São Gabriel da Cachoeira
“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)
Hoje, 22 de dezembro, apresentamo-nos ao General Rosas, atual comandante da 2ª. Brigada de Infantaria de Selva, e já nomeado para a chefia do Estado Maior do Comando Militar da Amazônia. Depois de um longo e agradável bate-papo, fomos até a 21ª Companhia de Engenharia de Construção, comandada pelo Major Vidal, onde conversamos longamente com os irmãos de arma e fizemos questão de verificar o nosso caiaque, que estava no almoxarifado da Companhia.
Meu parceiro de jornada do Solimões aparentemente estava em condições de enfrentar as águas pretas do Rio Negro. Chequei o material de reparo, fibras de resina, comprado pelo Cel Ebling em Manaus.
Guiados pelo motorista do Comandante da Companhia, realizamos um tour pela cidade. Na delegacia, paramos para fazer contato com o Comandante do Destacamento da Polícia Militar, Capitão PM Lamonge. O Capitão encontrava-se em Manaus e o destacamento estava sobre o comando do Soldado PM Heleno. O Heleno encarregou-se de estabelecer os contatos necessários para conseguir uma ‘voadeira’ para o deslocamento do Cel Teixeira. Este então embarcou na viatura da PM com o Heleno e eu continuei com o motorista da Companhia.
Fomos até a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro ‘FOIRN’. A bela construção de madeira guarda no seu interior belas peças de artesanato de diversas etnias indígenas do Alto Rio Negro. Um conjunto em especial me chamou a atenção: a cestaria Baniwa, cuja harmonia de formas e cores se destacava dentre todos.
Cestaria Baniwa
As grandes cestas são, originalmente, usadas para armazenar alimentos e roupas. Para fins comerciais, são enfeitadas com grafismos coloridos.
A cestaria de arumã é realizada pelos homens. O arumã, de colmos lisos e retos tem sua superfície flexível e permite o corte de finas fibras que são trançadas para formar as cestas. As fibras, sem qualquer tratamento, são usadas na manufatura de cestas mais resistentes. As cestas coloridas exigem um processo trabalhoso que inclui o uso de fixadores extraídos da entrecasca do Ingá e de outras árvores, que é misturado aos pigmentos desejados.
Morro da Fortaleza
Após a visita à FOIRN, dirigimo-nos ao Morro da Fortaleza.
Reproduzimos o texto abaixo do então Capitão Boanerges, quando em missão de demarcação de fronteiras setembro/1928
“Fizemos uma excursão às ruínas do Forte São Gabriel, onde só vimos 8 canhões de ferro abandonados, do tempo de D. Maria I. Foi, com efeito, bem escolhida a posição em que existiu o Forte. Como se sabe, foi mandado construir pelo governador do Pará, Manuel Bernardo de Melo e Castro, em 1763, a fim de evitar incursão de espanhóis procedentes das Províncias da Venezuela e Nova Granada. O Forte, colocado à margem esquerda, a cavaleiro do ponto em que o rio se estrangula reduzido a 370 metros de largura, dominava os dois grandes estirões. Tinha a forma de uma luneta, de figura irregular, cuja gola – que é uma frente abaluartada, - defronte com o rio. Nada mais resta do forte, a não ser os 8 canhões citados”. (Sousa)
Três se encontram hoje na Segunda Brigada e outros três no Quinto Batalhão de Infantaria de Selva.
Nesse local tirei, mais tarde, várias fotos com o Cel Teixeira do alto da caixa d’água da Cosana.
O major Vidal providenciou para que o caiaque fosse trazido até o Circulo Militar, onde eu e o Cel Teixeira iniciamos sua manutenção. O Teixeira notou um pequeno dano no compartimento de popa, que foi devidamente resolvido por mim com o material de reparo.
Para evitar os problemas que enfrentei no Solimões com o nome do caiaque, Opium, e suas cores azul e amarelo que lembram a bandeira colombiana, resolvi raspar o ‘O’ de Opium e agora navego com o modelo ‘pium’ mais adequado ao contexto amazônico.
Na hora do almoço, o Soldado PM Cavalheiro acertou com o Cel Teixeira o deslocamento da sua ‘voadeira’ pilotada pelo senhor Osmarino, de São Gabriel até Manaus.
Missão salesiana
Na Missão entrevistamos o bispo emérito Walter Ivan de Azevedo. Nascido em São Paulo , trabalhou durante oito anos em Santa Catarina e São Paulo em colégios, desenvolvendo trabalhos com a juventude.
“Sempre tive intenção e desejo de trabalhar como missionário.
Os superiores, então, me mandaram para a Europa fazer o curso de missionário que é antropologia cultural aplicada a envagelização. Permaneci dois anos e mais tarde, um ano me doutorando nessa matéria em Roma. Na Pontifícia Universidade Gregoriana e doutorado na Urbaniana. Fui então para as missões e foi bom porque além de ter um pouco de experiência em visitas com jovens junto às tribos no Mato Grosso, tinha também esse cabedal teórico ou digamos assim: fundamental e cientifico para abordar as missões.
Vim para cá, primeiro como simples missionário em Rondônia, por quatro anos. A partir de 1976. Depois desse período me fizeram inspetor provincial dos salesianos da Amazônia. Visitando as casas paroquiais do Pará, Amazonas e Rondônia, pude conhecer bem a Amazônia. Depois de seis anos de inspetor me fizeram bispo dessa região (SGC) que é uma região onde os habitantes são 90% indígenas e a maior parte dos outros caboclos, de modo que eu estava no meu ambiente mesmo. Trabalhei aqui como bispo diocesano e depois como emérito durante 20 anos. Nesses últimos três anos estou trabalhando com seminaristas em Manaus que são os futuros missionários, quando eu tenho tempo, uma vez por ano, eu fujo para cá para continuar minhas visitas a aldeias, principalmente a nação ianomâmi que é a mais primitiva ou seja, aquela que teve contato mais recente com os civilizados.”
O bispo editou diversos livros, dentre os quais ‘Pinceladas de Luz na Floresta Amazônica’ que reproduzirei, oportunamente, alguns trechos no meu livro sobre o Rio Negro. O livro não é uma narrativa de viagens, muito menos a biografia de um missionário; é tudo aquilo que Dom Walter conheceu de bom e de belo na natureza, mostrando, principalmente, o homem da Amazônia.
Fontes:
BOANERGES, Lopes de Sousa – Do Rio Negro ao Orenoco - Brasil, Rio de Janeiro, 1959 – Ministério da Agricultura – Conselho Nacional de Proteção aos Índios.
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