Desafiando o Rio-mar – Os Tapajó
“De qualquer forma, o que se descobriu até agora é extremamente importante. Não só para a história do Brasil, como para a história da humanidade: estamos entendendo que o homem não é tão limitado como se pensa”. (Christiane Machado)
- Paleoíndios
Os sítios arqueológicos de Monte Alegre foram visitados por diversos pesquisadores. Dentre eles ressaltamos Charles Frederick Hartt que realizou, em 1871, estudos sobre as inscrições rupestres da Serra da Lua. Em 1889, Alfred Russel Wallace publicou um trabalho descrevendo as Serras e Grutas da região, no qual faz referência às inscrições rupestres.
Dr. Anna Curtenius Roosevelt |
Recentemente, a arqueóloga norte-americana Dr. Anna Curtenius Roosevelt, bisneta do presidente norte-americano Theodore Roosevelt, professora da Universidade de Illinois e curadora do Museu Field de Chicago, visitando as instalações do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, ficou impressionada com a qualidade e a beleza da Cerâmica Santarena. Roosevelt realizou pesquisas no município de Monte Alegre, no Pará, e suas escavações revelaram, nas camadas mais profundas da Caverna da Pedra Pintada, ossos, dentes, pontas de flecha, fragmentos de cerâmica, restos de cuias e vasos, pigmentos de pinturas e pinturas rupestres.
Para se chegar ao local, partindo de Monte Alegre, é necessário percorrer cinquenta quilômetros de trilhas no interior da selva até a cordilheira do Ererê, onde fica a Serra da Lua, lá se encontraram pinturas rupestres representando o Sol, a Lua e, provavelmente, outras figuras do cosmos. Logo mais adiante, na Serra Paytuma, Roosevelt pesquisou, de 1990 a 1992, a Caverna do Pilão (ou Caverna da Pedra Pintada) e, segundo ela, existem vestígios suficientes para afirmar que grupos humanos habitaram a Caverna no período compreendido entre 11.200 a .C. e 9.800 a .C. No final da Idade do Gelo, quando a temperatura começou a elevar-se, as cavernas deixaram de ser a opção ideal de moradia e os paleoíndios foram obrigados a abandoná-la e partir para os cerrados do Planalto Central buscando novas alternativas de sobrevivência. A floresta, na Amazônia, por sua vez, foi, lentamente, se tornando mais densa, e para lá retornaram estes grupos, cerca de 2.000 anos depois, para viver às margens dos Rios. Essas migrações, certamente, não foram pontuais e se processaram em toda extensão da Amazônia.
- Tupuiu ou Tupaiu
O escritor e pesquisador Felisberto Sussuarana comenta que a principal Aldeia dessa tribo era a “Tupuiu”, também era chamada por alguns cronistas de “Tupaiu”, que embora parônimas no idioma português, na linguagem indígena, tinham significados bastante distintos:
O vocábulo “tupuiu” é composto do termo “ypy” que significa “primeiro, princípio, começo, fundamento, cabeça de povoação, principal” e do substantivo, simplificado do verbo, “yu”, que significa “estada”. Mas “morada, pousada, morar” quando prefixado com “t” do caso absoluto, que, na unidade semântica de “ypyyu”, significa “povoar em primeiro lugar”, absolutiza a forma “typyyu”, morada dos primeiros povoadores. (SUSSUARANA)
E continua,
A “tupuiu” era uma Aldeia ampla, com cerca de 500 famílias. Observava a forma tupi do aldeamento, com ocas ou casas em torno duma “ocaraçu”, largo rossio, que era a muiraciçaua ocara. Suas casas eram retangulares, com paredes de madeira lavrada, justaposta uma peça à outra, internamente forradas com mantas de algodão de cores vivas e cobertas com palha de pindoba, tendo duas compridas águas e duas curtas quase a pique sobre as que seriam empenas. (SUSSUARANA)
“Tupuiu” se referia, portanto à Aldeia ou povoação e o termo “tupaiu” designava a enseada de águas escuras e límpidas de Santarém.
- Relatos Pretéritos
A região do Rio Tapajós foi, sem dúvida, um dos berços mais importantes destas ondas migratórias que retornaram dos cerrados em busca da fartura que a selva luxuriante propiciava. Encontramos inúmeros relatos a respeito dos Tapajó que se iniciaram a partir do século XVI (1542) e, que depois de dois séculos, foram diminuindo, desaparecendo até se tornarem uma tribo extinta. Podemos apresentar diversos fatores que concorreram para isso: como a morte provocada pelas “novas” doenças trazidas pelos europeus, a ação das tropas de “resgate” provocando um êxodo em massa para locais de difícil acesso, e a grande miscigenação provocada pelos “aldeamentos” em que diversas etnias conviviam entre si e com os brancos gerando uma grande confusão de elementos culturais indígenas além da imposição dos valores europeus que alteraram, significativamente, sua organização social.
