MAPA

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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Alucinógenos ou Psicoativos?

Os trágicos acontecimentos de março de 2010, após minha descida pelo Rio Negro, envolvendo o assassinato do cartunista Glauco Villas Boas e seu filho Raoni, devoto do Santo Daime, fundador da igreja Céu de Maria, sediada em sua própria casa, por um dos frequentadores, levaram-me a criar, na época, um capítulo especial sobre algumas substâncias narcóticas utilizadas pelos nativos sul-americanos.

Glauco Villas Boas
A Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS) vem promovendo, já há alguns anos, o diálogo, o estudo e o aprofundamento sobre a realidade da cultura indígena no Estado e no País, através de uma série de palestras que fazem parte do evento chamado “Círculo de Cultura Indígena”, que celebra, neste ano, sua 8ª edição. O evento é coordenado pelo Departamento de Direito Público da Faculdade de Direito e pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Cultura Indígena. Durante minhas locuções sou, sistematicamente, interpelado pelos líderes indígenas no sentido de não me referir aos narcóticos que utilizam nos seus rituais como “narcóticos” ou “psicotrópicos” e sim “psicoativos”.
A proliferação de seitas que usam, nos seus rituais plantas, chamadas eufemisticamente, pelos seus simpatizantes de “psicoativas” mas que, na realidade, nada mais são do que drogas que provocam ou estimulam surtos psicóticos, deveriam receber uma maior atenção por parte das autoridades. Há que se diferenciar uso da droga pelos povos nativos, atendendo a rituais ancestrais, e seu uso pelos “civilizados” em busca de novas experiências ou modismos “pseudo-religiosos” que nada têm a ver com a sua história e seus costumes. Essas pseudo-doutrinas só prosperaram tendo em vista a possibilidade de se fazer uso lícito de drogas proibidas e a ignorância e a falta de conhecimento científico a respeito dos malefícios que o uso delas pode acarretar. Quantos outros casos semelhantes ao do cartunista Glauco deixaram de ser repercutidos pela mídia só porque as vítimas eram cidadãos comuns!
Modismos recorrentes levam a humanidade, volta e meia, a buscar nos procedimentos primitivos a cura para suas mazelas. Há necessidade, por exemplo, de identificar se o princípio ativo das substancias usadas pelos “pajés” tem algum poder curativo ou não. Diversas dessas plantas, ditas “medicinais”, foram pesquisadas e nenhum princípio ativo foi identificado, que justificasse seu emprego. As últimas pesquisas apontam que apenas cerca de 12% das plantas utilizadas pelos aborígines têm algum efeito benéfico sobre o organismo.
Achar que o conhecimento nativo sobre a flora e a fauna e a natureza em geral não necessita de uma visão mais científica é desprezar todo o conhecimento da história da humanidade ao longo de milhares de anos.
Tive a oportunidade, na minha carreira militar, como oficial de engenharia, de conviver por dois anos com os Waimiris-Atroaris (WA). Apareci, certo dia, na Aldeia da “Terraplanagem” com um estranho inseto na mão, que apanhara num tronco seco à beira da estrada, para que eles me dessem o nome do animal.
Os WA apavoraram-se, pois atribuíam ao pequeno inseto um veneno mortal para o ser humano e diziam que se o pequeno e exótico animal, conhecido como Jequitiranaboia, picasse uma árvore, ela perderia imediatamente todas as folhas e tombaria em vinte e quatro horas. Na verdade, o animal era totalmente inofensivo. A sua esquisita cabeça lembra o crânio de um jacaré e isso foi suficiente para que os nativos lhe atribuíssem poderes especiais.

Jequitiranaboia
Jequitiranaboia (Fulgora lanternaria): inseto pertencente à família Hemíptera, possui uma curiosa cabeça semelhante a de um jacaré. É totalmente inofensivo apesar de sua exótica aparência. Alimenta-se do néctar das flores e da seiva de vegetais, tem hábitos noturnos e mede cerca de 6 a 7 cm. Era facilmente encontrado nas florestas da América do Sul, mas sua estranha aparência colocou-o na rota de tráficos de animais transformando-o numa raridade. Conhecido também como: jequitiranaboia, jetiranumboia, jitiranaboia, tiramboia, jaquiranaboia, cobra-voadora, cobra-do-ar, cobra-de-asa e em inglês, Alligator - Headed Lantern Fly (Cobra-voadora-cabeça-de-lanterna).
-  Drogas Psicotrópicas ou Psicoativas
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1981, definiu estas substâncias como aquelas que “agem no Sistema Nervoso Central (SNC) produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora sendo, portanto, passíveis de autoadministração”. Essas alterações podem ser proporcionadas para fins: recreacionais (alteração proposital da consciência), rituais ou espirituais (uso de enteógenos), científicos (funcionamento da mente) ou médico-farmacológicos (como medicação).
A ética em relação ao uso dessas drogas é objeto de contínuos debates filosóficos. Muitos governos têm imposto restrições sobre a produção e a venda dessas substâncias na tentativa de diminuir o abuso de drogas.
-  Resolução N° 1, de 25 de janeiro de 2010
“O poder público pecou em não regulamentar mais clara e objetivamente o uso do chá. A igreja tem o dever de indenizar, se for provado que ministrou sem os cuidados que a resolução determinava”. (André Alves Wlodarczyk - Advogado Criminalista)
Segundo a Resolução n° 1, Carlos Grecchi, pai de Carlos Eduardo, assassino do cartunista Glauco e seu filho, poderia, legalmente, vir a solicitar indenização por parte da igreja “Céu e Maria”. Grecchi afirma que vinha solicitando a Glauco, desde 2007, quase três anos, que seu filho não fizesse uso do Daime, pois apresentava surtos psicóticos depois da administração da droga.
-  Histórico “Legal”
Na década de 80, o uso da bebida chegou a ser proibido;
1987  -  Suspensão provisória da interdição do uso da Ayahuasca, através da Resolução n° 06 do CONFEN (Conselho Federal de Entorpecentes), de 4 de fevereiro de 1986;
1991  -  Denúncias anônimas indicando mau uso da substância gerou o reexame da bebida. O CONFEN realiza estudos sobre a forma de produção e consumo da bebida e, em parecer de 02/06/92, conclui que não havia razões para alterar a conclusão de 1987, que havia liberado o uso da droga para fins religiosos;
2004  -  O Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) solicitou, em 24 de março, à Câmara de Assessoramento Técnico-Científico a elaboração de estudo e parecer técnico-científico a respeito do uso da Ayahuasca. O parecer apresentado e aprovado na Reunião do CONAD, de 17/08/04, serviu de base à Resolução n° 5, do CONAD, de 04/11/04, que criou o atual Grupo Multidisciplinar de Trabalho (GMT);
2010  -  Através da Resolução n° 1, de 25 de janeiro, o CONAD dispõe sobre a observância, pelos órgãos da Administração Pública, das normas e procedimentos compatíveis com o uso religioso da Ayahuasca.
-  Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006
Art. 20. Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso.
