Desafiando o Rio–mar – Cerâmica Santarena
“A Cerâmica de Santarém, notável pelo bom gosto e difícil estilização, caracteriza–se também pela abundância e variedade dos motivos plásticos supostamente filiados às civilizações do continente centro–americano”.
(Victor Zappi Capucci)
(Victor Zappi Capucci)
A arqueologia evita chamar de “Tapajônicos” ou “Tapajoaras” os vestígios culturais encontrados nas proximidades da Bacia do Rio Tapajós, preferindo considerá–los parte de um complexo cultural maior denominado “Santarém” ou “Santareno”. Apesar de não gozar do mesmo interesse dedicado à cultura Marajoara, por parte dos pesquisadores é, certamente, a cerâmica mais antiga da Amazônia e uma das mais belas do mundo, apresentando detalhes refinados e ornamentos análogos à chinesa. A Cerâmica de Santarém ainda se recente de pesquisas baseadas em escavações estratigráficas.
Estratigrafia: trata da disposição física de estratos num depósito geológico ou arqueológico e do estudo desses estratos no que diz respeito à sua formação, composição e distribuição. O estudo da estratigrafia baseia–se nos princípios de sobreposição e que, numa sequência de deposição de sedimentos, as camadas mais profundas são as mais antigas e as superficiais as mais novas e aplica esta relação aos objetos encontrados nas diferentes camadas.
– Datação
Carbono-14
A quantidade de carbono-14 dos tecidos orgânicos mortos diminui num ritmo constante com o passar do tempo. A medição do carbono-14 de um fóssil fornece elementos que permitem mensurar quantos anos decorreram desde sua morte. Esta técnica é aplicável somente a material que conteve carbono em alguma de suas formas ou o absorveu e só pode ser usada para datar amostras que tenham, no máximo, 70 mil anos de idade. Embora datação através do carbono 14 ainda seja a mais conhecida e utilizada existem, na atualidade, métodos mais modernos de datação absoluta.
Termoluminescência
A termoluminescência avalia a luminescência provocada pelo aquecimento de sedimentos e objetos arqueológicos. É especialmente utilizada para datar objetos que contém minerais, como o quartzo (SiO2) e a calcita (CaCO3). Podem ser datados fragmentos de cerâmicas, materiais líticos queimados e cinzas de fogueira de até duzentos mil anos sendo que a imprecisão deste método gira em torno de 7% a 10%.
Arqueomagnetismo
Outro método moderno é o do arqueomagnetismo que analisa as variações seculares ou alterações do campo magnético terrestre. O estudo da magnetização remanente de uma rocha sedimentar permite que se determine o campo magnético terrestre no momento de sua formação. O método é especialmente indicado para a datação de fornos e de algumas cerâmicas que guardem certa magnetização.
– Terras Pretas
“A explicação da existência desses bolsões reunindo em um só ponto toda a cerâmica, está em que ao estender a cidade para a Velha Aldeia depararam–se os novos moradores com o terreno coberto de vasos e fragmentos, abandonados outrora pelos índios. Para limparem os seus quintais, fosse por uma questão, simplesmente de asseio, fosse por um certo temor supersticioso em relação aos objetos indígenas, que sabiam sempre ligados ao culto dos mortos cavavam um
grande buraco e varriam para ele toda a cerâmica espalhada pela superfície”.
(Frederico Barata)
grande buraco e varriam para ele toda a cerâmica espalhada pela superfície”.
(Frederico Barata)
Todas as peças e fragmentos de cerâmica santarena encontrados nos museus e coleções particulares têm sua origem nas zonas de “terra preta”, ou nos “bolsões”. A população, ainda hoje, encontra e retira, sem qualquer cuidado, estes artefatos para vendê–los. É a história e a cultura maravilhosa de um povo que, aos poucos, vai se perdendo.
– Relatos Pretéritos
1851 – Henry Walter Bates
Bates chegou a Santarém, pela segunda vez, em novembro de 1851 onde permaneceu por quase um ano. Em junho de 1852 subiu o Rio Tapajós e penetrou em 3 de agosto de 1852 no Rio Cupari, nosso velho conhecido. O naturalista dedicou pouco de seu tempo aos artefatos de cerâmica e, mesmo assim, apenas aos relacionados à cerâmica produzida pelos nativos atuais.
