Missão dada é Missão Cumprida!
Hiram
Reis e Silva, Rio Branco, Acre, 06 de dezembro de 2012.
É muito melhor arriscar
coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se à derrota, do
que formar fila com os pobres de espírito, que nem gozam muito, nem sofrem
muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem
derrota. (Theodore Roosevelt)
- Descida do Juruá
Quando
aceitamos o grande Desafio de descer o mais sinuoso Rio do Planeta – o Rio
Juruá – desde a Foz do Breu na fronteira peruana até Manaus reconhecendo também
uma extensão de 50 a
400 km dos
principais afluentes de sua Bacia, colocamos como impositivos dois pontos:
- Passarmos à disposição do Comando Militar da
Amazônia (CMA) pelo período de 13 meses;
- Conseguirmos recursos institucionais para
viabilizar uma complexa expedição a remo numa extensão de aproximadamente 5.000 km nestes ermos sem
fim.
O
CMA imediatamente viabilizou nossa primeira pretensão, a segunda, porém,
esbarrou em um bastião quase intransponível – a Burocracia da máquina pública
tão assolada por desvios e irregularidades. Apesar da extrema boa vontade dos
titulares de todas as organizações consultadas não se conseguiu vencer os
óbices legais. Contando com estes recursos adquirimos equipamentos eletrônicos
necessários para realizar um reconhecimento de engenharia da Bacia Juruá, visando:
a) corrigir distorções dos Mapas do
IBGE e Multimodais do DNIT no que se refere à localização e/ou denominação de
Comunidades Ribeirinhas e da fisiografia (Ilhas, Rios, igarapés, Lagos...);
b) verificar as condições dos Portos
Hidroviários e se os mesmos atendem à demanda atual;
c)
verificar
a necessidade de implementação de alterações nos projetos dos Portos
Hidroviários existentes;
d) verificar a necessidade da
construção de novos Portos Hidroviários;
e) identificar possíveis obstáculos à
navegação e apontar as medidas necessárias à sua remoção;
f)
Apresentar
ao final da expedição um relatório detalhado das observações realizadas e apontar
as medidas a serem adotadas.
As
despesas decorrentes dos equipamentos adquiridos e do deslocamento de uma
equipe, mesmo sob regime espartano, durante cinco ou seis meses percorrendo
tortuosos meandros de um curso d’água em uma região bastante agreste e desabitada
são consideráveis.
- Sina de um Bandeirante
Ser bandeirante é deixar
atrás a casa e família, o bem estar e a segurança, para perseguir o sonho e
tentar a casa da glória, é viver silencioso e otimista na brenha onde não há
rumos, no campo onde não há divisas, estremecer às vezes de febre, mas nunca
tremer de medo, é sofrer com alegria o sol dos chapadões e resistir sem queixa
nos aguaceiros de dezembro, é combater no varejo as cachoeiras e investir, de
simples facão à cinta, contra a floresta. (Gofredo T. da Silva Teles)
Infelizmente,
os recursos esperados ainda se encontram na fase da promessa, o caiaque e a “voadeira” de apoio ainda não chegaram a
Cruzeiro do Sul, AC, estão armazenados no 5º BEC, em Porto Velho , RO.
Decidimos, ainda assim, encarar o desafio de qualquer maneira mesmo levando em
conta as dificuldades adicionais proporcionadas pela falta de aporte
financeiro. Vamos tentar buscar suporte junto às autoridades de Cruzeiro do
Sul, quem sabe? Se não conseguir pagarei o transporte das embarcações para
Cruzeiro do Sul de meu próprio bolso como fiz com as passagens da equipe de
apoio, o que mais se pode fazer?
As
dificuldades da prestação de contas de Expedição exploratórias por lugares
remotos deveriam encontrar o devido amparo em Lei. Como posso exigir
de um ribeirinho a Nota Fiscal de um cacho de banana ou de um bocado de farinha
produzida no seu roçado? Como proceder ao adquirir o combustível na barranca do
Rio ou pagar o conserto do equipamento danificado?
A
impossibilidade de prestar contas de despesas sem documentos que as comprovem
foi, desde o início, o grande embaraço que impediu que recebemos os recursos
prometidos. Felizmente conseguimos, mais uma vez o apoio de velhos e novos
investidores que minimizaram, um pouco, nossa angústia.
É
interessante observar que as pessoas se surpreendem com nossas infindas
jornadas pelos imensos caudais amazônicos sem se dar conta de que a fase mais
difícil, mais complexa e que exige mais esforço é a que antecede a expedição. Afastar-me
por cinco ou seis meses de casa deixando uma esposa acamada que necessita
cuidados especiais 24 horas por dia, falta de recursos financeiros, dificuldade
para o transporte das embarcações e tantos outros itens que não cabe aqui
enumerar representam, sem dúvida a fase mais estressante da jornada.
A
era das Expedições e das Bandeiras parece ter findado. Minha aflita alma de
desbravador sente uma dor infinda. Poderíamos hoje reverenciar a memória de
tantos naturalistas e pesquisadores de outrora se estes encontrassem idênticas
dificuldades pecuniárias? Teriam os Chefes das Comissões de Limites de outrora,
Barão de Tefé, Thaumaturgo de Azevedo, Cunha Gomes e tantos outros conseguido
cumprir sua missão se precisassem realizar licitações para comprar ou consertar
seus equipamentos e embarcações ou adquirir gêneros para sua tropa? Teria nosso
grande Marechal da Paz – Candido Mariano da Silva Rondon – conseguido implantar
milhares de quilômetros de linhas telegráficas se estivesse sujeito à lei das
licitações? Como aperfeiçoar a cartografia atual sem perambular pelos ermos sem
fim onde não se usa a tal da Nota Fiscal?