-  Resolução N° 1, de 25 de janeiro de 2010
(...) Considerando o Relatório Final elaborado pelo Grupo Multidisciplinar de Trabalho (GMT), instituído pela Resolução n° 5 - CONAD, publicada no D.O.U. de 10/11/2004; (...)
Resolve:
Art. 1° Determinar a publicação, na íntegra, do Relatório Final, do Grupo Multidisciplinar de Trabalho (GMT), fazendo-o parte integrante da presente Resolução. (...)
-  GMT - Ayahuasca - Relatório Final
    V - Conclusão
(...) O Grupo Multidisciplinar de Trabalho aprovou os seguintes princípios deontológicos para o uso religioso da Ayahuasca:
1. O chá Ayahuasca é o produto da decocção do cipó Banisteriopsis caapi e da folha Psychotria viridis e seu uso é restrito a rituais religiosos, em locais autorizados pelas respectivas direções das entidades usuárias, vedado o seu uso associado a substâncias psicoativas ilícitas;
2. Todo o processo de produção, armazenamento, distribuição e consumo da Ayahuasca integra o uso religioso da bebida, sendo vedada a comercialização e/ou a percepção de qualquer vantagem, em espécie ou in natura, a título de pagamento, quer seja pela produção, quer seja pelo consumo, ressalvando-se as contribuições destinadas à manutenção e ao regular funcionamento de cada entidade, de acordo com sua tradição ou disposições estatutárias;
3. O uso responsável da Ayahuasca pressupõe que a extração das espécies vegetais sagradas integre o ritual religioso. Cada entidade constituída deverá buscar a autosustentabilidade em prazo razoável, desenvolvendo seu próprio cultivo, capaz de atender as suas necessidades e evitar a depredação das espécies florestais nativas. A extração das espécies vegetais da floresta nativa deverá observar as normas ambientais;
4. As entidades devem evitar o oferecimento de pacotes turísticos associados à propaganda dos efeitos da Ayahuasca, ressalvando os intercâmbios legítimos dos membros das entidades religiosas com suas comunidades de referência; (...)
8. Compete a cada entidade religiosa exercer rigoroso controle sobre o sistema de ingresso de novos adeptos, devendo proceder entrevista dos interessados na ingestão da Ayahuasca, a fim de evitar que ela seja ministrada a pessoas com histórico de transtornos mentais, bem como a pessoas sob efeito de bebidas alcoólicas ou outras substâncias psicoativas;
9. Recomenda-se ainda manter ficha cadastral com dados do participante e informá-lo sobre os princípios do ritual, horários, normas, incluindo a necessidade de permanência no local até o término do ritual e dos efeitos da Ayahuasca. (...)
    Alienação do CONAD
A liberação do uso da ayahuasca para fins religiosos pelo CONAD reconheceu, ainda que implicitamente, que a ingestão do alucinógeno é potencialmente perigosa. O estabelecimento de rígidos procedimentos que estabelecem a proibição de sua administração a pessoas com “histórico de transtornos mentais” ou sob efeito de bebidas alcoólicas” ou outras substâncias psicoativas, e a necessidade de que as entidades religiosas exerçam “rigoroso controle sobre o sistema de ingresso de novos adeptos deixa isso patente.
O CONAD erra ao atribuir toda a responsabilidade sobre a seleção de adeptos, produção, uso do psicotrópico e acompanhamento dos efeitos aos próprios usuários como se isso fosse de fato viável. Quem seriam os encarregados de acompanhar os efeitos em cada usuário? Membros da seita sob efeito do alucinógeno? O CONAD, também, não determina quem será o responsável pela fiscalização destas regras nem como isso será feito.
O advogado constitucionalista João Wiegerinck acrescenta:
Por eliminação, percebemos que a fiscalização só será feita quando provocada: quando alguém passar mal ou surtar com a bebida. Obviamente, é uma falha.
Os profissionais da saúde pública criticam a resolução pois, segundo eles, entrega aos próprios adeptos a responsabilidade de determinar quem pode fazer uso do chá quando, na verdade, essa orientação deveria ser feita por psicólogos ou psiquiatras. O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira afirma:
O uso do chá é arriscado para pessoas que tomam antidepressivos e é contraindicado a pessoas com diagnóstico de psicose, já que aumenta muito a produção de certas substâncias no cérebro. A falta de fiscalização pode levar ao aparecimento de vários casos graves.
O psiquiatra Emmanuel Fortes acredita que:
É uma temeridade. As pessoas não saem por aí dizendo se têm doença mental ou não. Isso merece uma reflexão por parte do Conselho Federal de Medicina.
-  Ayahuasca
    Fontes: Ana Cecília Marques e Hamer Nastasy Palhares.
A Ayahuasca é conhecida em diferentes culturas pelos seguintes nomes: yajé, caapi, natema, pindé, kahi, mihi, dápa, bejuco de oro, vine of gold, vine of the spirits, vine of the soul e a transliteração para a língua portuguesa resultou em hoasca. Também é conhecida amplamente no Brasil como “Chá do Santo Daime” ou “Vegetal”. Na linguagem Quechua, aya significa espírito ou ancestral, e huasca significa vinho ou chá. Este nome tanto se aplica à bebida preparada por meio da mistura da Banisteriopsis caapi e da Psichotria viridis, quanto à primeira das plantas. (...)

Ayahuasca
As diversas preparações geralmente contêm talos socados da Banisteriopsis caapi ou espécies correlatas mais as folhas da Psichotria viridis. As plantas adicionadas à Ayahuasca ajudam a maximizar as experiências de estimulação visual e as sensações de contato com “forças e locais sobrenaturais” e divinas. Os métodos de preparo variam conforme o grupo, como um chá quente ou amassando-se junto à água fria, deixando-se em descanso por aproximadamente 24 horas. (...)
    Histórico
As origens do uso da Ayahuasca na bacia Amazônica remontam à Pré-história. Não é possível afirmar quando tal prática teve origem, no entanto, há evidências arqueológicas através de potes, desenhos que levam a crer que o uso de plantas alucinógenas ocorra desde 2000a.C.
Apesar da coleta e identificação da Ayahuasca datar de 1851, os alcalóides já eram conhecidos desde a primeira metade do século XIX, o que se deve à facilidade de extração dos mesmos, bem como aos possíveis usos clínicos: logo, a Harmalina foi isolada da Peganum harmala em 1840. Sete anos depois, a Harmina foi identificada. A “telepatina” - harmina - foi identificada na “yajé” em 1905. (...)
    Antropologia e Uso da Ayahuasca
Plantas com propriedades alucinógenas vêm sendo utilizadas com finalidades místicas e religiosas em diferentes culturas primitivas. Há relatos do uso das poções em toda a Amazônia, chegando à costa do Pacífico no Peru, Colômbia e Equador, bem como na costa do Panamá, sendo que foi reconhecida em pelo menos 72 tribos indígenas, com pelo menos 40 diferentes nomes. Entre as diversas tribos da bacia Amazônica, a Ayahuasca é percebida como uma poção mágica inebriante, de origem divina, que “facilita o desprendimento da alma de seu confinamento corpóreo”, voltando ao mesmo conforme a vontade e carregada de conhecimentos sagrados. Entre os nativos, é usada para propósitos de cura, religião e para fornecer visões que são importantes no planejamento de caçadas, prevenção contra espíritos malévolos, bem como contra ataques de feras da floresta. (...)
