MAPA

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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Desafiando o Rio-Mar: Golfinhos da Amazônia

Desafiando o Rio-Mar: Golfinhos da Amazônia

“Há mais pessoas que desistem, do que pessoas que fracassam!” (Henry Ford)


- Introdução

Durante nossa viagem pelo Solimões, fizemos várias referências a esses seres fantásticos e carismáticos que são os golfinhos de rio: o boto e o tucuxi. Considerados os animais aquáticos mais inteligentes da Amazônia, despertaram a curiosidade e a imaginação das populações ribeirinhas desde que travaram seu primeiro contato com os humanos.

Com a indicação e contatos feitos pela pesquisadora Vera F. da Silva, obtivemos a colaboração da equipe do IDSM e a oportunidade de, durante 10 dias, observar o trabalho de pesquisadores e desfrutar das belezas naturais da paradisíaca Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDS Mamirauá).
A doutora Vera é especialista em mamíferos aquáticos amazônicos, bióloga, pesquisadora e chefe do laboratório de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), tem mais de 25 anos de experiência com golfinhos Amazônicos e coordena o Projeto Boto na RDS Mamirauá há 15 anos. Dia 29 de janeiro fomos até o INPA agradecer à amiga Vera sua colaboração e, na oportunidade, ela nos presenteou com um livro de sua autoria ‘Golfinhos da Amazônia’. Em agradecimento à querida amiga e em reconhecimento a estas criaturas fantásticas que tivemos a oportunidade de conhecer, escrevemos o presente artigo.

- Lenda do Boto (Altino Berthier Brasil)

“Conta a lenda que o boto encontrado nos rios da Amazônia, se transforma em um belo e elegante rapaz durante a noite, quando sai das águas à conquista das moças. Elas não resistem à sua beleza e simpatia e caem de amores por ele. O Boto também é considerado protetor das mulheres, pois quando ocorre algum naufrágio em uma embarcação em que o boto esteja por perto, ele salva a vida delas, empurrando-as para as margens dos rios. As mulheres são conquistadas pelo boto quando vão tomar banho ou mesmo nas festas realizadas nas cidades ribeirinhas. Os Botos vão aos bailes e dançam alegremente com elas, que logo se envolvem com seus galanteios e não desconfiam de nada. Apaixonam-se e engravidam deste rapaz. É por esta razão que ao Boto é atribuída a paternidade de todos os filhos de mães solteiras.

Reza a lenda que o boto costuma perseguir as mulheres que viajam pelos rios e inúmeros igarapés; às vezes, tenta virar a canoa em que elas se encontram e suas investidas contra a embarcação se acentuam quando percebem que há mulheres menstruadas ou mesmo grávidas. Esse particular é curioso, e devemos observar que, em relação à mulher menstruada, há uma série de alusões e tabus, que realmente servem de vetor para certas atitudes e crenças populares. Algumas pessoas confessaram temer viajar nos pequenos ‘cascos’ ou ‘montarias’, quando nelas está uma mulher ‘incomodada’.

O boto é o grande encantado dos rios, que se transformando num guapo rapaz, todo vestido de branco e portando um chapéu - para esconder o furo no alto da cabeça, por onde respira - percorre as vilas e povoados ribeirinhos, freqüenta as festas e seduz as moças, quase sempre as engravidando. Há, inclusive, estórias em que a moça é fecundada durante o sono...

Para se livrarem da ‘influência’ do bicho, os caboclos vão buscar ajuda na magia, apelando para os curandeiros e pajés. O primeiro, com suas rezas e benzeduras exorciza a vítima, e o segundo ‘chupa’ o feto do ventre da infeliz. É esse Don Juan caboclo, o sedutor das matas, o pai de todos os filhos cuja paternidade é ‘desconhecida’, que deu origem a deliciosa expressão regionalista: ‘Foi o boto, sinhá!’”

- Boto Vermelho (Inia geoffrensis)

A maioria dos especialistas defende a tese de que os seus ancestrais penetraram na Bacia Amazônica pelo Pacífico nos tempos da Pangea. Hoje sua distribuição se verifica na maioria dos rios do norte da América do Sul, em uma área de 5 milhões de km².

Os machos chegam a atingir 2,55 metros e pesar 185 quilos, enquanto as fêmeas 2,15 metros e 150 quilos. Diferente de seus parceiros marinhos possui um corpo robusto; em contrapartida, por não possuir as vértebras cervicais fusionadas, é capaz de movimentar a cabeça em todas as direções, possuindo também uma flexibilidade muito grande que lhe permite manobrar, com facilidade, entre as raízes e galhos dos igapós.

O nascimento, na Amazônia Brasileira, após um período de gestação de aproximadamente 11 meses, ocorre no período da vazante, agosto e setembro, quando há abundância de peixes. Os filhotes nascem sem dentes, com uma média de 90 cm e 13 quilos, e são amamentados durante mais de dois anos.

O boto é um exímio nadador e sua velocidade de deslocamento normal é de 1,5 a 3,2 km/h chegando em alguns casos a atingir de 14 a 22 km/h. Por mais de uma vez fomos acompanhados por estes animais magníficos e medimos velocidades que variaram de 12 a 15 km/h. O boto é um animal predominantemente solitário, anda aos pares e mais raramente em grupos de mais de dois indivíduos.

- Tucuxi (Sotalia fluviatilis)

Com o nome vulgar herdado dos índios Mayanas (tucuchi-una), o tucuxi é uma miniatura do golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) com um comprimento médio de 1,46 cm e peso médio de 50 quilos. O tucuxi é endêmico da bacia Amazônica e sua distribuição é limitada, ao contrário dos botos, pelas corredeiras de alguns dos principais afluentes do Amazonas, como o Negro (cachoeira de São Gabriel), o Madeira (cachoeira Teotônio) e o Xingú (cachoeira de Belo Monte).

O nascimento ocorre após um período de gestação de aproximadamente 10 meses, no período da vazante na Amazônia Central, entre outubro e novembro, e os filhotes nascem com uma média de 77 cm e 11 quilos.

- Associações

Embora não interajam de forma direta, os grupos se aproximam, em decorrência da busca por alimentos. Foram observados grupos de tucuxis repelindo botos e, também, um tucuxi adulto brincando com um filhote de boto. Muitas vezes, tucuxis e gaivotas se alimentam na mesma região, embora não haja competição entre eles, já que as gaivotas comem peixes bem menores.

- Rio-Mar e os golfinhos

Nossas experiências com os golfinhos na descida do Solimões foram marcantes. Eles sempre apareceram para nos encantar, sinalizar ou apontar o local mais adequado que deveríamos seguir. Apesar de termos nossa malhadeira (rede) ‘roubada’ por um boto nas proximidades do flutuante Cauaçú, guardaremos com carinho a visão destes mamíferos aquáticos que tantas lendas despertam no imaginário popular dos ribeirinhos da Amazônia.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Desafiando o Rio-Mar: Iranduba/Manaus, a chegada

Desafiando o Rio-Mar: Iranduba/Manaus, a chegada

“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)


- Véspera

A noite de domingo foi longa e insone. A um passo da conquista de um objetivo planejado e perseguido incansavelmente por dois anos, minha mente repassava, inconscientemente, como num filme, todas as alegrias e todos os obstáculos que tivemos que ultrapassar para chegar até aqui.