Nas terras baixas da mata, à beira do Rio, o solo é coberto por uma argila branca e dura, que fornece ao povo de Santarém a matéria-prima para a feitura de potes de barro e toscos utensílios de cozinha. Todo o vasilhame usado pelas classes mais pobres da região, tais como chaleiras, frigideiras, cafeteiras, tachos, etc., bem como os fornos para torrar mandioca, são feitos dessa mesma argila, que é encontrada regularmente em todo o vale do Amazonas, desde os arredores do Pará até as fronteiras do Peru, formando parte dos vastos lençóis de tabatinga. Para os potes suportarem o calor do fogo, é misturada à argila a casca de uma árvore chamada caraipé, depois de queimada, o que dá resistência à cerâmica. A casca dessa árvore é encontrada à venda nas lojas da maioria das cidades, acondicionada em cestos. (BATES)
1870 – Charles Frederick Hartt
“O material arqueológico tem sido tão rico que tem sido difícil de analisar. Novas coleções têm chegado constantemente, e o que eu pretendia que fosse um breve relato das antiguidades do baixo Amazonas, evoluiu para um grande volume sobre as antiguidades de todo o Império. Neste trabalho, agora bem avançado em direção à finalização, eu proponho não só retratar e descrever os objetos que chegaram às minhas mãos, como artefatos de pedra, cerâmica, vestígios humanos etc., mas dar descrições dos sambaquis, cemitérios, inscrições rupestres etc”. (HARTT).
O geólogo Frederick Hartt, nos anos de 1870 e 1871, escavou o sambaqui de Taperinha a 40 km de Santarém. A profundidade da escavação foi de seis metros e além de conchas foram encontrados ossos humanos, de peixes e cerâmica. A cerâmica, segundo Hartt era:
Fabricada de argila, contendo proporção considerável de areia muito grossa, sem cariapé e tendo a superfície relativamente lisa. Os fragmentos indicam que as vasilhas tiveram pela maior parte a forma de taça com fundo bem arredondado. A margem é muito simples, chanfrada do lado interno e um pouco virada para fora. Não são lustrados nem pintados, e pela maior parte mostram-se inteiramente despidos de ornamentações. Alguns pedaços, porém, apresentam riscos toscos do lado exterior, logo abaixo da margem e indicando aparentemente tentativas de decoração. (HARTT)
Hartt considerou que enorme quantidade de conchas encontradas sugeria que a alimentação básica dos nativos de Taperinha era feita de moluscos que, naquela época, eram abundantes e de fácil aquisição, o que não ocorria no ano de sua viagem. Segundo ele:
Parece, portanto provável que, depois de formado o sambaqui tenha havido uma importante mudança física na bacia do Amazonas. A própria posição do depósito torna mais provável esta hipótese. Em vez de estar situado em terrenos de aluvião nas margens do Paraná-mirim, este depósito acha-se colocado a uma distância considerável do Rio, atrás de uma zona pantanosa de travessia difícil e numa altura considerável acima do maior nível das enchentes. (HARTT)
Hartt encontrou, também, a presença de vestígios em Itaituba, Diamantina e, em Pá-Pixuna, onde encontrou fragmentos de cerâmica em até 2 metros de profundidade. Considerou que a grande fertilidade do solo nestas áreas motivou a vinda de grupos humanos para estes locais. Em Pá-Pixuna, suas escavações encontraram fragmentos de estatuetas e instrumentos de pedra. Hartt compara o material encontrado nestes sítios com a Arte Marajoara, afirmando que são muito diferentes e que a pintura:
(...) é freqüentemente lustrada com barro branco e pintada, mas não vi ornatos em linhas pintadas ou gravadas como as de Marajó. (HARTT)
Hartt atribuiu a autoria dos objetos encontrados aos Tapajó:
(...) tribo foi encontrada pelos brancos na posse desta região, na época da primeira descoberta, e que deu nome ao rio. (HARTT)
1872 – João Barbosa Rodrigues
“A arqueologia é hoje uma ciência, por isso nela tudo deve ser exato e preciso; os nomes criados para seus monumentos devem perfeitamente caracterizá–los”. (Barbosa Rodrigues)
Barbosa Rodrigues foi designado pelo Império para explorar as bacias dos Rios Tapajós, Trombetas e Nhamundá onde recolheu amostras e catalogou dados etnográficos. Em 1872, percorreu o Rio Tapajós, elaborando o mais completo histórico até então, no qual mesclava suas próprias pesquisas e observações com a de outros cronistas. Barbosa Rodrigues encontrou machados, estatuetas, fragmentos de cerâmica, trilhas escavadas nas serras e sambaquis.
Barbosa Rodrigues afirmava que os artefatos líticos formavam um conjunto de “instrumentos e armas de pedra”, e que ele era “o primeiro que os estuda e descreve no Brasil”. Considerava–os como verdadeiros “guias arqueológicos, que só dão luz à etnografia” e classificou–os em “armas de guerra, utensílios de uso agrícola e doméstico e enfeites. Os primeiros compõem–se de massas, de pontas de flecha e de uma espécie folha de alabardes, e os outros, de machados, enxós, cunhas, mãos de pilão, mós, etc, e os últimos, de muiraquitãs”.
