MAPA
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
domingo, 30 de dezembro de 2012
sábado, 29 de dezembro de 2012
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Porto Walter/Cruzeiro do Sul
Porto Walter/Cruzeiro do Sul
Hiram
Reis e Silva, Cruzeiro do Sul, Acre, 27 de dezembro de 2012.
Desde
menino eu os conhecia com os nomes de mosquito pólvora ou pium, à beira do Rio
Piracicaba... Mandei juntar esterco de gado e atear fogo ao mesmo, a fim de
produzir fumaça abundante para afugentar os quase invisíveis maruins. (IGLESIAS
Francisco)
- Rumo
à Comunidade Ruças – Rio Valparaíso (25.12.2012)
O
Angonese resolveu tentar a sorte na pescaria embarcando na lancha “Mirandinha” e o Marçal assumiu o comando
do “indomável” me acompanhando neste
percurso de mais de 55 km
até o Rio Valparaíso. Partimos às 7h15, o nível das águas do Juruá baixara mais
de um metro em 24 horas e, em consequência, a velocidade das águas diminuíra
consideravelmente. Como se isso não bastasse o sol inclemente e a ausência de
nuvens minou sensivelmente nossas energias e chegamos bastante cansados ao Valparaíso
onde tivemos ainda de remar uns 500 metros Rio acima para alcançar a Comunidade
de Ruças.
O
Angonese e o Mário já tinham conseguido com o Sr. Antonio, morador local,
autorização para acamparmos na Escolinha Municipal Alfredo Said. Poderíamos
fazer uso das instalações sanitárias e tomar um bom banho de caneca usando a
água da cisterna alimentada por água da chuva. O excelente carreteiro para
nosso almoço foi preparado pelo Marçal na residência do Sr. Antonio, tudo
corria bem, havia apenas um senão, enxames de carapanãs, piuns e maruins
disputavam nosso sangue avidamente. Alguns deles conseguiam passar pela tela
das barracas a situação era drástica. O Mário conseguiu uma chapa metálica e
iniciou um pequeno fogo onde colocou folhas verdes de ingá. O Angonese escudado
pelo Mário foi pescar e eu e o Marçal ficamos sofrendo com o ataque dos
pequenos insetos que não se sentiram intimidados com a fumaça até que
resolvemos fazer uso de uma antiga e infalível receita. Recolhemos esterco seco
de gado e alimentamos o pequeno fogo, o efeito logo se fez sentir – os
famigerados seres alados sumiram e nos deixaram em paz.
Quando
criança acompanhava meu pai nas caçadas e pescarias e este remédio contra os
insetos sempre se mostrou eficiente. Diferente das noites anteriores em que os
maruins conseguiam passar pelas telas das barracas e os carapanãs ficavam
zumbindo do lado de fora tivemos uma noite agradável e reparadora.
- Rumo
à Comunidade Nova Cintra (26.12.2012)
Partimos
eu e o Angonese logo depois das sete horas. Diferente do dia anterior a manhã
já se iniciou bastante nublada e uma garoa fina me acompanhou até a Comunidade
Nova Cintra aonde cheguei por volta das 12h10, plenamente em forma, depois de
percorrer 65 km .
Estranhei a demora de minha equipe e resolvi adiantar os contatos. Puxei o
caiaque barranco acima e procurei a moradora cuja casa ficava mais próxima. A
simpática Dona Maria de Nazaré de Souza Correia muito prestativa informou-me onde
ficava a residência da Sra. Nonata encarregada da modelar Escola Estadual José
de Souza Martins.
Depois
de recorrer a diversos moradores cheguei, finalmente, à residência da Dona
Nonata, uma simpática idosa, que informou que não tinha autoridade para liberar
as instalações para montarmos nosso acantonamento, mas que podíamos utilizar a
varanda e a grande cozinha de sua casa para nos instalarmos. Frustrado nas
minhas pretensões de acampar na escolinha resolvi deixar o material que
carregava na casa de minha nova anfitriã e voltei para a margem para aguardar
minha equipe.
Estava
observando o Rio quando se aproximou Dona Maria de Nazaré e perguntei se
poderíamos usar a igreja em construção para acampar e ela informou que sim. A
igreja ficava bem mais perto da margem do que a residência de Dona Nonata. Poderíamos
fazer a comida na cozinha de Dona Maria e tomar banho na cacimba logo abaixo. Ficamos
conversando durante uma hora até que avistamos o Coronel Angonese. Chamei o
amigo e ajudei-o a puxar o caiaque pelo escorregadio barranco. Aguardamos uns
dez minutos até que o Mário e o Marçal apareceram subindo o Rio. Os marinheiros
não haviam notado o meu caiaque na barranca e passaram ao largo, o curioso é que
eles tinham fotografado a Comunidade Nova Cintra e meu caiaque “Cabo Horn” aparecia nitidamente nas
fotos.
Falei,
brincando, que como castigo o Mário teria de ir até a casa de dona Nonata
buscar minhas coisas e trazê-las para a igreja onde iríamos acampar.
Descarregamos o material da lancha e eu estava fazendo uma faxina na igreja em
construção quando o Mário disse que estávamos autorizados a acampar na
escolinha. Quando lá cheguei estava Dona Nonata gerenciando a limpeza do local
para nosso acampamento, ela liberou, também, através da servente da escola, a
cozinha e as instalações sanitárias. Realmente eu soube escolher devidamente o
Mário para contatar os ribeirinhos e conseguir deles o maior apoio possível.
Tomamos um bom banho com água de poço artesiano e fomos almoçar, o saboroso
carreteiro preparado pelo Marçal, na residência da querida senhora Maria de
Nazaré. Enquanto almoçávamos Dona Maria de Nazaré relatou a passagem do místico
Irmão Francisco José da Cruz pela Comunidade nos idos de 1968, quando ela tinha
apenas 5 anos, e o Cruzeiro que o mesmo fez erigir na elevação mais alta
defronte ao Rio Juruá. A Cruz foi atacada pelos cupins, mas os fiéis erigiram
uma nova cruz no mesmo local e a ela amarraram a antiga cruz venerada pelos
seus seguidores. Redigiremos, mais tarde, um capítulo à parte sobre este estranho
pregador que plantou inúmeras cruzes ao longo da Bacia do Amazonas.
Acordamos
ao clarear o dia e depois de fazer uma faxina completa nas instalações da
escolinha e nos despedir de Dona Maria de Nazaré iniciamos nossa jornada.