Frei Gaspar de Carvajal |
1542 - Frei Gaspar de Carvajal
A primeira referencia sobre os indígenas que povoaram a foz do Tapajós foi feita pelo Frei Gaspar de Carvajal, em julho de 1542, no seu “Relatório do Novo Descobrimento do Famoso Rio Grande Descoberto pelo Capitão Francisco de Orellana”, Carvajal relata:
Navegamos rapidamente, desviando-nos dos lugares povoados e uma tarde fomos dormir em uma floresta de carvalhos localizada na boca de um rio que entrava pela mão direita no de nossa navegação, com uma légua de largura. (CARVAJAL)
Ali permaneceram um dia e meio aproveitando para descansar e colocar proteções laterais nos barcos. Carvajal narra que nas proximidades deste rio foram atacados pelos índios:
No final das contas escapamos quase sem problemas, ainda que tenha sido morto outro companheiro nosso chamado Garcia Soria, natural de Logronho. Na verdade não lhe entrou a flecha meio dedo, mais como estava já com peçonha, não suportou nem vinte e quatro horas e rendeu a alma ao Nosso Senhor. (CARVAJAL)
Carvajal não nomina os índios e nem o rio, porém, uma análise do percurso sugere que se tratava realmente do Rio Tapajós. Vários pesquisadores concordam com esta tese. A pesquisadora norte-americana Helen C. Palmatary que iniciou os estudos descritivos de coleções arqueológicas da Amazônia, em 1939, afirmava que:
O fato do Rio Tapajós entrar no Amazonas pelo lado direito; o fato do fluxo de água no cruzamento dos rios levar em direção ao Tapajós; os vestígios da área sugerem que a região era densamente povoada como de fato os portugueses a encontraram anos mais tarde; e o fato dos grupos indígenas do rio Tapajós e os do lado oposto do rio Amazonas usarem flechas envenenadas. (PALMATARY)
1637 - Frei Alonso de Rojas e Laureano de la Cruz
Em 1637, chegaram a Vila de Nossa Senhora de Belém, seis soldados e dois leigos franciscanos embarcados em uma frágil canoa. Os franciscanos Andrés de Toledo e Domingos de Brieva haviam fugido da missão sediada às margens do Rio Napo dirigida pelo Frei Laureano de la Cruz. Os índios haviam se rebelado e, enquanto, um grupo chefiado pelo Frei Laureano fugia para Quito, os Freis Andrés de Toledo e Domingos de Brieva preferiram, juntamente com seis soldados, descer o Rio até Belém. Um destes soldados, o português Francisco Fernandes, já havia residido no Pará e conhecia relativamente bem a área. A viagem não foi documentada, na época, mas sua história gerou uma crônica cuja autoria foi atribuída ao Frei jesuíta Alonso de Rojas, que, em Quito, teve acesso às informações sobre a expedição, e escreveu, em 1639, a crônica “Relación del Descubrimiento del Río de las Amazonas y sus dilatadas Províncias y ..., hoy San Francisco de Quito, y declaración del mapa onde está pintado ... (1640)”. Nela Rojas afirma que os religiosos e soldados foram bem recebidos, abrigados e alimentados:
Esses mesmos soldados e os dois religiosos quando desceram o Rio, chegaram a umas mui dilatadas províncias cujos habitantes são chamados pelos portugueses Extrapajozes. Estes agasalharam os religiosos e os soldados e, por sinais lhes disseram que fossem com eles por um Rio acima, em cuja margem encontraram uma grande Aldeia (...) Meteram-nos em uma casa muito grande, com madeiras lavradas, forradas de mantas de algodão, entretecidas de fios de diversas cores, onde puseram uma rede para cada qual dos seus hóspedes, feita de folhas de palmeira e bordada de diversas cores, e lhes deram para comer: caça, aves e peixes. Nesta aldeia viram os soldados caveiras de homens, arcabuzes, pistolas e camisas de pano. Disto deram depois a notícia aos portugueses e lhes disseram que aqueles índios tinham morto alguns holandeses que chegaram até aquelas províncias sendo deles as caveiras e as armas. (ROJAS)
Frei Laureano de La Cruz , por sua vez, escreveu sobre a mesma expedição um relato que chamou de “Nuevo descubrimiento del Río de Marañón, llamado de las Amazonas, hecho por la Religión de San Francisco, año de 1651” . Laureano afirma que ao chegar à Província dos “Trapajosos” os expedicionários tiveram suas roupas, víveres e demais pertences roubados.
Prosseguindo a viagem, logo adiante fugiram os dois índios, mas continuaram, apesar disso, em busca do seu descobrimento. Já tinham caminhado os servos de Deus 200 léguas, sem encontrar gente, por estarem os povoados ali afastados do Rio, quando chegaram à província dos Omáguas, onde foram providos de mantimentos, de que iam muito necessitados (...) Foram continuando a viagem reconhecendo as povoações dos gentios que iam encontrando pelas margens do nosso grande Rio, e passando sem estorvo nem contradição alguma, perto das conquistas de Portugal (sem terem encontrado o “Eldorado” nem a “Casa do Sol”), chegaram a uma província chamada de Trapajosos, onde os seus moradores, cobiçosos, atrevidos, despiram os pobres tirando o pouco que levavam. Desta maneira continuaram a viagem, até que chegaram a uma praça de portugueses, que se chama Gurupá. (LA CRUZ )
Frei Cristóbal de Acuña |
1639 - Frei Cristóbal de Acuña
O Capitão Pedro Teixeira, em 1639, retornando do Vice Reino de Quito, chega ao Rio Tapajós, depois de passar pelo estreito de Óbidos, o relator da expedição Frei Cristóbal de Acuña faz, então, a seguinte consideração no seu “Novo descobrimento do Rio Amazonas”:
LXXIV – Rio e Nação dos Tapajós
A quarenta léguas deste estreito desemboca, pela margem Sul, o grande e vistoso Rio dos Tapajós, que toma o nome da nação e província de nativos que vivem em suas margens, que são muito bem povoadas por bárbaros, com boas terras e abundantes mantimentos.