"Ainda hoje, para muitos, o muiraquitã é uma pedra sagrada, tanto que o indivíduo que o traz no pescoço, entrando em casa de algum tapuio, se disser: muyrakitan katu, é logo muito bem recebido, respeitado e consegue tudo o que quer". (Barbosa Rodrigues)
No rio Tapajós, próximo à cachoeira do Buburé, encontrou um sítio que teria servido de oficina lítica, comparando os sulcos nas pedras ao formato do corte dos machados deduziu como eram manufaturados estes objetos. Em relação aos artefatos “votivos” e enfeites como os muiraquitãs, ele afirma que tinham a finalidade de proteger os indígenas nos seus afazeres diários e nos combates.
1874 – Mauricio de Heriarte
“(...) pedras verdes, que os índios chamam de buraquitãs (muiraquitãs) e os estrangeiros do norte estimam muito; e comumente se diz que estas pedras se lavram, neste Rio dos Tapajós, de um barro verde, que se cria debaixo da água, e debaixo dela fazem contas redondas e compridas, vasos para beber, assentos, pássaros, rãs e outras figuras; e, tirando–o feito debaixo da água, ao ar, se endurece tal barro de tal maneira que fica convertido em mui duríssima pedra verde; e é o melhor contrato destes Índios e deles estimado”.
(Maurício de Heriarte)
(Maurício de Heriarte)
O historiador Heriarte menciona a adoração de corpos mumificados e destaca o apreço que os indígenas devotavam aos muiraquitãs, que era usado como elemento de troca e de dote matrimonial.
1923 – Curt Nimuendaju
Nimuendajú nasceu em Jena, Alemanha, no dia 17 de abril de 1883, e como ele próprio relata autobiografia:
(...) não tive instrução universitária de espécie alguma, vim ao Brasil em 1903, tinha como residência permanente até 1913 São Paulo, e depois Belém do Pará, e em todo o resto foi, até hoje (1939), uma série ininterrupta de explorações(...).
A terra preta em Cariacá produziu bons achados. Cariacá é uma pequena vila as margens de um estreito lago que conecta o rio Amazonas e o rio Tapajós. Durante minha curta permanência nesta vila, eu coletei alguns artefatos arqueológicos da superfície e quando eu estava deixando a vila, Joaquim Motta, o homem que me hospedou, saiu e foi para próximo do engenho perto de sua casa. Lá ele remexeu em uma pilha de lixo e trouxe um vil e sujo pedaço de pedra (...). Era um ídolo extremamente bonito, mas lamentavelmente fragmentado feito em uma pedra verde. Ele tinha a forma de uma figura humana agachada tendo as mãos sobre as orelhas, com um pássaro apresando–o por trás e por cima. A cabeça do pássaro foi quebrada e em toda a peça há arranhões feitos por alguma ferramenta. Se minhas informações estiverem corretas, esse é o décimo ídolo já encontrado. Barboza Rodrigues em seu trabalho O’Muyrakytã, desenhou e descreveu seis deles. Mais três foram descritos pelo Goeldi no Congress of Americanists em Stuttgart fotografando–os, juntamente com um mencionado por Barboza Rodrigues, para as suas não publicadas pranchas arqueológicas (Goeldi). Todos esses ídolos conhecidos ate hoje foram feitos em steatite e serpentina; o que eu encontrei é o primeiro e único feito de nephrite. (Curt Nimuendajú)
Frederico Barata em de suas publicações, “A Arte Oleira dos Tapajós” faz a seguinte citação:
A cerâmica dos Tapajó era tão pouco conhecida, mesmo em tempos recentes, que até 1823 não se tinha a menor idéia da forma completa de qualquer dos seus vasos típicos. O Volume VI dos “Anais do Museu Nacional (1895)” quase todo dedicado à cerâmica amazônica, é paupérrimo de informações sobre a de Santarém à qual fazem vagas referências apenas Hart que a denomina “Louça de Taperinha” ou “dos moradores do alto”, Ferreira Pena e Ladislau Neto, este último reproduzindo equivocadamente um fragmento santarense que descreve e classifica como de Marajó. A coleção Rhome, incorporada ao Museu Nacional, é fraquíssima e mal dá noção da monumental variedade de formas da louça dos Tapajó, pois não possui uma única peça inteira característica.
Foi em 1923 que Curt Nimuendaju, trabalhando para o Museu de Gottenborg, revelou ao mundo científico, coletando peças completas e grandes fragmentos, o ineditismo e a beleza dessa soberba arte primitiva. Helen Palmatary, repetindo Linné, descreve a descoberta da cerâmica de Santarém por Nimuendaju como meramente casual. Segundo esses autores, em consequência da chuva, com forte poder erosivo, deixou a descoberto considerável porção de terrenos altos, pondo à mostra fragmentos estilizados e às vezes lindamente desenhados. Afortunadamente – acrescentam – estava em Santarém, no momento, Curt Nimuendaju e, graças aos seus esforços, muito desse material foi salvo.