- Rumo
a Cruzeiro do Sul (27.12.2012)
O ritmo das remadas foi bem mais
lento que o dos dias anteriores. Apenas 38 km nos separavam de Cruzeiro do Sul onde
tínhamos marcado, com o repórter Leandro Altheman, jornalista da TV Aldeia,
grupo SBT, em Cruzeiro do Sul, que passaríamos pela Ponte da União exatamente às
13 horas. Um profissional honesto e competente: http://www.youtube.com/watch?v=U_KL4hwykRE
A “Mirandinha” teve de abastecer 20 litros em Rodrigues Alves , a
30 km de
nosso destino, nossa lancha, na descida mantera uma média preocupante de apenas
2 km/l. Aproveitamos para curtir a natureza, observar as frágeis embarcações
ribeirinhas que passavam carregadas de gêneros e pessoas, em algumas cinco a
seis cães acompanhavam seus donos sem esboçar qualquer movimento o que,
certamente, poderia comprometer o equilíbrio das instáveis voadeiras, botes,
montarias e canoas.
Aportamos às onze horas em uma praia
500 metros
à montante da Foz do Moa e fizemos contato com o Leandro, através de minha querida
parceira Rosângela, para tentar antecipar em uma hora a reportagem. O Leandro
acionou imediatamente sua equipe e agendamos então para o meio dia a passagem
pela Ponte. O dia claro e com poucas nuvens prometia facilitar as tomadas da
equipe de televisão. Às 11h30, iniciamos lentamente nossa aproximação, o tempo
começou a mudar, nuvens pesadas surgiram pela proa trazendo logo em seguida
chuva, ventos fortes encapelando as águas. Era cedo ainda, eu e o Angonese nos
agarramos a alguns arbustos nas margens, aguardando a hora marcada. Às 11h40,
mandei a equipe de apoio realizar um reconhecimento para verificar se os
repórteres estavam a postos e, como a resposta foi negativa, ficamos realizando
pequenas remadas rio acima, para aquecer, aguardando a hora exata da
transposição.
A chuva e o vento castigavam nossos
corpos e ao meio-dia, em ponto, resolvi abordar a Ponte. Não notamos nenhum
movimento da reportagem e resolvi rumar diretamente para o Porto do 61º BIS. A
meio caminho a Rosângela me informou que a repórter Glória Maria estava na
Ponte nos aguardando. Determinei à equipe de apoio que buscasse a equipe de
reportagem e que eles fizessem as tomadas a partir da lancha “Mirandinha” do 8º BEC. Depois de feitas
as tomadas do deslocamento abordamos a lancha e a simpática e inteligente repórter
nos entrevistou enquanto as embarcações desciam de bubuia.
Depois da entrevista fomos para o
Porto do 61º BIS onde uma viatura nos aguardava e nos deslocou até o Hotel de
Trânsito. Tivemos, finalmente, a oportunidade de conhecer o Tenente-Coronel Alexandre
Guerra, Comandante do 61º BIS, que hipotecou total apoio à Expedição.
- Localização
de Comunidades e Acidentes Naturais
§
Foz
do Igarapé Juruá Mirim, margem Esquerda do Rio Juruá:
(08º07’36,5”S/72º48’29,5”O)
§
Comunidade
Simpatia, margem Direita do Rio Juruá:
(08º05’12,7”S/72º46’39”O)
§
Foz
do Igarapé Valparaíso, margem Direita do Rio Juruá:
(08º01’09,5”S/72º44’43,1”O)
§
Foz
do Paraná do Moura, margem Esquerda do Rio Juruá:
(07º52’45,3”S/72º45’58,6”O)
§
Comunidade
Nova Cintra, margem Esquerda do Rio Juruá:
(07º49’28,1”S/72º39’31,1”O)
Fonte: IGLESIAS Francisco. Caatingas e chapadões:
(notas, impressões e reminiscências do meio-norte brasileiro, 1912-1919) -
Companhia Editora Nacional, 1958.
Marechal Thaumaturgo/Porto Walter
Marechal Thaumaturgo/Porto Walter
Hiram
Reis e Silva, Porto Walter, Acre, 24 de dezembro de 2012.
Garça
feliz
(Quintino
Cunha)
Um Lago, a cuja flor, nas canaranas,
Impossível, traiçoeiro, repelente,
Um jacaré assustadoramente
Estruge e tange as gárrulas ciganas.
(...)
- Rumo
à Comunidade do Lago Tuaré (22.12.2012)
A estada, de dois dias, no
Destacamento foi bastante proveitosa e permitiu que nos refizéssemos plenamente
do esforço inicial dos dois dias de deslocamento da Foz do Breu até Marechal
Thaumaturgo, um percurso de aproximadamente 135 km de águas muito
rápidas, mas com uma enorme quantidade de troncos e outros detritos vegetais que,
volta e meia, bloqueavam parcialmente o Rio Juruá. Em uma Expedição longa
como a nossa deve-se ir aumentando gradativamente as distâncias para evitar
desgastes físicos desnecessários e contraturas que podem prejudicar o bom êxito
da missão. O ideal era que se chegasse fisicamente preparado para o início das
travessias, mas, no meu caso, isso jamais foi possível.
Em nenhuma de minhas jornadas
amazônicas consegui dar início aos deslocamentos dentro de minha melhor forma
física. Os preparativos para a viagem, as inúmeras providências administrativas
que precisam ser tomadas acabam interrompendo os treinamentos e, sistematicamente,
tenho iniciado minhas descidas sem treinar durante um mês inteiro. Desta feita
participei, na última semana de novembro, de um Seminário em Manaus quando
aproveitei para tentar obter apoio institucional e particular ao Projeto, todos
os elementos consultados mostrara-se extremamente simpáticos à Expedição
Coronel Belarmino Mendonça, mas por demais reticentes em apoiá-la efetivamente.
Partimos às sete horas da manhã, o
Juruá tinha baixado quase dois metros em apenas quarenta e oito horas, tive de arrastar
o caiaque por cima das canaranas que antes estavam totalmente submersas. A
alternância de chuva nas cabeceiras do Alto-Juruá determina esta drástica
variação. Os ribeirinhos acompanham atentamente o ciclo das águas para evitar
que suas embarcações fiquem temporariamente encalhadas nas praias.
- Comunidade do Lago Tuaré
Uma jornada perfeita. Por volta das
doze horas pedi que a equipe de apoio passasse à frente e buscasse um local
apropriado para nosso acantonamento. Aportei às 13 horas na Comunidade do Lago
Tuaré. O Mário e o Marçal já tinham montado nossas barracas em uma das salas de
aula da Comunidade e como a escolinha não tinha fogão solicitaram à matriarca
Sra. Maria Francisca Queirós Correa que preparasse nosso almoço.
Ultimamos a montagem do
acantonamento enquanto aguardávamos o almoço ficar pronto e o Coronel Angonese
chegar. Dona Maria gentilmente preparou o almoço que mais tarde foi degustado
pelo quarteto na cozinha da residência da querida senhora.
Lago
maldito
(Jonas
Fontenelle da Silva)
Se hoje, em surdina, o teu pesar
disfarças,
Ouvindo o canto das jaçanãs morenas,
Sentes, minh’alma, as aflições e as
penas
De um Lago azul sem jaçanãs nem
garças. (...)