A alegria de sentir o apoio e o envolvimento irrestrito de amigos e familiares, o incentivo por parte de cada um que tomando conhecimento de nosso desafio se tornou um aliado, um combatente de primeira linha. Foi uma verdadeira expedição que desceu o Solimões de carona nos nossos sonhos. Amigos de todos os rincões, amigos virtuais, amigos que comungam por uma causa maior: a da brasilidade e da soberania Amazônica.

A cada um de vocês que de alguma maneira tornou possível a concretização de ‘nosso mais belo e arrojado ideal’, o nosso profundo agradecimento. Certamente vosso apoio encontrará eco nos labirintos das eras passadas, de ilustres heróis como Pedro Teixeira, Plácido de Castro, Cabralzinho, Euclides da Cunha e tantos outros que lutaram para ampliar nossas fronteiras tão comprometidas, nos dias de hoje, por ações de mal-informados dirigentes que tomam decisões que afetam todos cidadãos brasileiros.

- Largada para Manaus

Partimos por volta das 07:00 horas, pois não havia necessidade de sair mais cedo; a hora prevista para chegada no 2º Grupamento de Engenharia de Construção (2º Gpt E), em Manaus, era por volta das 14:00 horas. Remei lentamente, procurando curtir cada segundo, gravando cada imagem captada pela minha retina, cada som que percutia nos meus tímpanos. As palafitas, as pequenas ‘montarias’ manobradas com invulgar destreza pelos ribeirinhos, as terras caídas, as ilhas que andam, os pássaros... tudo tinha um nostálgico sabor de despedida.

- Furo Paracaúba

O ‘furo’ ou ‘paraná Paracaúba’ que liga o Solimões ao Rio Negro permite que se acesse o rio mais à montante de sua foz, economizando tempo e energia. O ‘Paracaúba’ não é nem sombra do que era nos idos de 1940 a 1950, período em que os navegantes, cautelosamente, escolhiam o melhor momento para abordá-lo contornando seus perigosos rebojos.

Fizemos uma longa parada na margem do Rio Negro, aguardando o tempo melhorar. O conserto do caiaque pilotado pelo Romeu, em Manacapuru, foi muito mal feito e eu temia que algum esforço maior pudesse comprometer sua estrutura. A tempestade sobre a cidade de Manaus gerava fortes ondas e o horizonte, à leste, prenunciava tempo bom; resolvi aguardar até que o rio ficasse mais calmo.

- Último lance

O rio se transformou em um lago. Fizemos mais uma parada, pois eu procurava ajustar a chegada para a hora marcada, 14:00 horas. Iniciando a travessia do rio, busquei me aproximar da margem esquerda para me afastar do canal; a correnteza do Negro era fraca, tendo em vista a cheia do Solimões, mas existia. Diminuí o ritmo, tendo consciência de que chegaríamos, com isso, depois da hora marcada.

Parei numa rampa próxima à Ponte do Rio Negro aguardando o Romeu, que apresentava visíveis sinais de cansaço. Passamos a ponte e, mais uma vez, o GPS apontava para um ponto bastante distante do nosso destino. Passamos por diversos estaleiros e balsas que transportavam veículos de Iranduba para Manaus e vice-versa, quando, no meio daquele caos, avistei alguns soldados trabalhando na contenção de talude e, logo depois, um toldo com outros militares e repórteres que nos aguardavam.

- Missão cumprida

O Major Maier, Oficial de Relações Públicas do 2º GECnst, havia preparado um aparato formidável para nos receber. Ainda na praia, agradecemos a gentileza da recepção e concedemos algumas entrevistas aos diversos jornalistas que nos aguardavam.

Missão cumprida!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Rio-Mar: Manacapuru/Iranduba

“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)


- ‘Inconstância Tumultuária’

Gostaríamos de voltar a tratar da dinâmica do Rio-Mar, fazendo menção a alguns tópicos do livro ‘Manacapuru e sua História’, do senhor ‘Josué Ferreira Ruis’ dono do Hotel ‘Boa Vida’ onde ficamos hospedados em Manacapuru e tivemos o privilégio de conhecer.

Ilha de Manacapuru: ficava em frente à cidade e desapareceu, totalmente, na década de 60. Vinte anos depois o rio iniciou sua reconstrução com uma grande praia e hoje é conhecida pelo nome de Ilha de Santo Antônio.

Ilha de Pirapitinga: situava-se na foz do rio do mesmo nome e com o tempo foi levada pela força das águas.

Ilha da Conceição: localizava-se próxima à Colônia Bela Vista e em dois anos foi removida pelo rio-mar.

Ilha do Barroso: era uma grande ilha de mais ou menos 5 por 6 quilômetros e, na década de 50, por ocasião das vazantes, a distância entre a ilha e a costa de Bela Vista era tal que permitia que as lavadeiras de ambas as margens conversassem entre si enquanto lavavam as roupas.

- Ciclo da Juta e Malva

Na nossa estada em Manacapuru, tivemos a oportunidade de visitar as instalações da ‘Companhia Têxtil Castanhal’ que classifica e enfarda a juta recebida dos produtores para encaminhar, posteriormente, para industrialização. A gerente, senhora Patrícia, nos relatou alguns fatos interessantes que vamos procurar reproduzir. A Juta e a Malva são plantadas nas várzeas na época das vazantes e colhidas na época das cheias. A juta pode ser colhida após 3 meses de plantio e a malva depois de 4 meses o que permite duas safras ao ano.
Embora durante aproximadamente dez anos o ciclo da Juta e da Malva tenha coexistido com o da Borracha, foi com a queda do comércio da borracha, em 1957, que este ciclo ganhou força se tornando a principal economia da região de Manacapuru. Desde 1988, porém, que, sem políticas governamentais em nível federal e estadual adequadas, sua comercialização entrou em franco declínio.
A semente, antes entregue pela Companhia aos produtores cadastrados e que era paga pelo produtor com parte de sua produção, passou a ser feita pelo governo. A ‘bolsa semente’, como as demais bolsas governamentais, se presta à corrupção graças à falta de controle, permitindo que as sementes sejam vendidas por funcionários corruptos a atravessadores que repassam o produto aos ribeirinhos por preços aviltantes. Achamos que a criação de cooperativas com maquinário adequado para a retirada da fibra seria uma medida mais adequada que a ‘bolsa esmola semente’, permitindo não só um aumento significativo na produção, mas também na qualidade do produto. Em nível federal deveria ser sancionada uma lei que determinasse o emprego obrigatório de sacos de fibra vegetal na embalagem de determinadas sementes, assim como existe para o café exportado, que estaria muito mais de acordo com o desenvolvimento sustentável, diferentemente dos produtos que se encontra no mercado atual.

- Largada para Iranduba

Ligamos para o 190 e nossos amigos policiais prontamente nos atenderam e nos levaram até o ‘Paraíso D’Angelo’ onde estava o caiaque. Passamos bom tempo conversando com o mestre D’Angelo e retardamos a saída para não perder a oportunidade de ouvir nosso dileto e sábio amigo. Vamos sentir saudade do ‘homem de branco’ de Manacapuru que passeia pela sua propriedade com a serenidade de um ‘Anjo no Paraíso’. Partimos bem depois das 8 horas, sem pressa, já que o deslocamento era bastante curto. O Lago Miriti com suas águas tranqüilas e limpas nos encantou e dele partimos rumo a Iranduba. Depois de menos de 4 horas de navegação, sem paradas, enfrentando mau tempo durante boa parte do percurso chegamos ao flutuante do senhor Zé Cipó onde se encontrava o caiaque do Romeu. O Romeu estava me aguardando já há algum tempo, porque normalmente saio muito cedo, mas a companhia do mestre D’angelo me fez alterar a rotina.