    Ayahuasca e Religião
No século passado, além do consumo da mistura entre as populações indígenas, várias igrejas adotaram o uso da ayashuasca em rituais sincréticos, especialmente no Brasil, onde os efeitos psicoativos são acoplados a conceitos das doutrinas Judaica, Cristã, Africana entre outras. As principais religiões deste módulo incluem a UDV (União do Vegetal), CEFLURIS (Santo Daime), Barquinha e o Alto Santo. (...)
Tais seitas incluíram a Ayahuasca em seus rituais de comunhão como um simbolismo comparável ao “pão e vinho”. Estas igrejas argumentam que a poção ajuda a promover concentração pronunciada e contato direto com o plano espiritual. (...)
    Ayauhuasca e a Expansão do Consumo
O crescente número de indivíduos que vêm experimentando a Ayahuasca de maneira descontextualizada, visitas a seitas com o único intuito de conhecer a bebida, e a atual possibilidade de se usar a Pharmahuasca: combinação sintética dos ingredientes psicoativos da Ayahuasca.
    Chá do Santo Daime (Ayahuasca)
O chá de Santo Daime é um alucinógeno. Tal propriedade se deve à presença nas folhas da chacrona de uma substância alucinógena denominada N,N-dimetiltriptamina (DMT). O DMT é destruído pelo organismo por meio da enzima monoaminaoxidase (MAO). No entanto, o caapi possui uma substância capaz de bloquear os efeitos da MAO: a harmalina. Desse modo, o DMT tem sua ação alucinógena intensificada e prolongada. (...)
    Riscos à Saúde
Pode haver sensação de medo e perda do controle, levando a reações de pânico. O consumo do chá pode desencadear quadros psicóticos permanentes em pessoas predispostas a essas doenças ou desencadear novas crises em indivíduos portadores de doenças psiquiátricas (transtorno bipolar, esquizofrenia).
-  Santo Daime e União do Vegetal
O Santo Daime é uma manifestação religiosa exótica que surgiu, no Brasil, a partir do estado do Acre, nas primeiras décadas do século XX. Seus membros fazem uso de uma bebida enteógena (droga alucinógena), o ayahuasca que, segundo eles, serviria para catalisar processos espirituais visando à cura e bem-estar do indivíduo.

"Mestre" Irineu Serra
Após fazer uso da beberagem, Irineu Serra, seu fundador, imaginou ter tido uma visão de entidades superiores que lhe ordenaram propagar o Santo Daime. Irineu concebeu apenas, muito genericamente, uma doutrina que mescla diversas tradições religiosas antigas e contemporâneas cujo pano de fundo serve apenas para justificar o uso da ayahuasca pelos seus discípulos.
A União do Vegetal (UDV) foi criada pelo baiano José Gabriel da Costa na década de 60 que havia migrado para a região Norte para trabalhar como seringueiro. Em 1959, José Gabriel teve o primeiro contato com a ayahuasca e, depois disso, começou a ter visões de suas vidas passadas e atuar como mensageiro e difundir sua doutrina. Em 1961, criou o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal. A sede da UDV localiza-se, hoje, em Brasília, tem filiais em todo o território nacional e no exterior. É a doutrina ayahuasqueira mais numerosa do país, seus rituais possuem forte influência kardecista.
-  Richard Spruce
Richard Spruce, em novembro de 1852, navegando pelo Rio Negro chegou à Aldeia de Ipanoré, maloca de Urubucoará, onde assistiu à cerimônia do culto Jurupari, em que os Tucanos usavam uma bebida chamada “kapi”, erroneamente grafada “caapi”, palavra tupi-guarani que designa gramíneas, preparada a partir de uma espécie de cipó. Spruce relata que: “os brancos que tomaram caapi na forma apropriada coincidem em seus relatos sobre as sensações obtidas sob seu efeito. A vista se altera e diante dos olhos passam rapidamente visões onde parecem combinar-se tudo o que viram ou leram sobre o esplêndido e o magnífico”. Spruce embriagou-se com caxiri (bebida fermentada à base de macaxeira) e não chegou a provar a bebida “sagrada”, mas, já no dia seguinte, começou a pesquisar o seu principal componente, o cipó que denominou Banistera caapi (depois Banisteriopsis caapi).
-  Relatos Pretéritos
    Richard Spruce (1853)
Nos relatos dos viajantes a propósito das cerimônias realizadas pelas tribos sul-americanas e das invocações executadas pelos seus pajés. Há frequentes menções a poderosas drogas empregadas para provocar intoxicação ou mesmo delírio temporário. Varia o modo de administrar e ingerir esses narcóticos, que ora são reduzidos a fumaça e tragados, ora a vapor e inalados, ora ingeridos sob forma líquida. Aliás, são poucas as plantas utilizadas pelos indígenas como matéria prima de artigos de consumo, podendo-se citar apenas o fumo e as que produzem bebidas fermentadas, especialmente o milho, a banana, a mandioca e mais umas poucas.

Como tive a sorte de assistir ao uso dos dois narcóticos mais famosos, e de obter espécimes das plantas que os produzem (perfeitos o suficiente para serem determinados botanicamente), transcrevo a seguir as observações a seu respeito que anotei “in loco”. (...)
É a parte inferior do caule que se utiliza para produzir o narcótico. Uma certa quantidade dela é imersa em água e pilada num almofariz. Eventualmente é acrescentada uma pequena porção de raízes delgadas da planta conhecida como “caapipinima”. Depois de pilado e triturado, o “caapi” é peneirado e escoimado das fibras lenhosas e, em seguida, diluído numa quantidade de água suficiente para transformá-lo em bebida. Depois de pronto, adquire uma coloração verde amarronzada, e seu sabor é amargo e desagradável. (...)
Uso e Efeito do Caapi
Em novembro de 1851, fui convocado a comparecer a um “dabacury” - ou seja, a uma “festa dos presentes” - realizado numa maloca (residência coletiva) conhecida como Urubuquara e situada acima das primeiras corredeiras do Uaupés. (...)
Durante toda a noite, o caapi foi servido cinco ou seis vezes para os jovens, durante os intervalos das danças, sendo contemplados poucos usuários a cada rodada, e sendo poucos aqueles que, terminada a festa, chegaram a tomar mais de uma dose. O “garçom” - sempre do sexo masculino, já que o uso do caapi é vedado às mulheres - inicia a cerimônia de servir com uma curta corrida, vindo do lado de trás da casa, trazendo em cada mão uma cuia contendo uma porção correspondente a uma xícara de chá. Chegando diante dos que o esperam, murmura algo assim como “Mo-mo-mo-mo-mo” e se encurva pouco a pouco, até quase encostar o queixo no joelho, momento em que estende uma das cuias para o usuário, que sorve um gole. Depois vai fazendo o mesmo com os demais, até que as duas cuias se tenham esvaziado.