Fomos tomar um banho no Lago Tuaré, onde
as jaçanãs agitadas, incomodadas com a nossa presença, gargalhavam. Tomamos
banho dentro das canoas, tendo em vista que o leito do Lago é lodo puro. Depois
do banho ficamos conversando com o líder da Comunidade Sr. Evilácio Rodrigues
Correa esposo da Dona Maria. Filho de português com uma acreana o mestre
Evilácio foi outrora um mecânico, torneador, fundidor de peças e um marceneiro
de mão cheia que hoje se esforça para repassar o conhecimento aos filhos.
Enquanto conversávamos seus filhos construíam uma passarela de madeira ligando
as residências e a escolinha para facilitar a movimentação dos moradores na
época das cheias.
À noite fomos, novamente, convidados
para fazer a refeição na casa do mestre Evilácio. A Comunidade incrustada no Parque
Nacional da Serra do Divisor é formada por descendentes de Evilácio e Maria
onde reina um clima de total harmonia. Foi muito bom desfrutar do convívio,
ainda que brevemente, destes novos amigos ribeirinhos que nos receberam com
tanto carinho e amizade no seio de sua família. Sem qualquer consulta aos
moradores os técnicos “ecochatos” do
Meio Ambiente denominaram a Comunidade como Porungaba e os mapas do DNIT a
localizam na margem direita quando na verdade está localizada na margem
esquerda do Juruá (8º40’33,7”S/72º49’06,3”O). O Igarapé Porungaba, que passou a
denominar a pequena Comunidade, situado à margem direita do Juruá, é um pequeno
filete d’água sem a menor expressão física enquanto o belo Lago Tuaré de águas
pretas, que fica nos fundos da Comunidade e foi, sem sombra de dúvidas, um dia,
o leito do tumultuário Juruá é um acidente natural muito mais importante.
- Rumo
à Comunidade Novo Horizonte (23.12.2012)
Despedimo-nos de nossos novos e
queridos amigos e partimos depois das sete da manhã. As águas do Juruá tinham baixado
mais ainda. O rendimento das remadas seria menor que o dia anterior (10 km/h ) e muito menor que
no trecho Foz do Breu-Thaumaturgo onde conseguimos imprimir, em alguns trechos,
15 km/h .
A viagem transcorreu sem grandes
alterações, marquei alguns pontos notáveis do terreno para corrigir os mapas e
chegamos por volta das treze horas. Nosso Destacamento Precursor, em Novo Horizonte , já
conseguira autorização para montar nossas barracas no estreito corredor da
escolinha.
Novamente contamos com a gentileza de
Cristovão, filho da matriarca Sra. Maria de Fátima, e sua esposa Rosa que
permitiram que o Marçal usa-se sua cozinha para preparar um saboroso
carreteiro. À noite nos deleitamos com alguns barbados fritos pescados pelo
Angonese. Desde que saímos de Thaumaturgo que os temíveis piuns, maruins e uma
mutuca, do tamanho de uma mosca, não nos deixam em paz. Nenhum repelente
afasta os terríveis insetos, nem mesmo a nossa fantástica andiroba surtiu
efeito desta feita. Conseguimos água da chuva para tomar banho. O acesso à
margem do Juruá era lodo puro e não compensaria o sacrifício.
- Rumo
a Porto Walter (24.12.2012)
Despedimo-nos dos amigos e partimos às
07h15. As chuvas intensas que caíram à tarde aceleraram, um pouco as águas do
Juruá permitindo que atingíssemos 10km/h. O Angonese ficou para trás para tirar
mais algumas fotos da Comunidade. O despertar do dia foi tremendamente festivo,
era véspera de Natal e poucos ribeirinhos cruzavam por nós com suas ruidosas
rabetas que afastavam os botos e calavam os pássaros temporariamente.
Como na maioria dos rios de águas
brancas a profusão de cantos, ao amanhecer, das mais diversas espécies é uma
verdadeira ode ao astro rei. Senti falta apenas, desde a Foz do Breu, do som
gutural dos guaribas. Volta e meia passava por um monumento arbóreo, estes imensos
gigantes da floresta carregados de bromélias, pequenas orquídeas e uma
infinidade de parasitas, verdadeiros viveiros naturais abrigando nas suas
frondes todo o tipo de insetos, aves e pequenos mamíferos.
Eu observava encantado, nas margens
externas das curvas, os enormes paredões sendo moldados continuamente pela
força das águas. Volta e meia grandes blocos arenosos despencavam ruidosamente,
por vezes blocos maiores carregavam consigo a vegetação marginal abatendo cruelmente
em poucos segundos árvores centenárias. O Rio Juruá traz no seu DNA a
inconstância tumultuário do Amazonas. O Rio-mar teve um avô formidável que
corria para Noroeste e desaguava no Pacífico nas priscas eras da “Pangea”, teve como pai o “Lago Pebas”, quando os continentes se
separaram e suas águas foram barradas pela Cordilheira dos Andes que se formou.
Pangea ou Pangeia - nome dado ao continente que, segundo a teoria
da deriva continental, existiu até 200 milhões de anos, durante a era Mesozoica
e que, nessa altura, começou a se fragmentar. (Nota do Autor)
Lago Pebas - há aproximadamente 11
milhões de anos, a bacia amazônica estava submersa num grande Lago (Pebas) que
tinha saída para o Oceano Pacífico. Com a deriva dos continentes e a
consequente elevação da Cordilheira dos Andes, as águas ficaram temporariamente
represadas até que passaram a correr para Leste, formando a bacia amazônica e o
Rio Amazonas desaguando no Oceano Atlântico. A drenagem possibilitou que
algumas das terras submersas aflorassem. (Nota do Autor)
Talvez o Juruá como fiel tributário
do Amazonas e que traz nos seus genes a herança ancestral deste extraordinário
colosso, queira mostrar que também é um adolescente intempestivo e rebelde afrontando
tudo à sua volta, provocando alterações profundas na natureza e na vida dos
ribeirinhos.
Cheguei,
por volta das doze horas, no Posto de combustível Flor D’água, em Porto Walter. O
Coronel Angonese já estava em
Porto Walter , como bom infante resolvera fazer uma incursão
terrestre atalhando uma grande alça do mais sinuoso dos Rios do planeta. Novamente
pedi apoio aos nossos amigos da Polícia Militar que prontamente nos
transportaram e nos abrigaram em seu aquartelamento. Iríamos passar o Natal em Porto Walter , AC, e
partiríamos de manhã para mais uma etapa de três dias até Cruzeiro do Sul, AC.
Fomos conhecer o centro da pequena cidade e na volta participamos da ceia
natalina preparada pelos nossos amigos policiais militares.
