Acampamento / Comunidade Boa Vista
“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)
Acordei às min e mantive a rotina diária de desmontar o acampamento, carregar o caiaque e tomar um banho de rio. Tomei um café preparado pelo nosso piloto.
- Partida para Comunidade Boa Vista (03 de janeiro)
Partimos, com a equipe de apoio menos afoita e mais preocupada em seguir a rota proposta para não nos separarmos, já que as numerosas ilhas do maior arquipélago fluvial do mundo – Mariuá - determinavam uma navegação mais cuidadosa. Novamente, os areais aumentavam o percurso, exigindo mais de nosso preparo físico e mental. Os ventos de proa fizeram surgir os banzeiros que, embora fossem facilmente vencidos pelo caiaque oceânico, exigiam mais força do canoísta e uma perícia de nosso piloto para manobrar o tosco ‘bongo’.
- Comunidade Baturité
Depois de usufruirmos a tranquilidade de um longo furo, avistamos a Comunidade Baturité no alto do ‘Paredão’, um barranco enorme de seus trinta metros de altura. Abastecemos com a água cristalina do poço da comunidade, compramos algumas bananas e admiramos alguns artesanatos ribeirinhos que são vendidos para os turistas estrangeiros que frequentam o Rio Negro Lodge.
- Rio Negro Lodge
Chegamos ao Rio Negro Lodge na hora do almoço. O seu gerente, Mark Cobos, gentilmente nos ofereceu um almoço e um refrigerante gelado, que só quem passou seis a oito horas sob o sol inclemente pode aquilatar o valor. O Hotel abriga os aficionados pela pesca desportiva, principalmente do Tucunaré. As primorosas instalações com cabanas individuais e complexo de lazer, complementado com cozinha de fartos produtos regionais, justificam sua fama internacional. O dono é o norte-americano Phillipe Aron Marsteller, representante da Amazon Tours no Brasil. O complexo inclui o barco ‘Amazon Queen’ e uma frota de 30 lanchas usadas para a pesca esportiva.
Infelizmente, existe um lado sombrio por trás do empreendimento. Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), os proprietários proíbem os moradores dos sítios vizinhos de caçar, ameaçando-os com a polícia e apreensão de suas armas, além de pressionarem os nativos a abandonar os seus sítios, com a alegação de ter comprado uma extensa faixa de terras, na qual estariam incluídos os sítios vizinhos.
A Câmara Municipal de Barcelos aprovou a Lei nº 359 de 02/12/1997 , que obrigava o proprietário a apresentar, no prazo de 180 dias de sua promulgação, um Projeto Ambiental. A exigência nunca foi cumprida, tornando automaticamente sem efeito a concessão, fazendo retornar a área de terras ao Patrimônio Municipal. Considere-se ainda que o projeto está inserido nos limites de uma área de proteção ambiental municipal (a APA Mariuá).
- Hotel Rio Negro Lodge é suspeito de biopirataria
Náferson Cruz - Especial para o Amazonas EM TEMPO - Sábado, 18 de Abril de 2009
“Uma operação conjunta entre a Receita Federal, Marinha do Brasil e o Ibama resultou na multa de R$ 2,7 milhões ao hotel de selva Rio Negro Lodge que mantinha um zoológico clandestino e um laboratório de biologia pirata. O proprietário do hotel de selva Rio Negro Lodge é o norte-americano Philip Aron Marsteller.
A operação aconteceu no período de 24 de março a 8 de abril na calha do rio Negro, próximo ao município de Barcelos, a 470 quilômetros de Manaus, mas somente agora foi divulgada pela Receita Federal.
Segundo o auditor fiscal da Receita Federal no Amazonas, Ricardo Pereira, o hotel foi alvo de investigação por conta dos produtos e máquinas importadas adquiridas pelo seu proprietário, além de manter em cativeiro animais silvestres, alguns em processo de extinção, em um pequeno zoológico.
‘No laboratório havia vários microscópios e lâminas com insetos, raízes, flores e plantas da Amazônia. Ainda não sabemos o motivo das pesquisas que vinham sendo realizadas’, explicou o auditor fiscal.
Ele explicou que as mercadorias eram compradas de forma ilegal e que, há quatro anos, tramita na Justiça um processo de operação ilegal de compra de mercadorias contra o dono do hotel. ‘Ele sonegava o imposto e isso se caracterizava como contrabando’, afirmou Pereira’ ”.
- Comunidade de Cumaru
Passamos pela Comunidade de Cumaru cujo presidente, o Senhor Raimundo Batista, nordestino de nascimento, veio com os irmãos na década de setenta para o norte e, após servir no 6º Batalhão de Engenharia de Construção (Boa Vista - RR), na década de oitenta, casou com uma nativa, estabelecendo-se em Cumaru. Raimundo neutralizou um movimento local que pretendia que a área fosse demarcada como indígena, uma manobra que vem sendo perpetuada sistematicamente por comunidades que se ‘dizem’ indígenas e recebem o beneplácito da FUNAI.
Raimundo mostrou outro caminho para a Comunidade e, com o apoio do ITEAM (Instituto de Terras do Estado no Amazonas), conseguiu que as famílias tivessem seus lotes demarcados em áreas de 25 a 35 hectares e devidamente titulados. O nordestino empreendedor trabalha duro para fazer com que seu belo sítio seja o mais produtivo da área, ao contrário de seus preguiçosos vizinhos. Aplicando as devidas técnicas apreendidas junto aos técnicos agrícolas, o Presidente da Comunidade Cumaru mostra que se pode extrair da terra arenosa o sustento da família. A Comunidade se ressente de uma escola de alvenaria e do conserto do telefone, cujo receptor foi quebrado pelas crianças da comunidade.
- Comunidade Boa Vista
Resolvemos parar na Comunidade Boa Vista, onde encontramos o professor Cavalcante, que gentilmente nos acolheu e permitiu que montássemos nosso acampamento na varanda de um morador que se encontrava ausente. O professor está cursando Letras em Barcelos e pretende, depois de formado, radicar-se em Manaus.
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