Tal versão não é rigorosamente exata. Desmentiu–a em palestra comigo, em agosto de 1945, no Rio de Janeiro, o próprio Curt Nimuendaju. Tivera ele notícia, por um padre alemão, seu amigo (do qual infelizmente não guardei o nome), de que em Santarém as crianças apareciam frequentemente brincando com pedaços de cerâmica indígena, aos quais chamavam “caretas” e que encontravam na cidade. Ficou interessado e logo que lhe foi possível dirigiu–se a Santarém, especialmente para estudar a cerâmica que lhe fora descrita como originalíssima e diferente de todas as conhecidas. Verificou logo sua importância e iniciou pesquisas para as quais, entretanto, não encontrou o menor apoio.
Contou–me na mesma ocasião Curt Nimuendaju que, certo dia, tendo localizado na Aldeia um terreno cheio de fragmentos, começou uma escavação e achou indícios de boa cerâmica. Na manhã imediata, voltando ao local para prosseguir no trabalho, encontrou lá um português, residente nas vizinhanças, que tudo inutilizara cavando ativamente. Irritado, perguntou–lhe por que estava fazendo aquilo e obteve esta resposta: – “Estou procurando o tesouro; se o senhor pode achá–lo eu também posso!”
O buraco estava enorme e a cerâmica perdida. Com esse exemplo, quis Nimuendaju demonstrar–me o quanto é difícil preservar as nossas riquezas arqueológicas, dada a incompreensão absoluta do homem do interior, que, ou tem medo dos objetos dos índios e os destrói, ou por eles tem desprezo. (BARATA)
Em relação à falta de apoio ao trabalho de Nimuendaju apontado por Frederico Barata podemos afirmar que o governo do município destacou um funcionário para negociar com os proprietários dos terrenos a serem escavados
– Cerâmica de Santarém
A arte da cerâmica evoluiu, consideravelmente, quando deixou de se dedicar somente a objetos do cotidiano, e partiu para a manufatura de ídolos e adornos religiosos onde cada peça passou a ser tratada como uma obra de arte especial dedicada aos antepassados ou aos guias espirituais. Os detalhes artísticos, em relevo, eram obtidos com a aplicação sobre a peça de uma fina camada de argila que era trabalhada e recortada delicadamente. A complexidade e a diversidade da Cerâmica de Santarém não têm precedentes e o significado de suas imagens e símbolos continua desafiando os pesquisadores.
A argila misturada ao cauxi e, eventualmente, a outros elementos antiplásticos, os grafismos pintados com pigmentos orgânicos e inorgânicos através de variadas técnicas, como a incisão, a marcação com malha, a inserção de apliques, a pintura, embora poucas vezes empregada, utilizava uma técnica que incluía o uso da bicromia e da tricromia. As vasilhas apresentam contornos complexos associando harmoniosa e regularmente a representação de figuras humanas e de animais. Os objetos mais significativos, da grande variedade apresentada na cerâmica de Santarém, são os vasos de cariátides, os vasos de gargalos, as estatuetas e os cachimbos.
– Vaso de Cariátides
“Sejam nossos filhos como plantas,
crescidos desde a adolescência;
nossas filhas sejam colunas talhadas,
imagem de um palácio”
(Hino para a Guerra e a Vitória – Salmo 144, v. 12)
crescidos desde a adolescência;
nossas filhas sejam colunas talhadas,
imagem de um palácio”
(Hino para a Guerra e a Vitória – Salmo 144, v. 12)
Vaso de Cariátides |
As Cariátides são colunas com o formato de mulheres que suportavam na cabeça a cobertura do templo de Erectéion.
Erecteion é um templo grego consagrado a Atena, Poseidon e Erecteu, construído entre 421 a 406 a .C. e considerado o mais belo monumento em estilo jônico. No pórtico Sul, mais famoso, substituindo as colunas, estão as seis cariátides.
Os gregos as usaram em substituição às colunas convencionais na ânsia de dar uma maior harmonia à sua arquitetura. Os Vasos de Cariátides foram assim chamados por Frederico Barata, em função das três pequenas figuras humanas que sustentam uma vasilha sobre suas cabeças lembrando as cariátides gregas e conhecidos pela população local simplesmente como “caretas”. Os vasos são compostos por três partes distintas superpostas, modeladas separadamente e posteriormente unidas.
“Os vasos cariátides são semelhantes a uma espécie de taça que, por intermédio de três cariátides femininas, repousa em um suporte em forma de carretel (...)”. (CORRÊA)
Base
A inferior, que serve de base ou suporte, é, normalmente, representada em forma de carretel e decorada com desenhos geométricos.