- Localização de Comunidades e Acidentes
Naturais
§
Comunidade
do Lago Tuaré (Porungaba), margem Esquerda do Juruá:
(08º40’33,7”S/72º49’06,3”O)
§ Foz do Igarapé São Luís, margem Esquerda
do Juruá:
(08º47’17,4S/72º49’23,5”O)
§
Comunidade
Triunfo, margem Direita do Juruá:
(08º47’17,7”S/72º49’46,6”O)
§
Foz
do Igarapé São Luís, margem Esquerda do Juruá:
(08º47’17,4”S/72º49’23,5”O)
§
Foz
do Igarapé Paratari, margem Esquerda do Juruá:
(08º43’27,3”S/72º48’43,5”O)
§
Comunidade
Santa Fé, margem Esquerda do Juruá:
(08º36’39,4”S/72º51’02,6”O)
§
Foz
do Igarapé Grajaú, margem Direita do Juruá:
(08º34’07,8”S/72º47’57,7”O)
§
Foz
do Riozinho das Minas, margem Esquerda do Juruá:
(08º30’56,8”S/72º50’31,2”O)
§
Comunidade
Novo Horizonte, margem Direita do Juruá:
(08º26’51,6”S/72º49’11,4”O)
§
Comunidade
Vitória, margem Direita e Esquerda do Juruá:
(08º21’47,7”S/72º46’11,6”O)
§
Foz
do Igarapé Ouro Preto, margem Esquerda do Juruá:
(08º23’30,8”S/72º49’41,0”O)
§
Porto
Walter, margem Esquerda do Juruá:
(08º16’02,3”S/72º44’36,2”O)
§
Foz
do Igarapé Riozinho, margem Direita do Juruá:
(08°15'54,7”S/72°44'18,6”O)
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
Destacamento de Fronteira
Destacamento de Fronteira
Hiram
Reis e Silva, Marechal Thaumaturgo, Acre, 21 de dezembro de 2012.
Suplico a Usted tenga la bondad de manifestar a sus conciudadanos que
antes de partir les agradezco particularmente la distinción de aprecio que
conservaran para el que tuvo el honor de ser un año Comisario de este Río, que
el de su parte va con la conciencia tranquila porque jamás engañó en sus
deliberaciones y actos de justicia. El día 4 de noviembre quedará como
testimonio de que los hombres íntegros no saben temer el peligro y que por
conseguinte sus distinguidas atenciones serán para mí un grande recuerdo que
llevare al seno de mi familia. A Usted mi querido amigo, le ofrezco, como
siempre, mi más sincera amistad para que pueda ocuparse con la confianza del
verdadero amigo en el Callao Perú. Lleve a sus compañeros en el Moa, mi saludo
y manifiésteles que hago por la más estrecha paz en Brasil y Peru.
(Major Ramirez Hurtado – Carta ao Capitão D’Ávila − Arquivo Histórico do Itamarati)
(Major Ramirez Hurtado – Carta ao Capitão D’Ávila − Arquivo Histórico do Itamarati)
- 19/22.12.2012
– Destacamento de Fronteira
Resolvemos permanecer no
Destacamento de Fronteira até sábado, 22 de dezembro. A educação,
profissionalismo e cortesia dos militares cativaram-nos. O Angonese conseguiu,
finalmente, satisfazer seu desejo de pescar, sua incursão ao Rio Arara
proporcionou-lhe a captura de uns belos surubins, de mais de 80 centímetros , e eu
e os outros membros da equipe desfrutamos do convívio salutar destes gentis
guerreiros além de termos a possibilidade de conhecer a cidade de Thaumaturgo e
arredores.
O Destacamento é um pólo de
excelência plantado numa região desprovida dos confortos da vida moderna, mas
os militares destacados que aqui permanecem entre dois e três meses voltam-se não
só para sua atividade fim, mas também cuidam de uma pequena horta e criação de
galinhas e porcos que incrementam satisfatoriamente seu rancho.
As instalações novas, recentemente
inauguradas, são impecáveis, cuidadas com muito esmero e a área do entorno
exige um cuidado especial no que se refere à manutenção tendo em vista nos
encontrarmos em pleno inverno amazônico. A capina é feita semanalmente não só
com o objetivo de manter o asseio e a segurança das instalações, mas, sobretudo,
para evitar a aproximação das temíveis surucucus que infestam a área. O local
do Destacamento contrasta com a de seus vizinhos onde o capinzal e o desleixo
são a tônica. O Pelotão, através do Tenente Santiago e do Sargento Wanderley
conseguiu disponibilizar todos os motores rabeta que se encontravam
indisponíveis além de promover outras melhorias importantes no Destacamento.
- “Modus
Vivendi”
No início do século XX, o “Modus Vivendi” era mais uma tática
inteligente que permitia dar continuidade ao projeto de ocupação pelos brasileiros
da região do Alto-Juruá e Alto-Purus e interromper os conflitos entre
caucheiros e seringueiros, estimulados pelas tentativas peruanas de estabelecer
Postos Aduaneiros em uma região densamente habitada por nacionais, até que se
chegasse aos acordos diplomáticos definitivos.
- Capitão
Francisco d’Ávila e Silva
Por dever de justiça o Destacamento Thaumaturgo
de Azevedo deveria se chamar Capitão Francisco d’Ávila e Silva como justo
tributo ao Comandante da tropa que investiu contra o Posto Militar e aduaneiro
peruano ilegalmente edificado à Foz do Amônea (atual Marechal Thaumaturgo, AC).
O Coronel Thaumaturgo de Azevedo,
estacionado na altura do Moa, atual Cruzeiro do Sul, AC, apesar de envidar
todos os esforços diplomáticos possíveis não conseguiu impedir que os peruanos continuassem
a cobrar impostos e obrigassem as embarcações brasileiras a substituir a
Bandeira Nacional pelo pavilhão inca na passagem pelo Amônea.
O Coronel Thaumaturgo de Azevedo
decidiu dar um basta às estripulias peruanas instalando um Posto Fiscal do
Ministério da Fazenda no Amônea, e para isso determinou que o Capitão d’Ávila e
Silva, acompanhado de um Alferes e 50 Praças armadas sem ostentação de força, empossasse
os agentes financeiros do Brasil na Foz do Amônea.
Chegando à Foz do Amônea, o Capitão
D’Ávila notificou oficialmente ao Comissário peruano Ramirez Hurtado os
princípios acordados no “modus vivendi”
de comum acordo entre os dois países. Ramirez Hurtado alegou que ignorava os
termos acordados entre Brasil e Peru, mas comprometeu-se a não mais cobrar
impostos dos nacionais nem ordenar o arriamento da Bandeira Brasileira de nossas
embarcações, como vinha fazendo até então.