Acuña dá notícia da hospitalidade e das flechas “ervadas” dos bravos Tapajós:
São estes Tapajós, gente de brio, muito temidos pelas nações circunvizinhas porque usam um tipo de veneno em suas flechas, que apenas tirando sangue tiram, sem remédio, também a vida. E devido a isso os próprios portugueses recearam, por muito tempo, seu contato, desejando conseguir por bem sua amizade. Nunca conseguiram totalmente tal coisa, porque obrigavam, com isso os nativos a abandonarem seu espaço natural e virem morar entre os índios já pacificados, coisa que sentem muito estes Tapajós. No entanto, em suas terras recebiam com grande hospitalidade aos nossos, como pudemos experimentá-lo alojados em uma de suas aldeias de mais de quinhentas famílias, onde durante todo o dia não cessaram de vir trocar galinhas, patos, redes, pescado, farinha, frutas e outras coisas, com tanta confiança, que mulheres e crianças não se afastavam de nós propondo que, se os deixássemos em suas terras, com muito prazer poderiam vir os portugueses a povoá-las, que os receberiam e serviriam em paz por toda a vida.
Acuña fala da perseguição protagonizada pelos portugueses e em especial a da expedição comandada por Bento Maciel Parente, homônimo e filho do governador do Estado do Maranhão e Grão Pará:
LXXV – A Opressão que fizeram os portugueses
Não foram suficientes os humildes oferecimentos destes Tapajós para pessoas interessadas, como são as que estão envolvidas nestas conquistas e que só enfrentam dificuldades com a cobiça de escravos que esperam aprisionar, para que fossem acatados ou pelo menos elevados em consideração e conveniência. Ao contrário, suspeitando que esta nação tinha muitos escravos a seu serviço, trataram de mover-lhes, com toda a força, dura guerra, acusando-os de rebeldes. Sobre tal guerra estavam tratando quando chegamos de nossa jornada ao Forte do Desterro onde se reunia gente para tão desumana ação.
Forte do Desterro: localizava-se à margem direita da foz do rio Uacarapy, afluente da margem esquerda do rio Amazonas, no Estado do Pará. Foi erguido, em 1623, por Bento Maciel Parente, quando assumiu o governo da Capitania.
E apesar de que, por todos os meios que pude, procurei, senão impedi-la, pelo menos suspendê-la até que houvesse nova ordem de Sua Majestade, o Sargento-mor do Estado, Cabo e Chefe de todos, que era Bento Maciel, filho do governador, deu-me sua palavra de que não prosseguiria no seu intento até receber um aviso de seu pai. Tão logo virei as costas, juntando a maior quantidade de gente que pode, numa lancha com oito peças de artilharia e outras embarcações menores, o sargento ofereceu-lhes dura guerra, se não quisessem boa paz. Esta a admitiram-na logo os nativos, de boa vontade, como sempre a tinham oferecido, dispostos a fazer tudo o que quisessem de suas pessoas.
Ordenaram-lhes os portugueses que entregassem todas as suas flechas envenenadas que tinham, que era o que mais se podia recear, o que os miseráveis obedeceram prontamente. E, vendo-os tão desarmados, os portugueses tomaram grande quantidade deles e encerraram-nos em um curral forte com suficiente guarda, soltando então os índios amigos que traziam, que para fazer o mal cada um é um diabo solto. Em breve espaço de tempo saquearam toda a aldeia, sem deixar coisa que não destruíssem, aproveitando-se, conforme me contou quem o viu, das filhas e esposas dos presos aflitos diante de seus próprios olhos. E faziam coisas que, garantiu-me esta pessoa que é bem antiga naquelas conquistas, para não vê-las, não só deixaria de comprar escravos, como também daria de graça os que possuía.
