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terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Projeto Desafiando o Rio-Mar: Fonte Boa/Tamaniquá

Projeto Desafiando o Rio-Mar: Fonte Boa/Tamaniquá

"Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)

Polícia Militar de Fonte Boa

Desde nosso contato com Coronel Rômulo, comandante do Policiamento do Interior, os policiais militares do Amazonas foram incansáveis em nos apoiar no transporte de material e contato com autoridades locais. Gostaríamos de deixar registrado o profissionalismo, a urbanidade e a atenção com que nos trataram os policiais de São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá, Tonantins e Jutaí. Realmente, Fonte Boa foi uma exceção à regra; o descaso e a falta de apoio por parte do comandante do destacamento não são compatíveis com as tradições da instituição que deveria representar.

Largada para Tamanaquá

O senhor José Antonio, do Hotel Eliana, suprindo a falta da Polícia Militar, conduziu-nos, gentilmente, até o Frigorífico Pescador. Partimos por volta das 8h, depois de agradecer o apoio do senhor Sabá Franco, administrador do frigorífico e paramos duas vezes antes de chegar às proximidades da foz do Juruá.

Foz do Juruá

Na segunda parada, por volta das 11h35min, verifiquei a enorme discordância da carta com o terreno em relação à margem direita do Solimões perto da foz com o Juruá. Já acostumado com os devaneios deste rio errante, concluí que toda ilha à margem esquerda do Juruá tinha sido violentada pela fúria do rio-mar na sua ânsia de remodelar o relevo a seu bel prazer. A transformação criou um delta na foz do Juruá. A dilapidada ilha da inocência, à jusante da foz, talvez venha a se transformar num ícone da perda da inocência do rebelde rio-menino.

Nova Matusalém

Na foz do Juruá, parei para tirar algumas fotos, que foram prejudicadas, porém, pela altura da vegetação. Na margem direita da foz, aportamos no local denominado pelas cartas como Porto Colombiano, mas chamado pelos populares ribeirinhos como Nova Matusalém. Fomos impedidos de pernoitar, tendo em vista que o presidente e o vice-presidente da comunidade se encontravam ausentes. Pela primeira vez nos foi recusado abrigo no Amazonas.

Tamaniquá

Partimos para Tamaniquá, que podia ser avistada no horizonte a uns sete quilômetros. Tamaniquá é a cidade natal do amigo Sabá Franco. Sabá havia recomendado que procurássemos o Flutuante do Ribeiro. O nosso dia, que começara mal com o “calote na recepção” por parte da polícia militar de Fonte Boa e continuara assim com a falta de hospitalidade da comunidade nova Matusalém, consagrou-se com o descaso do Ribeiro.

Professor Emanuel Carvalho

Fomos até a escolinha local, onde encontramos o gestor Emanuel. O professor foi extremamente educado e receptivo, acolhendo-nos em uma de suas salas de aula onde permitiu que acampássemos.

Amigo Chico

Descarregamos o material na sala de aula e fomos, imediatamente, tomar um banho no rio. Revigorados, fomos degustar os saborosos 'dindins' (sacolés) da D. Maria, esposa do Chico. Quase acabamos com o estoque da casa. Contratamos o Chico para nos levar, de rabeta, até uma comunidade indígena, Kulina, às margens do Juruá. Terminado o pequeno lanche, saímos pela comunidade para fotografar.

Pernoite

Para nos livrarmos dos mosquitos, dormimos na barraca montada dentro da sala de aula, livre dos mosquitos, mas não do calor. O gerador desliga às 23h e, a partir daí, foi difícil conciliar o sono em decorrência do calor com os latidos de cães à noite toda.

Ritmo Amazônico

O Chico, como bom caboclo, deixou tudo para a última hora: preparação do barco e compra de combustível, talvez para não fugir à regra ou talvez querendo nos adaptar ao 'ritmo amazônico de fazer as coisas'.

Visita ao Juruá

Atalhando por um Paraná, dois furos e um lago, chegamos à comunidade. O percurso se reveste de uma beleza sem igual. Longe da impetuosidade dos grandes mananciais, estas artérias têm um ritmo dolente; o motor de 6,5 Hp nos impulsiona com vagar, permitindo admirar a natureza ao redor.

Mário Quintana

Perguntaria, intrigado, o leitor, como recordar Mario Quintana, um poeta da cidade, no coração da selva hostil. A lembrança nos veio ao avistar os formidáveis colossos arbóreos tombados junto às margens. Troncos e galhos desfolhados e esbranquiçados pelo tempo imitavam a agonia das 'mãos de enterrados vivos' do Quintana.

Evolução das espécies

Lembrar Charles Darwin talvez seja mais racional ao divagarmos sobre a adaptação da Amazônica Biodiversidade. As árvores tombam com facilidade porque as raízes que as sustentam são por demais superficiais. O solo pobre não estimula a que procurem nutrientes, aprofundando suas raízes. Algumas árvores, porém, mais sábias, mais adaptadas ou evoluídas, utilizam de verdadeiros estais para procurar manter sua estabilidade, que na região são chamados de sapopemas.

Comunidade Kulina

Entrevistamos o cacique Francisco e fotografamos diversas crianças da comunidade. O cacique é o único professor e ministra aula do primeiro ao quarto ano. Algumas mães nos procuraram para que seus filhos fossem fotografados. Os kulina formam um grupo de pouco mais de 700 membros e ainda preservam sua língua e cultura. A falta de apoio por falta da prefeitura de Juruá ficou patente no pronunciamento do cacique.

Retorno

Na maior parte do tempo enfrentamos chuva e um 'banzeiro', vencido com facilidade pela destreza do Chico. Somente na foz do Juruá, onde eu pretendia tirar umas fotos, a chuva deu uma pequena trégua. O Romeu preparou um arroz com sardinha e enquanto descansava, preparando-se para a aula de canoagem para a gurizada, eu consegui com o professor Emanuel autorização para utilizar o computador, descarregar as fotos (mais de cem) e escrever este artigo.

Resolvi que os próximo artigos - como serão todos produzidos na reserva Mamirauá, quando ocuparemos os quatro flutuantes do Instituto, antes de chegar a Tefé - serão compilados em um único documento. Estamos ansiosos e esperando que o apoio por parte do Exército em Tefé seja total, já que as Prefeituras, com as quais não tínhamos maiores vínculos, não pouparam esforços em nos agradar.

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