Cariátides
Apoiadas nesta “base” estão as três cariátides que servem de elemento intermediário e fazem a ligação entre o suporte e o recipiente superior. As cariátides sustentam o recipiente sobre suas cabeças e se apóiam sobre a base. As cabeças são, normalmente, do mesmo tamanho e os membros superiores, quando representados, sugerem movimento: cobrindo os olhos com ambas ou com apenas uma das mãos enquanto a outra descansa sobre o joelho; ou com as mãos sobre os joelhos. Em algumas cariátides os membros superiores não são representados e as pernas dobradas sugerem que as mesmas estão de cócoras. As cariátides são elementos fundamentais cuja ausência comprometeria a estrutura do vaso. Parece que os antigos artífices queriam nos mostrar, simbolicamente, que a figura humana era o elemento mais importante nesse objeto. As três cariátides, no mesmo vaso, são sempre idênticas.
Superior
A superior, que Barata designou como bacia, é um recipiente semi–esférico, bem maior que a base, com boca circular, borda e base arredondada, apresentando desenhos geométricos na parte externa, próximo à borda. No lado externo existem figuras antropo–zoomorfas, geralmente, em número de quatro e, eventualmente, cinco. Estes elementos não têm função estrutural, mas simbólica. Estas formas zoomorfas podem ser de pássaros (urubus–reis) de bico curvo com as asas abertas ou fechadas e aparecem em todos os vasos.
Frederico Barata chama a atenção para a presença, em alguns vasos, de quatro furos localizados logo abaixo das figuras antropo–zoomorfas e afirma que estes furos serviriam para colocar penas coloridas nos dias festivos.
Denise Maria Cavalcante Gomes
A arqueóloga Denise Gomes, autora “Cerâmica Arqueológica da Amazônia”, analisa, na sua obra, a cronologia e ao desenvolvimento cultural da região Tapajós–Trombetas e a diversidade e a complexidade cultural da região propondo uma revisão em determinadas categorias classificatórias.
Denise Gomes considera que os vasos de cariátides são caracterizados por quatro tipos distintos de elementos decorativos:
a) faixas padronizadas distribuídas em torno da borda;
b) apêndices modelados representando urubus–reis arranjados em intervalos regulares e voltados para o vaso;
c) as cariátides;
d) os padrões incisos na base.
Denise Gomes considera que a decoração em faixas em torno da borda:
É composta principalmente de motivos bilaterais, mas existe também elementos assimétricos, combinando simetria bilateral e rotacional. Os urubus–reis modelados seguem este mesmo movimento translacional no qual as figuras se alteram entre vistas frontais e dorsais de um pássaro também de asas abertas. E ainda, as pequenas figuras humanas sustentando o recipiente estão arranjadas em um padrão radial. Finalmente, a aplicação do princípio de simetria bilateral é também evidente na organização dos motivos da faixa basal. (GOMES)
Denise Gomes reforça a observação feita por Frederico Barata (1950) sobre a transformação de algumas figuras modeladas que, quando vistas de perfil, representam um animal e, quando vistas de frente, tem a forma humana e defende que esse tipo de mutação lembra as experimentadas nos rituais xamânicos.
Sob o efeito de drogas alucinógenas os humanos mudam e se metamorfoseiam. Esta é uma visão de mundo onde a oposição cultura e natureza torna–se clara e onde, na verdade, a natureza cessa de existir como um reino externo. (GOMES).
Gomes defende também que vasos tão elaborados não seriam utilizados no dia–a–dia e sim na transmissão de tradições orais em cerimônias coletivas. O fato de a figura humana ser o ponto central nos vasos corrobora esta proposta, pois os ritos pressupõem a união de pessoas obedecendo a determinadas normas em benefício de um grupo.
– Vaso de Gargalo
“(...) os de gargalo lembram uma lâmpada votiva oriental, com um gargalo emergindo ao centro de duas asas alongadas para os lados, com estilização de cabeças de pássaros ou jacarés. Ambos são sobrecarregados de relevos ou ornatos esculpidos, dando ao conjunto uma pompa ‘barroca’ e uma riqueza que não se encontram em outras manifestações similares na Amazônia”. (CORRÊA)
João Barbosa Rodrigues afirma que os vasos de gargalo eram usados em rituais fúnebres. Os Tapajó colocavam primeiramente os ossos dentro de um pequeno vaso que, por sua vez, era colocado dentro de outro maior e decorado:
de linhas com formas mais ou menos geométricas, feitas com tinta vermelha, que julgo ser caragiru , com óleo de copaíba ou de castanha (...) eram enterrados umas junto as outras, com a boca para cima. Pelos fragmentos encontrados, as maiores poderão ter quando muito três palmos de diâmetro. (RODRIGUES)
Caragiru ou Carajuru (Arrabidaea chica Verlot)- árvore da família das bignoniáceas. Os índios preparavam um corante vermelho usado para pintar a pele, os adornos, vestiários e utensílios. O corante produzido pela fermentação das folhas é insolúvel na água e solúvel em óleos.
