Quando surge um problema, você tem duas alternativas - ou fica se lamentando, ou procura uma solução. Nunca devemos esmorecer diante das dificuldades. Os fracos se intimidam. Os fortes abrem as portas e acendem as luzes. (Dalai Lama)
Em mais de uma oportunidade o Coronel de Engenharia Lauro Augusto Andrade Pastor Almeida havia-me perguntado por que eu ainda não resolvera descer os 2.975 km do Rio Juruá. Meu destino e minha meta é, sem dúvida, percorrer todos os grandes afluentes da magnífica Bacia do Rio-mar, mas somente aqueles que têm conhecimento da série de obstáculos que tenho enfrentado para realizar minhas quatro jornadas pelos amazônicos caudais, desde a Descida do Solimões, podem compreender minha relutância neste caso.
Quando apresentei, nos idos de 2008, minha proposta para descer o Rio-mar (Solimões/Amazonas) ao Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), onde sou professor, o Comando, o Corpo Docente e Discente me apoiaram e elaboramos entusiasmados as diretrizes que norteariam este grande projeto multidisciplinar e interdisciplinar com uma face pedagógica bastante definida de total interesse não só para alunos e professores do CMPA, mas para a sociedade brasileira, que discutia e discute seriamente as questões ambientais, indígena e desenvolvimento sustentável da nossa floresta. Cada disciplina apresentou seus objetivos gerais e específicos, o procedimento que eu, como pesquisador, deveria seguir para colher as informações que atendessem plenamente as metas propostas e como estes conteúdos seriam trabalhados em sala pelos alunos do Colégio Militar de Porto Alegre.
Eu pretendia partir de Tabatinga, AM, percorrer todo o Solimões e o Amazonas de caiaque, e chegar a Belém, PA, em quatro meses depois de percorrer aproximadamente 3.300 km . Na época, as Organizações Militares as quais o Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA), está diretamente subordinado, determinaram que eu refizesse meu planejamento e o limitasse ao período das férias escolares. Reprogramei a descida para dois meses com o objetivo de percorrer todo o Rio Solimões nos meses de dezembro e janeiro (Tabatinga/Manaus).
Novamente, minhas expectativas foram frustradas, o escalão superior entendeu que o projeto devesse ser executado apenas durante o mês de férias (janeiro) a que eu tinha direito. Parti em busca de uma alternativa, não tinha nenhum sentido concluir a jornada em Tefé percorrendo apenas metade do Solimões. A solução, finalmente encontrada, com o apoio irrestrito do Comandante do CMPA, meu caro amigo Coronel Paulo Contieri, foi a de pedir rescisão do contrato com o Colégio nos meses de dezembro e janeiro e tentar a recontratação a partir de fevereiro de 2009. Eu sabia que o adicional de salário que percebia como professor do Colégio Militar iria fazer muita falta. As despesas com minha esposa inválida com enfermagem e produtos farmacêuticos eram muito altas, as perspectivas eram extremamente desfavoráveis, mas eu já não podia, absolutamente, recuar.
Foi neste triste momento de desencanto e desânimo que recebi um e-mail de meu velho amigo, General Joaquim Silva e Luna, hoje Chefe do Estado Maior do Exército, no qual ele me incitava com seu lema predileto: “Prossiga na Missão!”. O velho camarada, parceiro de tantos desafios enfrentados na BR 174 (Manaus, AM / Boa Vista, RR), no início da década de 80, me animou com sua lacônica mensagem. Mesmo enfrentando a falta de apoio por parte da Força Terrestre e de patrocínios institucionais consegui, finalmente, cumprir a Missão antes do prazo previsto e com todas as metas alcançadas.
Vento Xucro
(Jayme Caetano Braun)
Vento xucro do meu Pago
Que nos Andes te originas
Quando escuto nas campinas
O teu bárbaro assobio,
E sinto o golpe bravio
Do teu guascaço selvagem
Eu te bendigo a passagem,
Velho tropeiro do frio. (...)
Fiz questão de fazer esse pequeno preâmbulo para revelar alegremente que, hoje, novos e salutares ventos permeiam pelos corredores e gabinetes das Organizações Militares que tratam efetivamente dos assuntos afetos ao Ensino e a Cultura de nosso Exército. O “Vento xucro do meu Pago” rompeu as fronteiras Rio-grandenses e resolveu arejar as instituições de ensino da Força Terrestre mostrando a todos que apenas “Remexendo a cinza quente da nossa História distante” podemos crescer como Nação e para isso temos de nos valer dos pesquisadores. Nosso projeto, finalmente, está sendo tratado como uma pesquisa de interesse da Força Terrestre e, por isso mesmo, minha contratação passou de “Professor”, para “Pesquisador”.
Graças ao apoio irrestrito do Comandante Militar da Amazônia, General de Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, do Chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEX), General de Exército Ueliton José Montezano Vaz e do seu Vice Chefe, General de Divisão Antonio Hamilton Martins Mourão, companheiro de Turma (Tu/1975) da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), e do Coronel de Cavalaria Francis de Oliveira Gonçalves, Comandante CMPA vamos contar, desta feita com o apoio oficial de todas as Organizações Militares da Bacia do Juruá/Solimões.
Rio Juruá |
O Diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), autarquia federal vinculada ao Ministério dos Transportes, General de Divisão Jorge Ernesto Pinto Fraxe (Tu AMAN/1975) nos incumbiu de atualizar seus Mapas Multimodais prenhes de incorreções além de outras missões afetas a um Reconhecimento de Engenharia. O General Villas Bôas montou uma verdadeira Operação Militar como podemos constatar na Ordem de Serviço abaixo, onde estão atribuídas as responsabilidades pelo apoio em cada fase da missão.