Não parou aqui a crueldade dos portugueses que, como iam envolvidos na cobiça de escravos, não ficariam satisfeitos até verem-se senhores deles. Ameaçavam os índios encurralados e assustados, atemorizando-os de novo com sua força, para que oferecessem escravos, assegurando-lhes que, com isso, não apenas ficariam livres, mas também seriam seus amigos, carregados de ferramentas e tecido de algodão que lhes dariam por eles. Que poderiam fazer esses miseráveis, presos sem suas armas, com suas casas saqueadas, oprimidas suas mulheres e filhas, senão submeterem-se a tudo o que lhes quisessem fazer? Ofereceram mil escravos e foram buscá-los, mas com o alvoroço da terra, os índios tinham se reunido e procurado um refúgio e, não podendo juntar mais que duzentos, entregaram-nos. Com a promessa de que entregariam o restante, os portugueses deixaram livres, dessa forma, os que, por assim verem-se, ofereceram seus próprios filhos como escravos, como muitas vezes tem sucedido. Despacharam todos estes escravos ao Maranhão e Pará, que eu vi com meus próprios olhos e, saboreando a vitória, preparam logo outra expedição maior para outra nação mais adentro do Rio das Amazonas, onde crueldades serão, sem dúvida, muito maiores, já que vão menos pessoas de valor que possam enfrentar quem a todos comanda. (ACUÑA)
1650 - Frei Laureano de La Cruz
Frei Laureano de La Cruz subiu o Rio Tapajós, em 1650, integrando uma expedição portuguesa com o intuito de resgatar índios cativos. Eram estes, os índios de outras tribos que os Tapajó aprisionavam em suas guerras. Frei La Cruz explicou que:
las razones com que los portugueses queren paliar su iniquidad, son decir que aquellos indios que ellos ibam à rescatar los tienen ya sus anos senteciados à muerte para comérselos, y que les hacen buena obra en libralos de la muerte y sacarlos à tierra de cristianos à donde lo sean, aunque esclavos. (LA CRUZ )
Padre Antônio Viera |
1659 – Padre Antônio Viera
O Padre jesuíta Serafim Soares Leite (1890-1969) foi um poeta, escritor e historiador português viveu muitos anos no Brasil e se tornou um dos maiores pesquisadores da atuação dos jesuítas no Brasil. Escreveu a “História da Companhia de Jesus no Brasil”, em dez volumes, que o tornou merecedor do Prêmio Nacional de História (Prêmio Alexandre Herculano), em 1938. Serafim afirma que no primeiro semestre de 1659, o processo de catequese dos Tapajó se iniciou com a vinda do Padre Antônio Vieira à região:
Visitou a sua grande taba, percorreu suas praias e arredores, conversou com eles, pois sabia falar a “língua brasílica”, na qual compusera catecismos, orações e cânticos religiosos. Certamente, exercitou o seu sagrado ministério na oportunidade, catequizando, pregando, batizando e rezando missas. Os selvagens pediram ao Padre Vieira que mandasse missionários para levantarem cruz e igrejas, como vinham fazendo em Xingu e gurupatuba. Padre Antônio Vieira prometeu atendê-los. E não se esqueceu da promessa. (LEITE)
1660 - Missionário Gaspar Misseh
O Padre Antônio Vieira expediu até o Rio Tapajós e suas aldeias os missionários Tomé Ribeiro e Gaspar Misseh que aportaram em Belém em 1660. O próprio Misseh faz o seguinte relato:
Saíram os dois de Gurupá no dia 31 de maio de 1661 e acharam a Aldeia dos Tapajós, com índios de seis tribos diferentes. No dia seguinte ao da chegada, os Índios com mulheres e filhos vieram ofertar-lhes os habituais presentes: mandioca, milho, galinhas, ovos, beijus, mel, peixes e carne de moquém. E por sua vez receberam as dádivas que mais ambicionavam: espelhos, facas, machados, velórios, vidrilhos, etc. Os Padres celebraram a festa de Ascensão de Nosso Senhor, à portuguesa, com tiros e morteiros. Houve missa, fez-se catequeses, realizaram-se batismos e antes de descerem ao Pará os Padres ergueram, entre expectação e comoção geral, no terreiro da Aldeia, uma grande Cruz. (MISSEH)
1661 - Padre João Felipe Bettendorf
Em 1661, o Padre Antonio Vieira, ordenou ao padre Bettendorf a fundação de uma missão que teria como base a aldeia de Nossa Senhora da Conceição dos Tapajós, povoamento que, mais tarde, viria a ser denominado de Santarém. Bettendorf faz o seguinte relato na sua “Crônica da Missão dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão”:
Apenas tinha eu estado uns poucos meses em companhia do padre Francisco da Veiga na Aldeia de São João em Murtigura, quando o Padre visitador o Subprior Antônio Vieira ma chamou à casa do Pará, e lá levando-me para o cubículo que hoje serve de livraria, me mostrou no mapa o grande Rio das Amazonas e disse-me: “Eis aqui, meu Padre João Felipe, a diligência do famoso rio das Amazonas, pois a Vossa Reverencia elegeu Deus por primeiro Missionário do assento dele, tome ânimo e aparelhe-se que em tal dia partirá, e levará por companheiro um irmão conhecedor da língua, Sebastião Teixeira, para o ajudar nas ocasiões em que for necessário. Respondi-lhe eu que estimava muito esta dita de ser o primeiro Missionário de um Rio tão afamado e de uma tão dilatada missão, e agradecia muito a Deus e a sua Reverência essa eleição, e que da minha parte faria todo o possível para corresponder, segundo a obrigação que me ficava a trabalhar com grande zelo pela salvação das almas que por ele havia. Aviou-me logo o Padre Francisco Velloso, Superior da casa, com as cousas seguintes que aqui se referem, para saberem os Missionários do tempo antigo. Deu-me uma canoa meâzinha já quase velha e sem cavernas bastantes, um altar portátil com todo o seu aviamento, (...); e com isso mandou à Murtigura em busca de farinha para a viagem, e ao Cametá em busca de umas poucas tartarugas, que as daria o Padre Salvador do Vale.