Tipos
Frederico Barata classificou os vasos de gargalo em dois tipos:
1. Vaso de gargalo propriamente dito com forma de uma lâmpada votiva. Esta forma é sugerida pelas duas “asas” alongadas para o lado em forma de cabeça de jacaré ou de urubu–rei.
2. Vaso de gargalo zoomorfo onde o corpo do vaso é representado por animais.
Vera Lúcia Calandrini Guapindaia no seu artigo “Tapajó: Arqueologia e História”, por sua vez fazem as seguintes considerações a respeito das partes componentes dos vasos de gargalo:
Os vasos de gargalo são compostos por quatro partes: a primeira é um gargalo com flange; a segunda parte, logo abaixo da flange, é um pequeno bojo esférico, que pode possuir representações de rostos humanos, ou de elementos não-reconhecíveis, de ofídios, de batráquios e de lacertílios.
A terceira parte é o bojo, que pode ser formado por seis abóbadas ou possuir a forma esférica. Sua parte inferior tem o formato cônico e repousa sobre a base do objeto. Na superfície do bojo existem figuras modeladas antropomorfas ou zoomorfas, que se apresentam aos pares e são posicionadas sempre em lados opostos. Em alguns vasos, as figuras modeladas assemelham-se a cabeças de répteis crocodilianos. Algumas estão com a mandíbula aberta e outras fechadas. Sobre as mandíbulas superiores pode existir um animal quadrúpede e uma ave, ou somente uma ave, um quadrúpede ou ainda dois símios ou figuras antropozoomorfas. Em outros vasos, em vez das cabeças de crocodilianos, existem cabeças de aves semelhantes às encontradas nos “vasos de cariátides”, só que em dimensões maiores. Nas outras abóbadas existem batráquios fixados pelos pés e posicionados em sentido oposto. No espaço entre os crocodilianos e os batráquios, há a representação de ofídios. É possível ainda que no lugar das cabeças de crocodilos ou aves, existam figuras antropomorfas semelhantes às que compõe os elementos antropozoomorfos, e no lugar dos batráquios modelados, existem batráquios aplicados.
A quarta parte do vaso é a base, que possui forma anelar. São decoradas com tratamento plástico, algumas vezes representando rostos, figuras zoomorfas ou elementos não-reconhecíveis.
O segundo tipo é o que Barata classificou como “vasos de gargalos zoomorfos” e podem ser divididos em três partes.
A primeira é um gargalo cilíndrico, com flange recortada com perfurações.
A segunda é o bojo, que pode possuir quatro abóbadas ou ter a forma oval. O bojo representa o corpo de um animal que possui a cabeça localizada em uma das abóbadas e a cauda na abóbada oposta.
A terceira parte é a base do objeto, que possui forma anelar. Nos “vasos de gargalo” há o predomínio, quase absoluto, de apêndices zoomorfos. Existem representações zoomorfas distribuídas por toda a superfície dos objetos, como batráquios, ofídios, lacertílios, símios e aves. Há inclusive, “vasos de gargalo” cujas formas representam animais (vasos de gargalo zoomorfos). Em um número significativo de “vasos de gargalo” ocorrem representações de rostos humanos nos bojos esféricos (abaixo dos gargalos) e nas bases. Nos “vasos de gargalo” a representação antropomorfa não aparece de maneira tão fundamental como ocorre nos vasos de cariátides, onde, conforme já mencionado, ela não é apenas um motivo, mas interfere na própria estrutura do objeto. Contudo, Denise Maria Cavalcante Gomes em sua análise, considera que, do ponto de vista formal, os elementos antropomorfos ocupam a parte central, ficando no centro de uma cornucópia de animais tropicais ordenados em diferentes níveis. Sugere que esta profusão de imagens zoomorfas evocaria um tipo de mito de criação no qual os atores principais entrelaçam-se reforçando a ordem social e cosmológica durante cerimônias coletivas.
– Estatuetas
Estatuetas |
Conceição Gentil Corrêa, em 1965, publicou um estudo sobre as estatuetas de Santarém no qual, discorda da classificação de Helen C. Palmatary, baseada em um confuso critério de análise estilística. Corrêa propôs outra classificação com o intuito de descrevê-las e sistematizá-las.
1. Critério de representação em: Antropomorfas, Zoomorfas e Inclassificadas.
Inclassificadas: raras ocorrências de estatuetas com representações antropo-zoomorfas ou fito-zoomorfas.