Passado menos de dois minutos, começam a se fazer notar os efeitos do caapi. O índio que o tomou adquire uma palidez mortal, suas pernas começam a tremer e sua fisionomia aparenta um sentimento de horror. Súbito os sintomas invertem e ele começa a suar copiosamente, parecendo estar tomado por uma fúria insopitável, ocasião em que apanha a primeira arma que encontra - tanto faz que seja um murucu (lança), arco, flecha ou facão, - sai da maloca e aplica violentos golpes no chão ou nos beirais da porta, gritando coisa como: “É assim que vou fazer com meu inimigo Fulano, se ele aparecer por aqui!” Passados uns dez minutos, cessa o efeito e o índio recobra a calma, dando mostras de estar exausto. Se estivesse em sua casa, certamente iria cair na rede e dormir até se recuperar completamente, mas aqui na festa o que tem a fazer é sacudir a sonolência e voltar a dançar. (...)
Os brancos que já tomaram caapi de maneira mais racional e relataram suas experiências foram concordes na descrição de seus efeitos, caracterizados por uma alternância de ondas de frio e calor, de medo e coragem. A visão fica turva e diante dos olhos do usuário passa a desfilar uma sucessão de imagens deslumbrantes e magníficas, lembrando cenas vistas ou lidas no passado. Subitamente, a temática se inverte, e as cenas visualizadas passam a ser horrendas e esquisitíssimas.
Foram também esses os sintomas gerais a mim relatados por mercadores civilizados do alto Rio Negro, do Uaupés e do Orinoco que tiveram tal experiência, dando-se o desconto de uma ou outra variação de caráter pessoal. Um amigo brasileiro me disse que, de certa feita, depois de ter tomado uma dose completa de caapi, enxergou a sua frente as maravilhas exóticas que lera nas “Mil e uma noites”, como se num cenário animado, mas as derradeiras cenas daquele desfile fantástico se transformaram numa sequência de imagens pavorosas dignas dos contos de horror. Na festa de Urubuquara, fiquei sabendo que a planta do caapi era cultivada de maneira suplementar numa roça situada poucas horas Rio abaixo. Fui lá um dia, com a intenção de colher alguns espécimes e adquirir uma quantidade razoável de talos já cortados e enfeixados, para poder enviá-los à Inglaterra, a fim de ser ali analisados. (...)
O caapi é utilizado pelos índios de todas as tribos assentadas ao longo do Uaupés, algumas das quais falam línguas totalmente diferentes entre si, além de terem costumes também inteiramente diversos. Já no Rio Negro, se ele algum dia foi usado, caiu em completo desuso, e também não me consta que seja empregado pelas tribos da nação Caribe - Bares, Baniuas, Mandauacas, etc. - com a solitária exceção dos Tarianas, que se introduziram ligeiramente no Uaupés, onde provavelmente aprenderam seu uso com seus vizinhos da tribo Tucano.
Quando estive nas cataratas do Orinoco, em junho de 1854, reencontrei, o caapi, com esse mesmo nome, num acampamento de Guaíbos selvagens, nas savanas de Maypures. Esses índios não só bebiam a infusão da planta, preparada da mesma maneira empregada pelos índios do Uaupés, como mascavam o talo seco, como se costuma fazer com o fumo. Aprendi com eles que todos os moradores nativos dos Rios Meta, Vichada, Guaviare, Sipapo e dos riachos intercalados entre esses Rios conhecem o caapi e o usam precisamente do mesmo modo. (...) Em maio de 1857, nas aldeias peruanas de Canelos e Puçá-Yacu, voltei a ver plantações de caapi, da mesma espécie do Uaupés, mas ali denominava-se “aya-huasca”, palavra inca que significa “videira-de-defunto”, e usado igualmente como narcótico estimulante pelos índios das tribos Zaparo, Angutero e Mazane. A bebida é também usada pelos feiticeiros quando estes são solicitados a resolver pendências, responder consultas, revelar os planos do inimigo, dizer se os estrangeiros visitantes seriam ou não confiáveis, se as esposas são fiéis, quem teria deitado mau-olhado sobre fulano que adoeceu de repente, etc. (...) Os jovens não têm permissão de usar o “aya-huasca” enquanto não atingirem a puberdade, sendo seu uso inteiramente vedado às mulheres, exatamente como no Uaupés. (...)
Eis o que posso dizer acerca do caapi ou “aya-huasca”. Lamento não ser capaz de precisar qual seria o princípio ativo narcótico que produz seus efeitos (harmina). Suas substâncias análogas mais óbvias são o ópio e o haxixe, mas o caapi parece operar no sistema nervoso de maneira mais rápida e violenta do que ambos. (SPRUCE)
-  Higino Veiga Macedo (1974)
Meu grande amigo, Coronel de Engenharia Higino Veiga Macedo, enviou o relato abaixo em que narra sua experiência com os usuários do “chá” quando chefiava a equipe de terraplenagem do 5° Batalhão de Engenharia de Construção, na Br 364, no trecho Manoel Urbano - Feijó.
    Os Peões e o Cipó
Um problema que quase se torna sério era o consumo de “cipó”, pelos peões. Subindo o Rio Envira, a dois quilômetros do porto de Feijó, havia uma maloca de índios aculturados ou “culturado com civilizados” ou, como queiram, com costumes de brancos. A etimologia de aculturado é enrolada, vindo do anglicismo, mas formada por raízes latinas e prefixo grego. Pelo dicionário, pode se ver: a+cultur+ado. Pelo prefixo “a”, grego, dá para entender que esse “a” quer dizer negação: então é a negação da cultura primitiva, para melhor ou para pior. Mas a indiada era bem civilizada. O grande líder (cacique) na época era o Seu Inácio, já com uns oitenta e tantos anos, seguido por seu filho Bruno (cacique herdeiro), já com uns sessenta anos e bote força. O Seu Inácio fora recebido por Getulio Vargas e ganhou não só uma terra demarcada como também ferramentas para lavoura, várias vezes. Segundo os maldosos, mas não muito, venderam ou trocaram por roupas, cachaça, armas, motores de popa e por aí a fora. Mas eles eram Caxinauá, descendentes de incas, dedução minha, pois cultuavam o uso do “cipó”, nome dado por eles mesmos a um chá.