Queria o Padre Subprior Antônio Vieira que as residências dos Ingaybas, onde assistia o Padre João Maria Gorsony, e a do Gurupá, onde assistia o Padre Gaspar Misseh e a do Rio das Amazonas com os Tapajós, fossem sobre si sem mais dependência que do Padre Subprior da Missão; mas respondi-lhe eu que da minha parte não queria ser independente da casa do Pará, porque convinha ter a quem recorrer nas necessidades que se oferecessem e houvesse quem tivesse obrigação de acudir-me em razão de seu ofício; e com isso não se efetivou o que o Padre Subprior pretendia fazer, caso os Padres Missionários quisessem. Com este limitadíssimo aviamento, eu com meu companheiro, muito doente, fomos para minha missão, que não tinha outro limite “que todo o Rio das Amazonas”, que corre pelo distrito das conquistas da Coroa de Portugal, começando na Aldeia do Ouro, em Cambebas, até a residência de Gurupá ou Tapará, incluindo de mais todo o Rio dos Tapajós com suas serrinhas e sertões. Chegado que fui a Murtigura deu-me o Padre Francisco da Veiga uns três para quatro paneiros (cestos) de farinha com uma só tartaruga, que os índios comeram por ceia. Em Cametá não me deu o Padre Salvador de Valles mais que uma boa vontade, por não ter peixe, nem cousa alguma para me dar naquela missão; e assim partimos, sustentando-nos pelo caminho com farinha e um bocadilho de doce, tirado do boiãozinho que levávamos. Não faltaria algum conduto se o irmão mais prático que eu, que ainda era novato, mandasse pescar os índios; passados uns seis para sete dias chegamos à Fortaleza de Gurupá, onde o Paulo Martins Garro mandou disparar duas peças de artilharia para com isso nos dar as boas vindas, e agasalhou-nos muito bem; no dia seguinte nos acompanhou em sua canoa até o Tapará, fazendo os gastos pelo caminho, botando-me água às mãos, para com isso dar exemplo do respeito que os índios me haviam de guardar. Andamos dia e quase meio de Gurupá até a Residência do Tapará, onde não achamos o Padre Tomé Ribeiro, nem o Padre Gaspar Misseh, por haverem ido ambos para o Pará; fizeram-nos os índios seus presentes de peixe-boi assado e excelente, mas, como não é tão sadio, comendo dele o Capitão-Mór logo lhe deram febres que duraram muito tempo, com que, despedindo-se, voltou para sua Fortaleza, e nós, depois de termos doutrinado os índios conforme pedia a necessidade, fomos para Igoaquara. Aqui ajuntei a gente que lá havia, doutrinei e lhe fiz pratica do que haviam de guardar em minha ausência, e deste modo fui visitando as mais aldeias, catequizando, batizando e confessando. Estava naquele tempo a Aldeia de Curupatiba dividida em duas: uma que estava em uma porta do monte sobre o igarapé e se chamava Caravela pelos brancos, e não é crível quanto me custou batizar aqui uma velha, para que não morresse sem a água do santo batismo; a outra parte estava em riba do monte onde está hoje; e como me encaminhava para ele de madrugada, vieram os índios, postos por fileiras, com candeinhas de cera preta em mãos receber-nos, levaram-nos para sua Aldeia; aqui achei muito que fazer: avisei todos que se juntassem na Igreja, disse-lhes a Missa, doutrinei e batizei quantidade de inocentes, e, sem embargo de ter encomendado que não deixassem nenhum ainda dos que não fossem batizados, ficara de fora um rapazinho que estava muito mal. Porém, quis Deus que, acabado já tudo, como parecia, entrasse eu em dúvida se porventura por negligencia dos índios tinha ficado alguma criança sem batismo; portanto, sem embargo parecer isto ao irmão escrúpulo, quis eu tornar a visitar as casas que já tinha visitado todas. Coisa notável: entrando em casa de um principal, vi uma redinha velha e preta de fumaça, e, chegando para ver o que nela estava, achei um rapazinho inocente reduzido a ossos e quase aos últimos da morte. Perguntei ao Índio Principal se este menino estava batizado e respondeu-me ele que não, e que não se tinha tratado dele, pois estava muito mal; então dando-se eu uma repreensão ao Principal, batizei lá mesmo o menino chamando-o Francisco Xavier. Foi isto singular providência de Deus, porque pouco depois se foi para o Céu gozar da vista de seu Criador, da qual havia se privado para sempre se eu por inspiração particular não tivesse tornado a visitar as casas.
De Gurupatuba fomos para o Tapajós, onde havia de fazer minha residência, conforme a ordem do Padre Superior e Visitador, Antônio Vieira. Lá chegamos depois das festas do Espírito Santo (fins de junho de 1661) e fomos recebidos dos índios daquela populosa Aldeia com grande alvoroço e alegria; levaram-nos para uma casinha de palma, eu não tinha mais cômodo que uma varandinha com dois limitados cubículos (quartos pequenos) e, à ilharga (ao lado), uma choupaninha para dizer Missas.
Vieram ver-nos não somente os cinco “principais” que havia naquele tempo, de diversas nações na Aldeia, mas, também, os mais com suas mulheres e filhinhos, trazendo-nos presentes a que chamavam “putabas” (putáuas) A todos contentei, dando-lhes juntamente a razão da minha vinda, de que gostaram muito, por haver tempos que desejavam a dita de ter consigo Missionário da Companhia de Jesus. No dia seguinte, vieram outros “principais” do Sertão, também com suas dádivas de cágados e frutas, rogando, com muita instância, quiséssemos chegar até suas terras para levantar a Santa Cruz e fazer-lhe igreja, como nas mais aldeias dos cristãos; correspondi a seus presentes com a pobreza que trazia comigo, dando-lhes minha palavra que cedo lhes atenderia com o que pediam. (BETTENDORF)
Bettendorf, na sua famosa “Crônica da Missão dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão”, reproduzida mais tarde pelo Padre João Daniel no seu “Tesouro descoberto no Máximo Rio Amazonas”, escrita na prisão entre 1757 e 1776, faz referência ao caso do Padre Antônio Pereira, conhecido como o “Queimador dos Monhangaripes”:
Possuíam os índios Tapajós alguns corpos (ou múmias) ressequidas de seus antepassados, que conservavam numa casa dentro da mata, e aos quais prestavam periódicas homenagens ou adoração, segundo pensavam os padres. Em torno desses cadáveres secos mantinham rigoroso segredo, só conhecido dos pajés e dos homens velhos da tribo. Chamavam a essas múmias “Monhangaripes”. (BETTENDORF)
No seu tempo, Bettendorf não tentou eliminar a prática ancestral seguindo o conselho de Maria Moaçara, principaleza da tribo e de outros tuxauas que temiam uma revolta de grandes proporções.
