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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Rumo à Nova Aripuanã, AM

Rumo à Nova Aripuanã, AM


Só se pode amar as coisas que se conhece e entende... Só lutamos e defendemos o que amamos. (Thiago de Mello – Poeta Amazonense)

-  Passagem por Marmelos (31.12.2011/01.01.2012)

Nossa passagem pelo Rio Marmelos teve muitos significados importantes. Além de transpormos as fronteiras físicas de dois municípios, Humaitá e Manicoré, rompemos a barreira cronológica de 2011 para 2012, encerramos as homenagens aos 40 anos do 2° Grupamento de Engenharia, Grupamento Rodrigo Octávio e iniciamos nosso preito aos 100 anos do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA). Meu filho João Paulo, que me acompanha neste périplo, é, por enquanto, o último de três gerações de “Reis e Silva” que vibraram e se emocionaram percorrendo as históricas arcadas do Velho Casarão da Várzea. Meu pai, Cassiano Reis e Silva, da turma de 1939, foi aluno da então Escola Militar de Porto Alegre, local em que eu e meus dois irmãos estudamos, nas décadas de 60/70, e em que, mais tarde, passaram meus três filhos, na década de 90 e na primeira década da virada do século. Praticamente, de vinte em vinte anos um “Reis e Silva” se fazia presente no CMPA, por isso recorri ao número 20, seguido de dois zeros para determinar a extensão de minha jornada. Esta descida de 2.000 quilômetros, a mais longa de todas até agora, reflete o meu reconhecimento aos queridos mestres e ao Velho Casarão que orientaram meus passos desde a adolescência e me encaminharam, adulto, vitorioso e virtuoso, para a Academia Militar das Agulhas Negras. Lá, dizia o Capitão Camargo, Comandante da 2ª Companhia do Curso Básico, os instrutores não estavam para “corrigir defeitos, mas para aprimorar virtudes”.
Meu querido CMPA, tenhas a certeza de que cada gota de suor derramado no Rio Madeira ou no Rio Amazonas, cada contração muscular, cada regozijo ou dor fazem-me vibrar de emoção porque cada um deles representa uma humilde oferenda por tudo que tu representas para mim, para meus familiares e para o Brasil. Zum zaravalho!!!

-  Última Noite em Manicoré (06.01.2012)

A distância que nos separava do próximo alvo, Nova Aripuanã, era de 150 quilômetros. No planejamento inicial, eu previra três dias; o que se alcançaria com muita folga, decidi fazer em dois - o primeiro lance em torno dos 85 km, e o segundo, dos 65 km. Na véspera da partida, dia seis de janeiro, mostrei ao Comandante Mário nosso objetivo intermediário, a foz do Rio Mataurá. Pela imagem do Google Earth, era um belo rio de águas limpas que se chocava com as barrentas do Madeira, proporcionando um breve e curioso encontro das águas. Combinei com nosso caro amigo e repórter Walter Filho, da Globo, que estaríamos em condições de sair a partir das cinco horas da manhã, condicionando a largada aos primeiros raios de luz, já que a jornada era muito longa.

-  Partida de Manicoré (07.01.2012)

Resolvi dormir embarcado para não atrasar a saída. A sinfonia noturna foi muito ruidosa e meu sono por demais entrecortado; arrependi-me de não ter permanecido no Hotel dos irmãos Macaxeiras, por mais uma noite. Uma das pequenas pererecas mais parecia uma velha e barulhenta furadeira, cheguei a sonhar com alguém furando um piso de granito. Acordei às 04h40 e resolvi me equipar silenciosamente. Às cinco horas toquei alvorada e no mesmo instante visualizei a silhueta do Walter descendo a enorme escadaria de madeira que dava acesso à embarcação. Pela primeira vez, pude constatar um repórter britanicamente pontual. Os poucos dias de convivência com o Waltinho, como carinhosamente o chamam, mostraram o quanto ele ama o que faz e o seu alto grau de profissionalismo e perfeccionismo.