- Iranduba

Os policiais já estavam alertados sobre todo o apoio a ser prestado e nos levaram à ‘Pousada Santa Rita’ administrado pela senhora Terezinha da Silva Cunha Crisóstomo. A limpeza das instalações e a cortesia de seus proprietários nos impressionaram muito favoravelmente e o fato de encontrarmos outra grande ‘coincidência’ na nossa viajem nos convenceu que o Grande Arquiteto vem trabalhando do nosso lado nos apontando o rumo a ser seguido. Mais uma coincidência Amazônica: a dona Terezinha é viúva do senhor José Silvestre do Nascimento e Souza, um dos maiores nomes da ‘Ciranda’ do estado do Amazonas, cujo nome já tinha sido mencionado em Manacapuru onde organizou a primeira Ciranda no Colégio Nossa Senhora de Nazaré. Fizemos contato com o Secretário do Turismo e Meio Ambiente para contatarmos elementos da prefeitura para nos mostrar a cidade e principalmente o sítio das ‘Terras Pretas Indígenas’. A Polícia Militar nos levou, depois do banho, até o ‘Restaurante Sertanejo do Paraíba’ onde já nos esperava o pessoal de Comunicação do município. O senhor José Raimundo, conhecido como ‘J. Rai’, nos fez um interessante relato sobre a história da cidade e, depois do almoço, acompanhados do senhor Levenilson Mendonça da Silva, o ‘lei’, fomos até o sítio onde estão fazendo as escavações arqueológicas.
O ‘Restaurante Sertanejo do Paraíba’ foi colocado, pela prefeitura, à nossa disposição e como fica afastado da cidade pedimos apoio da PM local para chegar até ele. Infelizmente, mais uma vez, a velocidade da internet local não permitiu que fizéssemos o upload das imagens que fizemos desde Anori. Entrevistamos o senhor José Raimundo, o ‘J. Rai’, que gravou um relato sobre a cidade e o senhor Levenilson sobre as ‘terras pretas indígenas’ de Iranduba.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Rio-Mar: Anamã/Manacapuru

Rio-Mar: Anamã/Manacapuru

“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)


- Anamã

Conseguimos contato com os familiares e a equipe de apoio apenas pela internet. Infelizmente, a forte chuva que se abateu sobre Anamã impediu que tirássemos mais fotos das belas casas de madeira e dos quiosques do braço do Anamã. Fui dormir cedo, pois a jornada de 108 quilômetros do dia seguinte, ia exigir muito esforço. No lago Guaíba e Lagoa dos Patos, já havíamos enfrentado um desafio, o desafio ‘Rosa Mística’, de 90 quilômetros que exigira 13 horas e meia de pura navegação com algumas paradas de descanso, numa jornada que iniciou à 03h15min da madrugada e se prolongou até às 21h45min. Diferente do Lago e da Lagoa aqui contávamos com uma valiosa aliada que era a correnteza do Rio Solimões, mas, mesmo assim, era uma longa e demorada travessia.

- Largada para Manacapuru

Acordei às 04h30min e me preparei para o maior desafio físico do Projeto Rio-Mar. O silêncio das ruas só era quebrado pelo som das vassouras empunhadas pelos garis na sua labuta diária para manter a cidade limpa. Com a colaboração da nossa valorosa Polícia Militar, mais uma vez, preparamos o caiaque à desafiadora jornada. Partimos às 05h15min, enfrentando uma pequena correnteza contra nosso deslocamento, mantendo uma média de 6 km/h durante os 30 minutos que levamos para atingir a foz do Anamã. Nesta época do ano, as águas barrentas do Solimões invadem o braço do Amanã represando suas águas pretas.

- Solimões sem paradas

Logo que iniciei meu deslocamento no Solimões, um forte vento de proa prenunciou as dificuldades que eu iria enfrentar. O vento forte durou aproximadamente 2 horas, diminuindo a velocidade e, como o tempo estivesse muito carregado, decidi, por segurança, não aportar nas margens para me alimentar ou hidratar. Sempre que sentia necessidade de hidratação fazia-o no meio do rio, sem perder tempo e energia tendo de remar até a margem. A tática deu certo e, apesar de enfrentar ainda por duas vezes ventos adversos, cheguei à Manacapuru às 14h15min com exatas 9 horas, praticamente ininterruptas, de remo. Embora tivesse passado todo este tempo sentado na mesma posição, não tive dificuldade em me locomover, quando pus os pés na ‘Terra Preta’ do porto de Manacapuru.

- Manacapuru

Manacapuru é uma palavra de origem indígena derivada das expressões Manacá e Puru. Manacá (Brunfelsia hospeana) é uma planta que significa, em tupi, Flor. Puru, da mesma origem, quer dizer enfeitado, matizado. Logo, Manacapuru quer dizer ‘Flor Matizada’. A história da Cidade está vinculada à aldeia dos Índios Mura. A cidade está assentada na margem esquerda do Rio Solimões. A sede municipal está localizada na margem esquerda do Rio Solimões, na confluência com o Rio Manacapuru. A população de 73.304 habitantes, segundo o Censo de 2000, traz consigo a beleza, a determinação e a bravura dos índios Muras, descendentes das tribos Tupi. Fundadores, juntamente com os portugueses, do povoado de Manacapuru, lutaram com os cabanos em meados do século 19. Manacapuru se destaca como o primeiro município, no Amazonas, a ter um Sistema Municipal de Unidade de Conservação - a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Piranha, além da Área de Proteção Ambiental do Miriti e os Lagos de Manutenção do Paru e Calado.

- Polícia Militar (PM) e Prefeitura Solidárias

Pedi a um cidadão que acionasse o 190 de seu celular, chamando novamente os amigos da PM. O caiaque e o material foram transportados para o Batalhão da PM, onde tomei um banho e nos deslocamos até a Prefeitura Municipal para conseguirmos um alojamento onde foi providenciado o Hotel Boa Vida. Em seguida, fomos levados à presença do Secretário de Turismo e Meio ambiente que fez uma preleção sobre a cidade e nos colocou à disposição sua secretária Zilmara Moreira de Holanda e a diretora de eventos senhora Mara Regina Marques de Oliveira. Mais tarde, por uma dessas amazônicas coincidências, descobrimos que a Zilmara era cunhada do prefeito de Anamã, cuja residência e filhos tínhamos fotografado, quando lá estivéramos, e que a Mara era aparentada do escritor Jones Cunha que nos presenteara com seu livro em Jutica. Fiquei sabendo que o Romeu e a Maria Helena já haviam consertado o caiaque, avariado no rio Purus, e estavam em Iranduba me aguardando. Informei-lhes que seguiria o cronograma planejado tendo em vista o muito a ser visto em Manacapuru. A data prevista para chegar a Manaus era segunda-feira às 14h00min e não antes.

- Amigas Maras

Acordei cedo, comprei uns salgados na panificadora Esmeralda para o desjejum, dei um pulo até a lan house onde verifiquei que a velocidade era lenta demais para o upload das fotos. Fui até a igreja Matriz Nossa Senhora de Nazaré para umas fotos e, em seguida, pedi apoio da PM para um giro pela cidade com apoio das minhas amigas ‘Maras-Vilhas’. A Zilmara me encaminhou até o gabinete da diretora de eventos, Mara, que conseguiu amavelmente material sobre a cidade e seu principal evento cultural, as cirandas. Nos três dias que passeamos pela cidade e seus principais pontos turísticos, tive a atenção despertada pelo seu principal evento cultural que é o ‘Festival das Cirandas’, pela ‘Casa da Restauração’ e do Complexo Turístico ‘Paraíso D’Angelo’.