Padre Antônio Pereira, entretanto, contando com o respaldo de muitos habitantes brancos na Aldeia, usando conselhos e ameaças, conseguiu que os índios lhe trouxessem as múmias e mais “umas pedras que usavam por ídolos”. Apresentaram os silvícolas sete corpos mirrados dos seus avoengos (antepassados, ascendentes) e umas cinco pedras que também adoravam... As pedras todas tinham sua dedicação ou denominação, com alguma figura que denotava para os que serviam. Uma presidia aos casamentos, como o deus do Himeneu dos antigos; outra à qual imploravam o bom sucesso nos partos, e assim as mais... Havia também a que presidia as pescarias e caçadas, plantações, etc. (BETTENDORF)
Estes ídolos de cerâmica são chamados pelos populares de “Buda dos índios”.
Padre Antônio Pereira não esteve com paliativos: mandou queimar no grande terreiro da igreja os sete cadáveres secos, cujas cinzas, juntamente com as “pedras”, mandou deitar no meio do Rio. Os Tapajós ficaram desgostosos, mas, se aquietaram, com receio dos brancos. (BETTENDORF)
Em 1685, Antônio Pereira foi designado para fundar uma aldeia no extremo Norte próximo a Caiena com o objetivo de neutralizar a influência dos franceses sobre os indígenas da área. Numa manhã de setembro de 1687, enquanto rezava a Missa, o Padre, seus companheiros e quatro índios mansos foram atacados e massacrados. Os corpos foram amontoados, cobertos de lenha e incinerados. Bettendorf faz o seguinte comentário nas suas “Crônicas” a respeito da vingança dos “Monhangaripes”:
Parece que o inimigo infernal, raivoso contra o Padre Antônio Pereira, que pouco antes tinha mandado queimar os ossos dos que os Tapajós adoravam como seus “Monhangaripes” e ídolos, não achando já em que vingar-se dele, instigou essa ocasião aos bárbaros do Cabo Norte para que lhe tirassem a vida e o queimassem visto ter ele feito queimar os ossos dos avoengos dos Tapajós. (BETTENDORF)
1662 - Ouvidor-mor Mauricio Heriarte
A crônica Mauricio Heriarte, feita a pedido do governador do Maranhão e Grão-Pará, foi escrita em 1662, vinte e cinco anos depois de ter participado da expedição de Pedro Teixeira. Heriarte compilou, provavelmente, as informações coletadas junto aos parceiros da expedição de Pedro Teixeira, incluindo o próprio Favella. Nem sempre o que ele descreve foram fatos que vivenciou pessoalmente como participante da expedição, mas baseia-se nas narrações de outros membros da expedição. É dele a primeira notícia sobre os muiraquitãs e sua manufatura:
Este rio onde estão situados estes Índios Tapajós é muito caudaloso e de aprazíveis terras, e claríssimas águas. Não é de muito peixe, desce do poente, e deságua e mete no Amazonas. Até esta província chegam naos de alto bordo, e por este Rio dos Tapajós vão quatro jornadas a resgatar madeiras, redes, urucus, e pedras verdes, que os índios chamam de buraquitãs (muiraquitãs) e os estrangeiros do norte estimam muito; e comumente se diz que estas pedras se lavram, neste Rio dos Tapajós, de um barro verde, que se cria debaixo da água, e debaixo dela fazem contas redondas e compridas, vasos para beber, assentos, pássaros, rãs e outras figuras; e, tirando-o feito debaixo da água, ao ar, se endurece tal barro de tal maneira que fica convertido em mui duríssima pedra verde; e é o melhor contrato destes Índios e deles estimado. (HERIARTE)
Heriarte informou que esta era a maior aldeia com cerca de sessenta mil guerreiros muito temidos pelas outras nações que habitavam aquela região. Segundo Heriarte, os Tapajó:
São extremamente bárbaros e mal inclinados. Tem ídolos pintados que adoram, e a quem pagam dízimo das sementeiras, que são de grades roças de milho e é o seu sustento, que não usam tanto de mandioca para farinha, como as demais nações. (HERIARTE)
Fez, ainda, considerações sobre as potencialidades da terra e a organização social dos Tapajó afirmando que cada aldeia era composta por vinte ou trinta casais governados por um Principal ao qual todos prestavam obediência. Heriarte mostra a importância fundamental do Rio Tapajós para a economia que se baseava na possibilidade de se conseguir escravos e no potencial agrícola das terras.
