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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O Resgate do Bravo Anaico

O Resgate do Bravo Anaico

Pelas sombras temerosas
Onde vai esta canoa?
Vai tripulada ou perdida?
Vai ao certo ou vai à toa?

Semelha um tronco gigante
De palmeira, que s'escoa...
No dorso da correnteza,
Como bóia esta canoa! ...
(Castro Alves - A Canoa Fantástica)

Na última Travessia da Laguna dos Patos, Pelotas-Porto Alegre, fomos forçados a abandonar o destemido caiaque “Anaico”, pilotado pelo Professor Hélio Riche Bandeira, nos cômoros (dunas) da Costa de Santo Antônio (30°29’44,2”S/51°16’23,5”O), entre o Pontal de Tapes e o Morro da Formiga. A popa, avariada seriamente, apesar da colocação de fitas adesivas continuava fazendo água. Estávamos aguardando a manutenção do veleiro do Coronel Pastl para resgatá-lo, mas os adiamentos sucessivos aumentavam a probabilidade de não mais encontrarmos nosso velho parceiro. Comprei o “Anaico”, da KTM, na década de 80 e com ele desafiei as águas brancas e quedas d’água dos mananciais do Mato Grosso do Sul onde se mostrou insuperável nessa modalidade, o seu valor sentimental, portanto, não era, absolutamente, mensurável.

- Destacamento Precursor

Ele e sua esposa Vera já haviam encontrado o melhor e mais perto acesso por terra para cumprir esta missão. Era através da Fazenda Boa Vista, que se situava ao norte do município de Tapes e ia até a Laguna dos Patos junto do local em que estava o caiaque a ser resgatado. (Professor Hélio)

O amigo Pedro Auso e sua esposa Vera Regina, de Camaquã, decidiram fazer uma incursão terrestre exploratória com sua camionete, no dia 8 de outubro, sábado, e conseguiram autorização para adentrar na Fazenda Boa Vista. O Pedro tinha uma ideia aproximada da localização e conseguiu chegar com sua camionete o mais próximo possível das praias da Laguna, aproximadamente 1,7 km em linha reta. Comunicou-me a proeza e combinamos que, no dia seguinte, nos encontraríamos, acompanhados do Professor Hélio e sua filha Dafne para efetuarmos o resgate do “Anaico”.

- Fazenda Boa Vista

Localizada a 15 km da sede do Município de Barra do Ribeiro, a Fazenda Boa Vista (ou Fazenda do Zé Taylor) de propriedade do Dr. José Taylor Castro Fagundes, às margens da Laguna dos Patos, é pródiga em belas paisagens e diversidade de biomas. Borges de Medeiros, segundo o Dr. Taylor, cultivou arroz nestas paragens e as catorze figueiras, de sua antiga sede, teriam sido plantadas pelos Jesuítas. A Fazenda serve de referência para os adeptos das cavalgadas e jipeiros que a incluem, sistematicamente, no seu trajeto, além de proporcionar belos locais de pescaria em seus inúmeros açudes.

- Operação Resgate

Somente dia 9 de outubro, num domingo em que até o sol apareceu contrariando a previsão do tempo que era de chuvas esparsas em quase todo estado, conseguimos ir fazer o resgate do caiaque que havia ficado avariado e escondido atrás de uma duna de areia no último ponto de nossa travessia. Eram seis horas e trinta minutos quando eu e minha filha Dafne passamos na casa do Cel Hiram para então nos deslocarmos até o quilômetro 332 da BR116, em Tapes, onde nos encontraríamos com o nosso amigo Sr Pedro, mais identificado como “São Pedro” por toda sua proteção e ajuda a nós prestada. (Professor Hélio)




No domingo, 9 de setembro, partimos de Porto Alegre, às 6h40 em direção à BR 116, a meio caminho entre Barra do Ribeiro e Tapes, para encontrar o Pedro Auso no acesso à Fazenda Boa Vista.