- Festival das Cirandas

A Ciranda é uma dança em que os participantes, de mãos dadas, imitam o ondulado suave das ondas do mar. ‘A ciranda de origem portuguesa, é dançada em rodas, (...) música e letra são originalmente portuguesas, embora já totalmente abrasileiradas. Existe uma versão infantil, que lhe é anterior, a cirandinha (...) que atravessou séculos sem alterações, como costuma acontecer com as brincadeiras infantis. ’ A ciranda chegou no Brasil Colônia pelas praias pernambucanas. A Ciranda nordestina foi incorporada às manifestações culturais do Amazonas, no final do século XIX, pelo pernambucano, chamado Antônio Felício, inicialmente na cidade de Tefé. No início da década de 80, o senhor José Silvestre do Nascimento e Souza e a professora Perpétuo Socorro, organizaram a primeira Ciranda no Colégio Nossa Senhora de Nazaré. Com o passar dos anos, a tímida manifestação local ganhou notoriedade no cenário folclórico regional e nacional e, em virtude disso, foi criado, em 1997, o Parque do Ingá, destinado exclusivamente às cirandas. A criação do anfiteatro com capacidade para vinte mil pessoas precipitou a idealização de um festival próprio, dirigido unicamente à apresentação das Cirandas. No mesmo ano da criação do Parque do Ingá, foi realizado o primeiro Festival de Cirandas de Manacapuru, contando com as Cirandas: Flor Matizada, Tradicional e Guerreiros Mura, sendo então estabelecida uma data fixa para a realização do mesmo: o último final de semana do mês de agosto, sendo destinada uma noite para a apresentação de cada ciranda.

- Casa da Restauração

A curiosa denominação prende-se ao fato de que seus proprietários, de origem lusitana, desejavam prestar uma homenagem à restauração na nação portuguesa que ficara sob jugo espanhol durante 60 anos. A Restauração foi, sem dúvida, a mais importante casa de comércio da região e não se tratava apenas de uma loja, mas de uma casa de aviamentos fornecendo mercadorias para os caboclos em troca de produtos naturais que eram a base da economia naquela época. O prédio, hoje, totalmente recuperado é uma parada obrigatória para aqueles que desejam conhecer um pouco da história da cidade.

- Paraíso D’Angelo

Dentre as várias opções de ecoturismo, ou locais agradáveis que visitamos, uma sobretudo se destaca que é o ‘Complexo Turístico Paraíso D’Angelo’. Às margens do belo lago do Miriti, com uma infra-estrutura que inclui hotel, restaurante, cabanas, tobo-água, dentre outras, chama a atenção pela serenidade de cada um de seus integrantes a começar pelo amigo Ângelo. Conversar com o senhor Ângelo João Saraiva, que se caracteriza como um italiano-cearense-amazonense, é um privilégio. Por isso fizemos questão de fazer a entrevista para a televisão local nas suas instalações e partir para Iranduba também de seu paraíso. Os entalhes do hotel ‘Itaceam’, artista plástico o bom gosto da decoração do restaurante são realmente encantadores e em cada um destes lugares a marca D’Angelo está presente. O filho da amiga Mara passeou conosco no caiaque pelo lago Miriti.

- Poluição

A cidade que se diz voltada para o meio-ambiente tem uma grande mácula no centro de sua cidade que é a Serraria Porto das Madeiras na frente do Hotel Boa Vida onde ficamos hospedados. A poluição física e sonora não combina com a bela cidade de Manacapuru.

- Conclusão

A receptividade, por parte dos amigos de Manacapuru, foi fantástica. Guardaremos com carinho cada momento passado ao seu lado e, quem sabe, retornemos no último fim de semana de agosto para o Festival de Cirandas. Nosso muito obrigado ao Secretário e às amigas Mara e Zilmara, da Secretaria de Turismo e Meio Ambiente do município, aos membros do Batalhão da Polícia Militar, em especial aos policiais Matos e Farissa, nossos anjos da guarda, ao senhor D’Angelo, seu filho e demais funcionários do Paraíso D’Angelo’, aos proprietários do Hotel Boa Vida e seus colaboradores e a todos aqueles com quem, de uma forma ou outra, tivemos a oportunidade de travar contato na cidade de Manacapuru.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Desafiando o Rio-Mar: Beruri/Anamã

Desafiando o Rio-Mar: Beruri/Anamã

“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)


- Largada para Anamã

Ultimei os preparativos para a partida e me recostei para relaxar. Lá pelas 20h um policial militar se apresentou informando que o Coronel Rômulo havia determinado que a PM de Beruri me prestasse apoio incondicional. Pedi apenas que lá pelas 05h30min eles me ajudassem, com a viatura, a transportar o material do Hotel para o caiaque. Os PM chegaram muito antes do combinado, às 04h30min, e acabei partindo antes de clarear o dia às 05h15min.

- 'À hora é à hora'

Recordei uma passagem na Academia Militar das Agulhas Negras, cujo ensinamento guardei para o resto da vida. O então Cadete Reis apresentou o pelotão de engenharia ao instrutor de Educação Física, Cap Serpa, 7 minutos antes da hora prevista. O capitão, sem pestanejar, determinou que eu retornasse com o pelotão e o apresentasse na hora marcada. Na oportunidade, suas palavras textuais foram 'À hora não é antes, nem depois, a hora é à hora'. Desde então tenho pautado meus compromissos seguindo o ensinamento do antigo instrutor. Logicamente não quis causar constrangimentos ao prestativo militar da PM e levantei da cama e alterei minha programação.

- Navegando à noite

O sol só despertou uma hora depois, quando eu já ultrapassava os limites da Ilha de Anamã, no Purus. Ao contrário dos demais alvoreceres, o silêncio era opressor, não havia encantamento, a sinfonia dos pássaros não aconteceu. Apenas o bater das pás dos remos na água, o salto dos botos tucuxis e sua vigorosa respiração quebravam a monotonia.
Minha atenção foi despertada para as alfaces d’água (Pistia Stratiotes) do Purus. Elas são enormes, em toda a viagem não as havia visto tão grandes, algumas alcançam 50 centímetros de diâmetro. Só parei na foz, no mesmo acampamento de pescadores onde aportáramos na ida para Beruri. O rio das contradições, heróico e cruel, deixara marcas profundas na nossa expedição. O Romeu teve de percorrer os 150 quilômetros até Manacapuru de motor, tendo em vista a avaria sofrida pelo seu caiaque. Os amigos pescadores se surpreenderam com a notícia.

- Parada na Ilha

Parei na extremidade de jusante da Ilha do Purus ou Gabriel, afinal agora as duas são uma só, para ajustar o GPS. Calibrei e me dirigi à foz do Anamã. Faltando aproximadamente 500 metros para a foz, comecei a prestar atenção nas embarcações e simultaneamente uma desapareceu na margem, ao mesmo tempo em que os botos tucuxis surgiram no alinhamento da proa e da foz.

