Rumo ao Tapajós
Hiram
Reis e Silva, Santarém, Pará, 06 de outubro de 2013.
Hospitalidade
(Jayme Caetano Braun)
No linguajar barbaresco (1)
E xucro (2) da minha
gente
Teu sentido é diferente,
Substantivo bendito,
Pois desde o primeiro grito
De “o de casa” dado aqui,
O Rio Grande fez de ti
O mais sacrossanto rito!
Não há rancho miserável
Da nossa terra querida,
Onde não sejas cumprida
No mais campeiro rigor,
Porque Deus Nosso Senhor
Quando te botou carona,
Já te largou redomona (3)
Sem baldas de crença ou cor!
Dizem uns, que te trouxeram
De Espanha e de Portugal
E que neste chão bagual
Criaste novo sentido,
E o que além era vendido
Transformou-se aqui num culto
Onde o dinheiro é um insulto
Com violência repelido!
Tenho pra mim que és crioula (4)
Do velho pago infinito
Onde até o índio proscrito
Egresso da sociedade
Na xucra fraternidade
Dos deserdados da sorte
Não respeita nem a Morte,
Mas cumpre a Hospitalidade! (...)
(1)
barbaresco:
linguajar típico..
(2)
xucro:
rude, indomado.
(3)
redomona:
que ainda está sendo domada.
(4)
crioula:
regional.
A viagem para Santarém, PA,
prometia. Acordei às 03h50 e embarquei no táxi providenciado pelo meu genro
Samure às 04h30, pontualmente, como programado. O simpático taxista Régis
conduziu-me celeremente até o Aeroporto Salgado Filho. O trânsito, normalmente
caótico de nossa querida Porto, as vezes não muito Alegre, nas madrugadas flui
tranquilo e rápido.
A minha querida Rosângela já tinha
feito o check-in pela internet o que agilizou bastante o embarque. O vôo da TAM
partiu exatamente às 06h00, um céu de brigadeiro prenunciava uma viagem sem
percalços. Durante o percurso o Comandante avisou que chegaríamos vinte minutos
antes do horário. De nada adiantou a pressa, chegando a Guarulhos, SP, tivemos
de esperar, na pista, autorização para o desembarque.
Busquei o Portão 9 para minha
conexão para Belém, PA, em um enorme corredor que servia de acesso aos Portões
de número 1 a 13. O colossal acesso era interrompido, bruscamente, na altura do
portão 7A por uma grande porta. Eu estava tentando encontrar o acesso, ao tal Portão
9, quando observei que uma jovem se encontrava na mesma dificuldade que eu e
saímos, juntos, em busca de maiores informações. Finalmente fomos avisados de
que a tal porta só abriria às 10h00 e aproveitamos o tempo disponível, três
horas, para conversar.
A Lisandra é uma destas jovens
empreendedoras e simpáticas paraenses que abandonou a terra natal - Santarém -
para cursar Nutrição em Belém. O bate-papo foi agradável e o tempo passou
rápido. A Lisandra mostrou fotos da família, do seu curso e me conseguiu um
contato importante, seu avô Tenório, mora em Prainha, PA, que, certamente,
usarei na minha derradeira descida pela Bacia do Amazonas (Santarém/Belém).
Várias pessoas chegavam ao final do
corredor totalmente perdidas, como nós anteriormente, e procurávamos
orientá-los, a Lisandra só deixava comigo quando se tratava de um “hermano” falando castelhano. A
urbanidade e educação desta pequena paraense ficaram, mais uma vez, patentes
quando se aproximou um casal de idosos, levantei-me, imediatamente, para ceder
o assento ao ancião, e ao olhar para o lado verifiquei que minha gentil amiga
já oferecia o seu lugar à senhora que o acompanhava.
- Um Viktor Navorski no Val-de-Cans
O nome Val-de-Cans aparece nos
documentos desde a medição e demarcação de légua patrimonial do Conselho do
Senado e da Câmara de Belém com data de 20 de agosto de 1703. Sabe-se também
que o nome Val-de-Cans, como de outras cidades, originou-se de uma região
localizada em Portugal. A fazenda Val-de-Cans foi deixada em testamento por D.
Maria Mendonça aos padres Mercedários em 1675. Posteriormente, por Carta Régia
de 1798 foi autorizado o sequestro e venda dos bens dos padres, logo após
comercializado por terceiros. (Fonte: Infraero)
Cheguei ao Aeroporto Val-de-Cans de
Belém, PA, às 14h26, aguardava-me uma longa espera pois meu vôo para Santarém
só partiria às 23h40. Na área de desembarque procurei me informar com uma
gentil senhora que ali trabalhava e, novamente, a cortesia paraense se manifestou.
Ficamos um longo tempo conversando sobre a região e a viagem que ela estava
programando ao Sul para visitar a Serra Gaúcha, o Uruguai e a Argentina. O
paraense em especial e o nortista em geral esbanjam simpatia, ao contrário de nós
sulistas citadinos, geralmente fechados, ensimesmados, aproximando-se das
pessoas com seu sorriso farto e coração aberto.
Quem não assistiu o filme “O
Terminal” no qual Tom Hanks protagonizando o personagem Viktor Navorski,
um cidadão da Europa Oriental em viajem à Nova York, que tem seu passaporte
invalidado em decorrência de um golpe de estado no seu país. Viktor, impedido
de entrar nos Estados Unidos e sem poder retornar à sua terra natal, em virtude
do golpe de estado, passa seus dias de asilo no próprio aeroporto à espera de
uma solução, neste período ele vai vivenciando e participando ativamente das
complexidades do mundo do Terminal onde está preso.
Eu, depois de algum tempo, comecei a
me sentir um Viktor Navorski os funcionários e trabalhadores já me cumprimentavam
com um grande sorriso e cheguei a auxiliar o pessoal de terra indicando aos
passageiros desorientados as escadarias de acesso ao Terminal Remoto Doméstico,
próximo ao Portão número 1 onde me encontrava.
Telefonei para o Comandante do 8º
BEC Coronel Sérgio Codelo informando-o do andamento da viagem e o caro amigo disse
que estaria me aguardando no aeroporto. Tentei demovê-lo mostrando que só
chegaria por volta da 00h59, mas ele, com a fidalguia azul turquesa de sempre,
disse que fazia questão.
- Chegada na Pérola do Tapajós
A chegada do vôo, mais uma vez foi
antecipada, desta feita apenas três minutos, e chegamos à nossa querida
Santarém onde fomos recepcionados pelo Coronel Codelo um paulista de boa cepa.
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