Chegamos ao ponto de encontro com seu Pedro cronometradamente juntos e nos dirigimos para a sede da Fazenda Boa Vista, onde deixamos o carro do Cel Hiram e seguimos na camionete rural de seu Pedro, sendo que somente esta conseguiria vencer os precários caminhos a serem percorridos. Durante este trajeto de carro seu Pedro nos contou que no dia anterior ele e dona Vera já haviam ido a este local e caminhado diversos quilômetros tentando achar o caiaque, mas sem sucesso. Por este motivo que a dona Vera, embora tendo admirado muito o local, teve que ficar descansando em casa. (Professor Hélio)

Chegamos juntos ao local do encontro a exatos vinte minutos antes da hora marcada, oito horas. Como ele já tinha feito um reconhecimento prévio fomos até a sede da Fazenda, deixamos o meu carro e partimos, os quatro, na sua camionete. O trajeto até os limites da Fazenda com a região das Areias da margem da Laguna é de uma beleza impressionante. Chegando ao destino, verifiquei o GPS e constatei que o caiaque se encontrava a 4,5km ao Sul. Seguiríamos diretamente para a praia para diminuir a caminhada pelas dunas e, depois, pela praia até o caiaque. Hidratamo-nos, carregamos o mínimo de material necessário e partimos rumo à praia percorrendo dunas e terrenos alagadiços.

Perto da penúltima porteira transposta encontramos um bando de emas correndo pelos campos e avistamos a casa sede da antiga fazenda cercada por lindas e centenárias figueiras. Chegamos de camionete até um ponto que ficava aproximadamente um quilômetro e meio da laguna, formado por grandes dunas de areia e uma rica e bela vegetação nativa, e seguimos a pé até as margens desta. Chegando à praia constatamos que o caiaque estava a mais ou menos a três quilômetros e meio de distância em direção ao sul. A água da laguna estava bastante calma, totalmente diferente da do dia em que tivemos de abandonar o caiaque. (Professor Hélio)

Na praia identificamos os eucaliptos mencionados pelos pescadores e pelo Sr. Pedro, novamente verifiquei a distância até nosso objetivo – 3,3km. Caminhamos junto à água para evitar as areias fofas da margem e, no caminho, fomos admirando a vegetação, as imensas e sofridas figueiras e as inúmeras bromélias e orquídeas.


Ao caminhar pela praia também observamos belas orquídeas e bromélias junto das dunas contrastando com o lixo junto das margens levado pelas águas e inúmeros mexilhões dourados mortos, às vezes, causando mau cheiro. Por volta das dez e meia chegamos ao local do resgate onde encontramos o caiaque exatamente como o deixamos. Após avaliá-lo vimos que ele estava em condições de navegar em águas calmas o que nos pouparia esforços. Assim eu vim remando o caiaque próximo da praia e os outros três caminhando até o ponto mais próximo da laguna com o local que estava o carro. (Professor Hélio)

Depois de caminhar por uns quarenta minutos chegamos ao local onde deixáramos nosso caiaque e, felizmente, lá estava ele, o remo, leme, e a saia. Como as águas da Laguna ainda estavam bastante calmas sugeri ao Hélio que fosse remando até os eucaliptos e lá nos aguardasse.

Neste ponto, perto de uma grande duna coberta com vegetação nativa, paramos para descansar e fazer um lanche, enquanto minha filha aproveitou para andar um pouco de caiaque. (Professor Hélio)

Nos eucaliptos fizemos uma pausa para alimentação e hidratação antes de partirmos para o percurso mais estafante, carregar o caiaque pelas dunas e terrenos alagadiços.

O trecho seguinte do resgate, embora com cerca de apenas um quilômetro e meio, foi o mais desgastante, pois tivemos de carregar o caiaque através de dunas e banhados até o carro. Eu, o Cel Hiram e seu Pedro nos revezávamos nesta missão enquanto minha filha levava o remo e batia fotos.

Iniciei, com o Hélio, o transporte pelas dunas e logo de início verificamos o quanto seria estafante tal procedimento. A Dafne carregou o remo e fomos lentamente vencendo os obstáculos. Mais adiante o Pedro me substituiu e nos revezamos até chegar exaustos ao local onde estava estacionada a camionete.


Quando chegamos ao carro, descansamos um pouco, comemos algumas frutas, prendemos o caiaque e partimos satisfeitos pelo sucesso da missão cumprida. (Professor Hélio)


Fizemos uma parada para descanso e um pequeno lanche antes de carregarmos o caiaque na camionete e retornarmos à sede onde transferimos o caiaque para o meu carro. Encerramos nossa missão com um almoço no Restaurante das Cucas na BR 116, km 338. Nossas expedições pelos brasileiros caudais tem nos propiciado encontrar pessoas fantásticas e muito prestativas como o caso do amigo Pedro Auso e tantos outros cujas amizades fazemos questão de solidificar.

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