O Cipó era uma combinação de uma folha colhida, por eles, num determinado dia do ano, com uma raiz, também colhida num determinado dia do ano. Aquilo era armazenado e, de tempo em tempo, era feita a cerimônia de tomar o cipó, de tomar o chá. Em Feijó, haviam muitos brancos, autoridades, que iam para a Aldeia tomar cipó com os índios. Segundo seu Inácio, contado em meu acampamento, que na verdade fora ali pedir cinquenta litros de óleo diesel, a tradição remonta a seus ancestrais antes de contato com brancos, onde eles usavam o tal chá. Se algum guerreiro de uma tribo inimiga assassinava um elemento de sua tribo e entre elas mantinham-se “centenários” anos de guerras, a tribo se reunia, aos cuidados do pajé, e tomavam o cipó. As visões alucinativas permitiam que se visse quem cometeu o assassinato e de qual tribo era. Os brancos, com familiares longes, tomavam o cipó para viajar espiritualmente e rever elementos da família. Fui convidado algumas vezes, mas nunca tive coragem. A cerimônia era mais ou menos assim. Todos se reuniam num galpão, com gente sentada em bancos ou no chão para onde o pajé levava a panela, com a infusão. Começava uma cantoria indígena, puxada pelo pajé. Em determinado momento, era distribuído um copo de vidro tipo americano com o chá. Segundo o pessoal, era muito amargo e não raro provocava vomitório imediato. Quem vomitasse repetia a beberagem. As mulheres não participavam do ritual. Bom, depois de uns quinze, vinte minutos, começava a fazer efeito. A pessoa que estava calma, serena e de bem com a vida, via coisas lindas, cidades iluminadas, pessoas amigas antigas, pais, mães, mesmo mortos. Via passado e futuro. Era uma viagem em que a pessoa ficava vendo tudo: banco, buraco, fogo, água, cachorro e junto via também o paraíso. Os que estivessem preocupados, perturbados e nervosos, viam cobra grande, jacarés tentando engoli-lo, latido de cachorro, mas saído de um bicho parecido com um jacaré... Era um constante pesadelo. O pajé não bebia o cipó. Ele continuava cantando e cuidando daqueles que, por motivo de alucinação tenebrosa, queriam correr, se ferir ou fugir. Depois de umas seis horas, o efeito passava. Numa manhã, quando eu ia para o acampamento, num sábado encontrei um filho do vizinho, parado no meio da rua, já próximo de sua casa. O efeito acabava de dar uma recidiva e ele estava tocando violão. Quando perguntei o que fazia, ele me reconheceu e disse que, das cordas do violão, saiam chispas de fogo coloridas e não som. Levei-o até sua casa e o deixei no portão, mas ele continuava a tocar.
Mas o perigo era com o meu pessoal. Numa segunda-feira, um dos operadores, conhecido por Acreano, saiu de cima do trator funcionando e saiu correndo, se batendo com o chapéu. Depois correu e subiu na máquina e a estancou, mas continuou a se bater com o chapéu e com os braços. Fui até ele e perguntei o que acontecia. Ele respondeu que um bando de borboletas gigantes o estavam atacando. Perguntei se tinha tomado cipó na noite anterior e ele me confirmou isso, mas que à meia-noite o efeito já tinha passado. Mandei que ele passasse o trator a outro operador e ele terminou aquele dia auxiliando a mecânica.
Esse mesmo ritual foi copiado pelos brancos, sempre tem um esperto, fundaram uma religião que tem alguns nomes: ayahuasca (“vinho das almas”, em quíchua, na língua dos incas peruanos); Santo Dai-me; União dos Vegetais (UDV) e outros. Mas as de maiores influências nos brancos são: Santo Dai-me e União dos Vegetais. Cada uma se apresenta como sendo a mais importante. Todas elas conseguiram cooptar simpatizantes entre os ditos intelectuais, atores, cantores, pintores, escritores e outros. Hoje há filiais pelo mundo inteiro dessas práticas, agora, religiosas.
O “Santo Daime” veio via Acre. Não há uma data precisa do seu nascimento. Foi fundada por um cidadão, negro, que se diz neto de escravos e que veio para o então Território do Acre e se instalou em Brasileia, Cidade na fronteira com a Bolívia. De Brasileia facilmente se chega a Assis Brasil, também Acre e daí ao Peru. Lá na Bolívia, até hoje a maioria dos seringueiros da Bolívia são brasileiros, o senhor Raimundo Irineu Serra, nascido em São Vicente Ferret, no Estado do Maranhão em 1892, aprendeu a usar o tal chá, com o nome de ayahuasca e que, em Feijó, a indiada chama até hoje de cipó. Passou a chamar Santo Daime porque durante a abertura da cerimônia são repetidas as palavras: “Dai-me luz, Dai-me força e Dai-me amor!”. Essa religião, via Acre, tem forte influencia católica porque o tal fundador, conhecido hoje por Mestre Irineu, falecido em 1971, diz ter recebido essa Doutrina através de uma aparição de Nossa Senhora da Conceição, em uma das primeiras vezes que tomou a bebida em Brasileia.
A outra religião, que está nessa disputa de ser a primeira e principal, é a UDV - União dos Vegetais. Foi fundada por José Gabriel da Costa, nascido a 10 de fevereiro de 1922, na localidade Coração de Maria - Município de Santo Amaro da Purificação, na Bahia. Foi para Salvador e depois se alistou como Soldado da Borracha e foi dar com os costados em Manaus e depois em Porto Velho, naquela época capital do Território Federal do Guaporé onde trabalhou como enfermeiro em hospital público e conheceu Raimunda Ferreira, dona Pequenina, sua esposa. Como Rondônia era muito ruim de seringal, ele acabou se deslocando para os seringais bolivianos, a partir de Guajará-Mirim. Foi num destes seringais que entrou em contato com a bebida, certamente por meio de alguns índios e ou seus descendentes, experimentando ali o vegetal, pelas primeiras vezes. Ainda em território boliviano, ao lado de Dona Pequenina, Mestre Gabriel criou, a 22 de julho de 1961, a União do Vegetal. Esta é a vertente via Rondônia.
Quando servi em Porto Velho, e até hoje tem, perto do quartel, uma comunidade dessa UDV, tive oportunidade de conhecer frequentadores de lá, funcionários do Batalhão, oriundos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré que contaram alguma coisa assim: o senhor Mestre Gabriel, na verdade, foi para a Bolívia corrido da polícia de Porto Velho. Essa religião tem uma mística ligada às ordens esotéricas com sinais de reconhecimentos, passados aos mestres. Eles se dizem discretos e não secretos. Não fazem propaganda da religião e nem vendem o chá ou os vegetais como a outra faz para que seus adeptos levem para outros estados ou países.
O Santo Daime tem sua Meca. E o local é conhecido como Céus de Mapiá. Fica à margem de um Igarapé, afluente do Rio Purus e desemboca perto da Cidade, do Amazonas, de Boca do Acre, com o nome de Igarapé Mapiá. Foi fundada uma comunidade como se fosse uma das vilas hippies, da década de sessenta, com presença de estrangeiros, políticos, e todos os de sufixo “ores”: escritores, atores, cantores, pintores... Ali, além da prática dos ritos, elas também cultivam as plantas e comercializam o material para o mundo todo. É uma fonte de renda para a comunidade.
Os vegetais que compõe o chá, que os índios de Feijó chamavam de cipó, são: a Chacrona (Psychotria viridis), um arbusto que fornecesse as folhas; o cipó Jagube (Banisteriopsis caapi). A composição é descrita como alucinógeno ou enteógeno (que proporcionam a sensação de contato com o divino). O alcalóide dimetiltriptamina (DMT) presente nas folhas da chacrona aumenta os níveis de serotonina do cérebro, proporcionando o êxtase e, segundo os usuários, a cura, o autoconhecimento, o encontro com Deus, isto é, produz uma expansão de consciência responsável pela experiência de contato com a divindade interior, presente no próprio homem. Quando misturadas e ingeridas, as plantas atuam no sistema nervoso central, provocando efeitos comparáveis aos do cogumelo e do cacto peiote (Lophophora williamsiii), popularizado pelo escritor Carlos Castañeda em obras como “A Erva do Diabo”. A Chacrona é também conhecida por Folha Rainha.