- Anamã

Chegando a Anamã acionei a PM, que me ajudou a descarregar o caiaque e estacioná-lo em um flutuante próximo. Fui alojado em um Hotel próximo à prefeitura, tomei um banho e fui almoçar em um quiosque na bela orla do Anamã. A limpeza e o charme das casas de madeira pintadas com cores vivas encantaram-me. Até agora a sujeira, o lixo e os urubus eram uma constante em todas as comunidades e cidades visitadas. Anamã é um modelo para as demais cidades e sua população ordeira e hospitaleira não foge à regra amazônica.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Desafiando o Rio-Mar: Purus

Desafiando o Rio-Mar: Purus

“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)


- Ansiedade

Remei forte até chegar ao Purus, a ansiedade tinha tomado conta de mim e eu só pensava em uma coisa, tinha um só objetivo que era conhecer o rio heróico que, aliado à tenacidade e à bravura de um Plácido de Castro, foi responsável por mais uma estrela no nosso pavilhão nacional, o Acre. O rio do altruísmo que, junto à cultura e a abnegação do imortal Euclides da Cunha, permitiu que fossem definidas com exatidão as verdadeiras fronteiras brasileiras com o Peru.

As imagens perpassavam pela minha mente numa fantástica velocidade e eu, ora mergulhando no passado, ora no presente, viajava ao sabor dos acontecimentos de outrora misturados às cenas de agora.

- Purus Épico

O Purus de passagens épicas cobrava um alto tributo à nossa expedição. Parece que o valoroso rio queria dar mostras do seu poder, da sua força, exigindo de nós um respeito e uma atenção digna da sua importância histórica. Por ele haviam passado alguns desbravadores em busca do conhecimento e da fortuna, muitos em busca da simples sobrevivência, idealistas buscando estender nossas fronteiras pela força do direito e guerreiros tentando fazê-lo pelo direito da força.

O Purus não é apenas um rio, mas um protagonista que, junto com homens de valor, gravou belas páginas na história da nossa nação. Homens que enfrentaram o desconhecido, que subjugaram a mata, que a analisaram, estudaram, mas também homens que tiveram suas vidas arrebatadas pela força da natureza e cujos destinos foram manipulados inexoravelmente pelas titânicas energias telúricas.

O Purus merece nosso respeito pelo que foi, pelo que é e pelas contraditórias passagens levadas a efeito na sua calha. Um rio patriota que guarda nas suas águas as imagens imaculadas de um Plácido de Castro e de um Euclides da Cunha. Um rio de ambição e sem consciência, que reflete as carrancas dos ambiciosos seringalistas que escravizaram os seringueiros nordestinos e suas famílias.

O Purus pré-histórico é tudo isso e muito mais. Nas suas calhas, foram descobertos os restos de gigantescos animais - como o Purussauru - que dominavam as águas no Mar Pebas.

Nosso preito de respeito a esta artéria viva da nacionalidade brasileira que reflete, nas suas águas, a pujança de uma raça do porvir, alicerçada no invulgar passado, mas com os corações e mentes voltados para o futuro.

Desafiando o Rio-Mar: Anori/Beruri

Desafiando o Rio-Mar: Anori/Beruri

“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)


- Largada para Beruri

Como a previsão era subirmos o Purus apoiados por um barco a motor, não nos preocupamos em sair muito cedo. Tomamos café no restaurante ‘Cinco Irmãos’ às 06h30min, e o sargento Osmar, da Polícia Militar, apoiou-nos no transporte da carga até os caiaques. Depois de uma despedida festiva por parte dos amigos da Consag, partimos rumo ao Purus às 08h20min.

Paramos logo em seguida para comer algumas araçás, abundantes às margens do lago; as frutas são semelhantes a pitangas, com sabor de acerola. As águas pretas do lago contrastam com as do Solimões. Voltar ao Solimões, deixando o hospitaleiro povo de Anori - em especial nosso ‘anjo da guarda’ amigo da Polícia Militar Sargento Osmar - nos enche de nostalgia e de expectativa em relação às novas amizades e plagas que iremos conhecer.

- Deslocamento para o Purus

‘A partida para o alto Purus é ainda o meu maior, o meu mais belo e arrojado ideal’ (Euclides da Cunha)

O deslocamento até a boca do Purus foi rápido, graças à correnteza do Rio-Mar. Enfrentamos uma chuva forte que me obrigou a procurar abrigo em um Flutuante para guardar a câmera fotográfica. Chegamos à foz do Purus por volta das 11h e aportamos junto a um grupo de pescadores, aguardando a ‘voadeira’ que nos rebocaria rio acima. Os botos passaram à nossa frente em sentido contrário ao deslocamento que iríamos percorrer. Seria um aviso?

- Tragédia no Purus

O soldado da Polícia Militar de Anori, Pedro Pereira, chegou pouco tempo depois com a ‘voadeira’. O meu caiaque, como era menor, foi colocado atravessado sobre a ‘voadeira’ e o duplo foi rebocado a meia velocidade. Já próximo de Beruri a corda que tracionava o caiaque rompeu. O frágil caiaque da Opium havia praticamente partido em dois e por pouco não naufragou. Conseguimos rebocá-lo até a margem e embarcá-lo em motor que se deslocava rumo à Beruri.

- Hospitalidade Amazônica

Paramos em um flutuante próximo ao porto e o encarregado permitiu que colocássemos os caiaques em um flutuante ao lado, que se encontrava em construção. Fui tentar fazer contato com o Sargento Pereira, comandante da Polícia Militar de Beruri. Estava procurando um moto-táxi quando o professor Sidney Oliveira Miranda se ofereceu para me dar uma carona até a delegacia e depois até a residência do sargento.

O Pereira pediu ao filho que me levasse até a delegacia, onde se encontrava a viatura militar, enquanto se fardava. Providenciou um hotel (o Milena) junto ao porto e deslocamo-nos até o flutuante onde o Romeu e a Maria Helena já nos aguardavam.

- 1° dia em Beruri

Após o banho, fui até um telefone público informar a professora Rosângela do ocorrido e pedir a ela que repassasse a informação aos nossos colaboradores e familiares. O Romeu conseguiu alguém para ‘consertar’ o caiaque e eu fui até o restaurante ‘Tudo de Bom’ para tomar um suco de graviola. Enquanto colocava em dia os apontamentos do Rio-Mar, emprestei a máquina fotográfica para a Maria Helena tirar algumas fotos.

- 2° dia em Beruri

Acordei cedo para tirar algumas fotos e tentar entrar em contato com a Polícia Militar. O pouco caso dos agentes e policiais militares desde o dia anterior contrastava com o padrão que encontráramos até então em quase todas as localidades. Pedi à professora Rosângela para tentar entrar em contato com o Major Denildo, de Coari, para ver se através do comandante de Manacapuru conseguíamos um maior apoio por parte da polícia local. Como o restaurante ‘Tudo de Bom’ demorasse para abrir, acompanhei a Maria Helena até o restaurante Mandala para o café da manhã. Mandei um moto-táxi à casa do sargento Pereira e à delegacia e me dirigi a uma lan house para digitar os textos. Decidimos que seria melhor levar o caiaque para Manacapuru e tentar consertá-lo lá, contando com o apoio da Polícia Militar. O Romeu e a Maria Helena partiram no motor Silva Lopes e chegarão hoje à noite. Mantendo o planejamento inicial, sairei amanhã às 06h direto para Anamã.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Desafiando o Rio-Mar: Codajás/Anori

Desafiando o Rio-Mar: Codajás/Anori

"Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)


- Codajás

À tarde do dia 13 de janeiro saímos com o secretário de Cultura Cleuci Barbosa Alves para uma volta pelo município. Cleuci nos levou até as plantações de Açaí e ao sítio onde será instalada a usina Termelétrica da cidade, movida pelo gás natural de Urucu. O secretário afirmou que, infelizmente, as empresas contratadas pela Petrobras estão poluindo igarapés e comprometendo vertentes d’água, sem qualquer comprometimento com o meio ambiente. Ao retornar, já na Casa de Cultura de Codajás, fotografei algumas peças de cerâmica indígena encontradas às margens do Badajós. Segundo o secretário, nenhuma instituição científica realizou levantamentos no sítio arqueológico de Badajós.