O clima desta província é quente, de mui boas e alegres terras, capazes para criar muitos gados, vacum, ovelhas, cabras e gado de cerda. Tem muitas serras, e pela falda delas e por algumas ilhas que tem este Rio e o das Amazonas, se podem fazer grandes engenhos de açúcar; porquanto as crescentes do rio frutificam todas aquelas terras, em que os índios fazem roças de milho, e frutas e alguma mandioca. Governam-se estes Índios por Principais, em cada rancho, com vinte ou trinta casais, e a todos os governa um Principal grande sobre todos, de quem é muito obedecido. Dão guerra estes a todos os demais daquele circuito, de quem são temidos. Tem muitos escravos; outros que vendem aos portugueses por ferramentas para fazerem suas lavouras, e roças a terra. Este Rio era digno de se descobrir, porquanto mostra ser de muito proveito para estas conquistas. (HERIARTE)
1719 - Padre Manuel Rebelo
O Padre jesuíta Serafim Soares Leite cita que, em 1719:
(...) a esta Aldeia pertencem não só os Tapajós, mas outras nações em particular os Arapiunses e Corarienses, os quais todos são já para cima de trinta e cinco mil cristão. (LEITE)
1737 - Padre José Lopes
Ainda segundo o Padre jesuíta Serafim Soares Leite:
O Padre Jesuíta José Lopes localizou em 1737 o aldeamento onde agora está a Vila, (Boim) dizendo que o novo sítio não era faminto, mas muito alegre, ventilado e sadio. (LEITE)
1753 - Padre Lourenço Kaulen
Em 16 de novembro 1753, o Padre jesuíta alemão Lourenço Kaulen envia uma carta à D. Maria d’Áustria, rainha-mãe de Portugal, solicitando que a rainha:
... se dignasse a permitir aos Padres Alemães que viessem para trabalhar e salvar as almas, que passassem, por exemplo, pelos rios Tapajós ou Xingu, onde pudessem empregar o nosso zelo... (KAULEN)
Padre João Daniel |
1757 - Padre João Daniel
Em 1757, o Padre João Daniel viajou pelo rio Amazonas e registrou a “missão Tapajós, hoje vila de Santarém”. Dos Tapajós fez menção apenas à sua idolatria, dizendo que eles
E no mesmo rio sucedeu outro caso na Missão chamada de Tapajós, intitulada hoje Vila de Santarém, que também prova serem os Índios na verdade verdadeiros idolatras. Lia o Missionário em Avendanho, e achou nele esta proposição: que os Índios também idolatravam em ídolos, e que com muita dificuldade largavam os ritos e costumes dos seus avoengos. Quis o Missionário indagar a verdade, e chamando alguns Índios, que julgava mais fiéis, lhes fez uma prática domestica sobre a obrigação, que todos temos de adorar a um só Deus; mas que ele lendo aquela proposição desconfiava que eles adoravam alguns ídolos; e assim que lhes descobrissem a verdade do que havia, e si eram verdadeiros Católicos. Responderão os Índios que na verdade adoravam alguns corpos e criaturas, e que os tinham muito ocultos em uma casa no meio dos matos, de que só sabiam os mais velhos e adultos. Admoestou-os o Padre que lhes trouxessem todos, como “veri” trouxeram sete corpos mirrados dos seus avoengos, e umas cinco pedras, que também adoravam. Não dizia o Missionário quais eram, ou em que consistiam as adorações que lhes davam, mais do que em certo dia do ano ajuntarem-se os velhos com muito segredo, e de companhia iam fazer-lhe alguma romagem, e os vestiam de novo com bretanha ou algum outro pano, que cada um tinha. As pedras todas tinham sua dedicação e denominação, com alguma figura, que denotava para que serviam. (DANIEL)
João Daniel não cita o nome do miserável Padre Antônio Pereira, cujo nome temos ciência graças às “Crônicas” do Padre João Felipe Bettendorf.
Desenganado então o Missionário da sua pouca Religião e muita idolatria, à sua vista e em publica praça mandou queimar estes seus ídolos, ou sete corpos mirrados, cujas cinzas juntamente com as pedras mandou deitar no meio do rio, desejando afundir com elas por uma vez a sua cegueira e cega idolatria: (...) (BETTENDORF)
1762 - Dom João de São José de Queirós da Silveira
O Bispo João de São José, em 1762, se referiu ao Rio Tapajós afirmando que o mesmo fora habitado por índios do mesmo nome e que “tem muito gentilismo” este Rio.
TC Ricardo Franco |
1779 - Tenente Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra
Ricardo Franco de Almeida Serra, português de nascimento, formado em Engenharia e Infantaria, cartógrafo, geógrafo e astrônomo foi um grande desbravador e artífice da defesa do território nacional. O Coronel Ricardo Franco fez o levantamento de fronteiras, explorou mais de cinquenta Rios das bacias do Amazonas e do Prata, e mapeou as Capitanias do Grão-Pará, Piauí, de São José do Rio Negro e de Mato Grosso. Uma de suas mais importantes atribuições, como engenheiro militar, foi a construção e defesa do Forte Coimbra, no pantanal sul-mato-grossense.
Em agosto de 1797, o Tenente-Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra assumiu o comando do Forte de Coimbra, na região hoje de Corumbá, Mato Grosso do Sul. (...)
um novo ataque espanhol no ano de 1801, mesmo inferiorizados material e numericamente, os brasileiros e portugueses resistiram ao poderio do inimigo. À uma intimação do comandante espanhol para depor suas armas, Ricardo Franco respondeu negativamente, com altivez, mantendo-se firme na defesa do aquartelamento. Sua atitude corajosa inspirou os subordinados a combaterem com inquestionável valentia. Ao final de uma sangrenta batalha, os soldados luso-brasileiros frustaram a ação inimiga, preservando o domínio sobre a fortificação.