As ordens de Thaumaturgo eram muito
específicas, D’Ávila deveria tentar, por todos os meios pacíficos possíveis, fazer
cumprir o acordo binacional. Caso os peruanos não concordassem, o Capitão Ávila
estava autorizado a empregar a força e instalar o Posto Fiscal do Ministério da
Fazenda na Foz do Amônea, cuja jurisdição se estenderia até à Foz do Breu, em
território já reconhecido como brasileiro pelo Peru, no “modus vivendi”. Tão logo Ávila retornou para o Moa, os peruanos
recomeçaram a importunar os brasileiros cobrando impostos e o hasteamento de
sua bandeira nas embarcações brasileiras. Thaumaturgo determinou, então, ao
Capitão D’Ávila que retornasse ao Amônea para dar um fim definitivo aos
desmandos peruanos.
- O
Ataque
Fonte: Leandro Tocantins.
A
27 de outubro (1904), o Moa zarpou de Cruzeiro do Sul, sede do Governo do
Departamento do Alto-Juruá. No quinto dia de viagem, o Capitão Ávila recebeu
aviso de que os peruanos, ao saberem que o Prefeito Thaumaturgo de Azevedo
mandara instituir um Posto Fiscal no Amônea, estavam cavando trincheiras e
erguendo fortificações para resistir. (...)
Ávila
Acompanhado pelas 40 praças restantes, embrenhou-se na mata em manobra
estratégica para evitar a passagem em frente ao acampamento peruano e atingir o
Seringal Mississipe Novo, acima da Foz do Amônea.
O
Capitão Ávila reforçou seu efetivo com alguns seringueiros, abriu diversas picadas,
uma delas até a frente da força peruana e mandou seguir 20 praças, sob o
comando do Furriel José Rodrigues da Fonseca e 30 civis dirigidos pelo ex-aluno
da Escola Militar Oséias Cardoso, a fim de tomarem posição à esquerda e à
retaguarda do Posto peruano, enquanto outras 6 praças e 8 civis iam ocupar uma
trincheira em Vila
Martins (margem direita do Juruá, defronte do sítio dos
peruanos). Mais 16 praças e 10 civis deslocaram-se para o Igarapé Minas Gerais,
no Seringal do mesmo nome.
A
disposição do terreno do acampamento peruano era boa para uma defesa militar.
Estendia-se numa área de dois quilômetros de extensão por dois de largo, no
ângulo formado pelo encontro do Amônea com o Juruá. Uma rua, com várias casas
de madeira entre as quais se destacava o Quartel, seguia, a uma distância de 50 metros , as margens do
Rio captador, onde foram abertas inúmeras trincheiras para a defesa do Porto. À
beira do Amônea, em terreno elevado, existiam outras trincheiras em forma de
quadrilátero, sítio excelente para repelir ataques.
Pela
madrugada do dia 4 (novembro, 1904), o Capitão Ávila e Silva partiu pelo
varadouro, de Mississipe Novo em demanda do Amônea. Pouco depois, pelo Rio,
baixaram o Tenente Guapindaia e seus prisioneiros, sendo, no caminho, chamados
a fala por um piquete peruano que só os deixou ilesos por interferência do
Alferes Ramirez (peruano), usado como refém. Pôde, assim, o grupo desembarcar
no Seringal Minas Gerais (margem direita do Amônea e esquerda do Juruá). A essa
hora, o cerco do acampamento peruano estava completo.
O
Capitão Ávila, inspecionando as forças acantonadas em Vila Martins , foi o
primeiro a receber uma salva de 10 tiros de fuzil. O negociante Julião Sampaio,
que lhe servia de ordenança, caiu gravemente ferido. Mesmo assim, Ávila não
quis romper fogo. Redigiu uma nota ao Major Ramirez Hurtado pedindo-lhe para
entregar as armas e fazer a retirada do Posto para o Breu. “Quando recebi a resposta que mal acabara de
ler partiram das trincheiras peruanas tiros de fuzil, vendo-me, então, forçado
a trocar fogo”, atestou o Capitão Ávila.
“Rompeu a fuzilaria de todas as linhas”,
e durante “todo o dia 4 (novembro, 1904)
travou-se um tiroteio cerrado”. No decorrer da noite, os brasileiros
consolidaram suas posições e abriram novas trincheiras. O cerco da praça
tornava-se mais estreito.
Um
piquete de 15 civis deslocou-se para Nova Mina, no Rio Amônea, com o objetivo
de impedir a vinda de recursos peruanos (o piquete prendeu vários homens que
procuravam alcançar Nuevo Iquitos). De manhã, logo que a cerração se esvaiu e o
Sol começou a dardejar luz no cenário da luta, os brasileiros avistaram a
bandeira branca no mastro do acampamento, em substituição ao estandarte
peruano. Um silêncio profundo, depois do toque de alvorada, em ambas as linhas,
pairou nos ares do Amônea.
Era
o fim da batalha: o emissário dos peruanos chegava a trincheira do Capitão
Ávila para solicitar armistício. Ao meio-dia foi assinada a Ata de Paz no
barracão do Seringal Minas Gerais, pelo Comandante brasileiro e o Major Ramirez
Hurtado. No dia seguinte, já de posse do acampamento peruano, o Capitão Ávila
recebeu o armamento e a munição. Vinte e quatro horas mais, os vencidos
retiraram-se em ubás, viajando pelo Juruá, no rumo do Ucaiali.
A
8 de novembro (1904) o Posto Fiscal do Ministério da Fazenda instalava-se no
Amônea. Apesar de tudo, a saída dos peruanos foi marcada por um traço de cordial
respeito, de parte a parte.
Embora existam comentários de que os
peruanos foram perseguidos pelo Capitão D’Ávila para muito além da Foz do Breu,
em pleno território peruano, e que este só retornara depois de receber ordens
específicas do Coronel Thaumaturgo, estas informações não encontram nenhum
respaldo nos documentos oficiais do Itamarati, Arquivo Nacional ou Arquivo do
Exército. A tradição oral colhida entre os cidadãos mais antigos da cidade de
Thaumaturgo também não corrobora esta versão. A fidalguia e a serenidade do
Capitão D’Ávila no trato com seus adversários não levam a crer que fosse ele
capaz de tomar uma atitude intempestiva como esta.
- Sr. Renato Bezerra Mota
Nas nossas incursões à Mal
Thaumaturgo sempre fizemos uma parada obrigatória na Panificadora Mota, a
melhor sorveteria da cidade de propriedade do Sr. Renato Bezerra Mota (Travessa
José Ananias, 12 – Centro – 69983 000 – Mal Thaumaturgo), grande amigo do Tenente-Coronel
Eng Lauro Augusto Andrade Pastor Almeida. O velho policial possui uma magnífica
coleção de facas e espadas além de um belo acervo de fósseis de preguiças
gigantes, mastodontes e purussauros dignos de pertencer a um museu.
Preguiça
gigante
(Eremotherium laourillardi): conhecida como megatério (grande mamífero) era
muito lenta, uma presa fácil para os caçadores, vivia em bando nas savanas e
bordas das florestas, alimentando-se de folhas e brotos de árvores. Viveu entre
1.800.000 e 11 mil anos.
