto, acreditando na nossa proposta e tiveram a capacidade de captar as razões dessa obstinada missão, por isso resolvemos reproduzir, aqui, suas considerações.

“Uma travessia. Uma aventura. Não sabemos bem. Talvez apenas um homem comum tentando entender aquilo que é humano, mas tão doloroso. Talvez uma perda tentando se transformar em vida. Quem sabe um encontro consigo, com seu passado. Quem sabe uma tentativa de reunir forças para seguir uma viagem solitária muito mais difícil que o solitário desafio contra o rio-mar. Conviver durante anos com o Coronel Hiram nos permite ir pensando sobre alguns dos motivos que o levam à Tabatinga. Mas, ainda assim, um certo mistério permanece. Muitos foram os viajantes que relataram suas impressões e vivências acerca do Brasil e da Amazônia: ‘Entre os viajantes que visitaram o Brasil, deixando testemunhos escritos sobre o que viram, ouviram, leram e refletiram estão: representantes diplomáticos, cultivando relações políticas e econômicas; naturalistas, exploradores e cientistas, deslumbrados com a nossa flora e fauna; homens de negócios, vislumbrando lucros; artistas, que souberam captar o elemento novo, a situação diversa, os traços e os passos da brasilidade em formação; religiosos, missionários que se dedicaram, sobretudo, à população aborígine; capelães de missões européias; profissionais liberais; oficiais da marinha; técnicos; geógrafos; aventureiros; governantas; pintores; artesãos; jornalistas; foragidos; engenheiros, médicos e também educadores que enfrentaram grandes distâncias tentando transmitir às crianças brasileiras a educação européia’. (Augel, 1980)

Se pensarmos nos viajantes que relataram o Brasil a partir de suas profissões, dos interesses que orientaram seus olhares e impressões, o Coronel Hiram constitui um observador diferenciado. Não é o militar, não é o professor, ou o pesquisador que ruma à Amazônia. Quem vai à Tabatinga talvez seja um homem apaixonado pela vida e pela experiência de ter vivido em meio a essa região momentos pessoais e familiares intensos e inesquecíveis. Seu olhar sobre a região é terno. Repleto de lembranças. Não há laboratórios, governos, grupos de pesquisa que pretendam lançar novos produtos no mercado financiando sua viagem. Há o homem, sujeito histórico do seu tempo com suas preocupações enquanto cidadão, brasileiro, com suas paixões e com suas histórias de vida. Este desafio conta com a particularidade deste olhar pronto para reconhecer paisagens já visitadas; audaz o suficiente para estranhar e admirar o novo; humilde no respeito à natureza e aos humores do rio-mar; humano para reconhecer o outro em seu espaço e se permitir viver a humanidade que nos traga a permanente experiência de nos escrever.

Histórias de viajantes são tidas como olhares estrangeiros contando a realidade que divisam ou divisavam. Neste momento, temos vários olhares estrangeiros vislumbrando a Amazônia e suas particularidades: fauna, flora, população, histórico. Mas quantos brasileiros estão envolvidos no projeto de se permitir navegar pelas águas da região e, imersos nas preocupações de brasileiro, visam a falar das suas observações e dizer da importância desta região para nós e para o mundo? Quantos olhares brasileiros viajam e conseguem voz para dizer de suas visões?

É possível que esse homem encontre outros brasileiros remando pelas águas da região e some estas vozes aos seus relatos. Também é possível que viaje solitário e encontre refúgio apenas nas populações ribeirinhas. Mas, eis um projeto de um brasileiro - navegar e se navegar pelo Amazonas. Para nós, pesquisadoras, o Cel. Hiram não é um viajante. Não é um estrangeiro que pretende relatar ao mundo como é o Brasil. É um brasileiro, alguém que vive neste país e que permanecerá nele terminada sua navegação. Que precisa discutir, como todos os brasileiros, as questões da região norte. Portanto, para nós, ele é um navegante. Alguém que nos traz informações, que observa, que vê, que olha. Que aprende e que ensina. Alguém que se modificará nas águas da Amazônia. E que nos reciclará com sua navegação”. (Professora Patrícia Rodrigues Augusto Carra e Professora Silvana Schuler Pineda)

- Obstáculos ao Projeto

“Quando surge um problema, você tem duas alternativas: ou fica se lamentando, ou procura uma solução. Nunca devemos esmorecer diante das dificuldades. Os fracos se intimidam. Os fortes abrem as portas e acendem as luzes”. (Dalai Lama)

Por imposições determinadas pelos escalões superiores fomos obrigados a limitar o projeto a dois meses (dezembro-janeiro), com saída prevista de Tabatinga em 1º de dezembro de 2008 e chegada a Manaus em 29 de Janeiro de 2009. Pretendemos, se o Grande Arquiteto permitir, dar continuidade ao mesmo nos anos seguintes.