Alguns
desavisados sustentam que a tecnologia substituirá definitivamente o trabalho
de campo. Ledo engano, a nomenclatura e a localização exata dos acidentes
naturais e das povoações precisam ser confirmadas “in loco”. Encontrei, nas minhas longas jornadas fluviais,
comunidades a mais de doze quilômetros do local marcado nos mapas do IBGE e
DNIT. Aos céticos eu convido a verificar pessoalmente a cidade de Tamaniquá,
margem direita do Solimões, sete quilômetros a jusante da Foz do Rio Juruá que
nos mapas está representada a montante da dita boca ou ainda a denominação do
Rio Jaquirana como Javari. Vide: http://www.correaneto.com.br/site/espaco/32207
Por
isso nossos mapas institucionais apresentam tantas falhas. Como aperfeiçoá-los
se não se consegue equacionar estes intermináveis problemas burocráticos. Uma
equipe pequena com equipamentos relativamente simples pode corrigir esses
erros, percorrendo trilhas e rios e entrevistando a população local, mas parece
que ao governo só interessam projetos de alto custo desde que possam justificar
seus gastos dentro das normas legais.
- Expedição
Roncador Xingu
Como
era diferente no século passado. Nossos novos bandeirantes eram prestigiados e
recebiam o apoio de um governo cujos olhos miravam o porvir e eram aplaudidos
por uma sociedade esclarecida e engajada.
Vejamos
o caso da Expedição Roncador Xingu cuja partida revestiu-se de toda pompa e circunstância:
Benção da Bandeira Nacional
(07.08.1943)
Fonte: O Estado de São Paulo
Numa
evocação do São Paulo muito antigo, do São Paulo dos séculos XVII e XVIII, dos
bandeirantes que daqui partiam para o alargamento das nossas fronteiras,
realizou-se na manhã de ontem, na Basílica de São Bento, uma significativa
cerimônia junto ao túmulo de Fernão Dias Pais Leme. (...) Manhã de inverno
bandeirante, como que propositadamente encomendada para a evocação da época de
Fernão Dias, de Borba Gato, de Anhanguera: e de outros tantos destemidos filhos
de São Paulo. A Basílica de São Bento, repleta. Pessoas das mais
representativas estiveram presentes a cerimônia da benção do Pavilhão Nacional
que seria entregue ao Tenente-Coronel Mattos Vanique, chefe da Expedição Roncador-Xingu.
(...) Após a missa solene, celebrada no altar-mor da Basílica, foi iniciada a
cerimônia junto ao túmulo de Fernão Dias Pais Leme, onde se encontrava o
Pavilhão brasileiro que damas da sociedade paulistana ofereciam ao
Tenente-coronel Vanique, para levar à expedição que, a exemplo das antigas
bandeiras paulistas, seguirá para a região do Roncador-Xingu. O Pavilhão foi
benzido por Domingos de Silos, o que fez uso da palavra o Sr. Gofredo T. da
Silva Teles. (...) Depois da locução a senhora Raquel Simonsen passou o
pavilhão nacional às mãos do Tenente-Coronel Mattos Vanique. Manifestou-se,
então, o Ministro João Alberto afirmando que aquela bandeira haveria de ser
honrada, uma vez que seria guardada por mãos de homens fortes bravos, que
partiam para o sertão com o intuito de elevar cada vez mais alto o nome de
nossa pátria. O Tenente-Coronel Mattos Vanique encerrou a cerimônia agradecendo
a bandeira ofertada pelas damas paulistas.
- Prossiga na
Missão! (Gen Ex Silva e Luna)
Há mais pessoas que desistem,
do que pessoas que fracassam! (Henry Ford)
O desânimo começava a querer tomar
conta de todo o meu ser quando do longínquo pretérito uma voz tonitruante
vociferou – Prossiga na Missão! Aqueles que me conhecem sabem que desistir
nunca fez parte do meu cotidiano. Se for necessário descerei sozinho os quase 5.000 km que separam a Comunidade
da Foz do Breu, AC, na fronteira com o Peru, de Manaus, AM.
1912
- 3 de outubro: Por ato do Prefeito
Departamental Deocleciano Coelho de Souza Penápolis e “Empreza” passam a se chamar Rio Branco.
1913
- 7 de maio: É instalada uma estação de
Rádio Telegrafia, tirando os acreanos do isolamento total.
- 13 de junho: É criada uma nova
organização ao território, razão da qual é instalado oficialmente o Município
de Rio Branco.
1914
- 7 de janeiro: Primeiras eleições
municipais.
1915
- 1º de maio: É inaugurado o primeiro
grupo escolar da cidade.
1916
- 13 de maio: Inaugurado o serviço de luz
elétrica.
1920
- 1º de outubro: Território do Acre - extinção
do departamento e unificação dos municípios em torno de um só governo, Rio
Branco é escolhida a capital do Território do Acre.
1962
- 15 de junho: A Lei 4070 – eleva o
Território do Acre à categoria de Estado.
Fontes:
ANDRADE, Fernando Moretzsohn de; GUIMARÃES, André
Passos. ACRE. In: Enciclopédia Mirador Internacional. São Paulo: Encyclopædia
Britannica do Brasil Publicações, 1993.
MEIRA, Sílvio de Bastos. A Epopeia do Acre - Brasil -
Rio de Janeiro, 1961 - Ed. Record.
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