Mastodonte (Masthodon angustidens): parente
dos atuais elefantes tinha, aproximadamente, sete toneladas e três metros de
altura. As presas chegavam a medir cinco metros de comprimento. Assim como a
preguiça-gigante, o mastodonte foi muito perseguido pelos primeiros habitantes
da Amazônia, e foi extinto há aproximadamente, 10 mil anos.
Purussauro (Purussaurus brasilienses): réptil
pré-históricos, que viveram há cerca de 8 milhões de anos, semelhantes aos jacarés
de hoje. Atingiam 13
metros de comprimento e quatro toneladas de peso. O
primeiro exemplar foi encontrado no Rio Purus, daí a origem do nome.
Renato e outros populares contaram-nos,
também, como o tráfico corre solto pelos afluentes do Juruá, Tejo, Acuriá,
Arara, Juruá-mirim e tantos outros, sem qualquer intervenção por parte das
autoridades competentes.
- Reconhecimento dos Afluentes
Tendo em vista as dificuldades
encontradas no que se refere à logística de nossa expedição, resolvi abandonar
a pretensão de reconhecer os principais afluentes do Juruá. O alto consumo do
motor de 40 HP da lancha “Mirandinha”
e a impossibilidade financeira de adquirirmos um motor tipo rabeta de 6,5 HP
com essa finalidade determinou minha mudança de planos. A frustração só não é
maior tendo em vista a qualidade da equipe que me acompanha e o incentivo de
amigos e investidores que certamente saberão compreender minhas razões. O livro
que pretendíamos presentear, depois de editado, ao CMA e ao DNIT ao final de
nossa Expedição terá de ser em forma de cópia digital já que os recursos
auferidos igualmente não permitem esta extravagância.
Fonte: TOCANTINS, Leandro.
Formação Histórica do Acre, Volume I
– Brasil – Brasília – Senado Federal, Conselho Editorial, 2001.
e='� % b d 0�& ��$ ight:normal'>1914
- 7 de janeiro: Primeiras eleições
municipais.
1915
- 1º de maio: É inaugurado o primeiro
grupo escolar da cidade.
1916
- 13 de maio: Inaugurado o serviço de luz
elétrica.
1920
- 1º de outubro: Território do Acre - extinção
do departamento e unificação dos municípios em torno de um só governo, Rio
Branco é escolhida a capital do Território do Acre.
1962
- 15 de junho: A Lei 4070 – eleva o
Território do Acre à categoria de Estado.
Fontes:
ANDRADE, Fernando Moretzsohn de; GUIMARÃES, André
Passos. ACRE. In: Enciclopédia Mirador Internacional. São Paulo: Encyclopædia
Britannica do Brasil Publicações, 1993.
MEIRA, Sílvio de Bastos. A Epopeia do Acre - Brasil -
Rio de Janeiro, 1961 - Ed. Record.
Mal Thaumaturgo – Foz do Breu – Mal Thaumaturgo
Mal Thaumaturgo – Foz do Breu – Mal Thaumaturgo
Hiram
Reis e Silva, Marechal Thaumaturgo, Acre, 19 de dezembro de 2012.
- 17.12.2012
– Partida para Foz do Breu
Choveu a noite toda prenunciando um
aumento considerável da velocidade das águas do Rio Juruá. A lancha “Mirandinha” iria enfrentar no dia
seguinte além da formidável torrente uma dificuldade a mais, a enorme
quantidade de troncos e entulhos que por vezes bloqueavam grande extensão de
nossa rota exigindo muita habilidade dos piloteiros Mário e Marçal.
Partimos às 09h15, depois de
reabastecer a lancha com cem litros de gasolina do crédito de combustível do Destacamento.
A viagem transcorreu sem alteração exceto pela chuva fina e fria que só deu
trégua na chegada à Foz do Breu. Aportamos na escadaria frontal à Escola
Ernestina Rodrigues Ferreira (09º24’39,4”S / 72º42’56,4”O), às 13h20. Seguindo
minha intuição procurei a primeira moradora que avistei, a senhora Iris de
Fátima da Silva Souza, coincidentemente, responsável pela escolinha e nora da
matriarca que empresta o nome ao estabelecimento e que na década de quarenta
foi proprietária de um grande seringal no Rio Breu. A simpática comunidade é
formada, em grande parte, por descendentes de Ernestina.
O Marçal usou a cozinha da Escola e
preparou um delicioso carreteiro que foi servido às quinze horas. O Coronel
Angonese e o Sd Mário pescaram alguns barbados que foram magistralmente
preparados e servidos no jantar pelo Marçal. O pessoal da comunidade foi
incansável em nos apoiar, seja ajudando no descarregamento da lancha ou na
doação de pescado e frutas para nosso consumo.
- 18.12.2012
– Partida para Foz do São João
Acordamos cedo e partimos às sete
horas. O Angonese, ainda um neófito na canoagem demonstrou uma coragem e uma
determinação invulgar na condução do caiaque “indomável” doado pelo Amigo José Holanda. Remamos oitenta
quilômetros até a Comunidade São João situada na foz do Igarapé de mesmo nome (Foz
do Igarapé São João - 09º09’15,3”S / 72º40’42,2”O). Quando aportei os nossos
guerreiros do Grupo Fluvial do 8º Batalhão de Engenharia de Construção já
haviam conseguido autorização para pernoitar nas instalações da Escolinha
Calile de Melo Sarah (09º09’21,1”S / 72º40’38,4”O). Como a Escolinha não possuía
fogão o Marçal entregou nosso arroz e charque à Srª Raimunda, esposa do Sr.
Francisco, e solicitou-lhe que preparasse um carreteiro. Almoçamos às quinze
horas e depois fomos até à residência do Sr. Francisco onde permanecemos até
escurecer ouvindo e contando causos. O Coronel Angonese, nosso Forrest Gump, é
um Contador de Histórias nato e cativou nossos amigos ribeirinhos com seus
causos e tiradas espirituosas. À tarde choveu forte e o Juruá acrescentou uns
cinquenta centímetros à sua cota.
- 19.12.2012
– Partida para Marechal Thaumaturgo
Apesar de nos encontrarmos em pleno
“inverno” amazônico, a chuva não deu
as caras. O percurso hoje era mais curto e resolvi fazer apenas uma pequena
parada para substituir as pilhas do GPS. O choque das águas contra as margens
arenosas fazia tombar enormes barrancos e não raras vezes árvores imensas que
eram arrastadas pela forte correnteza misturando-se aos demais entulhos que as
águas das chuvas tinham feito romper de seus galhosos sepulcros. Essas massas
informes movimentavam-se qual aríete golpeando a esmo e aqui e ali
enganchavam-se novamente nas curvas e na vegetação semi-submersa aguardando
outra enxurrada para desgarrarem-se e continuarem sua insana sina a procura de
incautos navegadores.
