Itaituba/Aveiros
Hiram Reis e Silva, Aveiros, Pará, 30 de outubro de
2013.
Tarde
Santarena
(Juliane Oliveira)
São inúmeras as músicas que embalam
o amor dos santarenos pela Pérola do Tapajós. Algumas delas falam das praias,
do encontro das águas, dos pescadores, dos casais de namorados e por aí vai.
Outras falam da sua fauna e flora. Não precisa ser muito sensível ou mesmo
inspirado pra fazer poesia para a terra que é banhada pelo verde-esmeralda do
Tapajós e cobiçada pelo barrento Rio Amazonas.
– 21.10.2013 – Itaituba/Tabuleiro Monte Cristo
A fidalga e pronta recepção por parte do 53º
Batalhão de Infantaria de Selva (53º BIS), capitaneado interinamente pelo Major
Paulo Correia Lima Neto foi providencial. O pernoite, nas impecáveis
instalações da Área de Lazer dos Oficiais, de quinta a domingo permitiu-nos
recompor as energias e recuperar a musculatura. O recompletamento do
combustível da lancha de apoio, por sua vez, garantiu-nos a possibilidade de dar
continuidade à nossa jornada. Infelizmente, apesar de procurar o Major Correia
Lima na sua residência em duas oportunidades, não consegui encontrá-lo para
agradecer em meu nome, de minha equipe e do DCEx.
Alvorada às 05h00 e partida às 05h40. O
deslocamento que fizéramos anteriormente do Tabuleiro Monte Cristo até Itaituba
fora extremamente cansativo, por isso, resolvemos partir cedo. Quando o sol
surgiu preguiçosamente na margem Oriental já tínhamos remado uma hora. Um dia
ameno, uma suave brisa refrescava nossos corpos extenuados e vez por outra uma
nuvem providencial atenuava os causticantes raios solares. Chegamos ao
Tabuleiro pouco depois do meio-dia, três horas menos do que levamos, no dia 17,
para percorrer a mesma distância no sentido inverso. Embora navegar contra a
corrente pudesse justificar essa diferença temos de considerar que o Tapajós em
virtude da estiagem pouca ou nenhuma influência tem em relação ao deslocamento Rio
acima, o que realmente prejudicou nossa progressão anterior foi o terrível
calor e a ausência de ventos e nuvens que amortecessem estes efeitos.
Paramos novamente nas instalações do IBAMA
(Tabuleiro Monte Cristo). Infelizmente, apenas três tartarugas tinham realizado
a postura, não seria desta vez que conseguiríamos apreciar a desova das enormes
tartarugas amazônicas (Podocnemis expansa). Estávamos descansando nas
confortáveis instalações do “Lar das
Tartarugas” quando observamos a “Expedição
Tapajós – 2013” de caiaques subindo o Rio. Um grupo de veteranos estrangeiros
alemães estava subindo até o Salto São Luís. Espero que não seja mais um grupo
de ativistas manifestando-se contra a construção da hidrelétrica de São Luís do
Tapajós, que junto com outras quatro faz parte do Complexo Tapajós, tão
necessária ao desenvolvimento da região e do país.
– Amazônica Intocável
A polêmica em relação à construção das
hidrelétricas por parte de manifestantes que defendem que a Amazônia deva
permanecer intocável é um sofisma primário que não encontra amparo lógico nem
na história da humanidade e muito menos no bom senso. É interessante verificar
que todos estes militantes estrangeiros são oriundos de países que cometeram e
ainda cometem os maiores desatinos ambientais do planeta e que em vez de
cobrarem de seus próprios governos medidas corretivas em relação à poluição e
recuperação de áreas degradadas de seus países surgem na “terra brasilis” como insanos arautos do apocalipse ambiental
demonizando os brasileiros em geral e os amazônidas em particular.
Uma vez indaguei a um deles qual seria então alternativa
energética proposta e o astuto germânico prontamente respondeu – energia
nuclear. Logicamente o Brasil deveria comprar os equipamentos de sua querida
Alemanha que dominava todas as fases desse tipo de geração – legítimos talibãs
verdes a soldo e a serviço de grandes corporações.
– Madrugando no Passado
Quantas vezes nós mesmos volvemos os olhos
para o distante pretérito em busca das mais gratas recordações. Como seria bom
que o tempo parasse, estacionasse em uma das melhores fases de nossas vidas,
mas, seria este também o melhor tempo dos outros indivíduos?
Lembro quando acompanhava o velho Cassiano,
meu saudoso e honorável pai, desde os seis anos de idade, nas pescarias em
açudes de meu querido Rosário do Sul, RS. Era um evento formidável, memorável
mesmo, partíamos de caminhão, amigos, parentes, assador (Seu Felipe), duas
ovelhas vivas, lenha, barco, tralhas de acampamento e pescaria e uma velha
cambona preta. A cambona era feita de uma velha lata de óleo com alça de arame
e era colocada diretamente no braseiro para aquecer a água do chimarrão.
Durante o dia o pequeno piá Hiram se divertia
pescando lambaris com sua tarrafinha que eram usados, mais tarde, no espinhel
para pegar as cobiçadas traíras e jundiás. À noite caçava pirilampos que
soltava na barraca fechada transformando-a numa mágica miniatura da abóboda
celestial salpicada de pulsantes estrelas cor de esmeralda. Bons momentos,
talvez dignos de um congelamento temporal.
Lembro, porém, que, na mesma época, a viagem
de Porto Alegre a Rosário, no inverno era uma verdadeira odisseia. A estrada de
chão esburacada apresentava um obstáculo por vezes intransponível – o temível
banhado do Inhatium. Deveríamos ficar reféns eternos do ameaçador estorvo?
Rosário era na época abastecido por uma termoelétrica que, quando estava
funcionando, fazia as luzes pulsarem e os poucos eletrodomésticos pifarem.
Continuaríamos para sempre satisfeitos com este tipo de fornecimento. Parece
que não!
O problema é que estes problemas nos afetam
diretamente. É diferente quando estas dificuldades dizem respeito aos
habitantes dos ermos dos sem fim – os amazônidas. É fácil fazer propostas que
embarguem o desenvolvimento e tragam mais conforto para estas populações quando
não somos diretamente atingidos. Esquecem, porém, os “talibãs verdes” que não existe desenvolvimento sem energia e que
não se faz “omelete sem quebrar ovos”.
As minas de Juriti e Porto Trombetas precisam
de muita energia para transformar a bauxita em alumínio ou será que somos
incapazes de alterar nossa destinação histórica subserviente de exportar
minério bruto e importar o produto final dos países desenvolvidos.
– 22.10.2013 – Tabuleiro Monte Cristo/Aveiros
Resolvemos ir até Aveiros, mais de 72 km em
linha reta, 76 km de percurso, desde o Tabuleiro, e partimos às 05h30.
Atingimos Fordlândia às 09h00 e aproamos decididamente rumo a Aveiros. O tempo
colaborou até atingirmos a Praia do Tecaçu por volta das 12h40. Daí em diante até
nosso destino final, onde aportamos, cansados, às 15h40, o sol castigou-nos
impiedosamente. Em Aveiros, o Marçal foi para sua casa e eu e o Mário nos
instalamos em um hotel da cidade com ar-condicionado.
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