“Tâmo Junto Comandante!”
Hiram
Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 02 de abril de 2013.
É muito melhor arriscar coisas grandiosas,
alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com
os pobres de espírito, que nem gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem
nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota.
(Theodore Roosevelt)
(Theodore Roosevelt)
Antes mesmo de ter sido confirmada a
Missão de Reconhecimento do Rio Juruá resolvi iniciar meu planejamento consultando
os Soldados Mário Elder Guimarães Marinho e Marçal Washington Barbosa Santos,
membros do Grupo Fluvial do 8° Batalhão de Engenharia de Construção (8° BEC),
sediado em Santarém, PA, se eles estariam interessados em participar da Expedição
General Belarmino Mendonça. A resposta dos dois combatentes foi imediata:
“Tâmo
Junto Comandante!”
Nenhum dos dois sequer titubeou,
pensou em perguntar qual Rio seria desbravado, quanto tempo duraria a missão
nem quais os meios disponíveis, eles estavam simplesmente prontos - “De Pé
e à Ordem”. Nas minhas duas últimas
descidas (Rio Amazonas - 2010/2011, 851 km e Rios Madeira/Amazonas - 2011/2012, 2.000 km ) contei com o
apoio irrestrito da valorosa Tropa de Elite do Barco a Motor (B/M) Piquiauba da
qual faziam parte além do Mário e do Marçal os Soldados Walter Vieira Lopes e Edielson Rebelo Figueiredo. Como esta
missão era mais longa convidei apenas dois militares levando em conta suas
características pessoais e, também, para não desfalcar, por demais, o efetivo
do Grupo Fluvial do 8° BEC.
A pronta resposta dos dois militares
me fez “engarupar na anca da história”
e lembrar os velhos tempos de aluno do Colégio Militar de Porto Alegre quando
ouvi encantado, pela Rádio Guaíba, o relato denominado “Mensagem a Garcia”. A reportagem enaltecia a figura ímpar do
Coronel Andrew Summers Rowan (1857-1943) que cumpriu, durante o conflito
Hispano-americano, sem pestanejar, a missão de encontrar e entregar uma
mensagem do Presidente norte-americano William Mac Kinley (1843-1901) ao
insurreto Major-general cubano Calixto Ramón García Iñiguez (1836-1898). O Presidente
Mac Kinley confiou a Rowan a carta destinada a Garcia; Rowan tomou–a, nada
perguntou, partiu resoluto e simplesmente cumpriu a missão.
Numa época em que a omissão e a
falta de iniciativa e comprometimento se tornaram tão corriqueiros, observo,
boquiaberto e preocupado, profissionais de todas as origens, militares ou
civis, tentando prorrogar prazos, ampliar efetivos ou recursos
desnecessariamente para cumprir sua missão e ao final apresentarem pífios resultados.
A resposta destes dois militares e sua conduta extremamente profissional durante
os três árduos meses de duração da missão serve de estímulo e esperança a todos
os líderes e formadores de opinião que ainda acreditam que existam entre nós
outros “Rowans” dispostos a abandonar
o conforto de seus lares para desafiar corajosamente os mais diversos
obstáculos que a natureza, a falta de apoio logístico e a missão lhes impõem.
Durante nossa épica jornada a
magnitude dos reptos foi sendo ampliada a cada dia em decorrência das
características do terreno, condições atmosféricas e a ausência de povoados
onde pudéssemos buscar abrigo. A cada nova proposta, mais desafiadora que a
anterior, os meus fiéis escudeiros simplesmente respondiam com um sorriso nos
lábios, antegozando a possibilidade de ultrapassar mais um limite,
estabelecendo um novo recorde pessoal de resistência e distância percorrida. Em
nenhuma oportunidade, nos quase quatro mil quilômetros percorridos de caiaque,
precisei dar uma ordem sequer a estes dois jovens espartanos. Fomos,
permanentemente, uma equipe coesa e unida em torno de um objetivo comum e nossa
motivação permitiu-nos manter o foco na missão sem os indesejados desvios.
Desde o início até encerrarmos as atividades em Santarém, PA, nossos corações e
mentes tinham apenas uma aproada, apenas uma lei, uma meta, manter a qualquer
custo o “foco na missão”. Graças a
este estado de espírito cumprimos todos os objetivos desejados com rendimento muito
acima do esperado mais de um mês antes do prazo previsto.
Quero, portanto, deixar,
publicamente, consignado este elogio a estes dois jovens guerreiros que
demonstraram que a velha chama castrense, preservada com tanto zelo por nossos
antepassados, permeada dos mais sagrados valores cultuados pelos velhos camaradas,
desde o longínquo pretérito, continua acesa graças ao empenho e extrema
dedicação dos hoje raros e abnegados militares da estirpe do Cabo Mário e o
Soldado Marçal.
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