Continuei minha navegação sempre
preocupado em marcar alguns pontos notáveis que ia vislumbrando pelo caminho.
Tais como as fozes dos Rios Acuriá (09º04’25,6”S / 72º41’05,9”O), do Rio Tejo
(08º59’02,2”S / 72º42’56,5”O), do Igarapé Arara (08º57’23,6”S / 72º45’38,3”O) e
do Igarapé do Crispim (08º57’05,8”S / 72º46’58”O).
Cruzeiro do Sul a Marechal Thaumaturgo
Cruzeiro do Sul a Marechal Thaumaturgo
Hiram
Reis e Silva, Marechal Thaumaturgo, Acre, 16 de dezembro de 2012.
Concluída
a manutenção das embarcações e feitos os devidos reparos no “Cabo Horn” que apresentava sérias
avarias na quilha da proa e no convés de Boreste na altura do “cockpit”. Providenciei o material
necessário, fibra, resina, catalisador e o Mário remendou-o de maneira a
suportar a nova empreitada.
- Partida
de Cruzeiro do Sul (15.12.2012)
Partimos
somente às 06h30, uma navegação por águas desconhecidas com a descida de
troncos arrastados pela torrente e imensas praias a pouco submersas pelas águas
não recomendavam uma saída às escuras. Desde o início sentimos que o rendimento
da lancha “Mirandinha” estava muito
aquém do esperado, mas consideramos que era em decorrência da carga e a força
da correnteza do Rio Juruá.
Paramos
em Rodrigues Alves
depois de navegar 26 km
e compramos 20 litros
de combustível a 80 Reais. Durante a viagem não tivemos maiores imprevistos
exceto a falta de rendimento da lancha. Foram 170 km de deslocamento e 170 litros consumidos, o
abastecimento em
Rodrigues Alves foi providencial, caso contrário teríamos
ficado pelo caminho.
Aportamos
em Porto Walter
para abastecer e pernoitar. Paguei 600 Reais por 150 litros de gasolina
sem contar com o óleo dois tempos. Liguei para o “190”
pedindo apoio de nossos fiéis amigos da Polícia Militar. Imediatamente o 1º
Sargento PM Antonio Vieira da Silva, Comandante do 3º Pelotão de Porto Walter,
subordinado ao 6º Batalhão de Cruzeiro do Sul, desencadeou uma verdadeira
operação de resgate para nos atender. Mais uma vez, eu e minha equipe, tivemos
o privilégio de contar com o apoio destes laboriosos amigos que,
independentemente do Estado da Federação a que pertencem, sempre nos receberam com
muita cordialidade.
Adquirimos,
em Porto Walter ,
uma nova hélice depois de testá-la e verificar que o rendimento da embarcação
havia melhorado sensivelmente. No deslocamento para Marechal Thaumaturgo a
velocidade média que era de 18km/h passou para 32km/h com uma queda de 50% do
consumo de combustível.
- Destacamento
Mal Thaumaturgo de Azevedo
A
viagem transcorreu sem maiores alterações e como no dia anterior eu aproveitei
para ir comparando as fotografias aéreas com o terreno. Verifiquei que algumas
comunidades importantes simplesmente não constavam dos mapas e outras estavam
muito deslocadas do local que lhes era atribuído. Depois de cinco horas de
deslocamento sem maiores incidentes aportamos na Foz do Amônea onde contatamos
o pessoal do Destacamento.
O
Tenente Santiago e o Sargento Wanderley foram incansáveis. Fomos abrigados e
alimentados e aguardamos o abastecimento da “Mirandinha” para no dia seguinte partirmos para a Foz do Breu.
Partida para a Foz do Breu
Partida para a Foz do Breu
Hiram
Reis e Silva, Cruzeiro do Sul, Acre, 14 de dezembro de 2012.
Alguns
amigos mais próximos preocupados com a nossa jornada pelo Vale do Juruá nos
indagaram sobre o apoio do Exército à Operação. Queremos deixar bem claro que o
alvo de nossas críticas jamais foi a Força Terrestre, instituição a quem prezamos
acima de tudo. Meu grito de revolta foi e continuará sendo contra os entraves
legais que obstaculizam a realização de expedições como a nossa.
Os
Comandantes Militares das mais diversas organizações militares da Amazônia não
mediram esforços em nos apoiar apesar das restrições burocráticas e
orçamentárias. A disponibilização e o transporte das embarcações envolveram o
2º Grupamento de Engenharia, Manaus, AM, o 8º Batalhão de Engenharia de
Construção, Santarém, PA, o 5º Batalhão de Engenharia de Construção, Porto
Velho, RO, o 7º Batalhão de Engenharia de Construção, Rio Branco, AC e o 61º
Batalhão de Infantaria de Selva (61º BIS), Cruzeiro do Sul, AC.
O
61º BIS disponibilizou-nos transporte e pessoal para que pudéssemos ultimar
todos os preparativos para viagem. O Major Odney de Souza e Silva, Sub-Comandante
do 61º BIS (Batalhão Marechal Thaumaturgo de Azevedo), foi incansável em
atender às nossas demandas.
- General
de Brigada Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
Tivemos
a grata satisfação de conhecer o General Paulo Sérgio, Comandante da 16º
Brigada de Infantaria de Selva, Tefé, AM, que se encontrava na guarnição em
visita de inspeção. Tivemos a oportunidade de confraternizar com ele e sua
equipe em mais de uma oportunidade e em cada uma delas o Gen Paulo Sérgio fez
questão de mencionar nosso trabalho e hipotecar total apoio à Expedição.
- Partida
para a Foz do Breu (15 de dezembro de 2012)
Depois
de dois dias de intensos preparativos que contaram com a manutenção e reparo
das embarcações, carregamos os dois caiaques na lancha para evitar o
contratempo que sofremos em 2009 no Rio Purus onde um dos caiaques foi
danificado seriamente. As rações, combustível, salva-vidas, telefone satelital,
enfim todos os itens solicitados foram disponibilizados pelo 61º BIS. Ultimamos
os preparativos e voltamos nossa proa rumo a Marechal Thaumaturgo, parada
intermediária antes de alcançarmos a Foz do Breu.
Mâncio Lima, AC
Mâncio Lima, AC
Hiram
Reis e Silva, Cruzeiro do Sul, Acre, 11 de dezembro de 2012.
Mais
uma vez contando com o apoio do Capitão Moura Comandante da Polícia Militar de
Cruzeiro do Sul fomos, desta feita, visitar a Aldeia Barão na Terra Indígena
Poyanawas, Município de Mâncio Lima, AC. O Sd PM Magnos Clayton R. Costa foi um
excelente guia, conhecedor da região e extremamente prestativo. Na Terra
Indígena notamos uma saudável miscigenação e a existência de belos roçados que
produzem, segundo os nativos, a melhor mandioca da Brasil.