Mas a Polícia Federal de Rio Branco tinha um farto “dossiê” sobre o assunto. Não ficou provado que provocava dependência Química ou psicológica. Entretanto, havia uma comunidade que servia, antes da cerimônia, um chá dessa “erva rainha”, que a polícia afirmava não ser a Chacrona, mas sim maconha. E era servido indiscriminadamente até para crianças. Havia uma estória que, caso a criança fizesse peraltice, a mãe ameaçava dizendo: “hoje você não tomará chá” - e a criança se derretia em choro pelo castigo de não tomá-lo nesse dia. O chá viciava. A ação do cipó, como alucinógeno, é tão violenta que ilude o cérebro. O caso do meu vizinho em Feijó, por exemplo, estava havendo uma completa inversão em seu cérebro. Aquilo que era sonoro, o cérebro estava interpretando como visual. Por isso ele via o som e não ouvia o som.
Assim, tentei explicar algo sobre o cipó, porque sempre há curiosidade sobre ele e que às vezes atrapalhava o bom andamento do meu serviço. Ainda existem tribos que fazem uso desse chá do cipó em seus rituais de cura, cerimônia de iniciação e cerimônia de batismo, por assim dizer feito para crianças recém-nascidas. (MACEDO)
-  Ipadu
Ainda em Maçarabi, eu havia perguntado a Dona Isabel se ainda hoje se fazia uso do Ipadu e se ela conhecia a técnica de preparação do “psicoativo”. A gentil senhora afirmou que o uso do Ipadu foi proibido pelos missionários durante muito tempo e que, apenas nos últimos anos, o seu emprego, em cerimoniais, vem sendo tolerado pelos religiosos, na região do Uaupés.
Na verdade, o consumo do Ipadu já foi uma tradição cultural de profundo caráter místico embora, na atualidade, tenha perdido muito de seu aspecto religioso. Os nobres e religiosos Quíchua (Incas) usavam-no em virtude de suas propriedades “psicoativas”. Os espanhóis estimularam o seu consumo, tendo em vista que a coca diminuía o apetite e aumentava a capacidade de trabalho dos escravos nativos, disseminando o seu uso por toda a cordilheira. Desta maneira, a coca foi perdendo, com o passar dos anos, seu caráter religioso e mágico.
-  Cultivo e preparação da Coca
Os índios, há séculos, cultivam pequenas roças de Ipadu para o consumo próprio. As folhas são colhidas e secas em fornos e, depois de maceradas, seu pó misturado com cinzas de folhas secas de Embaúba (Cecropria sp.). O produto final é transformado numa pasta e mascado, pelos adultos, que se sentam em círculos. Quando começam a sentir o efeito da droga, os índios discutem sobre diversos problemas enfrentados pela comunidade com a esperança de poder resolvê-los com a ajuda dos espíritos invocados com a ingestão do Ipadu.

Embaúba
-  Relatos Pretéritos - Ipadu (Coca)
    João Daniel (1752)

Padu é um cipó do Amazonas ainda pouco vulgar, e conhecido, mas na verdade digno de muita estimação, e pode correr parelhas com o famigerado ginseng da China porque como me afirmaram os experimentados têm todos ou quase todos os mesmos efeitos de refazer as forças, suprir as faltas de sono, matar a fome, e sede. (...) Descobriu-se no governo de São José do Rio Negro, donde alguns curiosos já o transplantaram para o governo do Grão-Pará, e depois de bem provadas as suas virtudes será talvez o melhor chá, e a mais regalada bebida, sendo certos tantos bons efeitos, que dele se contam. (DANIEL)
    Boanerges Lopes de Sousa (1928)

(...) Como se sabe, o “Ipadu” é um tônico excitante e poderoso feito de folhas de coca reduzido a pó finíssimo e a que costumam adicionar cinza de folha de Embaúba. Depois de torrar as folhas da coca - que chamam de “Ipadu” ou simplesmente “padu” - levam-nas a um pilão feito do “mirapiranga” - que é uma das melhores madeiras de lei - onde são reduzidas a pó. (...) O “padu” é muito cultivado entre os índios do Tiquié. De uira-poço, trouxemos umas amostras. Nosso botânico, Dr. Luetzelburg, também trouxe boas amostras. Observei que o “Ipadu” é usado só pelos adultos e de preferência pelos velhos que fazem a roda, passando, de um a um, o “hato” ou “patuga”, como os gaúchos o fazem com o chimarrão. O Dr. Rice conta que os índios costumam preparar uns comprimidos de “Ipadu”, adicionando-lhe farinha de tapioca para dar-lhe consistência. Viajam dois a três dias, alimentando-se exclusivamente com eles, sem sentir fome nem sono. (SOUSA)
    Altino Berthier Brasil (1988)

A coleta da Embaúba e do Ipadu é uma atividade executada apenas pelos homens. Aliás, tanto o preparo como o consumo da droga é um ato privado do sexo masculino. As mulheres não permanecem nem mesmo nas proximidades de um homem no momento em que ele se delicia em mascar o seu Ipadu. (...) Logo em uma manhã próxima, vi um índio chegar olhando para os lados, desconfiado. Ele acendeu o fogo. Ficou longo tempo de cócoras, soprando as brasas e constatando se, realmente, eu não o estava vigiando. O fogo se espalhou na lenha, e senti um cheiro de ferro derretido - era o forno que estava pronto, aquecido, na medida do necessário. Eu pensei que ele fosse fazer farinha, já que o forno que o índio preparava era o mesmo utilizado, uns dias antes, pelas mulheres para aquele trabalho. Mas eu estava enganado. O assunto era mesmo Ipadu. (...) O índio, sempre desconfiado, colocou, então, uma boa quantidade de Ipadu sobre a chapa quente do forno redondo, e começou a mexer a folhagem com uma pá de madeira, que mais parecia um remo. Ele estava torrando as folhas, de modo que elas queimassem por igual. A operação durou menos de meia hora. As folhas não perderam de todo sua coloração verde, mas ficaram duras e quebradiças. O cheiro era forte, mas não me fez mal. Quando o índio notou que a operação tinha atingido o ponto desejado e as folhas pareciam ter perdido toda a sua umidade, elas foram transferidas para um pilão rústico, feito de tronco de árvore, mas que estava limpo e à disposição do preparador.
