Coari - Codajás
Hiram
Reis e Silva, Codajás, Amazonas, 04 de março de 2013.
Solicitamos o apoio de uma viatura da
Polícia Militar para nos levar do Hotel LH até o Flutuante Mercadinho Paulão, de propriedade do
Sr. Paulo Lopes de Oliveira. Estávamos desembarcando as tralhas e o Sr. Paulo veio,
pessoalmente, abrir o depósito onde deixáramos o motor rabeta e outros
materiais.
- Partida para Codajás (03.03.2013)
Partimos, eu e o Marçal às 04h45
deixando o Mário para trás arrumando os badulaques na lancha Mirandinha.
Iríamos enfrentar o maior percurso desde a Foz do Breu (141 km ) e precisávamos
iniciar cedo nosso deslocamento. Remamos lentamente afundando nossos remos nas
negras águas do Lago Coari e fomos aos poucos aumentando o ritmo e deixando
para trás as luzes da cidade.
Quando desci o Solimões, de
Tabatinga a Manaus, em janeiro de 2009, fui muito bem recebido pelo Major PM
Denildo e os Secretários do Prefeito de Coari, recém eleito. Acompanhado por
eles conheci a Cidade do Gás e fui informado dos diversos projetos que seriam
levados avante pela nova administração. É com tristeza que verifico que muito
pouco foi feito, definitivamente a cidade estava muito menos atraente do que há
4 anos.
O Sol só apareceu quando nos
encontrávamos próximos à Boca do Lago Mamiá, as águas rápidas do Solimões
facilitavam o deslocamento e estávamos confiantes de atingir Codajás antes das
17 horas. Quando estávamos passando ao largo da Comunidade São Francisco do
Camarazinho, fizemos a primeira parada, às nove horas, acostando na Mirandinha,
no meio do Rio para abastecer os cantis e comer bananas. Havíamos remado 51 km até então, faltavam 90.
Pedi ao Mário para fotografar a Escolinha onde eu pernoitara, no dia 11.01.2009,
a decadente Escolinha de então tinha sido reformada, pintada e ganhara novo telhado.
Depois do breve descanso continuamos
nossa jornada. Até então o dia nublado bloqueara os raios solares propiciando
uma manhã bastante agradável. Parecia que São Pedro estava disposto a colaborar
com nossa progressão. Depois de remar por mais uma hora começamos a prestar a
atenção nas plúmbeas nuvens que se formavam à nossa proa. Exatamente às 11
horas a tempestade chegou, mas como estávamos acompanhando sua evolução, já há
algum tempo, acostamos aguardando as rajadas mais fortes passarem. Aguardamos apenas
uns 10 minutos antes continuar, os ventos de proa e a chuva eram agora mais
fracos e só tínhamos que nos preocupar com os banzeiros.
Curiosamente eu enfrentara a pior
tempestade de minha descida pelo Solimões exatamente nesta mesma região.
Estávamos a meio caminho quando o tempo fechou,
trazendo consigo chuva forte e ondas de 60 cm . Determinei ao Romeu que mantivesse
contato visual, não cheguei a colocar a saia, pois conseguia evitar que a água
entrasse no caiaque jogando o corpo para trás, evitando que o caiaque afundasse
muito a proa. As ondas eram bem menores do que aquelas que normalmente
enfrentei no Guaíba e Lagoa dos Patos.
Aqui, também, perdera minha bússola
sueca “Silva” que me acompanhara
desde os tempos de Aspirante há mais de três décadas. Ela mergulhou celeremente
nas águas lamacentas do velho Rio e as notas do “Dies Irae” soaram nos meus ouvidos numa justa homenagem à velha
amiga.
A velha bússola participara, ombro a
ombro, de diversas competições, pistas de orientação, manobras, montagem de
exercícios, marchas, uma série infindável de momentos, sempre apontando o rumo
correto. As imagens de competições de Pelopes, as montagens de pistas de
orientação em que ela era minha parceira inseparável e as pistas que juntos
executamos, tudo isso veio, na época, à minha mente junto com o som do Requiem
imaginário.