Infelizmente, o patrocínio, que já contávamos como certo, da Petrobras, não foi confirmado. E a última notícia, de 1º de Agosto de 2008, que recebemos da Coordenadora Geral Madeleine Braga da THE KEY, Organizações e Marcas Cidades, foi a seguinte: ‘Ainda não temos como precisar a data de pagamento. A gerência de Comunicação Institucional do Abastecimento da Petrobras, que nos contratou para supervisionar seu projeto, está passando por modificações, e isso pode estar impactando nos repasses’. Desde então, não tivemos nenhum retorno da Petrobras apesar de insistir diariamente em obter informações.

- Boas Novas
Parceiros
Em contraposição aos óbices que nos foram impostos, alguns aspectos positivos se apresentaram. Contamos, agora, com dois fiéis companheiros de viagem: o Coronel Flávio André Teixeira, ex-aluno do CMPA que possui, no Exército Brasileiro, os cursos de Forças Especiais, Pára-quedismo, Comandos, Salto Livre, Comunicação Social e Operações na Selva, na Colômbia o curso de Lancero e ainda, na sociedade civil, os de Auditor Líder e Perito Ambiental. A veterana canoísta e bacharel em Turismo Fabíola de Arruda Verga que está realizando Pós-Graduação em Cooperação e Integração Internacional, em Rosário, Argentina, e atuou como voluntária em projetos sócio-culturais nas comunidades indígenas, camponesas e ribeirinhas do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Meus parceiros tão-logo tomaram conhecimento do projeto ‘Rio-Mar’ vestiram, com paixão desassombrada, a ‘camiseta’ nos apoiando com todos os contatos e orientações possíveis e vão nos acompanhar, remo a remo, nessa jornada Épica.

Patrocínio de amigos
Nossos amigos, irmãos e mestres Cristian MAIRESSE Cavalheiro e Daniel Luis Costa SCHERER financiaram minhas passagens aéreas e o transporte do caiaque.
Meu Irmão maçom e ex-colega CMPA, Luiz Felipe M. Regadas, da Skysulbra Rastreamento de Veículos nos disponibilizou um GPS com todos os pontos de controle já armazenados e equipamento de rastreamento via satélite instalado no caiaque.

Divulgação
Os professores Capitão Alexandre José Kowalski de Oliveira, Professora Silvana Schuler Pineda e a Capitão Eneida Aparecida Mader têm nos auxiliado na formulação dos artigos relativos ao projeto-aventura e a questões amazônicas. Graças à minha querida amiga Rosângela Maria de Vargas Schardosim, de Bagé, temos conseguido a divulgação dos mesmos em diversos periódicos nacionais.

Apoio familiar
Tenho conseguido levar a bom termo nossos objetivos graças à compreensão, apoio e incentivo de meus filhos Vanessa, Danielle e João Paulo, e meu irmão caçula Dr Carlos Henrique Reis e Silva e sua querida família.

Alimentação e Pousada
A Polícia Militar do estado do Amazonas (PM/AM), seguindo determinação de seu comandante, Coronel Dan Câmara, vai nos apoiar com pousada e alimentação nas localidades em que paramos para o pernoite e que possuam destacamentos da organização. Graças a uma feliz coincidência, o atual subcomandante da PM/AM, Tenente Coronel PM Luiz Cláudio Leão, o então estagiário 16, um grande e especial amigo, concluiu conosco o Curso de Operações na Selva em 1999 no CIGS.

- Conclusão

“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)

Independente de todas as dificuldades encontradas, de todos os obstáculos que ainda possam surgir, eu, acompanhado de meus fiéis parceiros e apoiado pelos abnegados amigos e familiares, cumprirei, parodiando as palavras do ilustre brasileiro Euclides da Cunha, ‘meu mais belo e arrojado ideal’. Não perdemos as esperanças de que ainda surjam patrocinadores, preocupados com a soberania nacional.