Ali, um outro índio começou a socar aquelas folhas. Quando ele levantava o macete, eu notava que as folhas iam se transformando em pó verde, que era recolhido com cuidado e depositado em uma cuia. Em outro recipiente, as folhas de Embaúba eram rasgadas de tal forma a separá-las completamente dos talos, e incineradas. Este trabalho era feito por um terceiro índio. Todos os participantes conservavam-se quietos, atentos, com a atenção totalmente concentrada em seu trabalho. A Embaúba foi, então, transformada em cinza, bem triturada que tinha sido. Depois aprendi que aquela cinza tinha o nome de “patu-mõé”, cuja tradução corresponde, mais ou menos, a “tempero do Ipadu”. A cinza esbranquiçada foi levada à cuia onde tinha sido depositado o Ipadu. Tudo foi misturado lentamente, com um pauzinho. Daí, a mistura daqueles dois componentes - Ipadu e Embaúba triturados - foi colocada dentro de uma bolsa de pano especial, que os índios chamam de “patu pari-sutire” e que quer dizer “invólucro de bater Ipadu”.
A sacola, uma vez cheia, foi amarrada fortemente na ponta de uma vara. O índio tomou o “patu pari-sutire” na mão direita. Agitou a vara no ar, não sei se para esfriar, ou se para algum ritual específico. Notei, então, a sacola desaparecer para dentro de outro pilão, e o índio, meio abaixado, ficou a segurar na extremidade livre da vara. Bateu vigorosamente o conjunto de encontro ao fundo e às paredes do pilão. De quando em quando ele puxava a vara, examinava a sacola e continuava o trabalho. Quando o homem notou que o pó tinha ficado fino a ponto de passar através do pano da sacola, esta foi murchando, até esvaziar-se completamente. O índio recolheu, então, do fundo do pilão, o produto elaborado.
Estava pronto o Ipadu. O pó foi transferido cuidadosamente para uma gamela e distribuído aos chefes de família que só neste momento apareceram. (...)
Os índios simplesmente tomam um punhado do pó e metem na boca. (...) Em contato com a saliva, o Ipadu se transforma numa pasta, a qual é empurrada, devagar, para o canto da boca, com o auxílio da língua. Fica uma bola armazenada na parede interna da bochecha. Aos poucos, vai se dissolvendo. O homem cuida para que isso seja feito o mais lentamente possível.
Durante a “comilança”, o índio fica com a bochecha estufada, como se estivesse com dor de dentes. Os olhos injetados.
(...) A inocência do consumo do Ipadu por parte dos índios; as ligações daquele ato com suas origens culturais; a necessidade daquela gente em vencer carências alimentares, as doenças e a solidão, - tudo isso me deu um sentimento de compreensão, e eu só poderia absolver o selvagem. Entendi o seu ritual e mais do que isso, dei por absurda qualquer analogia entre o branco e o selvagem, no que tange ao exercício daquele hábito. A doce alma do índio nada tem a ver com a falta de escrúpulos e a alma negra do dito “homem civilizado”. (BRASIL - 1989)
- Paricá
Paricá ou Epena é o nome dado pelos aborígines da Amazônia ao rapé feito com as cascas de várias espécies de árvores. Os Yanomâmis extraem a resina da casca da Virola para preparar um rapé usado em rituais religiosos. Prepara-se o rapé retirando-se as cascas e raízes exteriores e interiores da árvore e triturando-as. O material é espremido e o líquido das raspas é cozido até engrossar. A resina é posta a secar e, eventualmente, se misturam extratos de outras plantas a título de tempero.

Piptadenia peregrina
As espécies mais comuns utilizadas como alucinógenos naturais são as sementes moídas das espécies Anadenanthera peregrina (Piptadenia peregrina) e Anadenanthera columbrina (que possuem bufotenina) ou a casca pulverizada de Virola (que possui DMT). A partir destas plantas são obtidos preparados chamados de Paricá. (...)
Os rapés preparados com DMT são utilizados por diversos grupos indígenas amazônicos e do Orinoco. Como são inativos por via oral, é necessário que sejam aspirados ou às vezes soprados por um parceiro através de um longo tubo para dentro das narinas. O Paricá também é usado em clisteres anais. Antes de inalar o Paricá, o povo se reúne e canta para invocar os espíritos, com os quais se comunicarão durante a cerimônia. Durante o uso do Paricá, pode-se notar, inicialmente, um tremor dos músculos do braço e expressões do rosto contorcidas. Passada esta fase, os xamãs começam a gritar agressivamente invocando os espíritos. Essa agitação dura em média de trinta minutos a uma hora. Em seguida, os xamãs caem deitados em transe e neste momento são contemplados com visões que trarão sabedoria para seu povo.
Diversas comunidades indígenas com características culturais e linguísticas distintas utilizam o Paricá para o mesmo fim, porém com interpretações diferentes. Para os tarianas do Rio Uaupés, o Paricá provocava sonhos indicadores do futuro e nestes a mãe do sonho Kerpimanha orientava suas vidas e também ensinava sobre as relações sexuais. (Por Sabrina T. Martinez, Márcia R. Almeida, Ângelo C. Pinto)
-  Relatos Pretéritos - Paricá
    João Daniel (1752)
Paricá, é como o chamam outros pau angico, é a última espécie ínfima de paus pintados, e por isso, e porque também é muito sólido, e fino, é também precioso, e pau real, mas a respeito dos nomeados é mais grosseirão, e rústico. Tem suas máculas, que o fazem ser estimado, e buscado para várias obras, especialmente para grades grandes, e pequenas de igrejas, e o não ser mais estimado é pela sua muita abundância; e fora de ser boa madeira e pau precioso, tem muitos outros préstimos. Porque as suas cinzas, que são fortes como a cal, servem nos curtumes de solas e de toda a casta de courama, como de onças, veados e antas para descabelar o cabelo, e para engrossar, ou incorporar os couros. A casca do mesmo pau pisada ou picada para melhor largar a sua fortaleza, serve para se fazer a golda, com que aperfeiçoam os tais couros em forma que as solas parecem de atanado; e as mais finas ficam tão perfeitas como veludo, de sorte que muitos se enganam cuidando ser veludo os couros dos veados curtidos, e deles usam muitos para vestes, calções, e outras obras, que se equivocam com o veludo, especialmente sendo tintos de preto, e o vencem na duração.