Colocamos o caiaque n’água e remei um pouco para montante e depois ao sabor da corrente, sob o holofote do Piquiatuba, para que o Walter fizesse sua última tomada da matéria. Retornei para despedir-me do caro amigo de Manicoré e remei forte rumo ao Mataurá. Tinha remado alguns quilômetros quando o João Paulo resolveu me acompanhar, acordar cedo nunca foi seu forte. Nas primeiras duas horas a neblina reduzia a visibilidade a uns 800 metros, o tempo foi melhorando e mantivemos um ritmo forte e sem paradas, a hidratação e alimentação no percurso foi feita embarcada. Pouco antes de abordarmos a foz do nosso alvo observamos um bando de urubus sobre algumas árvores à flor d’água, resolvi me aproximar, para averiguar, e avistei um jacaré-açu de uns quatro metros e meio sendo devorado pelos funestos carniceiros. Chegamos à foz do Mataurá, por volta das 11h30, depois de remar 85 km sem parar, a uma média de 13,5 km/k. As águas eram muito limpas e o local bastante agradável, ouvimos ao longe um foguetório que anunciava que a Comunidade Maravilha estava em festa, afinal era sábado. O leiloeiro do evento, conhecido como “Jabá” veio, gentilmente com seus familiares, até o Piquiatuba convidar a tripulação para participar dos festejos, que incluíam jogos, leilões e naturalmente um animado forró.

-  Partida de Mataurá (08.01.2012)

O lance era mais curto, aproximadamente de 65 km, mas resolvi sair cedo aproveitando a lua. Logo na saída da foz do Mataurá o Rio inflete para a esquerda num ângulo de 90° ao mesmo tempo em que se comprime entre as margens aumentando sensivelmente a correnteza e provocando redemoinhos e banzeiros já que as ondas, acompanhando a corrente, se chocam contra o enorme barranco e retornam provocando um perigoso turbilhonamento. Felizmente ninguém resolvera me acompanhar, de caiaque, logo cedo, eu precisava, nesta hora, de toda a atenção concentrada no meu deslocamento apenas. O fétido jacaré-açu morto que encontráramos, na véspera, estava descendo o rio, felizmente minha velocidade era bem maior e logo me vi livre do ar nauseabundo que o cercava.

A meio caminho, uma voadeira veio na minha direção, seus tripulantes tinham participado dos folguedos da Comunidade Maravilha e estavam curiosos a respeito de minha viagem, respondi às suas perguntas e continuei, célere, minha jornada. O Comandante Mário resolveu me acompanhar em dois trechos, a velocidade agora oscilava entre 15 e 16 km/h, ele precisou voltar ao Piquiatuba por duas vezes tendo em vista que alguns locais exigiam cautela redobrada na condução do barco a motor. Chegamos à Nova Aripuanã exatamente às dez horas, depois de 4h30 de navegação. Havíamos quebrado nosso recorde de velocidade média, atingimos 14,44 km/h. Brinquei com meu filho e a tripulação que nesta etapa não dera tempo nem mesmo de aquecer o corpo, tão rápido fora o deslocamento.

-  Nova Aripuanã (08.01.2012)

Depois do almoço procuramos a Polícia Militar que nos indicou o Hotel do Tio Zé para nos hospedarmos. Mais tarde, seguindo a orientação do Walter Filho, procuramos o Ir:. Newtinho (Newton Aroucha Filho), no seu Posto de Combustível. O Newtinho contatou o Prefeito que, imediatamente, nos procurou e nos levou até um encontro das 32 Comunidades da Reserva Juma, coordenado pela Amarjuma que estava acontecendo na cidade. O Prefeito Aminadab Meira de Santana foi interpelado sobre diversas questões como educação, merenda escolar, saúde e transporte e a todas respondeu com muita serenidade. A administração esta conseguindo recursos através de créditos de carbono que deverão dobrar o orçamento da Prefeitura para o ano que vem. Aminadab Santana prometeu aplicar 90% destes recursos na área rural.

-  Nova Aripuanã (09/10.01. 2012)

Logo de manhã acompanhamos o Prefeito Aminadab nas suas andanças pela cidade, tomamos o café na sua residência, visitamos a Prefeitura e as Secretarias, onde pudemos observar a falta de comprometimento com o trabalho por parte da maioria de seus Secretários, forçando o Prefeito a intervir em questões inerentes a cada uma das pastas.




Um comentário:

  1. S.'. F.'. U.'. Meu nobre Ir.'. começo minhas palavras com algo que necessitamos profundamente em nossas vidas, tenho ciência que vós sabeis o que diz esta frase, muito me alegra saber que existem pessoas como vós, capaz de se sacrificar por uma cousa nobre "o conhecimento" que Deus em sua plenitude lhe conseda forças para que possas obter progresso nessa caminha. T.'. F.'. A.'.

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