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
COMANDO MILITAR DA AMAZÔNIA
(Comando de Elementos de Fronteira - 1948)
ORDEM DE SERVIÇO n° 012 - E3.IM/CMA, de 1° de agosto de 2012
EXPEDIÇÃO GENERAL BELARMINO MENDONÇA
1. FINALIDADE
- Regular as atividades a serem desenvolvidas por ocasião da Expedição General BELARMINO MENDONÇA, destinada a realizar um reconhecimento do Rio JURUÁ, com foco nos aspectos de interesse geográfico e histórico da região.
2. REFERÊNCIAS
- Diretrizes do Cmdo CMA.
3. OBJETIVOS
a. Obter dados atualizados sobre o Rio JURUÁ.
b. Atualizar e corrigir informações que constam em cartas e mapas.
c. Realizar uma reconstituição dos principais fatos históricos que marcaram a região.
d. Reportar, em livro, as experiências e levantamentos realizados durante a expedição.
4. CONSIDERAÇÕES GERAIS
a. A Expedição General BELARMINO MENDONÇA realizará um reconhecimento, no período de 1° DEZ 12 a 31 DEZ 13, ao longo do Rio JURUÁ e de alguns de seus afluentes, para atualização de dados, informações e levantamentos de área.
b. A Expedição terá a participação de uma equipe, composta pelo Cel Eng R1 HIRAM REIS E SILVA (Chefe) - do CMPA , pelo Cel Inf R1 IVAN CARLOS GINDRI ANGONESE (no trecho FOZ DO BREU – CRUZEIRO DO SUL) – do CMPA, e pelos Sd MÁRIO ELDER GUIMARÃES MARINHO e MARÇAL WASHINGTON BARBOSA SANTOS - ambos do 8° BECnst, sob a coordenação do Cmdo CMA.
c. Os trabalhos da equipe visarão atualizar e corrigir informações de cartas e mapas, corrigir nomenclatura de acidentes naturais, levantar necessidades de aeródromos e portos hidroviários, verificar as condições de navegabilidade da hidrovia no período considerado e ao longo do ano e levantar as necessidades dos Distritos e Municípios quanto à saúde, segurança e educação.
d. Durante o percurso, será realizado um estudo sobre os principais eventos históricos que marcaram a região, particularmente aqueles que tiveram a participação de militares.
e. Ao final da expedição, será apresentado um livro com registros das experiências e dos levantamentos realizados no período, editado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
f. O Cmdo CMA apoiará a equipe, por intermédio das OM, quando esta estiver em suas respectivas áreas de responsabilidade, a fim de facilitar o atingimento dos objetivos propostos.
g. O acompanhamento do desenrolar da missão será executado por intermédio do Centro de Operações, em coordenação com a 3ª Seção CMA e com o Assessor de História do Cmdo CMA.
h. Os períodos previstos para desenvolver as atividades são:
PERÍODO
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OM Apoiadora
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1° DEZ
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61° BIS
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13 FEV 13 a 24 ABR 13
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Cmdo 16ª Bda Inf Sl
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25 ABR 13 a 31 DEZ 13
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CMPA
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i. Os municípios a serem percorridos são: no Estado do ACRE, FOZ DO BREU, NATAL, ACURIÁ NOVA, MARECHAL THAUMATURGO, TRIUNFO, SANTA FÉ, PORTO WALTER, RODRIGUES ALVES e CRUZEIRO DO SUL; e no Estado do AMAZONAS, IPIXUNA, EIRUNEPÉ, ITAMARATI, CARAUARI, JURUÁ, TAMANIQUÁ, TEFÉ (FLU NOVO HORIZONTE, FLU CAUAÇU), CAIAMBÉ, SANTA SOFIA, SÃO FRANCISCO, COARI, CAMARÁ, CODAJÁS, ANORI, ANAMÃ, MANACAPURU, IRANDUBA e MANAUS.
5. EXECUÇÃO
a. Período
- 1° DEZ 12 a 31 DEZ 13. (...)
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Agradeço emocionado ao apoio de todos que sempre nos incentivaram e acreditaram no nosso trabalho prometendo, mais uma vez, não desapontá-los reportando a rica narrativa das plagas acreanas e a saga de sua gente audaciosa e guerreira liderada por grandes e eternos ícones de nossa pujante história.
Parabéns pela iniciativa!
ResponderExcluirFico contente que tenha sido obtido o apoio oficial e orgulhoso de que a expedição receba o nome de meu tetravô, nascido Bellarmino Augusto Mendonça Lobo, mas mais conhecido como Gen. Belarmino Mendonça, cujo neto, Bellarmino Jayme Ribeiro de Mendonça, foi "pracinha"da FEB, como um dos oficiais do 1o Esquadrão de Reconhecimento - 1o Esquadrão de Cavalaria Leve, posteriormente (1949) denominado Esquadrão Ten. Amaro.
Boa sorte na missão!
Ayrton Belarmino de Mendonça Moraes Teixeira
Analista Judiciário do TRE-SC
2o Ten. Inf./R2 - CPOR/PA
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ExcluirObrigado amigo
ExcluirVou fazer parte do trajeto do Reconhecimento do General Belarmino Mendonça - Foz do Breu até o Solimões e seus principais afluentes.
O nome da expedição não poderia ser outro senão o de seu heróico tetravô.
TFA do Hiram
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