2. As estatuetas antropomorfas foram subdivididas quanto a forma da base e postura.
3. As estatuetas antropomorfas podiam ter a base semilunar, unípede, circular ou em pedestal.
4. As estatuetas antropomorfas se apresentavam com a postura ereta, acocorada ou sentada.
As estatuetas antropomorfas de Santarém, encontradas nos bolsões e áreas de terra preta às margens do Tapajós, se caracterizam pela diversidade de formas e pelo realismo na reprodução da postura e gestos. Todas as estatuetas foram moldadas à mão, algumas maciças e outras com o corpo ou a cabeça ocos. Embora a maioria não apresente vestígios de pintura, em algumas peças a pintura usada foi branca, vermelha, vermelha sobre branca e vermelha e preta sobre branca.
A distribuição das cores é a seguinte: a branca cobre toda a estatueta; a vermelha está sobre a branca e concentra-se no adorno da cabeça, nas orelhas, nos dedos das mãos e pés e nos adornos dos braços e pernas; e a preta apresenta-se em forma de faixas retilíneas de 0,25 cm de largura e concentra-se em torno dos olhos, faces, braços e ante-braços. Não observamos escorrimento das tintas e verificamos que elas não saem em contado com a água. (GUAPINDAIA)
A pesquisadora Vera Lúcia Calandrini Guapindaia faz a seguinte análise das estatuetas pertencentes ao acervo do Museu Paraense Emílio Goeldi:
Na cabeça, os traços identificatórios estão bem definidos, possuindo a representação de olhos, nariz, boca, orelhas e em algumas, cabelos. Observamos três maneiras de representar os olhos: com incisões, com ponteado e em forma de grão. As bocas das figuras são feitas com incisões. As sobrancelhas, quando existem, são executadas através de roletes aplicados. Os narizes geralmente tem a forma triangular, são feitos em relevo e alguns possuem os orifícios nasais. As orelhas estão presentes, são feitas em relevo e mostram o uso de adorno auricular e a deformação do lóbulo. A representação dos cabelos é feita sempre por incisões e estes não ultrapassam a altura da nuca. A única exceção é a uma peça, cujo cabelo está representado em forma de trança e termina na altura das nádegas. Em algumas estatuetas existe a representação de adornos semelhantes a cocares de forma circular ou semi circular. No tronco, a maioria traz representações dos seios, do umbigo e do sexo. Os membros superiores estão sempre representados e a posição das mãos varia, ora estão apoiados nos quadril ou nas coxas, ora sobre os seios, o ventre ou o sexo ou ainda no queixo. Os membros inferiores são geralmente estilizados, dando a impressão que as figuras estão sentadas sobre as pernas. Porém em alguns exemplares, as pernas estão bem definidas, tendo uma representação naturalista, apresentando-se eretas ou flexionadas. Durante a análise das estatuetas verificamos que houve maior preocupação com a representação da cabeça do que com o corpo. Existe uma maior elaboração na cabeça do que com o corpo, com exceção de cinco peças do museu. Das 29 estatuetas que não tem as cabeças fragmentadas, 13 tem a cabeça maior que o corpo, 8 tem a cabeça do mesmo tamanho do corpo 8 tem a cabeça menor que o corpo. (GUAPINDAIA)
– Cachimbos
Os cachimbos apresentam diferenças fundamentais em relação à Cerâmica Santarém no que se refere à forma, à confecção e aos motivos ornamentais. O aspecto mais curioso é que se tratam de cachimbos angulares. Não há registros etnográficos, até o ano de 1700, sobre o uso do tabaco pelos habitantes da Bacia do Rio Amazonas, além disso, os cachimbos dos índios da América do Sul são, na sua maioria, de forma tubular. Estes cachimbos angulares foram, sem dúvida, introduzidos pelos europeus.
Frederico Barata argumenta que alguns desses cachimbos foram modelados pelos próprios jesuítas, ou índios sob sua orientação. Barata afirmou que “o barro empregado é muitas vezes o mesmo dos vasos típicos”. Contrariando esta afirmativa a análise da Cerâmica de Santarém mostra que o antiplástico utilizado era, predominantemente, o cauixi e o caco moído ao passo que nos cachimbos grande parte não possuía nenhum aditivo ou quando havia era o caripé.
A técnica utilizada sua confecção corrobora que a manufatura dos cachimbos é bem mais recente. Eles eram manufaturados em duas partes iguais para depois serem unidas. Como curiosidade, quase metade dos cachimbos tubulares, do acervo do Museu Paraense Emilio Goeldi, tem o formato do órgão sexual masculino. Os demais são antropomorfos ou zoomorfos.
– Cultura Santarém
Anna C. Roosevelt estabeleceu uma sequência para seriar os componentes das peças coletadas por Nimuendaju e Bezerra de Menezes, estabelecendo as seguintes fases: Santarém, Igarapé–Açu, Aldeia, Lago Grande, Taperinha, Ayaya e Rhome.
– Fases
Santarém – temperada com “cauixi”, é ricamente elaborada e suas formas mais comuns são as garrafas, tigelas, pratos, efígies, cachimbos, apitos e pequenos vasilhames perfurados.
