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domingo, 5 de setembro de 2010

Theatro Victória – Santarém – PA

Theatro Victória – Santarém – PA


Chovia dinheiro em Manaus, na alucinação do “ouro negro”, e numerosas empresas teatrais, às vezes de renome mundial, passavam por Santarém. (...) O Victória contava, então com dezessete camarotes, sendo um oficial, cento e quarenta e duas cadeiras numeradas na plateia, e cerca de cento e oitenta gerais. (SANTOS)

- As Primeiras Sementes

Nos idos de 1855, os comerciantes e artistas dramáticos Antonio Maximiano da Costa e sua esposa Carolina Helpídia da Costa conseguiram que o Presidente da Província Henrique de Beaurepaire Rohan editasse a Lei nº 289, de 3.10.1856, concedendo-lhes duas loterias cujo produto deveria ser aplicado na edificação de um Teatro na Cidade de Santarém. A loteria redundou num completo fracasso e o casal, desiludido, abandonou o projeto e partiu para outras plagas.

Alunos do Colégio Conceição, no período de 1875 a 1878, fundaram o “Teatro Conceição”. O educandário cerrou suas portas, em 1878, e com ele o teatro dos alunos.

O objetivo inicial de um jovem grupo de artistas amadores, em 1894, era arrecadar fundos, através de suas apresentações teatrais, para a construção de um Hospital de Caridade em Santarém. Realizaram alguns espetáculos mas as dificuldades encontradas e o retorno financeiro muito abaixo do esperado desanimaram o grupo que preferiu entregar o numerário já apurado para as obras da Matriz e da Igreja de São Sebastião. A semente, porém, fora lançada em terra fértil e a magia do palco havia contagiado a mocidade santarena.

No dia 15 de janeiro de 1895, o “Clube Dramático Santareno” foi fundado por artistas amadores apoiados por alguns cidadãos de destaque da comunidade. Foi eleito para Presidente da Comissão de Obras o entusiasta e próspero comerciante português Manoel Gomes Veludo. Veludo, vez por outra, participava, como comediante, das exibições teatrais e encaminhou, imediatamente, uma petição à Câmara Municipal solicitando um terreno para a construção de um Teatro.

A Câmara municipal, no dia 20 de janeiro de 1895, em sessão extraordinária, aprovou por unanimidade, a concessão, por aforamento, de um “terreno entre as Ruas da Alegria e 22 de junho, junto à casa do Comendador Joaquim Honório da Silva Rebêlo, medindo 64 palmos de frente por 120 de fundo, para ali ser construído o Teatro que o Clube Dramático pretende edificar nesta cidade”. O terreno estava localizado na principal Praça de Santarém, a Praça da República (atualmente Praça Rodrigues dos Santos).

Seus idealizadores, sem contar com qualquer tipo de apoio das autoridades municipais, contavam apenas com as doações de contribuintes, sócios amadores e o dinheiro arrecadado nos espetáculos que passaram a ser apresentados no “Teatro Caridade” e, depois, no “Teatro Provisório”.

- Lançamento da “Pedra Fundamental”

A planta do “Theatro Victória” foi projetada pelo engenheiro francês Maurice Blaise, professor de Desenho da Escola Normal do Pará, e previa uma lotação de quinhentos espectadores. No domingo, de 5 de maio de 1895, foi realizada a solenidade do lançamento da “Pedra Fundamental”, no dia 14 de agosto era levantada a cumeeira.

“Apesar da escassez de recursos, o ‘Clube Dramático Santareno’ recusou a subvenção de seis contos, votada pela Assembleia Estadual, em 1896 – Governo Lauro Sodré – sob a alegação de que estando a obra quase terminada, era vergonha ou insulto para os sócios do Clube a exigência do governo para tornar efetivo o auxílio votado. Queria a lei que fossem apresentados o documento de posse do terreno, a planta da obra, seu orçamento etc., etc., as costumeiras papeladas da burocracia. Os ‘Dramáticos’ tomaram a exigência como desaforo; era uma desconsideração essa confiança lançada contra a sua honorabilidade. Parecia que a Assembleia duvidava que a obra estivesse realmente em construção, quando lhe faltavam, apenas, retoques internos, separação das frisas e camarotes, pintura e mobiliário. Esse o pretexto da recusa, mas, no fundo, era o dedo sectário de alguns políticos da terra, aborrecidos porque o projeto havia sido apresentado e defendido pelos adversários...” ( SANTOS)

Foi inaugurado, a 28 de junho de 1896, contando com as presenças ilustres do Governador e do Deputado Adriano Miranda. A casa de espetáculos foi batizada, inicialmente, de “Teatro 15 de janeiro” em referencia à data de fundação do “Clube Dramático Santareno”, em 15 de janeiro de 1895, mas teve seu nome modificado, logo depois, para “Theatro Victória”. Poucos anos depois o “Clube Dramático” encerrou suas atividades e entregou o Teatro à Intendência Municipal. Foi a fase áurea do Victória que durante algum tempo proporcionou momentos de arte, cultura e alegria aos santarenos.

O primeiro grande revés ocorreu, em 1912, quando a Companhia Portuguesa de Operetas e Comédias depois de encenar alguns espetáculos no Teatro foi dizimada pela epidemia de febre amarela que se alastrou na cidade. A partir de então o Victória passou a funcionar também como cinema (mudo), concertos, conferencias, etc.

Em 1917, na administração do intendente Dr. Oscar Barreto, o “Theatro Victória” foi restaurado e ganhou nova pintura e novos cenários e mobiliário. Nesse mesmo ano foi fundado o Grupo Cênico do “Tapajós Futebol Clube” cuja estréia, na noite de 15 de novembro de 1917, contou com a presença do Senador Antonio de Souza Castro.

Em 1925, o intendente Joaquim Braga e, em 1933, o prefeito Ildefonso Almeida realizaram obras de restauração do Teatro sem promover alterações na sua arquitetura original. O Teatro, neste período, tinha sido transformado em salão de bailes, escola, salão de banquetes, hospedaria e depósito de juta que acabou provocando o desabamento do tablado da platéia além de ameaçar a estrutura do prédio.

Em 1956, serviu de acantonamento para um contingente de pára-quedistas militares, comandando pelo Coronel Santa Rosa, com a missão de debelar a revolta liderada pelo Major Haroldo Veloso na Base de Jacaré-Acanga.

O Prefeito Armando Lages Nadler (1955/59), considerando o prédio muito pequeno para uma casa de espetáculos, resolveu aproveitá-lo como Biblioteca Pública até que as goteira resultantes da falta de conservação acabaram por transformá-lo em albergue.

Em 1965, foi novamente reformado, desta vez perdeu totalmente suas formas originais passando a ser utilizado como Câmara Municipal e, atualmente, Secretaria Municipal de Educação e Desporto.

Mais que uma casa de espetáculos, mais que uma obra arquitetônica, o “Theatro Victória” representa a força, a energia e a determinação do povo santareno na busca de um ideal.

Fonte: SANTOS, Paulo Rodrigues dos. Tupaiulândia. ICBS/ACN. Santarém, PA: Gráfica e Editora Tiagão, 1999.

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