Partida para Nova Olinda do Norte, AM
É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias,
mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito,
que nem gozam muito, nem sofrem muito,
porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota.
(Theodore Roosevelt)
A distância de Nova Olinda do Norte era, pelo Google Earth, de pouco mais de 90 quilômetros . No planejamento inicial eu previra dois dias de deslocamento, mas decidi fazer em um dia contanto com o tempo bom e a velocidade da correnteza.
- Partida de Borba, AM (14.01.2012)
O João Paulo apareceu, de madrugada, dizendo que tinha sido convidado por alguns novos amigos para um churrasco e que pretendia ficar mais um dia em Borba. Parti um tanto preocupado, deixando meu filho para trás. Lancei-me às águas, como o programado, por volta das 5h15, pronto para enfrentar o mais longo desafio do Rio Madeira, eu estava otimista, a primeira hora foi alvissareira, águas de Almirante, suave brisa e águas rápidas.
Depois de remar 15 km , minha proa apontou para enormes e carregadas nuvens negras no horizonte. A chuva começou pela margem esquerda e logo me atingiu por rajadas de vento de até 40 km por hora, uma chuva forte acompanhada dos inevitáveis “banzeiros”. As ondas não ultrapassaram os 60 cm , mas resolvi navegar próximo da margem direita já que a visibilidade fora reduzida a uns 300 metros . O esforço agora era considerável, em virtude dos ventos de proa, torci para que o tempo melhorasse para não comprometer minha programação. O objetivo seria alcançado de qualquer maneira, fui doutrinado, na Academia Militar das Agulhas Negras, para não entregar os pontos e forçar coração, nervos, músculos, tudo, para atingir o alvo. Os óbices acontecem, mas devem ser encarados com naturalidade e ultrapassados com coragem e determinação, sempre mantendo o “foco” no objetivo a ser atingido.
Depois de navegar, aproximadamente 20 km , o Soldado Walter Vieira Lopes (Sub-comandante do B/M Piquiatuba) resolveu acompanhar-me no caiaque do Mestre José Holanda. Durante a primeira hora o Vieira Lopes dominou a arte da canoagem como bom marujo que é, enfrentando fortes ondas de proa e de través. As ondas acalmaram, o vento diminuiu consideravelmente, e como ele estivesse à minha frente gritei para que ele aproasse a jusante de uma ilha à nossa frente, o Vieira Lopes girou o corpo para me ouvir melhor e virou o caiaque. Depois de tentar diversas vezes subir sem sucesso no caiaque resolvi rebocá-lo até a margem. Foi uma progressão lenta, difícil e cansativa até uma margem repleta de canaranas. Viera Lopes retirou a água do caiaque e partiu célere para a margem direita do Rio. Somente depois de ultrapassarmos as pequenas ilhas avistamos o Piquiatuba comandado pelo Soldado Mário Elder Guimarães Marinho (Comandante do B/M Piquiatuba). Fui até a embarcação colocar uma camisa seca e renovar meu estoque de água de coco. O Vieira Lopes continuou mais um pouco e foi substituído, no caiaque, pelo Soldado Marçal Washington Barbosa Santos (Cozinheiro do B/M Piquiatuba).
Novamente a maestria dos nossos marujos na condução de uma embarcação a que não estavam absolutamente acostumados ficou patente. Faltavam apenas 26 km e resolvi imprimir um ritmo forte até Nova Olinda acompanhado a par e passo pelo Marçal. Há uns dez quilômetros de distância da cidade o Marçal comentou sobre a ausência dos golfinhos (botos e tucuxis) no Baixo Madeira e, logo em seguida, como para atender a seu apelo, apareceram cinco enormes botos vermelhos. Os belos mamíferos aquáticos evoluíam muito próximos dos caiaques, por vezes nos assustando e nos acompanharam até as cercanias da cidade.
- Chegada em Nova Olinda do Norte, AM (14.01.2012)
Chegamos às das 12h55 depois de navegar 93 km em 7h40 a uma média próxima dos 12 km/h . O Mário ancorou no Porto do DNIT e conseguiu autorização do funcionário Charles Christian Sales para que ali permanecêssemos até segunda de manhã.
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