O “Requiem Dies Irae”, de Wolfgang Amadeus
Mozart, está envolto por um manto de mistério, romantismo e fantasia. A obra
foi encomendada pelo Conde Walsegg-Stuppach, em memória de sua esposa, e
Mozart, atarefado e doente, foi compondo o Requiem quando podia, dando mais
importância a outras obras.
A esposa estava
preocupada com a mudança no seu comportamento. Um dia, quando passeava com o
marido com intuito de animá-lo, Mozart disse que estava escrevendo o “Requiem” para si próprio afirmando: “eu não consigo tirar da minha cabeça a
imagem desse estranho. Vejo-o constantemente a me perguntar, solicitando-me e
implorando-me impacientemente que complete a tarefa, é o meu Requiem, não o
posso deixar inacabado”.
Infelizmente a
morte interrompeu o mais belo Requiem produzido até hoje pelo maior de todos
compositores clássicos. Mozart faleceu no dia 05 de dezembro de 1791 e,
finalmente, o “Requiem” foi concluído
pelo seu discípulo Franz Xaver Sussmayr. (Nota do autor)
Enfrentamos banzeiros, com ondas de
até um metro, durante boa parte do tempo até nos aproximarmos de Codajás. A
vantagem é que o Rio agora bem mais estreito aumentava a velocidade das águas
permitindo-nos atingir até 17
km/h .
Aportamos nas proximidades do porto
de Codajás às 15h05. O Cb Mário, que, a meu pedido, chegara meia hora antes, já
acordara com o “Pisca” um flutuante
para guardar as embarcações, o material e contatara nossos caros parceiros da
Polícia Militar do Estado do Amazonas.
- Hospitalidade da Polícia Militar
Hospitalidade
(Jayme Caetano Braun)
No linguajar barbaresco
E xucro da minha gente
Teu sentido é diferente,
Substantivo bendito,
Pois desde o primeiro grito
De “o de casa” dado aqui,
O Rio Grande fez de ti
O mais sacrossanto rito!
Não há rancho miserável
Da nossa terra querida,
Onde não sejas cumprida
No mais campeiro rigor,
Porque Deus Nosso Senhor
Quando te botou carona,
Já te largou redomona
Sem baldas de crença ou cor!
Dizem uns, que te trouxeram
De Espanha e de Portugal
E que neste chão bagual
Criaste novo sentido,
E o que além era vendido
Transformou-se aqui num culto
Onde o dinheiro é um insulto
Com violência repelido!
Tenho prá mim que és crioula
Do velho pago infinito
Onde até o índio proscrito
Egresso da sociedade
Na xucra fraternidade
Dos deserdados da sorte
Não respeita nem a Morte,
Mas cumpre a Hospitalidade! (...)
Fomos cortesmente recepcionados
pelos Cabos PM Francisco Valmir
de Souza Pereira e Gilmar Simplício
Nazário. Por mais uma destas amazônicas coincidências tínhamos encontrado o Cb
PM Simplício, na nossa descida pelo Solimões na
cidade de São Paulo de Olivença, AM. A dupla nos levou até o hotel onde
pernoitaríamos e, logo depois, o Cabo PM Valmir nos
obsequiou com um lauto almoço em sua residência. Os gaúchos se ufanam, e com
razão, de serem corteses e hospitaleiros, mas devemos nos lembrar que estas
qualidades desconhecem fronteiras. Volta e meia, nas nossas amazônicas andanças,
somos brindados com estas tão caras qualidades que não respeitam fronteira, crença
ou cor. Plagiando Caetano Braun, o augusto poeta do meu abençoado rincão – a hospitalidade é um laço bem grosso e de
armada grande que Deus trançou, p’rá que ande, apresilhado nos tentos do coração
das “criaturas livres e de bons costumes” de todas as querências!
- Encerramento dos Trabalhos de Campo da Expedição
GBM
Convidamos
aos amigos que acompanharam fielmente nossa jornada cívica a comemorar nossa
chegada às 15 horas, do dia 10 de março de 2013, no porto do Centro de
Embarcações do Comando Militar da Amazônia. Participe e\ou convide seus amigos
a fazer parte da escolta fluvial no Rio Negro ou do congraçamento nas
instalações do CECMA.
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