O audaz engenheiro viria a falecer em 21 de janeiro de 1809, aos 61 anos, ainda no comando do Forte Coimbra, cercado do respeito e admiração de seus comandados. E seus restos permanecem no Forte até hoje, repousados sob um monumento. A atitude heróica do Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra foi uma valiosa contribuição ao espírito valente e soberano do povo brasileiro. (Noticiário do Exército - 03 de agosto de 2008)
O “Jornal do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro” publicou, no 1º Trimestre de 1849, a memória, redigida pelo Tenente Coronel Ricardo Franco, que é considerada a última referencia histórica aos Tapajó.
Jornal do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
1º Trimestre de 1849.
MATO GROSSO
Navegação do Rio Tapajós para o Pará pelo Tenente Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra, escrita em 1779, sendo governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro. (...)
Da foz do Rio Vermelho se navega mais um dia até o lugar em que o Tapajós se divide em dois grandes braços; os quais, segundo o unanime conceito dos que pela parte do Pará os têm visitado, são o do lado oriental o rio Arinos, e o do poente ocidental o rio Juruena, ambos conhecidos nas suas origens na capitania de Mato-Grosso.
Pelo que desde esta confluência até o Amazonas tem o rio Tapajós o seu nome próprio, corre em geral de sul a norte, e é povoado por muitas nações de índios; sendo as mais conhecidas Tapajós, Manducus, Xavantes, Urubus, Pussabus, Hia-u-ahins, Ereruuas, Mayues, Ituarupas, Tucamans, Urucu, Tapuyas e outras.
Carl Friedrich Philipp von Martius |
1819 - Carl Friedrich Philipp von Martius
Em 1819, Martius fazia as seguintes considerações sobre os Tapajó, na sua obra “Viagem pelo Brasil”:
Merece citar-se que o nome dessa nação (Tapajós) não mais aparece entre as que atualmente vivem às margens do Rio Tapajós e às dos seus afluentes, e que, também, o uso de flechas ervadas (envenenadas) não mais subsiste. Pode ser que o tratamento cruel aos Tapajônicos infligido pelos portugueses os tenha exterminado completamente ou isso os levou a fugir para Oeste rumo a paragens onde nunca mais se encontrassem com os emigrantes europeus. (MARTIUS)
Barbosa Rodrigues |
1875 - Barbosa Rodrigues
Barbosa Rodrigues considerava que a extinção dos Tapajó tinha iniciado com a expansão portuguesa naquela região levando-os a migrar para o interior. Estes índios formaram diversas malocas com nomes diferentes, e assim em 1661 quando os jesuítas chegaram seu número já era reduzido.
- Blog e Livro
Os artigos relativos à “3ª Fase do Projeto-Aventura Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Amazonas I” estão reproduzidos, na íntegra, ricamente ilustrados, no Blog desafiandooriomar.blogspot.com desenvolvido, recentemente, pela minha querida amiga e parceira de Projeto Rosângela Schardosim. O Blog contempla também as duas fases anteriores de minhas descidas pelo Rio Solimões e Rio Negro de caiaque.
O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre , na Livraria EDIPUCRS - PUCRS, Livraria Dinamic - Colégio Militar de Porto Alegre, através do e-mail hiramrsilva@gmail.com. ou ainda rede da Livraria Cultura, ou pela web, no seu Site através do Link:
Fontes:
ACUÑA, Christóbal de - Nuevo Descubrimiento del Gran Rio de las Amazonas - Espanha – Madrid - Ed. García, 1891.
BAENA, Antonio Ladislau Monteiro. Compêndio das Eras da Província do Pará (1615-1823) - Belém, PA: Editora da Universidade Federal do Pará, 1969.
BARATA, Frederico - Os Maravilhosos Cachimbos de Santarém - Estudos Brasileiros, VOL 13 N º37-9, RJ, 1944
CARVAJAL, Gaspar de - Relatório do Novo Descobrimento do Famoso Rio Grande Descoberto Pelo Capitão Francisco de Orellana - Brasil - Consejería de Educación - Embajada de Espana - Editorial Scritta, 1992.
CORRÊA, Conceição Gentil. A cerâmica Arqueológica de Santarém. Santarém, PA: Programa da Festa de Nossa Senhora da Conceição (PFNSC), 1973.
NIMUENDAJU, Curt Os-Tapajó. In: Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi - vol X, Belém, 1948.
REIS, Arthur Cezar Ferreira Reis. Santarém: seu Desenvolvimento Histórico - Rio de Janeiro - Editora Civilização Brasileira, 1979.
SANTOS, Paulo Rodrigues dos. Tupaiulândia. ICBS/ACN. Santarém, PA: Gráfica e Editora Tiagão, 1999.
SUSSUARANA, Felisberto. Santarém antes da sua Fundação. Santarém, PA: Programa da Festa de Nossa Senhora da Conceição (PFNSC), 1991.
WALLACE, Alfred Russel. Viagens pelo Amazonas e Rio Negro. São Paulo: Ed. Companhia Editora Nacional, 1939.
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