MAPA

MAPA

domingo, 29 de dezembro de 2013

Rumo ao Tapajós

Rumo ao Tapajós

Hiram Reis e Silva, Santarém, Pará, 06 de outubro de 2013.

Hospitalidade
(Jayme Caetano Braun)



No linguajar barbaresco (1)
E xucro (2) da minha gente
Teu sentido é diferente,
Substantivo bendito,
Pois desde o primeiro grito
De “o de casa” dado aqui,
O Rio Grande fez de ti
O mais sacrossanto rito!

Não há rancho miserável
Da nossa terra querida,
Onde não sejas cumprida
No mais campeiro rigor,
Porque Deus Nosso Senhor
Quando te botou carona,
Já te largou redomona (3)
Sem baldas de crença ou cor!

Dizem uns, que te trouxeram
De Espanha e de Portugal
E que neste chão bagual
Criaste novo sentido,
E o que além era vendido
Transformou-se aqui num culto
Onde o dinheiro é um insulto
Com violência repelido!

Tenho pra mim que és crioula (4)
Do velho pago infinito
Onde até o índio proscrito
Egresso da sociedade
Na xucra fraternidade
Dos deserdados da sorte
Não respeita nem a Morte,
Mas cumpre a Hospitalidade! (...)


(1)  barbaresco: linguajar típico..
(2)  xucro: rude, indomado.
(3)  redomona: que ainda está sendo domada.
(4)  crioula: regional.

A viagem para Santarém, PA, prometia. Acordei às 03h50 e embarquei no táxi providenciado pelo meu genro Samure às 04h30, pontualmente, como programado. O simpático taxista Régis conduziu-me celeremente até o Aeroporto Salgado Filho. O trânsito, normalmente caótico de nossa querida Porto, as vezes não muito Alegre, nas madrugadas flui tranquilo e rápido.

A minha querida Rosângela já tinha feito o check-in pela internet o que agilizou bastante o embarque. O vôo da TAM partiu exatamente às 06h00, um céu de brigadeiro prenunciava uma viagem sem percalços. Durante o percurso o Comandante avisou que chegaríamos vinte minutos antes do horário. De nada adiantou a pressa, chegando a Guarulhos, SP, tivemos de esperar, na pista, autorização para o desembarque.

Busquei o Portão 9 para minha conexão para Belém, PA, em um enorme corredor que servia de acesso aos Portões de número 1 a 13. O colossal acesso era interrompido, bruscamente, na altura do portão 7A por uma grande porta. Eu estava tentando encontrar o acesso, ao tal Portão 9, quando observei que uma jovem se encontrava na mesma dificuldade que eu e saímos, juntos, em busca de maiores informações. Finalmente fomos avisados de que a tal porta só abriria às 10h00 e aproveitamos o tempo disponível, três horas, para conversar.

A Lisandra é uma destas jovens empreendedoras e simpáticas paraenses que abandonou a terra natal - Santarém - para cursar Nutrição em Belém. O bate-papo foi agradável e o tempo passou rápido. A Lisandra mostrou fotos da família, do seu curso e me conseguiu um contato importante, seu avô Tenório, mora em Prainha, PA, que, certamente, usarei na minha derradeira descida pela Bacia do Amazonas (Santarém/Belém).

Várias pessoas chegavam ao final do corredor totalmente perdidas, como nós anteriormente, e procurávamos orientá-los, a Lisandra só deixava comigo quando se tratava de um “hermano” falando castelhano. A urbanidade e educação desta pequena paraense ficaram, mais uma vez, patentes quando se aproximou um casal de idosos, levantei-me, imediatamente, para ceder o assento ao ancião, e ao olhar para o lado verifiquei que minha gentil amiga já oferecia o seu lugar à senhora que o acompanhava.

-  Um Viktor Navorski no Val-de-Cans

O nome Val-de-Cans aparece nos documentos desde a medição e demarcação de légua patrimonial do Conselho do Senado e da Câmara de Belém com data de 20 de agosto de 1703. Sabe-se também que o nome Val-de-Cans, como de outras cidades, originou-se de uma região localizada em Portugal. A fazenda Val-de-Cans foi deixada em testamento por D. Maria Mendonça aos padres Mercedários em 1675. Posteriormente, por Carta Régia de 1798 foi autorizado o sequestro e venda dos bens dos padres, logo após comercializado por terceiros. (Fonte: Infraero)

Cheguei ao Aeroporto Val-de-Cans de Belém, PA, às 14h26, aguardava-me uma longa espera pois meu vôo para Santarém só partiria às 23h40. Na área de desembarque procurei me informar com uma gentil senhora que ali trabalhava e, novamente, a cortesia paraense se manifestou. Ficamos um longo tempo conversando sobre a região e a viagem que ela estava programando ao Sul para visitar a Serra Gaúcha, o Uruguai e a Argentina. O paraense em especial e o nortista em geral esbanjam simpatia, ao contrário de nós sulistas citadinos, geralmente fechados, ensimesmados, aproximando-se das pessoas com seu sorriso farto e coração aberto.

Quem não assistiu o filme “O Terminal” no qual Tom Hanks protagonizando o personagem Viktor Navorski, um cidadão da Europa Oriental em viajem à Nova York, que tem seu passaporte invalidado em decorrência de um golpe de estado no seu país. Viktor, impedido de entrar nos Estados Unidos e sem poder retornar à sua terra natal, em virtude do golpe de estado, passa seus dias de asilo no próprio aeroporto à espera de uma solução, neste período ele vai vivenciando e participando ativamente das complexidades do mundo do Terminal onde está preso.

Eu, depois de algum tempo, comecei a me sentir um Viktor Navorski os funcionários e trabalhadores já me cumprimentavam com um grande sorriso e cheguei a auxiliar o pessoal de terra indicando aos passageiros desorientados as escadarias de acesso ao Terminal Remoto Doméstico, próximo ao Portão número 1 onde me encontrava.

Telefonei para o Comandante do 8º BEC Coronel Sérgio Codelo informando-o do andamento da viagem e o caro amigo disse que estaria me aguardando no aeroporto. Tentei demovê-lo mostrando que só chegaria por volta da 00h59, mas ele, com a fidalguia azul turquesa de sempre, disse que fazia questão.

-  Chegada na Pérola do Tapajós

A chegada do vôo, mais uma vez foi antecipada, desta feita apenas três minutos, e chegamos à nossa querida Santarém onde fomos recepcionados pelo Coronel Codelo um paulista de boa cepa.


------------------------------------------------------------------------------------

Nenhum comentário:

Postar um comentário