Gostaria de deixar registrado um agradecimento aos proprietários e funcionários do Hotel Cunha e Cunha pela qualidade das instalações e atendimento prestados.

- Largada para Anori

Acordamos às 04h30min e solicitei à Polícia Militar para antecipar o horário antes agendado, para podermos carregar nossos pertences; partimos às 05h30min. Na primeira curva do rio Solimões fiz uma parada, como era de praxe, para descansar após 01h40min de navegação e 21 km percorridos. O Romeu e a Maria Helena tinham avançado por demais e continuaram remando, sumindo da minha linha de visada. Após tomar um pouco d’água e comer umas bananas, retornei ao rio procurando pelos dois parceiros, com a resolução de parar novamente só após alcançá-los. Mantive minhas remadas compassadas tentando avistar os dois remadores.

- Chegada em Anori

Avistei a foz do Anori e fui novamente saudado por botos tucuxis e um enorme boto vermelho, o maior e mais belo que já havia visto. Ele não possuía nenhum matiz de cinza e exibia seu dorso de um vermelho formidavelmente homogêneo. Ao passar por alguns flutuantes e entrar em um dos acessos ao lago, a correnteza forte me assustou e procurei navegar pelo lado de dentro das curvas. Como já fazia algum tempo que eu não ingerira alimento ou líquido, resolvi saborear algumas ‘araçás’ que abundam as margens do lago. A frutinha, muito semelhante no aspecto e no gosto às acerolas, me revitalizou e consegui, inclusive, emparelhar com um dos motores que se dirigia a Anori e acompanhá-lo até o porto.


- A ‘mão amiga’ da Polícia Militar, da Consag e Prefeitura de Anori

Aportei no flutuante da Consag, mais uma vez. Um dos membros da companhia, que já nos conhecia desde Coari, fez as apresentações e, rapidamente, o caiaque foi guardado pelos amigos da Consag no depósito. Serviram-nos uma caldeirada no flutuante mesmo e acionaram pelo 190 nossos ‘anjos da guarda’ que, chefiados pelo sargento Osmar, apresentaram-se imediatamente no local e carregaram nosso material para a viatura policial. Antes de embarcarmos na viatura, o Sargento Osmar nos apresentou o vice-prefeito do município, senhor Ângelo Barroso, que foi nos receber pessoalmente no porto e nos franqueou a alimentação e pousada na sua cidade. O Osmar saiu conosco para tentar encontrar acomodações nos hotéis da cidade, lotados com funcionários da Consag. Fui levado até o restaurante Cinco Irmãos para nossas refeições e depois de uma busca exaustiva fomos acomodados nos Hotéis SK e Maria Isabel.

- Primeiro dia em Anori (14 de janeiro de 2009)

Tomei um bom banho, lavei minhas roupas, descansei um pouco e me dirigi ao restaurante lá pelas 15h00min para o almoço. A Maria Helena passou pela rua enquanto eu almoçava e eu a chamei. Depois do almoço, fui até a lan house e consegui contatar a minha filha Vanessa, o amigo Araújo e a amiga Mary. Como estava lenta demais, desisti de enviar as fotos de Coari que tinha tirado no último dia. Às 20h00min concedemos uma entrevista, na Rádio Comunitária Anori FM, aos dinâmicos repórteres Roberto e Letícia, que nos agendaram outra para as 08h00min horas do dia seguinte.

- Segundo dia em Anori (15 de janeiro de 2009)

Depois do café, às 07h00min nos deslocamos para a rádio e, no caminho, fomos convidados pela senhora Nazaré, que ouvira a entrevista do dia anterior, para um café. Depois da entrevista, o Romeu foi para o porto para mostrar os caiaques para a gurizada local e eu sai com o Secretário do Turismo e Meio Ambiente senhor Edir Mota Moura. O município carece de um centro cultural e de uma casa de cultura;o balneário planejado pela administração anterior ficou só no papel, enfim, o Secretário tem muito o que fazer... Embora não sejam diretamente ligada à sua pasta, as escolas que visitamos, tanto do município quanto do estado, estão muito longe daquelas que pudemos observar ao longo da calha do Solimões. Embora a infra-estrutura seja fácil de reparar, achamos que o desafio maior seja o de tentar comprometer a comunidade com a manutenção e preservação do patrimônio público. Concluímos nosso tour pela cidade entrevistando duas queridas freirinhas gaúchas, cujo teor da entrevista vamos colocar no blog.

- Agradecimento a Anori

Gostaríamos de agradecer especialmente ao Sargento PM Osmar, ao Vice-Prefeito Ângelo Barros e a seu secretário do Turismo e Meio-Ambiente Edir Mota Alves, ao pessoal da Consag e aos repórteres Letícia e Roberto, da Anori FM, por tornarem nossa estada na cidade tão agradável e produtiva.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Desafiando o Rio-Mar: Coari - Codajás

Desafiando o Rio-Mar: Coari - Codajás

"Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)


- Largada para Camarazinho (11 de janeiro)

Nosso amigo Major Denildo, por volta das 05h30, estacionou na frente da Universidade (UAB) para nos levar até o flutuante da Consag onde se encontravam os caiaques. Os simpáticos funcionários da Consag estavam lá para tirar fotos e nos desejar uma boa viagem. Quando o Romeu foi conectar as baterias do sensoriamento remoto ocorreu um curto circuito e a partir daí deixamos de contar com o acompanhamento por parte da Skysulbra. Telefonei para o amigo Regadas, dono da empresa, para reportar o incidente.

Partimos de Coari às 06h30 com uma nova parceira na equipe, a professora paulista Maria Helena. Logo que saímos do lago Coari os botos vermelhos nos saudaram, eram 3 botos, duas fêmeas e um filhote que saltava tirando todo corpo da água. Procurei o talvegue para ganhar velocidade. Aquelas paragens já tinham sido visitadas por terra e devidamente documentadas. Fizemos uma parada após remar por volta de 01h15 para acostumar lentamente a nova remadora à rotina de navegação.

Partimos e resolvi parar próximo à foz do lago Mamiá, cujas praias tínhamos visitado com o Major Denildo, fizemos um lanche rápido enquanto observávamos o encontro das águas pretas do Mamía com o Solimões e a pequena Comunidade junto à foz. Rumei para o braço direito do Rio Solimões, à direita de uma grande ilha e na parada seguinte encontrei um belo caranguejo vermelho que fotografei. O próximo lance foi de chuva forte e ao me aproximar da saída do braço direito, no extremo norte da ilha, enfrentei fortes correntes reversas que diminuíram significativamente a velocidade. A fotografia aérea desta área e as informações de que dispúnha eram muito vagas de modo que tentei conseguir informações num casebre no meio da mata que, infelizmente, estava abandonado, mais uns dez minutos de remo e chegamos à São Francisco do Camarazinho.

Desci para me informar com a intenção de continuar até Camará como o programado. Camará tinha uma estrutura bem melhor do que a Comunidade que aportáramos, energia 24h, boa escola, enfim o local ideal para a programada parada. O Romeu informou que a Maria Helena não estava em condições de continuar e tive, contrariado, de alterar minha programação.