Da sua fruta, que é miúda, torrada e moída, usam todos os índios por tabaco especial, que dizem, os faz végetos (robustos), fortes, e vigorosos, e por isso o preferem ao tabaco ordinário, de que ordinariamente não usam. Dão estas árvores do Paricá a goma-arábica tão perfeita, que me afirmou um missionário de muita experiência que não só a tinha visto, e mostrado a outros curiosos, mas que também usava dela, e que a há em muita quantidade, e de duas cores, branca e loura, sinal de que há duas espécies de pau Paricá. Ao tabaco que fazem de sua frutinha chamam também Paricá, não sei se tomando o nome original da árvore, ou se a árvore lhe dá o seu nome na língua do país, porque na língua portuguesa o chamam de angico. (DANIEL)
   Henry Walter Bates (1850)
Há um curioso costume dos Muras que merece ser registrado antes que eu termine esta digressão. Trata-se da prática de cheirar um pó chamado Paricá, o que é feito de acordo com um ritual peculiar. Esse pó, altamente estimulante, é preparado com as sementes de uma espécie de ingá, planta pertencente à ordem das leguminosas. As sementes são postas para secar ao sol, depois socadas num pilão de madeira e guardadas em canudos de bambu. Quando elas estão maduras e chega a época do preparo do pó, os Muras fazem uma espécie de festival de caráter semirreligioso, que os brasileiros chamam de quarentena e dura vários dias, durante o qual ficam permanentemente embriagados. Começam tomando grande quantidade de caiçuma e caxiri, bebidas feitas com mandioca e vários tipos de frutas fermentadas; contudo, preferem a cachaça quando conseguem obtê-la. Em pouco tempo eles chegam a um estado de semitorpor, quando então começam a cheirar o Paricá. Com esse fim, eles se separam formando pares, e os componentes de cada dupla, servindo-se de um canudo contendo uma certa quantidade do pó, sopra-o com toda a força dentro das narinas do companheiro, depois de fazer uma encenação e murmurar uma série de palavras ininteligíveis. O efeito que isso causa nos selvagens, habitualmente apáticos e taciturnos, é extraordinário. Eles se tornam imediatamente muito falantes e começam a cantar, gritar e pular em louca excitação. Logo vem uma reação contrária, porém, e é preciso então mais bebida para tirá-los do seu estupor; e assim eles continuam vários dias. (...) Os primeiros viajantes a percorrerem a região descobriram que o Paricá já era usado pelos Omáguas, um ramo dos Tupis que habitou outrora a região do Alto Amazonas, distante mais de mil quilômetros das terras dos Mauhés e dos Muras. (BATES)
    Richard Spruce (1854)
A primeira vez que colhi espécimes de Paricá foi em 1850, perto de Santarém, na confluência do Tapajós com o Amazonas, onde a planta parecia ser cultivada. No ano seguinte, vim colhê-la à beira do riacho Jauauari, afluente do Rio Negro, em estado indubitavelmente nativo. Mas não vi o pó preparado a partir de sementes e sendo usado senão em 1854, nas cataratas do Orinoco. Uma horda errante de Guaíbos provenientes do Rio Meta estava acampada nas savanas de Maypures e, quando os visitei, vi um velho que estava moendo sementes de “niopo”. Ele me vendeu o artefato com o qual se fabrica o pó e os instrumentos com que ele é inalado, os quais agora se encontram entre os artigos expostos no Museu de artigos Vegetais em Kew. (...)
Primeiro, as sementes são assadas, e em seguida reduzidas a pó numa tigela rasa de madeira, quase do tamanho de um vidro de relógio de parede, porém mais comprida do que larga, medindo 23,5 por 20,3 centímetros e dotada de um cabo largo que permite mantê-la presa entre joelhos. O índio segura o cabo com a mão esquerda, e com a direita empunha um pilãozinho feito de pau-d’arco (Teecomae, sp), e assim vai triturando as sementes. O pó resultante desse processo é guardado num estojo feito com um pedaço do fêmur de onça, lacrado numa das extremidades com piche. Esse estojinho é carregado como se fosse um colar, todo revestido de rizomas odoríferos extraídos de uma Ciperácea (Kyllingia odorata). É assim que se faz tanto no Amazonas como no Orinoco, pois os índios acreditam que esses rizomas sejam poderoso antídoto contra mau-olhado e inveja.
Para inalar o rapé de “niopo”, eles fabricam com um osso tirado da perna de uma garça (ou de outra ave pernalta), um pequeno instrumento parecido com um diapasão, isso é, em formato de Y, aberto em baixo e tapado nas pontas de cima com pequenos botões pretos perfurados, feitos do endocarpo de uma certa palmeira. O tubo de baixo é introduzido no estojo de “niopo”, e os braços com tampas perfuradas nas narinas do usuário, que desse modo inala aquele rapé de imediato efeito narcótico estimulante, mormente quando se trata de pessoa não habituada ao seu uso. O efeito estimulante dura poucos minutos, seguindo-se um efeito calmante mais duradouro.
Os Guaíbos levavam, pendurados ao pescoço, além do estojinho de “niopo”, um pedaço da “caapi” pois, enquanto moíam o “niopo”, costumavam arrancar um naco da “caapi” com os dentes, mascando-o com evidente satisfação. “Com uma mascada de caapi e uma pitada de niopo, que sensação de bem-estar! A gente não sente fome, nem sede, nem cansaço!”- disse-me um deles em seu espanhol canhestro. Desse indíviduo escutei que o “caapi” e o “niopo” eram usados em todas as tribos dos afluentes do alto Orinoco, ou seja, do Guaviare, do Vichada, do Meta, do Sipapo, etc.
Tempos atrás, em 1852, eu havia comprado, de um comerciante de Manaus, um dispositivo para inalar “niopo”, um tanto semelhante ao utilizado pelos Guaíbos. O comerciante o tinha trazido do Rio Purus, de uma tribo de índios Catauixis. Na ocasião, fiz a seguinte anotação em meu Diário:
Os Catauixis usam o rapé de “niopo” como estimulante narcótico precisamente como os Guaíbos da Venezuela, os Muras e outros índios do Amazonas, onde o pó é chamado de “Paricá”. Para absorvê-lo por via nasal, prepara-se um tubo curvo com um tarso de uma ave cortado ao meio, sendo as partes amarradas entre si de maneira a formar um ângulo que deixe a extremidade na boca e a outra na altura das narinas. Uma porção do rapé é colocada no tubo e soprada, entrando nas narinas. Esse mesmo princípio é utilizado para a confecção de aparelhos de lavagem intestinal, só que se utilizando o tarso de uma ave bem maior, o tuiuiu (Mycteria americana). O efeito da inalação do “Paricá” é o de induzir rapidamente uma espécie de intoxicação, cujos sintomas lembram, segundo me disseram, os produzidos pelo fungo “Amanita muscaria”. Tomado por via oral, funciona como purgante violento, dependendo da dose. Quando os Catauixis estão prestes a partir para a caça, tomam uma pequena dose de “Paricá” e ministram outra em seu cão, e o efeito em ambos, segundo dizem, é o de clarear a visão e torná-los mais atilados e alertas...
Em seu livro “O Vale das Amazonas”, Herndon nos oferece um relato de emprego de “Paricá” entre os índios Mundurucus do Rio Tapajós, repetindo o que lhe fora contado por um inteligente francês chamado Maugin, que costumava comerciar com esses índios. Segundo esse relato, eles pulverizavam as sementes de Paricá, depois compactam o pó transformando-o numa massa dura, da qual extraem, de tempos em tempos, um pedaço que voltam a reduzir a pó, utilizando-o como rapé. Para inalar esse pó, utilizam os canos de duas penas da cauda da garça-real, formando um tubo duplo, e aplicam uma extremidade nas narinas e outra no pó, inspirando-o de uma só vez. Os efeitos dessa inalação foram assim relatados por Monsieur Maugin: O índio arregalou os olhos, contraiu os lábios e suas pernas começaram a tremer. Seu aspecto dava medo. Para não cair, teve de sentar-se. Era como se estivesse completamente embriagado. Todavia, passados uns cinco minutos, recobrou-se inteiramente e voltou ao seu estado normal. (SPRUCE)

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