Igarapé–Açu (A.D. 500–1000) – temperada com “cauixi”, seus os motivos característicos são os grandes entalhes nas paredes dos vasilhames e nas bordas flangeadas e entalhadas.
Aldeia (2100 A .C.) – temperada com “cauixi” ou “cariapé”, localizada em Santarém e considerada a mais antiga que a anterior. A cerâmica possui uma pasta avermelhada, pintura vermelha e branca, asas zoomorfas e entalhe curvilíneo.
Lago Grande – temperada com “cascalho” e “cauixi”. Oriunda do Lago Grande e de Santarém, é ainda mais antiga. Possui paredes espessas, os vasilhames são hemisféricos de cor vermelho–amarronzado com decoração simples, incisa e ponteada.
Taperinha – temperada com “cascalho” e “conchas”. Proveniente de um sambaqui na região de mesmo nome, localizado aproximadamente a 40 km de Santarém. Os vasilhames são hemisféricos e sem decoração e a mistura A cerâmica de Taperinha embora semelhante a algumas outras cerâmicas é, no mínimo, mil anos mais antiga do que a do Norte da América do Sul e 3000 anos mais velha que a cerâmica dos Andes e Mesoamérica.
Ayaya – no mesmo sambaqui de Taperinha definiu esta fase com base no material lítico toscamente lascado, como pontas, raspadores, quebra–coquinhos e batedores.
Rhome – o material característico desta seria, grandes pontas finamente entalhadas, com base côncava ou pedúnculo filiadas morfologicamente ao Proto–arcáico.
– Blog e Livro
Os artigos relativos à “3ª Fase do Projeto–Aventura Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Amazonas I” estão reproduzidos, na íntegra, ricamente ilustrados, no Blog desafiandooriomar.blogspot.com desenvolvido, recentemente, pela minha querida amiga e parceira de Projeto Rosângela Schardosim. O Blog contempla também as duas fases anteriores de minhas descidas pelo Rio Solimões e Rio Negro de caiaque.
O livro “Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre , na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, rede da Livraria Cultura, Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre ou ainda através do e–mail hiramrsilva@gmail.com.
Fontes:
ACUÑA, Christóbal de – Nuevo Descubrimiento del Gran Rio de las Amazonas – Espanha – Madrid – Ed. García, 1891.
BARATA, Frederico – A Arte Oleira dos Tapajó – Instituto de Antropologia e Etnologia do Pará, Belém, 1950.
BARATA, Frederico – Os Maravilhosos Cachimbos de Santarém – Estudos Brasileiros, VOL 13 N º37–9, RJ, 1944.
BARATA, Frederico – O Muiraquitã e as Contas dos Tapajó – Separata da Revista do Museu Paulista – Nova Série, São Paulo 1954.
BATES, Henry Walter – Um Naturalista no Rio Amazonas – EDUSP, São Paulo, 1979.
CAPUCCI, Victor Zappi – Fragmentos de Cerâmica Brasileira – Brasil, DF – Editora Brasiliana, 1987.
CARVAJAL, Gaspar de – Relatório do Novo Descobrimento do Famoso Rio Grande Descoberto Pelo Capitão Francisco de Orellana – Brasil – Consejería de Educación – Embajada de Espana – Editorial Scritta, 1992.
CORRÊA, Conceição Gentil – Estatuetas de Cerâmicaa na Cultura Santarémm : Classificação e Catálogo das Coleções do Museu Goeldi Museu Paraense Emílio Goeldi - Museu Paraense Emílio Goeldi, Brasil, Belém, 1965.
CORRÊA, Conceição Gentil – A cerâmica Arqueológica de Santarém. Santarém, PA: Programa da Festa de Nossa Senhora da Conceição (PFNSC), 1973.
GOMES, Denise Maria Cavalcante. Cerâmica Arqueológica da Amazônia. EDUSP, São Paulo, 2002.
GUAPINDAIA, Vera Lúcia Calandrini - Fontes Históricas e Arqueológicas Sobre os Tapajó de Santarém. Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1993.
NIMUENDAJU, Curt Os–Tapajó. In: Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi – vol X, Belém, 1948.
RODRIGUES, João Barbosa - Exploração e Estudo do Vale do Amazonas, Rio Tapajoz - nota, Rio de Janeiro, 1875.
SANTOS, Paulo Rodrigues dos. Tupaiulândia. ICBS/ACN. Santarém, PA: Gráfica e Editora Tiagão, 1999.
SUSSUARANA, Felisberto. Santarém antes da sua Fundação. Santarém, PA: Programa da Festa de Nossa Senhora da Conceição (PFNSC), 1991.
WALLACE, Alfred Russel. Viagens pelo Amazonas e Rio Negro. São Paulo: Ed. Companhia Editora Nacional, 1939.
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