- São Francisco de Camarazinho

Estacionamos na Comunidade São Francisco do Camarazinho. Procurei a administradora rural dona Antonia e o professor José, seu esposo, e eles nos abrigaram na salinha da escola. Montei a barraca na sala de aula que era usada também como sala de televisão dos ribeirinhos e como em todas as comunidades pelas quais passamos o gerador era desligado logo após a novela.

A Maria Helena nos fez experimentar a sapota que ela trouxera de Tefé, presente do amigo César, e comemos umas bananas e cacau trazidos pela dona Antonia.

Sapota do Solimões (achras zapota) - árvore de grande porte que pode atingir até 45m de altura. Folhas grandes de até 50cm de comprimento. É bastante apreciada por seus frutos que, além de comestíveis, distinguem-se por sua forma arredondada ou ovalada e por seu grande tamanho. O fruto apresenta, por fora, uma grossa casca marrom-esverdeada e, internamente, oferece uma polpa suculenta e abundante, repleta de finas fibras alaranjadas.

- Largada para Codajás (12 de janeiro)

Saímos às 06h00 e nossos amigos, dona Antonia e o professor José, vieram se despedir. Agradecemos o apoio e o belo cacho de bananas que nos presentearam. Mantive a rota próxima à margem direita até a primeira parada, numa bela praia, e depois, na altura da Costa da Salvação me aproximei da margem esquerda onde estava o talvegue. O Romeu manteve uma rota paralela próxima à margem direita embora eu os orientasse insistentemente para alterá-la. Minha idéia era parar na margem esquerda de um enorme banco de areia localizado a uns 12km da Costa da Salvação mas como a dupla continuasse fora da rota tive de alterar para aportar na margem direita do banco aumentando o percurso e fugindo da parte mais veloz da correnteza. Esta mudança nos fez, mais tarde, enfrentar, desnecessariamente, o mau tempo no meio do rio.

Aportando, bastante aborrecido, no grande banco caminhei até a parte mais alta para um reconhecimento acompanhado pela Maria Helena. O tempo estava carregado e várias pancadas de chuva tropicais eram avistadas ao longe. Mostrei a ela porque eu estava indo pela margem esquerda e o grande furo à direita que tínhamos de evitar para não ultrapassar Codajás.

- Réquiem Dies Irae

Wolfgang Amadeus Mozart nasceu Johannes Chrysostomus Wolfgang Gottlieb Mozart, no dia 27 de janeiro de 1756, em Salzburgo, Áustria. Com quatro anos começou a ter aulas de música com o pai, demonstrando uma extraordinária vocação musical e, logo, começou a compor pequenas peças. A perícia do menino ao teclado encantou o pai que o levou para a primeira turnê pela Europa, com apenas seis anos de idade, onde alcançou fragoroso sucesso nas cortes. No intervalo das apresentações, Mozart, encontrava tempo para compor e, sua composição mais séria, foi a ópera, La finta semplice, escrita quando tinha doze anos.

Em 1784, entrou para a ordem maçônica. A influência da maçonaria marcou todas as peças produzidas a partir de então quando ele alcança o mais alto nível em matéria de profundidade e expressão artística. São obras que simbolizam a conquista da liberdade tão almejada pelo compositor. Em 1791 recebeu, de um irmão maçom, a encomenda de uma ópera popular. A história, relatada através de um conto de fadas, fazia a apologia da maçonaria, da sua trilogia fundamental a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, de seus valores e a busca de si mesmo. Era A Flauta Mágica, a obra-prima de Mozart. A estréia foi um triunfo total e a fama da ópera correu toda a cidade de Viena e se estendeu pela Europa. A partir de então as encomendas não param.

O Réquiem Dies Irae, de Wolfgang Amadeus Mozart, está envolto por um manto de mistério, romantismo e fantasia. A obra foi encomendada pelo Conde Walsegg-Stuppach, em memória de sua esposa e Mozart, atarefado e doente, foi compondo o Réquiem quando podia, dando mais importância a outras obras. A esposa estava preocupada com a mudança no seu comportamento. Um dia quando passeava com o marido com intuito de animá-lo, Mozart, disse que estava escrevendo o Réquiem para si próprio afirmando: ‘eu não consigo tirar da minha cabeça a imagem desse estranho. Vejo-o constantemente a me perguntar, solicitando-me e implorando-me impacientemente que complete a tarefa, é o meu Réquiem, não o posso deixar inacabado’. Infelizmente a morte interrompeu o mais belo Réquiem produzido até hoje pelo maior de todos compositores clássicos. Mozart faleceu no dia 05 de dezembro de 1791 e, finalmente o Réquiem foi concluído pelo seu discípulo Franz Xaver Süssmayr.

- Réquiem a uma velha Bússola de Guerra

Voltei para o meu caiaque e ao embarcar, depois de mais este aborrecimento proporcionado pela falta de experiência do Romeu, acabei perdendo minha bússola sueca ‘Silva’ que me acompanhava desde os tempos de aspirante há 32 anos. Ela mergulhou celeremente nas águas lamacentas do velho rio e as notas do Dies Irae soaram nos meus ouvidos numa justa homenagem à velha amiga. A velha bússola participou, ombro a ombro, de diversas competições, pistas de orientação, manobras, montagem de exercícios, marchas, uma série infindável de momentos sempre apontando o rumo correto. As imagens de competições de Pelopes em que a Engenharia de Vilagran sobrepujara os camaradas da Infantaria e da Cavalaria, as montagens de pistas de orientação em que ela era minha parceira inseparável e as pistas que juntos executamos tudo isso vinha à minha mente junto com o som do Réquiem imaginário.

Adeus velha amiga! Partiste como um dia quero partir, vendo, tratando e pelejando!

- Banzeiro

Logo que saímos rumei para a margem esquerda procurando corrigir a rota programada. Estávamos a meio caminho quando o tempo fechou trazendo consigo chuva forte e ondas de 0,6m. Determinei ao Romeu que mantivesse contato visual, não cheguei a colocar a saia, pois conseguia evitar que a água entrasse no caiaque jogando o corpo para trás evitando que o caiaque afundasse muito a proa. As ondas eram bem menores do que aquelas que normalmente enfrentei no Guaíba. Tive de diminuir o ritmo e parar diversas vezes para aguardar a dupla, que manobrava, com dificuldade o caiaque. A falta de experiência em navegar nas ondas e a teimosia do Romeu em não utilizar o leme do caiaque Cabo Horn Duplo prejudicavam em muito a progressão.

Aportei, espantando um enorme bando de biguás que haviam procurado abrigo da tempestade, na praia. O mau tempo durara em torno de 15 minutos e nesse intervalo tínhamos ouvido o apito, insistente, de um navio que se aproximava coberto pelo denso aguaceiro e, de repente, uma brecha nas nuvens se abriu e os raios solares, como um holofote, iluminaram o grande barco permitindo-nos desviar sem maiores problemas. O clarão envolvia tão somente o navio, ao redor a visibilidade se limitava aos 50m. Parece que fomos brindados com uma intervenção divina para que um desastre maior não acontecesse.

- Rumo a Codajás

Esta era para ser a última parada, mas no extremo norte da Ilha do Coró, a uns 15km de Codajás, o Romeu acenou para que parássemos. Imediatamente abandonei o talvegue e me aproximei da margem esquerda para escolher um local para aportar. Para minha surpresa verifiquei que os dois continuaram remando distante da margem, no talvegue e logicamente se distanciaram muito de mim. Mantive a proximidade da margem para tirar algumas fotografias e fui descendo com calma observando as paragens. Encontrei, depois de algum tempo, os dois parados no meio do rio sem saber o que fazer, não tinham encontrado nenhum lugar para parar. Haviam enormes aglomerados de capim-memeca que impediam o acesso às margens. Apontei a casa de um ribeirinho a uns 300 metros a jusante. Se o ribeirinho quisesse ter acesso ao rio ele teria de ter uma trilha através do capim até sua casa e foi justamente o que aconteceu. Enveredei pela trilha seguindo da dupla e aportei na margem para hidratar um pouco e espichar as pernas.

