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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ferrovia do Diabo (Capítulo IX)

Madeira-Mamoré
Ferrovia do Diabo (Capítulo IX)


Seus trilhos são de ouro e cada dormente representa uma vida humana. (Anônimo)

Alguém querendo criar uma frase de efeito teria dito a célebre frase “seus trilhos são de ouro e cada dormente representa uma vida humana” e a partir de então este falso chavão vem sendo repetido por populares e intelectuais descuidados. Na verdade uma breve análise dos fatos mostraria que a famosa expressão não tem nenhum fundamento. Infelizmente são diversas as citações de autores nacionais e estrangeiros que buscaram amparo na falaciosa frase ao longo da história brasileira e a revigoraram.

-  Seus Trilhos são de Ouro

Considerando o câmbio da época, com 62.000 contos de réis podiam-se adquirir 28 toneladas de ouro. Desde que os trilhos pesavam 25 quilos por metro, chegamos à conclusão de que se os trilhos fossem de ouro, com as 28 toneladas deste metal, ter-se-iam 1.120 metros. Dividindo-se por dois (logicamente os trilhos são colocados aos pares), teríamos uma extensão de 560 metros de ferrovia, com trilhos de ouro. Entretanto, a extensão da Estrada é de 366.000 metros. (Manoel Rodrigues Ferreira)

-  Cada Dormente Representa uma Vida Humana

Em 1942, o Sr. João da Costa Palmeira, no seu livro “Amazônia”, disse:

Cada dormente representa uma vida que ali se extinguiu, tal foi o tributo pago pelos trabalhadores, em geral nordestinos, que ali ultimaram seus dias.

Em 1959, o Sr. Benigno Cortizo Bouzas, no seu livro “Del Amazonas al Infinito”, afirmou:

Se dice que hubo tantos muertos como traviesas tiene la via.

A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré tinha uma extensão de 366 km, considerando que em cada quilômetro foram assentados 1.500 dormentes chegaremos, sem grandes dificuldades, a um total de 549.000 dormentes. Teriam, realmente morrido 549.000 trabalhadores na sua construção? O relatório da Companhia especifica o número total de operários “importados” e o número de óbitos desde o início das obras até a sua conclusão conforme o quadro abaixo:

Ano
Operários
Óbitos
1907
446
6
1908
2.450
65
1909
4.500
425
1910
6.024
428
1911
5.664
419
1912
2.733
209
Total
21.817
1.552

Evidentemente a estatística da companhia só contempla aqueles que morreram no Hospital de Candelária. Não aparecem nestas cifras os que faleceram depois de abandonarem Santo Antônio e Porto Velho em trânsito para Manaus, em Belém, ou nos seus países de origem. Consideramos razoável estabelecer que este número seja três vezes maior do que o admitido pela construtora. Multiplicando por quatro o total do relatório vamos chegar a 6.208 óbitos muito longe do número de dormentes assentados na ferrovia cuja estimativa é de 549.000. Os óbitos, evidentemente, continuam a ocorrer depois da conclusão das obras, mas em número bem mais reduzido tendo em vista a melhoria das condições sanitárias da região, das melhores condições de trabalho e dos melhores recursos de profilaxia das doenças.



Fonte: FERREIRA, Manoel Rodrigues – A Ferrovia do Diabo – Brasil – Edições Melhoramentos, 1959.


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