Conheça
um pouco da história e costumes do Povo Poyanawas através da excelente
reportagem do repórter Leandro Altheman Lopes:
Dimanã
Êwê Yubabu: Floresta, Casa de Todos Nós
Visitamos o local onde são
realizados os “Jogos da Celebração”,
que, normalmente duram cinco dias e contam com a participação de
aproximadamente 400 indígenas, de quinze etnias do Estado com o objetivo de valorizar
a diversidade cultural e de procurar repassar para a sociedade acreana o
conhecimento ancestral de seus povos.
- Histórico de Mâncio Lima
Mâncio
Lima nasceu de um povoado denominado “Vila
Japiim”, elevada em 1913 pelo Capitão Regos Barros. Japiim pássaro de
plumagem preta e amarela muito comum na região do Vale do Juruá. (...) Só em 14
de maio de 1976 foi assinada a Lei nº 588, que elevou oficialmente Mâncio Lima
a categoria de município. Mas, apenas em 30 de maio de 1977 – Mâncio Lima
conquistou sua autonomia e emancipação com a posse do primeiro Prefeito.
O
município está localizado às margens direitas do Paraná Japiim, perfazendo uma
área de 5.451,1 Km2 que se estende a 30 Km da foz do Rio Moa, após
aproximadamente um quilômetro de restinga, na região Norte do Brasil, extremo
oeste da Amazônia e no ponto mais Ocidental do País. Limita-se com os
municípios de Cruzeiro do Sul e Rodrigues Alves e com a República do Peru. Está
diretamente ligado aos dois municípios, pela BR 364, totalmente pavimentada,
numa distância de 36 Km
de Cruzeiro do Sul e aproximadamente 30 Km de Rodrigues Alves, sendo também o mais
distante da Capital a 700 Km
de distância e seu acesso pode ser feito por via área e em alguns meses do ano
por via terrestre em precárias condições.
Mâncio
Lima conta ainda com o Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD) que é o
quarto maior parque nacional do país, possuindo uma área de aproximadamente
843.000 há. (...)
O
município de Mâncio Lima possui três reservas indígenas: a dos Poyanawas que
possui uma população de 403 pessoas, a língua falada é o Pano e sua extensão
por hectares é de 21.214 a
situação jurídica da mesma é declarada; os Nukinis possuem um população de 425
pessoas, a língua falada também é o Pano a sua extensão por hectares é de
27.264 e sua situação jurídica já está registrada; os Nauas, estão passando por
um processo de reconhecimento, já foi realizado um estudo por uma antropóloga e
o processo está sendo estudado, até então os mesmos não são reconhecidos como
índios Nauas. (...)
A
última contagem populacional realizada em 2007 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatístico – IBGE mostra em Mâncio Lima uma população de 13.753 habitantes
residentes na área do município. (...)
O
município de Mâncio Lima desde os seus primórdios é agrícola. Tendo como
cultura a mandioca, milho, arroz e feijão..., com grande escala das áreas
exploradas (beneficiada), com a mandioca onde predomina a produção de farinha.
A
sede do município é atendida com energia elétrica, de fornecimento contínuo e
telefonia fixa e móvel. O município tem um potencial muito grande para o
artesanato local, sendo ainda deficiente por não contar de um apoio mais
aprofundado nesta área. (...)
Pensei, novamente, no lema de meu
velho amigo – Gen Ex Joaquim Silva e Luna – e parti para a ofensiva. Contatei
empresários e autoridades locais de modo a viabilizar a vinda dos caiaques e da
voadeira e o fornecimento de combustível para a equipe de apoio. Só depois
resolvi falar com o General Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, Comandante Militar da
Amazônia (CMA), e o General de Divisão Jorge Ernesto Pinto Fraxe, Diretor do
Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT). Felizmente a experiência,
patriotismo e boa vontade destes dois grandes Generais, modelos de liderança de
nossa querida Força Terrestre, afastaram de vez as brumas que toldavam o
horizonte e pouco a pouco pude vislumbrar a “Terceira Margem”.
- Terceira Margem!
(6
de dezembro de 2012)
Nas tuas águas afogo meus desesperares, meus
desencantos, meus amores sofridos. No aconchegante embalo de tuas ondas
encontrei forças para perseverar e enfrentar minhas angústias e meu desânimo.
Tua imensidão me abraça e conforta, tuas tranquilas águas me acalmam e me
aproximam da Terceira Margem. Tuas águas revoltas mostram a rota da humildade
que devo seguir e a névoa que te cobre nas manhãs de inverno trazem sinais de
esperança nos horizontes que aos poucos se revelam. (Hiram Reis e Silva)
Os amantes das águas entenderão,
certamente, minhas palavras. Aqueles que as enfrentaram na tormenta ou sobre
elas deslizaram na calmaria sabem o quanto elas podem nos ensinar. Busquei
forças nelas para dar continuidade a meu desafio, para não esmorecer, pois
acredito na minha missão “auto-imposta”
de mostrar a realidade amazônica sem a visão distorcida dos pesquisadores,
ambientalistas, indigenistas e outros tantos teóricos de laboratório.
- 8ºBatalhão de Engenharia de Construção (8 º
BEC)
(7
de dezembro de 2012)
Há mais de dois anos, o 8º BEC tem
apoiado o Projeto Desafiando o Rio-mar. Desta feita o Tenente-Coronel Sérgio
Henrique Codelo além de transportar e colocar à disposição uma voadeira de
apoio permitiu que dois membros de seu Grupo Fluvial participassem da
Expedição. Às 13h30, de 7 de dezembro, desembarcaram em Cruzeiro do Sul os
valorosos nautas Mário Elder Guimarães Marinho e Marçal
Washington Barbosa Santos. Já comentei em artigo as qualidades destes dois
combatentes por isso, para abreviar o presente artigo, vou apenas
disponibilizar o link para aqueles que não ainda não o leram:
- Ponte
da União
A cidade tem diversos pontos
turísticos, mas o que mais nos chamou a atenção foi a Ponte da União. A ponte estaiada
do Juruá é maior ponte do Acre, com 550 metros de extensão e foi construída com recursos
dos Governos Estadual e Federal. Tendo em vista o Alto Juruá fazer parte de uma
região com alto índice de sismos a ponte é a única no Brasil que possui uma
estrutura preparada para suportar este abalos. A iluminação da ponte, projetada
pela arquiteta Jamile Torman, é refletida magicamente nas águas do Rio Juruá. A
bandeira do Acre fixada no marque central de 70 metros de altura
também recebeu uma iluminação especial.
O Rio Juruá adornado por esta joia
da engenharia ficou mais belo ainda encantando a todos com suas águas revoltas,
tortuosas e tumultuárias que fluem vigorosamente para a margem direita do
Solimões.
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