Chegamos a Codajás e, novamente, com o apoio da PM nos instalamos no Hotel Cunha & Cunha. A limpeza do Hotel e a fidalguia dos funcionários do Hotel foram os pontos altos de nossa estada em Codajás.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Desafiando o Rio-Mar: Coari, uma cidade a todo gás

Desafiando o Rio-Mar: Coari, uma cidade a todo gás

"Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)


- Coari

A capital amazônica do gás natural se debruça sobre as águas do Rio Solimões entre os Lagos de Coari e Mamiá. Sua herança indígena está arraigada na diversidade e na força dos índios Catuxy, Irijus, Jumas, Jurimauas, Passés, Purus, Solimões, Uaiupis, Uamanis e Uaupés. O primeiro núcleo de povoamento foi uma aldeia indígena fundada no início do século XVIII pelo padre jesuíta Samuel Fritz, com a mesma denominação do rio que banhava o pequeno povoado. Segundo Ulysses Pennafort, o termo Coari vem das palavras indígenas ‘Coaya Cory’, ou ‘Huary-yu’, que significa respectivamente ‘rio do ouro’ e ‘rio dos deuses’. A denominação dada ao rio estendeu-se ao lago e, posteriormente, ao município.

Sobre as índias (trecho de autoria do padre João Daniel em ‘Tesouro Descoberto’: ‘Algumas fêmeas a que além de suas feições lindíssimas, têm os olhos verdes e outros azuis com uma esperteza e viveza tão engraçadas que podem ombrear com as mais escolhidas brancas’. Na época, os portugueses já haviam miscigenado com as aborígines, embora durante muito tempo este ato fosse repudiado e proibido pela igreja, que não os consideravam como humanos. No entender de João Daniel, estas índias deveriam ter origem diversa dos demais povos da floresta, não admitindo que os portugueses pudessem estar contrariando a determinação da igreja.

Em 1759, a aldeia é elevada a Lugar com o nome de Alvelos. Em 1833, foi o Lugar Alvelos elevado à Freguesia, sob a invocação de Nossa Senhora Santana. Em 1854, a sede da freguesia foi transferida para a foz do lago de Coari. Em 2 de dezembro de 1874 foi elevada a vila, em 2 de agosto de 1932 a Vila de Coari é elevada a categoria de cidade. Em 1890 é instalado o termo judiciário de Coari e em 1891 é criada a comarca de Coari. Em 1913 é suprimida a comarca de Coari, ficando seu Termo Judiciário subordinado a Tefé. Em 1916 é reinstalada a comarca de Coari, continuando o Termo Judiciário subordinado a Tefé. Em 1922 é suprimida novamente a comarca e em 1924 restaura-se definitivamente a comarca de Coari, compreendendo os Termos de Coari, Manacapuru e Codajás. Em 1932 Coari é elevada à categoria de cidade.

A cidade conhecida anteriormente pela produção de banana, hoje se destaca por produzir petróleo e gás natural na região de Urucu. O gasoduto vai ligar a província produtora ao mercado consumidor localizado em Manaus, a 450 km de distância, tem a previsão de conclusão e início de operação para o 1º semestre de 2009.

- Amazônia e o petróleo

A exploração da Província Petrolífera do Rio Urucu iniciou em 1988, dois anos após a descoberta do primeiro poço. A reserva estimada é de mais de 70 milhões de barris de óleo e quase 300 milhões de barris de gás natural, que representam um quarto das reservas nacionais. O início da exploração data de 1917, quando o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil realizou as primeiras sondagens.

Coari é o segundo PIB do Estado, graças aos royalties pagos pela Petrobras ao município do gás natural. A enorme jazida descoberta a cerca de 3 mil metros abaixo do solo fez com que a Petrobrás implantasse em suas terras a Província Petrolífera do Rio Urucu, viabilizando a prospecção, o transporte e o escoamento do produto até o Solimões e, de lá, para a Refinaria de Manaus (Reman).

Desde o primeiro poço, construído em 1986, até hoje, Coari teve seu PIB maximizado. Hoje está girando em torno dos R$ 20 milhões em royalties transferidos pela Petrobrás ao município, além de R$ 1 milhão pago como prêmio ao grande volume de produção ou rentabilidade. É o município, com exploração continental, que mais recebe royalties, perdendo apenas para os da região da bacia de Campos.

O valor dos royalties relativos à exploração de petróleo e do gás natural é repassado à Secretaria do Tesouro Nacional. O valor depende de fatores como riscos geológicos e expectativas de produção, mas gira entre 5% e 10% do total da produção durante um mês. A Agência Nacional do Petróleo é quem apura o valor devido aos beneficiários e garante o pagamento, que é dividido entre estados e municípios produtores.

- Coari a todo gás

Apenas nos últimos anos, na administração do prefeito Manoel Adail Amaral Pinheiro (PL), é que grandes projetos e obras tem sido levados a efeito com estes recursos. Os royalties têm sido aplicados na manutenção de uma série de projetos sociais, entre eles o centro de convivência do idoso, barcos do cidadão, distribuição de enxovais para mães carentes, pavimentação de ruas, ginásios desportivos, escolas, construção de casas populares, eletrificação e saneamento básico. A cidade se destaca dentre todas no norte/nordeste do país. Conforme as próprias palavras do prefeito, Coari deu um ‘salto econômico e social’ de fazer inveja a todos os municípios do pais. Quiséramos nós que os investimentos oriundos dos royalties fossem sempre aplicados na educação, saúde, segurança e moradias populares.

Visitando a cidade, pode-se verificar a qualidade das obras realizadas pela prefeitura, sempre acompanhadas de um tratamento paisagístico adequado. O asfaltamento das ruas e a beleza dos parques e jardins realmente tornam Coari uma pérola incrustada em plena hiléia. A administração relatou-nos que está em andamento um projeto de revitalização do porto e a retirada das palafitas da beira do lago, transferindo os moradores para casas populares.

- Hospitalidade Coariense

Desde que chegamos, à cidade, a cordialidade com que fomos tratados foi marcante, tanto pela Polícia Militar do Amazonas, na pessoa do seu comandante o senhor Major Denildo Lima Brilhante, pela Prefeitura de Coari - representada pelo secretario do Meio Ambiente e Turismo, senhor Alvimar da Costa Monteiro, e o secretário dos esportes, senhor Joabe de Lima Rocha - e pela UAB (Universidade Aberta do Brasil), cuja coordenadora senhora Eliana de Menezes Salgado gentilmente nos abrigou.

O Major Denildo foi nosso guia turístico, nosso interlocutor com as demais autoridades e, principalmente, um amigo com quem pudemos contar em todos os momentos. Os secretários deixaram de lado seus afazeres para atender nosso desejo entrevistá-los e de conhecer o Lago Coari e fotografá-lo; a senhora Eliana da UAB, além de nos abrigar, permitiu que usássemos os computadores da Universidade.

Gostaríamos de deixar aqui registrado nosso agradecimento ao apoio incondicional que recebemos dos amigos mencionados anteriormente, sem o quê nossa pesquisa seria bastante dificultada.