Codajás – Anamã
Hiram
Reis e Silva, Manacapuru, Amazonas, 07 de março de 2013.
Ao passar pela Boca do Purus, minha memória, madrugando no passado,
recolheu, no arquivo ancestral, a imagem de dois ícones de nossa história, em
outubro de 1905, navegando no vapor Rio Branco, singrando este mesmo Rio tendo
como destino Manaus. José Plácido de Castro tinha comandado o vitorioso
Movimento Revolucionário Acreano que resultou na incorporação das terras “ditas”
bolivianas ao Brasil. Euclides da Cunha chefiara a “Comissão Brasileira de
Reconhecimento do Alto Purus”, cuja missão era mapear o Rio Purus desde a foz,
no Solimões, até suas cabeceiras, definindo as fronteiras do país com a Bolívia
e o Peru.
(Hiram Reis e Silva – Desafiando o Rio-mar, descendo o Solimões)
(Hiram Reis e Silva – Desafiando o Rio-mar, descendo o Solimões)
Novamente os cordiais Policiais
Militares nos apoiaram na hora da partida. Quando chegamos ao flutuante do “Pisca” ele já estava a postos para que
pudéssemos carregar, na lancha “Mirandinha”,
o material que ficara sob seus cuidados. Eu havia visitado Codajás, pela
primeira vez em janeiro de 2009, na minha descida pelo Solimões. Deixamos para
trás mais uma amazônica cidade que regrediu consideravelmente nos serviços prestados
à comunidade apresentando uma triste realidade que parece ser a tônica das
cidades do Rio Solimões pelas quais passamos ao contrário do que observamos no
Juruá.
- Partida para Anamã (05.03.2013)
Deixamos o Cabo Mário para trás
arrumando os badulaques na lancha Mirandinha e iniciamos nossa jornada. A noite
emprestava à paisagem um toque de magia e mistério, eu me orientava pela claridade
da cidade que ainda dormitava preguiçosamente e pelas luzes das embarcações que
desciam placidamente o formidável Rio. Os primeiros raios solares só surgiram no
horizonte depois de termos remado hora e meia matizando as diáfanas nuvens.
Ao raiar do dia cruzamos por uma
embarcação da Marinha do Brasil, a P20, que realizava manobras na área. O dia
transcorreu sem grandes alterações, o calor era insuportável e foi necessário
reabastecer nossos cantis por três vezes. Antes de entrarmos em um furo que
conduzia à cidade de Anamã solicitei ao Mário que fizesse algumas tomadas da
Boca do lendário Rio Purus. Como em 2009, cruzamos pelas enormes alfaces d’água
(Pistia stratiotes) de mais de 50
cm de diâmetro do Purus.
O Furo, indicado ao Mário por um
ribeirinho, diminuía consideravelmente a distância até Anamã e por ele
enveredamos. As águas do Solimões penetravam velozmente pelo Furo e chegando ao
Lago já tinham empurrado as águas negras mais para o interior tingindo-o totalmente
com suas águas leitosas. Depois de remar uns dez minutos avistamos a cidade das
originais e multicoloridas casas de madeira, ao fundo, e picamos a voga para
atingi-la. Fomos direto para o Porto de Anamã, que por sinal encontra-se em péssimo
estado de conservação. Guardamos nossos materiais em um flutuante da
Prefeitura, sob custódia do “Vovô” e
contatamos o Cabo PM Evandro Carreira, já orientado pelo seu Comandante Maj PM
Michel, que nos levou até o Hotel e às dezenove horas até o restaurante do “Soldado” que a Prefeitura havia-nos igualmente
franqueado.
- Anamã e a Enchente de 2012
http://www.youtube.com/watch?v=33SpeuHn138
A maior enchente em mais de cem anos
castigou uma das mais belas cidades do Estado do Amazonas. A alagação colocou o
Município de Anamã em situação de emergência já que 100% das ruas da cidade estavam
debaixo d’água e mais de 800 casas tinham sido inundadas sendo que mais da
metade delas precisou utilizar do recurso do assoalho levantado. A maioria das
casas de Anamã é de madeira e sua arquitetura requintada, riqueza de detalhes e
pinturas vivas chamam a atenção de quem a visita. Os marceneiros locais são
muito hábeis e os acabamentos são originais raramente repetidos em outra
construção. As marcas das águas nas paredes das residências não deixam dúvidas
do estado de calamidade que assolou a pequena Anamã. Verificamos muitas obras
sendo executadas e esperamos que o pico da cheia que se avizinha não venha a
causar mais transtorno aos moradores.
- O Lendário Rio Purus
Pelo Purus haviam passado alguns
desbravadores em busca do conhecimento e da fortuna, muitos em busca da simples
sobrevivência, idealistas buscando estender nossas fronteiras pela força do
direito, e guerreiros tentando fazê-lo pelo direito da força. O Purus não é
apenas um Rio, mas um protagonista que, junto com homens de valor, gravou belas
páginas na história da nossa nação. Homens que enfrentaram o desconhecido, que
subjugaram a mata, que a analisaram, estudaram, mas também homens que tiveram
suas vidas arrebatadas pela força da natureza e cujos destinos foram
manipulados inexoravelmente pelas titânicas energias telúricas. O Purus merece
nosso respeito pelo que foi, pelo que é e pelas contraditórias passagens
levadas a efeito na sua calha. Um Rio patriota que guarda nas suas águas as
imagens imaculadas de um Plácido de Castro e de um Euclides da Cunha. Um Rio de
ambição e sem consciência, que reflete as carrancas dos ambiciosos
seringalistas que escravizaram os seringueiros nordestinos e suas famílias. O
Purus pré-histórico é tudo isso e muito mais. Nas suas calhas, foram
descobertos os restos de gigantescos animais, como o “Purusaurus brasiliensis” de 15 a 20 metros de comprimento que dominava as águas
no Lago Pebas. O Purusaurus viveu de 5 a 6 milhões de anos atrás e provavelmente foi
o maior dos crocodilianos gigantes extintos.
Nosso preito de respeito a esta
artéria viva da nacionalidade brasileira que reflete, nas suas águas, a pujança
de uma raça do porvir, alicerçada no invulgar passado, mas com os corações e
mentes voltados para o futuro.
- Encerramento dos Trabalhos de Campo da Expedição
GBM
Convidamos
aos amigos que acompanharam fielmente nossa jornada cívica a comemorar nossa
chegada às 15 horas, do dia 10 de março de 2013, no porto do Centro de
Embarcações do Comando Militar da Amazônia. Participe e\ou convide seus amigos
a fazer parte da escolta fluvial no Rio Negro ou do congraçamento nas
instalações do CECMA.
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